sábado, 16 de julho de 2011

Reflexões acerca dos Homens



Os filósofos nos deixaram um grande legado. O de refletir acerca dos tempos porque passamos, vivemos e buscamos nossas inúmeras respostas ao que nos constrói e ao que nos destrói como seres volúveis que somos. Deixou-nos uma verdade que se foi deteriorando como o pão que ficara seco e depois, apenas, farelos; e destes farelos os sofistas construíram novas verdades as quais vimos como nosso pão de cada dia.

Mas, quando digo que os filósofos nos deixaram esse legado, não quero dizer que nos ensinaram a pensar, mas nos organizar psicologicamente acerca de tudo, mesmo porque o ato de pensar é humano, é mais que isso, é nosso, pelo menos até uma determinada época o foi...

Atualmente, somos pensados como marionetes em palcos infantis. Somos castigados como crianças que não somos. Vivemos como adultos perdidos, como cegos à beira de um precipício, guiado por outros cegos...

Que mundo é esse em que almejamos nossos sonhos, nossas melhores realidades, ao qual nossas vidas entregamos, e o que fizemos para tanto? São questionamentos simples, os quais nos deixam complexos, e ao mesmo tempo congelados pela resposta, pois ela sempre cai em um só abismo, o próprio homem.

Não adianta fugir desse outro legado. O de que somos responsáveis pelos males que passamos, pela genérica falta de seres humanos, seja em casa, seja no trabalho, seja nos templos... Onde estão os reais seres humanos?

Não, não estão nas ruas, nem mesmo nas montanhas do Tibet. Estão aqui, pertinho de nós, virando fumaça de nossos interesses, a qual não para de subir e realizar seus feitos... Não para de deseducar nossos filhos, até mesmo a nós – somos hipócritas até na hora de relatar a verdade! – sempre tendo a teoria como a luz de uma consciência ainda que seja mínima.

A Negra Fumaça

A fumaça é do próprio homem, que mendiga, se arrasta de forma violenta na terra, se transformando em pedra, a bater no peito gritando “sou assim mesmo, e ninguém vai me mudar!”. Desses esperamos a força natural da sua estrutura, de sua alma para se afincar em tudo que conseguira até então; desses homens pedras, que lamentam, cientificamente, a perda do próximo, pois não acreditam em céus, em infernos, nem mesmo em alma, apenas em um coração físico, que, parado, não nos deixa rastro do que fizemos de bom a humanidade – apenas admiração... Esse mesmo homem busca afincadamente seus desejos mais concretos mesmo que tenha que se entregar ao oculto.

A fumaça é do homem que vai aos templos, se ajoelha, pede tudo ao Deus, mas não tem coragem de dar a mão a um ser que lhe implora uma moeda ou mesmo um conselho a um filho desesperado, pois está mais desesperado ainda em cumprir sua agenda.

A negra fumaça que sobe é a mesma que queima a consciência espiritual, deixando apenas aquela que o faz um vegetal na tentativa de se elevar falsamente em nome de algo que quer como enfeite passageiro em sua sala de estar, na cozinha, ou no banheiro... ou na maioria das vezes na garagem.

Não há como subverter de uma hora para outra o que fizemos em nome de uma alma sedenta por aquilo que a prende ao corpo para dar espaço à coerência humana. Por enquanto, agimos como pedras rolando em abismos em nome de pedras maiores ainda nas quais acreditamos como valores, crenças, deuses que vieram para nos modificar a vida.

Por enquanto, agimos como vegetais que, desde o seu nascimento, precisam de outro vegetal para crescer, florescer, dar frutos, ou mesmo de uma mão alheia na qual depositamos nossas vidas, nossa morte... E nos esquecemos de fluir como seres reais que somos.

E desses dois, nascem o homem animal, que age por instinto, acreditando piamente que é um deus simplesmente porque satisfaz seu ego no jogar de um papel no lixo. Dos dois, nasce o mais deprimente ser, tão pior quanto o próprio animal que ronda a selva em busca de alimentos, matando sem amor, a esmo...

...Nasce o animal racional, sem a sacralidade que nos deram há milênios, nasce o homem sem espírito (ou melhor, que não sabe que tem um), e como criança acredita em fantasmas, em demônios, e desmistifica os símbolos, tudo em nome de uma verdade inventada. Pior do que o homem pedra, este cuida do corpo assim como cuida da sua mente, mas aprende a manipular seu próximo em nome de verdades frias, sem lastros, apenas para se tornar evidência no contexto mundial, quando não, apenas para elevar sua moral financeira.

Mas o próprio homem é a doença do próprio homem, que mata com sua ignorância, sufoca com o arcaísmo de uma Idade Media que predomina desde o dia que nascera e não morrera. E tão cedo não morrerá.

As Chances

Contudo, em meio a essas cinzas, nascem brotos de rosas que persistem em crescer e desenvolver-se. São as instituições voltadas ao ser humano, são os reais seres humanos, voltados ao conhecimento, ao real legado a que temos direito, que nos dão a chance de repensar o ser humano – o humano-humano.

O humano-humano e aquele que, em nome do mais simples, luta, vence, e, mesmo na morte aparente, sorri. É aquele que entra no fogo pelo próximo, vai para a guerra e a vence, porque sabe que a alma é imortal, que o espírito é tão sutil que chega a ser indefinível, indescritível e ao mesmo tempo infalível. E ante as lutas, as guerras, aos mínimos conflitos... se depara com o sol, chora e não tem vergonha, ama a poesia, assim como a própria vida.

Este homem, na realidade, ainda vai nascer, e se tornará um núcleo que se propagará em nome da humanidade, sem a qual não haverá sonhos, não haverá nada, nem mesmo a memória humana nos livros divinos.

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