Talvez este título tivesse que ser chamado de Amigos de
Plástico, segunda parte, fazendo referência a um texto que trata dos anseios de
alguns em fazer amizades apenas para lotar agendas de celulares, mas não vou...
Este texto é um pouco mais profundo, pois trata não apenas dessas pessoas mais
de outras que conseguem infiltrar-se em mundos irreais como forma de fugir de
si mesmas, ou do mundo real.
E a saga continua... |
Falar dessa nova identidade, desse devaneio humano é falar de
um atributo da personalidade que transborda nas horas mais obscuras da vida.
Com o medo na face, ou com o desespero nas veias, disfarçados de alegria,
seguidos de um profundo sentimento de solidão, percebe-se no ser humano, por
meio das palavras, nos modos de vestir-se, e principalmente em comportamentos
enlouquecidos de felicidades, a tristeza de ser o que é – sem vida, ideal,
amor, carinho, paz... humanidade, -- ele pede, ou implora para emergir e gritar
ao vento a exclamar ajuda.
No entanto, não ser quer auxilio. Não se quer ajuda, nem se
transformar em um ser que necessita de alguém e tentar ser ele mesmo. “O ser
ele mesmo”, infelizmente, colide com um mundo do “Não gosto desse”, e se insere
no mais profundo do inconsciente humano, dando margens a dores tardias,
reveladas em seres que não conseguem lidar consigo mesmo, nas horas em que o
“real” dele necessita. Daí, a fuga.
E a busca do Eu se vai ou fica mais complexa.
A realidade se confunde com o mundo virtual, com o mundo das
trincheiras – aquele no qual se escondem os mais covardes embaixo das camas,
dentro dos escritórios, dentro das faculdades (estudando todas as matérias),
passando o dia trancafiado nas bibliotecas, virtuais ou não, nas bebidas, até
mesmo nas comidas! – a deixar as estruturas fisiológicas em pré-coma, pois o
físico sente e ás vezes falece tal quais grandes antropólogos na busca louca
pelo elo perdido.
E, no fundo, buscamos. Quando a reflexão nos bate, vem a igreja,
os centros espíritas, os livros de autoajuda, até mesmo a filosofia barata nos
serve. Quando não, até mesmo o suicídio serve de respostas a questionamentos
inerentes ao homem, latentes, que nos sufocam, e que não há em mundos virtuais,
seja lá qual for.
Precisa-se de práticas diárias para se ter respostas de
determinados questionamentos, pois o mundo virtual nunca foi sábio para tanto,
pois o que há do outro lado da “linha” nada mais é que outro ser perdido, na
tentativa de encontrar o seu centro, da pior maneira possível.
A experiência real não se passa e seu resultado não se colhe
em computadores e, ao contrário do que pensam os grandes da informática, o
homem não precisa do computador, mas o inverso, porque a máquina precisa ser o
que é graças ao homem, mas este não precisa daquele para ser real e humano...
Precisa se conscientizar apenas de que em todos os setores da
vida, até mesmo em internets, procuramos respostas, mas apenas em si mesmo elas
se escondem. Para descobri-las, no entanto, saliento buscar livros da tradição,
e pessoas que levam a sério e buscam com amor o que procuramos ser, nós mesmos.
Não precisamos criar novos mundos, novas identidades, e nos perder em uma
personalidade cheia de nuances enganosas, nas quais somos controle remoto para tais nuances.
Hoje, em meio a donos de si mesmo, sem serem, em meio a
criaturas que se amam sem qualquer referencial de amor, em meio a identidades
que não voltam à realidade, e que preferem a dor suave da ofensa em dígitos, do
que a luta natural de cada um, sinto que não temos volta, e que há gerações cuja
beleza de ser a si mesmo está-se indo embora, e mais, nascendo uma pirâmide de
calados, de mortos.
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