quarta-feira, 20 de julho de 2011

Pobreza, Riqueza...

Quando nos deparamos com um indigente que mora debaixo de uma ponte, ou mesmo em uma área isolada do resto do mundo, como se fosse cães renegados pela sociedade, sentimos um pouco de pena, um pouco de dor, culpa, e, na maioria das vezes, ódio de um mundo feito de pessoas que, a cada dia, renega seres da mesma espécie em nome de acomodações melhores – do conforto pessoal.

Não generalizando, claro, mesmo porque somos seres diferentes, pois há pensamentos, sonhos e ideologias diferentes, e há aqueles que realmente se preocupam, param, ajudam, acolhem, se transformam em voluntários em instituições, ONGs, etc, mas não conseguem parar a avalanche de necessitados que cresce todos os dias – ou minutos!

Nos sistemas, é assim. Há pessoas que o aderem em quase cem por cento, mas há outras, heroicas, que vão de encontro a ele e se tornam supermans, homens-aranhas, mulheres-maravilhas, e comungam seu tempo com crianças em creches, em escolas, com idosos em asilos, com o pouco tempo de que dispõem, e há os idealistas, nos locais mais difíceis do mundo, como no Zimbábue, na África, no Zaire, etc – estes, ainda mais fortes que os heróis, pois abandonam seus dias normais e se dedicam a causas além-humanas, na visão do capitalismo.





Pobreza...

A pobreza, em si, transformou-se em uma causa política, religiosa com finalidades tristes, como a de reeleger alguém ou contabilizar rebanhos em templos, em nome do dízimo cristão, do carro cristão, da mansão cristã, e do etc cristão...




A pobreza, que existe em milhares de países, há milhares de anos, principalmente nos de terceiro mundo, se transformou em sinônimo de fracasso, indigência, miséria, penúria... Enfim, de tudo aquilo que um homem ou uma sociedade, claro, não quer para si, mas, contudo, graças às intempéries vitais, aos carmas circunstâncias e necessários, não há como dela se livrar... Sobra, infelizmente, desumanidade a mais que generosidade, que amor, que beleza humana... Sobra, enfim, a real pobreza do homem.

E quando nos falta a beleza humana, não sabemos decifrar, nas entrelinhas da vida, nosso real objetivo no mundo... O de nos transformar em ricos, ricos de alma. E quando nos acontece isso, esse real sentimento de amor ao próximo, nada que conseguimos em vida, até mesmo aquela medalha de honra ao mérito, o Oscar de melhor ator, aquela condecoração por melhor simpatia, nada substitui o sorriso de uma criança africana, brasileira, hondurenha, ou de todas as crianças, quando realizamos um pouquinho dos seus sonhos...

Há exemplos na história de grandes homens que tinham honrarias por seus feitos, que residiam em castelos, que possuíam todo ouro do mundo... Todavia, em sua alma, resguardava algo maior que o ouro das montanhas, era o ouro humano. Depois de deixar seus castelos, foram se dedicar à humanidade, com pequenos atos, ou mesmo em auxílios simples, como o de carregar tijolos para o feitio de um casebre humilde para o desabrigado. E em troca, o sorriso, ainda que falho, daquele que é da mesma carne, da mesma espécie, porém o destino não o quis que a fortuna lhe batesse a porta.

Mas a maior pobreza, no entanto, não era aquela que residia nos casebres, nas pontes quebradiças e abandonadas, nos abrigos de governos; essa talvez a menor delas. Descobre-se, ao longo dos séculos, que a palavra pobre ou pobreza tem um maior significado, uma semântica dentro da lógica a qual deveria ser realmente empregada...

Ser pobre, hoje, significa esquecer o próximo, esquecer a si mesmo; ter tudo e ao mesmo tempo não ter ninguém; significa ser inteligente, e não possuir nenhuma ideia voltada à humanidade, ao próximo, ou mesmo ao vizinho... Ser pobre vem a ser aquele que não consegue ter o amor da família, dos amigos; não ter amigos. Ser pobre atualmente é não ser um sábio no pouco que aprendera da vida. É criar amigos de plástico...

Os piores, no entanto, são os pobres de coração, que se alojam em seus “castelos” de dois, três andares, e nele se prendem com receio de que pessoas comuns a peçam alguns trocados, comidas, carinho ou mesmo uma prosa, com a desculpa de que ladrões os roubem... Estou me referindo àqueles que adoecem o mundo pelos seus atos homicidas, os quais abandonam com seus olhares o próximo, falecendo todas as expectativas de humanidade, pois esta se repete ao longo dos tempos por uma geração que aprende o inverso da realidade... A atual geração.

Os pobres de coração há nos dois lados da moeda. Estes se proliferam semelhante a cada criança que nasce. Estes são os genocidas reais, pois batem no peito e dizem que são ricos e não abrem mão do que têm. Ou mesmo, “sou pobre sim, e é por isso que não vou passar em nada, não serei nada, assim não sairei daqui”... E não precisam. Precisam apenas ser humanos.


A Riqueza...

Um pouco dos ricos..
Cristo era um ser humilde, que nascera e crescera em locais mais humildes ainda. A pobreza circunstancial, no entanto, nem se cogita quando dele dissertamos. Relatam-se seus feitos, sua grandiosidade humana, seu amor universal.. Enfim, sua riqueza interna.

Falar de Cristo, no entanto, para nós, é criar um referencial um tanto quanto longínquo, mas que há, dentro de nossas possibilidades (natureza, capacidade...) uma certeza, a de que somos humanos, assim como ele o foi, e podemos tê-lo como uma estrela a ser alcançada a longo prazo...

Poderia Cristo, em razão de sua oratória, de sua popularidade, de sua ecleticidade com o povo, ser um poderoso homem com tudo ao seu lado – ouro, castelos, terras, amigos de porte, etc, contudo, o seu ideal humano, para nós mais divino do que humano, era a Meta maior.

Buda, antes do nazareno, há mais de quientos anos pelo menos, iniciara sua vida na riqueza, e fora na pobreza que descobrira que a real riqueza não tinha nada a ver com o ter e sim com o ser. Não diferente de Cristo.

Sindartha Gautama, o iniciado em Buda, desde a tenra idade era voltado aos prazeres humanos, tivera, inclusive, mulher e filhos, todavia, quando se é um ser especial cuja meta, ideal, propósito é revelar os mistérios da vida, da humanidade, nem mesmo portões de ouro para segurá-lo... Hoje, um dos seres mais ricos do universo.

Platão era de uma família rica, mas usara toda a sua parte para comprar escritos antigos baseados na filosofia tradicional – de Pitágoras, de Samos, etc. Seu mestre, Sócrates, era tão pobre quanto qualquer ser de sua época, tinha inclusive pai pedreiro. Sócrates, assim como os grandes, não é citado como o pobre filósofo, ou o filósofo que ajudava o pai pedreiro, e sim como um dos homens mais sábios da humanidade...


A Pobreza e a Riqueza...

A pobreza tem seus níveis, a riqueza também. A pobreza estrutural, a meu ver, torna-se necessária ao homem como uma forma de trampolim a qual, circunstancialmente, temos que pular com nossos esforços -- o que pode nos levar a vida toda --, e encontrarmos o “caminho do meio” – a meta de todos. E a riqueza, como uma estrela imensa para qual todos os nossos valores devem se converter. Valores humanos.

A riqueza, ao meu ver, também um trampolim circunstancial – talvez o mais difícil deles – revela a fragilidade humana em lidar consigo mesmo, traduz a pedra filosofal da vida humana, na qual todos os problemas podem ser vistos de perto, porém não solucioná-los.

A riqueza, quando estrutural, pode auxiliar os menos favorecidos, pode tirar um país da miséria das favelas, auxiliar em tratamentos de saúde sem a preocupação com equipamentos, pode ser confiável ao mundo, pode elevar o patamar de vida dos habitantes... Contudo... Não leva ninguém a ser sábio, conhecedor dos mistérios.

A riqueza humana, aquela a que deveríamos almejar, dá frutos ao homem, dá sabedoria na escolha quando jovem, conhecimento e divindade ao mais idoso, cresce na medida de nossa idade física, e nos faz morrer mais ricos ainda, mesmo usando trajes de mendigo.




Aos Ricos de Coração

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....