terça-feira, 6 de abril de 2010

Sombras, Pó e Eternidade

A terra nos ensina que tudo se vai... Nas mínimas coisas que são – ou que aparentam ser – nada é eterno do ponto de vista terreno, humano, animal, mineral... E vegetal. As experiências no conduzem a isso também, a essa conclusão fácil, no entanto, de difícil aceitação quando por ela passamos. Não falemos na morte, por enquanto.
A experiência dos males naturais -- as doenças; a perda de um objeto; o sumiço de um fio dental, o desaparecer de um controle remoto... Oarranhar de um relógio... de um carro!... Enfim, somos assustados com o fim de tudo, com o nosso fim, mesmo sabendo que até as rosas, seres tão belos e frágeis, também se vão, mas voltam, e, entanto, tão imprescindíveis!

Quando somos pegos em pensamentos do tipo “tudo um dia se vai”, ficamos presos a ele, ou tentamos esquecer que somos mais físico do que tudo, e ele se vai – antes ou depois de seus objetivos cumpridos --, pois não há nenhuma lei que diz que tudo que é do homem é necessário que fique no mundo para dar cria. Talvez, em certas cabeças, tal pensamento se funda pelo fato de que enxergamos nossos filhos como uma contínua forma de imortalizar a nós, o que é exageradamente errôneo de nossa parte.
E aquele que não pode ter filhos pensaria do mesmo modo? Então é falha a premissa de que os filhos são complementos imortais, os quais se vão um dia, mas deixam (ou são obrigados a deixar) mais filhos, apenas porque queremos deixar enraizada a idéia (errônea) de que somos eternos. Muito pelo contrário, tudo se vai.

O homem é eterno, mas não do ponto de vista físico. Nada é eterno desse ponto de vista. É assim que devemos nos educar em relação às coisas que nos acontecem, desde a infância. Mas educar também nossas idéias, pois elas, a depender de quem as deixa, duram mais que homens, mais que as revoluções, muito mais que a história...

O homem que tenta ser bom e justo em sua sociedade já tem a sua parcela de imortalidade – ou pelo menos um pouco dela, mesmo porque precisamos ressaltar seus feitos àqueles que ficam, como nossos filhos. O homem que irreleva, em sua vida familiar, profissional etc certos fatores naturais de sua responsabilidade mais tarde encontrará um caminho que o forçara ser melhor, ainda que seja tarde.

Suas idéias serão eternas em sociedades que necessitarão delas, seu comportamento, em um mundo que necessita de uma educação prática, será lembrado... Isso é um pouco de eternidade – os livros são prova disso.

As idéias podem ser grandiosas, durarem muito, e até mesmo deturpadas, mas não são melhores do que os referenciais dos quais elas vêm. Se adotadas dos céus, durarão eternamente, se da terra, não muito.

Voltando...

Epíteto, filósofo estóico, dizia sempre que, se quisermos nos acostumar com a perda, devemos sempre dizer... “Ele (a) vai voltar à sua origem”. Significa dizer que temos que nos referenciar sempre em alguma coisa mesmo que seja com a finalidade de nos acostumarmos à falta de algo, pois o que nos falta sempre nos causa dor, principalmente quando se está muito tempo do nosso lado – as pessoas, os animais, etc...

E obedecer às máximas não quer dizer repetir várias vezes uma frase, mas tentar buscar o porquê delas, assim como tudo em nossa vida. Frases fazem efeito, mas a razão pela qual fazem é que temos que buscar.

Epíteto sabia que tudo era relativo do ponto de vista físico, mas também sabia que havia sofrimentos na perda de qualquer ente. E isso, de alguma forma, desacelera o ritmo evolutivo de uma personalidade. Temos que começar com as pequenas coisas, ainda que sejam inanimadas; coisas que fazem parte de nossas vidas, e que, de alguma forma, criamos pendências sentimentais; “todas elas vão para o lugar de onde vieram” – um prato que quebra; um jarro que cai no chão e se espatifa; uma roupa comprada há pouco tempo que se suja com vinho... etc.

São reflexões necessárias. Dentro de dessa autoeducação, partiremos para o mais alto grau de consciência, que, um dia, nos fará mais ou menos inclinados a respeitar a natureza da morte.

Até mesmo o grande Marcus Aurélius dizia “até mesmo o maior dos imperadores da história morreu”. Isso nos conforta, no entanto, ainda não nos acostumamos com ela. Isso nos faz crianças em busca da compreensão daquilo que é tão maior e melhor que nós – uma fusão de mistério e medo, ainda que sejamos cientistas, religiosos, filósofos, sacerdotes, enfim, a morte, será, um dia, o momento em que lembraremos que tudo, tudo mesmo, tem sua ida ao desconhecido, à sua origem.
Por enquanto, como diz o filósofo, comecemos com as pequenas coisas, sempre medindo nossos sentimentos com relação a elas.
A real felicidade nada mais é do que respeitar a origem e o fim de tudo.

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