Augusto dos Anjos, um poeta cientificista, sentia-se à vontade em seus versos se infiltrando no inferno astral, do qual nunca saiu. Prova disso era a sua dificuldade em falar de amor como um sentimento natural, do qual todos retiram o ar para viver e sobreviver em meio a um mundo monetário.
Não vou culpá-lo. Às vezes, sinto-me um Augusto dos Anjos, em meio a intempéries nas quais me afogo e não consigo pedir auxilio. Tais problemas são tais quais aquelas neblinas a que me referi há muito em outros textos, nos quais acerca dela digo “neblinas são nossos problemas, os quais nos tapam a visão do mundo, do sol...”.
Mas, agora, nesse instante, sinto outra neblina, ou melhor, a maior de todas elas. Ainda que meu racional saiba da existência do sol, da vida e da sua importância, não consigo sentir o perfume da vida, das flores, ainda que eu as toque e as coloque ante meu rosto. É triste.
Agora, mais do que nunca, sinto o cheiro, todavia, da caverna, daquela que acerca dela dissertei, e ao passo notei que cada um tinha a sua em particular. Hoje estou sentido, em meus braços, as algemas, a dor, o ódio, e sou obrigado a presenciar as sombras das paredes iluminadas pelo fogo a me rirem tal qual um professor sarcástico ri do aluno ignorante.
E realmente o sou. As sombras se revelam em palavras, em atos malditos, em formas obscuras das quais se foge, e não se consegue fugir. Elas se enveredam dos pés à cabeça na alma do homem que se revela fraco em ideal, que não acredita que até mesmo o sol, em seu esplendor, é apenas uma estrela passageira na visão de Deus. Na nossa, é possível que seja eterna.
Assim, são as sombras. Norteiam-nos por caminhos mentirosos e nos fazem acreditar que nossos problemas são eternos, ou possuem seus momentos de eternidade. Mas não são e não têm. Nenhum deles é natural, e sim geleiras em forma de reclamações, de conflitos, de palavras fora do contexto, de desamor; são equívocos tratados como identidades humanas... E não são. Nossa identidade é tão profunda que, por ignorância, nos assemelhamos com o que achamos melhor a uma personalidade mal direcionada, flexível a tudo, e frágil... Nossos problemas são papeis de parede!
As sombras nos tornam medrosos e nos testam. E conseguem nos ver como medrosos, que somos; tão voláteis, volúveis, quanto uma criança que acabara de aprender a entender o que o pai fala.
Lutemos contra o que não somos, vamos perfazer nossas trilhas antigas, nas quais diziam que somos sagrados e humanos em todos os sentidos, na quais o ser humano dava valor ao humano, ao contrário do que dizem os parâmetros atuais, dentro dos quais o homem nada mais é do que verme consumindo seu lodo, "na frialdade inorgânica da terra..."
A luta deve começar agora.
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