sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um Mundo Melhor para o Meu Filho (fim).

... E nele reflito, depois de tanto horror: será que foi uma boa ideia trazer um filho ao mundo? Será que, mesmo dando toda educação que proponho, vale à pena, sacrificar-se, amar, envelhecer em nome de uma educação de que ele – meu filho – será vitima? Será que somos obrigados a sentir medo de um mundo que não nos oferece – aos menos financeiramente beneficiados – algo melhor?

Acredito que todos sentem o mesmo medo, a mesma dor na alma, apenas em passar pelo mínimo do que foi dito. Não precisa ser precário financeiramente para que se passe por dificuldades com o filho. Os jornais estão lotados de crianças e adolescentes que se infiltraram em quadrilhas, em bandos, em corredores da morte (becos de viciados), e que, na maioria das vezes, são educados em colégios particulares, caindo por terra a grande educação dos grandes colégios.

Mas será que o grande problema do mundo é a educação? Ou reeducação? Um dos pilares básicos, talvez. O que nos falta é apenas uma palavra: humanidade. Sem esta, não nos resta mais nada, nem mesmo um mundo, apenas um grande planeta chamado Terra, azul, com relevos belos de terra, e com uma grande bola iluminada pelo sol, rondando-o incansavelmente... A lua. Não nos resta mais nada, somente seres estranhos, diferentes, na luta árdua pelo bem estar de suas crias, interesses coletivos ou não, perdidos entre a dualidade humana e animal.

A questão é: ter um mundo melhor baseado em premissas modernas do tipo: ter um partido, ter uma religião, ter uma família, ter um emprego, ter uma casa com carro (s) na garagem... Chega a ser fruto de um pensamento que não conheceu o real motivo de está aqui, vivo, trabalhando, vivendo em prol de algo, de alguém ou alguéns.

Não que devamos pensar o contrário. É nobre, e chega a ser belo ser partidário de algo que valha à pena viver, mas ter um partido, tal quais esses que se julgam políticos, não vale à pena. Ter um partido é diferente de ser partidário de causas nobres, heroicas, éticas, morais... Ter partido é ter uma forma de pensar sem levar o pensamento humano em questão, é retaliar as opiniões do povo, é restringir um universo de ideias, é sabotar o que foi escrito na história e escrever outra, apagando a primeira.

E família? Ter família é tão natural quanto respirar, contudo, quando se tem um ideal nobre, a própria família tem um conceito diferente do primeiro – e este é tão universal quanto qualquer forma de espaço. Assim trabalhavam os romanos. Toda Roma era considerada uma família, com propósitos idênticos, com ideais fortes de reformar o mundo em algo romano, ou seja, civilizado e sábio, como a familia romana. A nossa atual não tem ideais sábios. O mundo, idem.

Outro ponto visto como polêmico é o da religião. Ter religião, da maneira como hoje somos? É melhor que chamemos isso de outra coisa, menos religião. O seu conceito tradicional, os seus ritos, os respeitos aos símbolos, nada mais se fala, apenas se embrulha em papéis de presente, enfeita-se prateleiras, altares, enfim... Acabou. Assim como a política, a religião virou um jogo no qual se fala em Deus ou demônios apenas para a sobrevivência capital de poucos.

A questão empregatícia é relevante, em vários aspectos. Contudo, não podemos nos prender a máximas que nos dizem que o trabalho (o emprego) dignifica o homem. Tudo, se possível, dignifica o homem quando feito com a alma voltada ao céu, ao amor, à beleza, à bondade – assim o digam as ONGs nas quais voluntários trabalham em prol de favelas, de doentes, em campos isolados do resto do mundo, em florestas, etc.

Ter emprego é bom, mas o trabalho do homem não termina nunca, desde a hora em que sai de casa, até a hora em que dorme, seus pensamentos e atos poderiam estar voltados à humanidade, contudo, se não, ao bem do próximo que se encontra ali, pertinho dele – uma creche, uma escola de cegos, uma instituição de caridade... Enfim, há várias opções. Com o tempo, a família pode crescer... rs.

Mas o mundo civilizado, para não dizer hipócrita, é mentiroso. Devemos, assim, correr em direção a um norte, ou mesmo um caminho por onde poucos passaram: a filosofia clássica. Desenvolver um caminho dentro de si, baseado em premissas tradicionais, dentro das quais homens sábios passaram, viveram e até hoje ressoam como vozes em uma sala vazia. Vozes que nos elevam o coração, a mente, e nos fazem realmente sonhar com um mundo melhor, aqui, mesmo com todos os homens que ainda não conhecem sua real grandeza.

A filosofia clássica, e seus mestres, traduz o que de mais belo se buscou na humanidade, matando os monstros do labirinto (os nossos monstros!), voando como Dédalo, longe das mazelas humanas (indo atrás de nossos objetivos!); indo ao Hades e voltando como herói na pele de Hermes (passando pelos males da vida sorrindo!); guerreando contra si mesmo, tal qual Aquiles, em Troia (a busca da identidade!), e respeitando todo universo como Heitor, filho de Paris (encontrando Deus em tudo!). Amando a si mesmo como Narciso, porém, descobrindo que a beleza é algo universal, não material (adeus egoísmo!).

E nela, pode-se gritar por liberdade, como heróis que nasceram para se dar ao povo, ainda que a morte estivesse iminente. Pode-se lutar como Marte, em nome dos deuses (os nossos!), criar instrumentos de aço, como Vulcano, e como um vingador, cortar o mal pela raiz (o nosso mal) !

Podemos viver os mitos, pois nos falam aos ouvidos, como pais fortes e sábios, que são. Podemos intuir o mundo em que vivemos, mas podemos trabalhar outro externamente, como um leão que luta para sair da cria das hienas, e não consegue entender o porquê de sua coragem no passado em meio a um bando medroso.

Essa coragem – de coração – pode ser convertida em busca de identidade, busca de entender sua personalidade, que há muito pede para ser o que, no fundo, somos: humanos, e não bonecos manipuláveis dentro de governos que passam e nos esmagam, depois de conseguir o que querem, e quando não conseguem a totalidade do seu interesse, voltam e nos erguem com falácias macias.

Depois de tudo que foi dito, a única forma de construir um mundo melhor é nos basear em premissas que nos levem à verdade. E a verdade, apesar de ser inalcançável, pode nos dar um pouco de sua sombra quando a temos em mente, o que já é o suficiente para entender que sistemas corrompem, esmagam, humilham e manipulam sociedades, nas quais poucos sem caráter ascendem financeiramente em nome de muitos, o povo, o qual nasce, cresce, vive, e morre na esperança de uma boa educação aos filhos, a si mesmo, ad eternum! Esquecendo-se dos reais valores que um dia foram queimados na fogueira do poder.

Porém, ao se deparar com as vias estreitas da própria manipulação, a qual se revela em leis que só funcionam para o seu próprio maltrato, o povo fica desolado em busca de algo que o ilumine, descanso e paz... Daí, a necessidade das leis cristãs, que o levam a um suposto Deus, criado apenas para confortar, dar carinho, casa, carros, pois o governo não ajuda! Rs, daí vem o declínio do homem que não se indigna com os governos, com o mundo, e se revela passivo de receber as dores pelas quais seu passado o ensinou ter. Diferente do romano, do grego, do persa, do hicso, do egípcio, que um dia guerrearam por uma sociedade e mundo melhor.

Eu quero um mundo melhor para o meu filho, mas que este seja o mundo, e que seja melhor com pessoas, com humanos, não animais com duas pernas, que enganam, matam, genocidam... Quero a oportunidade gêmea, sem cotas, mas aquela que nos diz nas entrelinhas que ele deve usar da própria vontade para subir onde quer que ele queira.

Ter o poder de escolher com maturidade seu caminho, não sendo enganado por redes televisivas, revistas, jornais, mídias totais. Quero um mundo no qual ele possa ouvir os pais antes de se jogar no abismo das navegações em sites, quero que ele trabalhe, colha fruto deste, que seja um adolescente que ama a história, que leia acerca dos antigos heróis, que se aqueça na fogueira das grandes histórias, saídas das palavras dos mestres.

Quero meu filho forte em todos os sentidos, num mundo que lhe dará mais forças ainda para entender o sofrimento do próximo, e, ao mesmo tempo, amá-lo, por ser humano, não porque “Jesus” o quer. Mas porque somos humanos, e pretendemos lutar até o fim por nós, em busca do que nos retiraram no passado: a Justiça, a Verdade, a Beleza e o Amor.

E assim, peregrino pelo mundo no qual meu filho se formará e se tornará um grande homem respeitando e amando todos os valores que um dia a nós nos foi legado.



A Pedro Achilles


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