terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Viver o Mito






Viver o mito é possível. 

Assim como se mistura a terra à água da chuva, podemos transformar dois ou mais elementos em um terceiro que solidifica o homem, e que o deixa acima das vaidades mundanas. No entanto, transformar tais valores ínfimos em reais é a nossa sina. Ou melhor, revitalizar nossos objetivos, elevá-los com a necessidade natural de engrandece-los, e fazê-los de ideal... É o papel do homem que vive o mito.

Ser forte acima de suas possibilidades, radicalizando a frialdade de suas emoções hediondas e as transformando em energias para o dia a dia. Olhando o sol, cerrando os olhos ante o grande anel que fora deus no passado, trazer à tona sua visão interna o que realmente foi é e sempre será, respirando os ares do passado, no qual disciplinas reais e supraeducacionais, regadas de uma tradição além mente, duelavam com um progresso do qual fazemos parte.

Porém...O  progresso, como pando de fundo de interesses cegos, pode ser também flores negras de um caminho que teimamos dar certo, e sempre o dará, quando sentimos no peito a necessidade de alcançar nossa parte oculta, ou, como sempre digo, o morador do terceiro andar, porque nada se consegue sem luta ou, como diriam os romanos, sem guerra.

Contudo, se as perdermos, há sempre a máxima que diz “melhor perder com honra, que ganhar sem honra”. E, como caminhos, essa máxima foi trilhando os dias dos grandes espartanos, dos persas, egípcios, guerreiros que fizeram parte de momentos tão espirituais quando qualquer um de nós em qualquer templo atual.

Na realidade, foram homens-mitos. Dentro deles permeava a certeza – não dúvidas --; permeava o heroísmo, religado a Heros, a Marte, a Júpiter, na Roma e Grécia antigas, e até Quetzoquatle, o deus das armas, da guerra, nas culturas ameríndias.

Eram deuses em forma de gente. Andavam sobre a terra, cultivavam outros deuses, realizavam proezas irrealizáveis pelos atuais heróis, falavam e contavam histórias imortais, nas quais, eles, os mitos em forma de homem, eram protagonistas, senão seus pares, ou mesmo seus ancestrais.

Não eram apenas homens, não. Não eram. Ainda sim, com simples atos, choravam, amavam, viviam como nós, e morriam. Tornavam-se estrelas, brilhavam mais que o sol, e na noite, eram lembrados na grande fogueira dos honrados. A fogueira, tão simbólica quanto à escuridão – cor do mistério osiriano, clamava mais histórias, mais sorrisos, mais batalhas no amanhã...

A fogueira, tão alta quanto uma árvore, adormecia acesa, pois os mensageiros ocultos dos deuses nela se esquentavam e amavam cada ato dos homens. O sonho ao seu redor era de morrer em batalhas e descer aos infernos e guerrear junto com Seth, quando no Egito; com Hades, quando em Roma.

O inferno era o maior dos mistérios. Se a bem-aventurança existia, pensava o guerreiro, o lado mais místico e desconhecido do homem seria o lado sombrio, aquele que ele mais temia, ao passo, caminhava ao encontro dele, somente para desvendar o que mais traria sua alma, ou, no mais provável,  o outro lado da vida...

O homem-mito guardava em si a paz dos deuses e a sua guerra. Dormia com a consciência sábia, e acordava um deus. Suas armaduras, quando havia, eram apenas um traje simbólico, assim como a própria natureza se resguarda em dar as plantas, pedras, às montanhas, ou mesmo ao céu. Espadas, fechas, tacapes, sintetizavam nas mãos do homem-mito a guerra imortal na guerra mortal. Para nós, é algo complexo.

E hoje, em meio aos homens que rebuscam na história a compreensão desse homem-mito, somos vitoriosos em viver um pouco desses valores com (e pelos quais) vivemos no passado. Mesmo não compreendendo o que realmente são, entendemos que existe a necessidade de sermos, na prática, um pouco deles...

No acordar, no tomar de um banho, no vestir, no sair da madrugada, no frio que nos recolhe os braços, fúria do vento que nos bate a alma, na dor da qual não podemos falar, na paz mínima atrás da porta... O homem-mito se revela. No amadurecer de um caráter, no podar de uma personalidade, nos atos de consciência quando todos já estão cansados do mundo... No conseguir heroico, mesmo que tenha a simplicidade lúdica... Enfim, o homem-mito bate à porta do homem de hoje, porém se transforma em mera ferramenta de uso falho quando esquecido no fundo de nossos corações.

Viver o mito é possível.

Instantes no Paraiso








Como um raio de luz que me atravessou- alma,  me atingindo, com toda sua força, o coração. Infiltrou-se em meu corpo, em minhas veias, atingindo seu ápice no cimo de minhas emoções. Veio não sei de onde, e se foi não sei por quê.

Um raio, um trovão, um sopro, uma luz, uma paz. Tão instantâneo que chegou a me carregar por instantes no colo, e deixou-me leve, como pássaros inexistentes, que só existem em nossa imaginação, porém se plasmam e se concretizam quando a rica alma se eleva...

É divino, é doce, é raro. Uma cascata fria em tempos quentes, arrebentando nas rochas de meus ossos. É a água que percorre lenta, cálida, linda e transparente em meu céu imaginário, onde mel, virgens, figuras divinas brincam em parques belos, a espera de meus passos.

E tudo se vai como se foi. Na torrente de nossos pensamentos mais frios, mais chão. Se vão na esfera de uma realidade na qual vivemos, e às vezes sobrevivemos em nome de um céu imediato, como o almoço, o dinheiro, o conforto de cada dia...

Tudo se foi, e ficou, como uma sombra bendita, os rastros de um manancial que se passara em meu coração, transformou minha alma, e fez-me visitar o meu espirito, ou uma ínfima parte de uma paz a que tanto almejo.











Ao meu filho. A paz que me faltava.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Frestas do Mal






O universo é como uma imensa e incomparável esfera na qual se nascem estrelas todos os dias, e cujos mistérios estão longe de serem desvendados por nós. Mas um dos mistérios a ser desvendado pode ser aludido sem intenção pelas experiências aqui passadas: a do mal em nossas vidas.

Nele, nesse universo, cheio de planetas de esfericidades limitadas – ao contrário do universo que não tem – temos o nosso. O planeta terra. Este, um microuniverso que sofre avarias do desrespeito às leis naturais, pode-se dizer que também sofre pela má preservação nossa de cada dia.

Quando se limpa, quando se varre, quando se defende, quando se dedica, tudo em relação a algo que acreditamos, sentimos, na prática, uma realidade mais natural ainda: a de que há chances de se ver limpo e forte nosso objeto de defesa.

Porém, ao nos dedicarmos sempre aos nossos objetivos, sentimos que é preciso algo mais. Algo que nos faça entender que é preciso defender, amar, limpar... Ao ponto de entrar em comunhão com algo maior, ou melhor, com o próprio universo.

Depois que se compreende o fator maior, entende-se o porquê de nossos objetivos frentes às coisas, ou melhor, frente a nós mesmos. De repente nos falta chão, pois exemplos há no mundo de que não somos bons preservadores de naturezas, muito menos a da nossa. Percebe-se que estamos dentro de um inconsciente coletivo forte, no qual somos únicos errados em relação aos animais, plantas, pedras... Errados em relação a tudo.

Olhamos para nós mesmos, e tentamos nos consertar, como religiosos, e consertar nossos atos, sendo bons moços, sorridentes, limpando até louças que ficaram na noite anterior, e que foram frutos de uma consciência egoísta, a qual, generalizada, nos retirou o pensamento maior de preservação de nosso sistema, de nossas vidas e pensamentos, atos, etc...

Percebemos que a grande organização universal está ameaçada, graças a atos pequenos e débeis que se transformaram até mesmo em atos hediondos e conscientes, os quais sintetizaram e sintetizam, como frestas do mal, ou em raízes que foram geradas por nossa incapacidade de raciocinar coletivamente, universalmente, de modo a gerar o maior medo de todos... O fim de nossa espécie.

Na Antiguidade...

Em civilizações antigas, acreditava-se que o próprio homem e seu poder de corromper e de ser corrompido, de sua vaidade extrema, egoísmo, violência, antirreligiosidade para como seus semelhantes e com o universo, seriam os responsáveis pela decadência não só da humanidade, mas de si próprio, pois estaria indo de encontro aos valores divinos, aos quais deviam ser obedecidos, como em um ritual sagrado, todo o santo dia... Assim como o sol o faz.

O faraó, o homem-deus, sol do Egito, com as forças misteriosas e divinas, iniciado nos mistérios sagrados, realizava seus rituais em prol de seu povo, com a finalidade de manter, na terra, a Disciplina, Ordem, sob o manto de Maat, a deusa que significava o Equilíbrio universal, no qual estaria o próprio homem.

Contudo, essa espécie rara (homem), também teria ferramentas para desfazer a ordem, sob outro manto, o de Seth, a contraparte do Equilibrio, ou seja, a violência, a corrupção, a imoralidade, a desumanidade, e ele de algum modo, podemos dizer, venceu...

O faraó, com as forças que obtinha dos deuses, revela-se, às vezes, mais forte que ele próprio, pois sua imagem era dotada de respeito e divindade, ao ponto de muitos sucumbirem de medo antes de tentar corrompê-lo. Mas o Egito se foi. A terra dos faraós foi devorada pela maledicência humana, na qual terroristas, corruptos e turismos vãos tomaram conta de um cenário no qual pirâmides e outros templos sagrados fazem pano de fundo, como se ainda houvesse uma esperança ínfima da volta ao respeito ao deuses.

Hoje...

Não temos mais seres que ritualizam (no bom sentido da palavra) o sagrado; não temos ninguém que se preocupe com o equilíbrio humano, universal, e se o fazem, são salpicados de interesses claros, às vezes políticos e religiosos!

E graças a essa falta de critério, de tomada de força, de consciência em relação ao universo, do nosso papel nele (não diante dele), dessa centralização em tudo, é possível que estejamos em um planeta já morto, a espera apenas de seu enterro.

Por isso, como um faraó a defender sua terra e o seu povo, tentemos ritualizar, dentro de nossos corações, o sagrado, não dando margem para que o mal se enraíze ou penetre nas primeiras frestas de nosso corpo, de nossa alma, de nossos ideais.

Vamos defender o universo que somos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Canção que ouvi

(poemeto)
 
 
 
 
A única canção que ouvi
Entrou em meu peito
Com vontade.
Salivou desejos fortuitos,
Em meio a um mundo vão,
Destroçando feridas,
Elevando minha vida,
Extirpando minha ilusão.
Não fora mais que além,
Subiu montanhas em mim,
Desceu nas selvas sem dono,
Deu-me crateras imensas,
Alojou-se como meteoros
Vindos do deus Cronos.
Como não te vejo, canção,
Introduziu-me a paz,
E do meu peito, nunca mais,
Retirou tua mão.
Saiu da relva bendita,
Criando flores,
Com pergaminhos de amores,
Fez outra canção.
Minha alma querida
te clamou,
Como menina sozinha,
Amou de ti cada fagulha,
E como linha e agulha,
Costurou-me o  coração.
 
 
 
À Paz

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um Farol Longe Demais - Fim




Permitam-me outra metáfora... Quando queremos gelo, o retiramos da geladeira, o colocamos no suco, no vinho, ou sei lá, até mesmo na cerveja!... Reclamamos da pequenez, da pouca quantidade... Até do esparramo que ele causa, se não usado corretamente. Ele molha tudo!

Dessa maneira se comporta o sistema com relação às drogas. Há a possibilidade de trocar a geladeira, mas ele reclama do gelo – do menor ao maior usuário de drogas. E, em nome dessa farsa, esconde-se ou estabelece leis frágeis, as quais nos soam muito mais como soluções abstratas do que concretas.

A prova disso nos veio nessa semana, quando policiais realizaram retiradas de usuários que se reuniam, todos os dias, a céu aberto, ao lado do aeroporto paulista, em um espaço chamado forçosamente de Cracolândia, no qual dezenas, quase centenas de transeuntes, passavam e viam a deterioração humana, sem poder dizer ou fazer algo, pois estavam diante de uma bola de neve maior que o meteoro que passou pela terra... A cena era aberradora.

Assim, levados involuntariamente, todos os usuários serão medicados, alojados, tratados (ou destratados!), e passarão parte de um tempo presos nas mãos de instituições pagas pelo contribuinte.

Mas a geladeira, o sistema, é a mesma. Com exemplos pífios de ética e moral, alguns se aproximam do eleitorado para falar que a droga é ruim para jovem. Outros, com mais soberba, dizem, “temos que fazer algo pelos jovens!”, mais alguns, agora em época de eleição, deduram... “...E o governo, o que fez para o nosso jovem?”...

Anos se passam, e nossas casas, nossos abrigos, cercados com altas torres, com arames farpados, e agora com cercas elétricas, colhem filhos que vêm das instituições educacionais, à noite, de dia, de manhã, com intuito de livrar-se do mal da natureza humana, e, na calada do tempo,  chegam a aprender e a lidar, na prática, com a droga.

Pois, lá, em faculdades, em universidades, ou coleginhos de segundo grau, a aula não é somente de história, geografia, matemática... E sim, de como se emanarem com péssimas amizades e com professores sem moral, sem didática e vocação.

Ninguém está livre.


Meu caro amigo...

Dois dias após meu diálogo por telefone com meu caro amigo, tive uma conversa nada agradável sobre o assunto. Fiquei pouco à vontade, pois não teria exemplos práticos, ainda que houvesse alguns resquícios em minha família, mas não teria exposto pela ética que o assunto pedia. Eu, enfim, achei melhor que buscasse junto a especialistas o que fazer no caso do filho dele, pois, se ele não tinha a menor vontade de abrir-se com seus familiares, que, então, o fizesse com pessoas que tivessem algo concreto e certo a dizer.

Antes, porém, disse-lhe que, se fosse comigo, mudaria de local, porque, se fosse um caso de “amizades”, vendesse sua casa, morasse em um condomínio fechado, dialogaria, todos os dias, a respeito do assunto, copiosamente, com seu filho, mostrasse exemplos claros em clinicas, em instituições, em hospitais, de modo que o sensibilize...

Porém, não se conhece completamente as pessoas, ainda que moremos duzentos anos com ela. É preciso, antes de tudo, aceitar seus erros, seus defeitos, com se fossem nossos. E, quando se trata de filhos, e nos deparamos com problemas idênticos a esses, tenho a certeza de que a primeira coisa a se fazer é nos culpar...

E estamos certos. Em parte. Marco Aurélio, antes de morrer nos braços do filho assassino, disse “o que você é hoje, é parte de minha omissão, portanto, também não fui um bom pai”. A realidade é que, na hora em que mais precisam de nós, de repente, não estamos. Às vezes pelo trabalho, ou mesmo pelos estudos em demasia, pelos vícios caseiros, pelas noites longe da cria, somos obrigados a dizer a mesma coisa que o grande general...

Porém, não o somos por completo. Não há mais jovens desinformados como no passado, pois, querendo ou não, há a internet, os jornais e exemplos em massa de pessoas que se findam em drogas – maconha, ecstase, crak, -- enfim, que morrem em vida em busca de aventuras cujas consequências são maiores que a própria morte real.

A minha filosofia

Hoje, em nome dos grandes de épocas passadas, vejo a vida como uma grande guerra a ser vencida desde a hora que acordo, até a hora em que durmo. Nela, estão meu filho, minha esposa, irmãos e amigos.  E nessa guerra, ainda oculta aos olhos de muitos, tento sobrepor-me com meus princípios básicos, práticos, mas que, tenho a certeza, valem mais que muitos professores de Harvard.

Mas não precisam ser de Harvard, que sejam estes mesmos que se subjugam clássicos, éticos e cheios de moral, e que, por outro lado, não entendem que estamos lidando com estruturas humanas, as quais julgam, subjugam, aprendem, e desaprendem como diria uma professora, “como se passassem a vida subindo uma montanha, e que para descerem levam menos de um minuto...”.

Assim o somos. Na teoria, seres que acreditam que as drogas, assim como qualquer vírus letal, não entram em nossos lares em razão de nossa grande cultura, no entanto, nos deparamos e nos modificamos, e morremos, quando estamos errados.

Eu sempre digo aos meus sobrinhos, o bem tem várias pernas, e o mal, milhões de braços. Às vezes não se consegue correr dele. Temos que nos jugar humanos, frágeis, ao mesmo tempo fortes, pois, ao constatar que há pessoas de bem, em nome de Deus, nas drogas, ou traficando-as, perde-se os referenciais, mas se ganha confiança em si mesmo, pois, apesar das parcas ferramentas, ainda não fomos atingidos.

Pois passamos nossas vidas acreditando que quando se estuda, quando se é uma autoridade, quando se é religioso ou mesmo um grande senador, presidente, estamos livres... Estamos enganados. Então, precisamos, em nossa juventude, esse lago imenso de mistérios, navegar com os deuses, encontrar mistérios nos quais no elevamos, e, quem sabe, nesse mesmo lado, encontrar heróis que um dia, em sua guerra mais sangrenta, queriam salvar apenas a humanidade, não eles próprios.

Heróis assim não se fazem mais. Vamos nos salvar então, jovens! Se não há heróis em vida, procuremos o menor, ou aquele que nos mais se revela bom e verdadeiro aos nossos olhos, sintamos esse grande herói em nossas vidas, façamos um pouco de suas façanhas, ainda que não sejam tão grandes, mas que são o suficiente para salvar suas (nossas) vidas desse grande monstro que criamos...

... As drogas.

Um Farol Longe Demais - parte I

Ao saber do desastre educacional pelo qual passamos, vivemos a refletir acerca de nossas responsabilidades junto às crianças, aos jovens e a nós mesmos principalmente. Não tem como fugir... Não podemos por culpa apenas em governos, cujas naturezas já nos são desastrosas desde que somos gente. Perdão a metáfora, mas nos assemelhamos a tripulantes medrosos, sem mesmo questionar a existência de um capitão, porque o atual pulou muito antes de nós!...
Uma prova maior da existência da incapacidade governamental (e nossa) é a maneira como ele (e nós) enfrenta bandidos nas grandes cidades, as mortes no trânsito, e muito mais. Já não bastasse a realidade dos jovens nas estradas, embriagados, e na maioria das vezes com idade parca, agora, mais do que nunca, surge um mostro que fora se alimentando com o nível de nossas incapacidades...
As Drogas...!
Com chinelas arrastando, bermudas abaixo da cintura, quase a cair; torço forte com tatuagens explicitas, e um óculos de sol no rosto e uma face de uma realidade que não dá pra esconder. Outras vezes, com falas rápidas, gestos mais ainda, olhos arregalados, vermelhos, fala mansa, ou alta em demasia... Corcunda, braços pendurados, e gírias incompletas. Após, choros nos cantos, solidão louca, gritos... A dor da dependência, a dor da perda, a dor do mal...  A morte em vida. A droga já o tomou.
Muitos sem tais adjetivos acima transformaram algumas drogas em algo necessário em suas vidas, como a maconha, umas das mais sutis e, ao mesmo tempo, uma das brechas mais antigas para outras bem maiores que ela, o crak. Não sabem, no entanto, que perderam a noção de uma realidade realmente necessária, a de uma mente pura e cristalina, sem qualquer intervenção de alucinógenos. Perderam o rumo de uma vida na qual pais e mães, filhos, não fazem mais sentido.
 
E o pior, tais drogas, tão em evidência, estão hoje à beira de nossas casas, como frutas que eram vendidas antigamente, no portão; hoje, são frutos de uma incompetência generalizada, pois deixou-se, graças a leis interesseiras, que crianças, até mesmo com sete a oito anos de idade, ou mães com bebês de colo, usufruam desse mal que destrona qualquer civilidade; um mal que mata aos poucos todos da família, ainda que apenas um seja o usuário.
 Aconteceu com um grande amigo...
Sua voz, geralmente, alegre e firme, naquele dia pareceu-me trêmula e triste, quase esgotada. Eu, que geralmente distribuía alegria ao telefone, ao ouvi-lo, fui obrigado a ser ameno em minha simpatia. Mas a conversa fluiu, até que...
...Depois de vários diálogos básicos, perguntei pela família dele... E foi, talvez, a hora em que eu queria não ter perguntado, pois senti o seu astral de longe, misturado à dor de um homem que passava pela primeira vez pelo grande problema que atinge a todos, principalmente os jovens rebeldes, sem heróis e sem destino.
Seu filho de vinte e dois anos, preso aos livros há menos de cinco anos, que havia passado em faculdades e conseguido um emprego para se autossustentar, hoje se confunde com um drogado, cujas esperanças se vão nas ruas, ao lado de sua casa, junto a amizades cruéis, perfazendo caminhos sem volta.
A tristeza desse meu amigo calhou em meus pensamentos secretos acerca de uma juventude que não tem tempo para livros, para o esporte, para o trabalho e estudos, mas sente-se aventureira, arriscando-se fria e dolorosa em uma viagem que, a depender de sua luta, e dos próprios pais, pode ou não haver volta.
Ele quase chorou, e eu também. Ao perceber que seu filho, a que ele tanto ama, e que eu aprendi a admirar, lá estava na pequena fresta que mais tarde poderia alargar-se. E seu pai, meu grande amigo, tornar-se-ia mais um homem em uma luta insólita em nome de Deus, em favor da liberdade de seu filho. Liberdade esta que poderia corroer-lhe as mãos, as vísceras, as entranhas, o juízo... tudo com a finalidade de ver aquele que ele mais ama longe do maior monstro criado pelo homem.
Poder de Escolha
Com um filho de quatro anos, hoje, tento dar o maior amor a ele até que o sufoque de tanto rir. Ele, meu querido filho, sabe também que minha pretensão, ainda que não seja a dele, como assistir a filmes indecorosos, ou cenas tais, ou ainda desenhos horríveis – fora os dinossauros que adora – entende que é um processo natural de negação aos menores males, por isso age de acordo com sua natureza, ou seja, chorando... No entanto, está na dentro do amor que tenho a oferecer-lhe. A essência é o Bem.
Porém, quando se cresce o bastante, também se crescem vontades, escolhas, portanto, o número de nãos cresce em igual proporção; na adolescência, a idade entre as escolhas mais imprudentes, polêmicas, dos atos mais incríveis e ao passo decisivos, o jovem se revela, se esconde, se intromete, se destaca ou se suicida... O poder é dele.
 
O poder de escolher e suas referências são meios pelos quais jovens caminham em favor ou contra o vento educacional que tanto fez parte da pequena caixa de família durante “séculos”, porém, não servira para um mundo contaminado pelos males que se infiltraram nas vísceras de nossas famílias – isso não estava em nossas caixas educacionais; agora, revela-se uma dor corrosiva ao ponto de levar a todos (emotiva e fisicamente) ao desgaste, à morte em vida.
Assim, em meio a esse desgaste, como homens e mulheres perdidos num deserto de areia infindável, caminhamos em busca de uma imagem que nos norteie, ou mesmo um oásis ilusório no qual bebamos a água da vida e voltamos a caminhar.
Tais escolhas sem referencias podem levar a uma educação perigosa; escolhas sem limites, também. O verdadeiro poder, não sabem, esconde-se nesse processo, o de filtrar seus desejos, manipulá-lo ao ponto de diferenciar o que seria o bom ou o mal para o seu caminho; contudo, quando se é jovem, há distúrbios em saber lidar com isso. É preciso dizer-lhes que somos a única raça que não precisa provar do doce ou do amargo para saber se é doce ou amargo...
 
 
Tem mais no próximo texto...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Meu Doce Quintal

nunca se esqueça de onde veio.


(poema)
Bolas de gude em meu quintal,
Flores de amantes em meu jardim,
Capins tão verdes ao sol,
Chuvas que caem em mim.
Sorriso da bela amada
Chegando “devagarzin”,
Menino voltando ao abrigo,
Passarinho, em seu “nin”.
Choro do pardal que caiu,
Mamãe que veio ajudar,
Com alimento pequeno no bico,
Não sabe cantar “sozin”.
Bateu na pedra a saudade,
Da música que eu cantava,
Meu pai brigando com meu Duque,
Mamãe afinada na gemada..
Borboleta na linha eu pegava,
Como pipa que amarrava,
Chorava de desgosto,
E em meu rosto,
A lágrima boba rolava.
E a doce manga de minha vida,
Caia doce nos quintais,
Como doce verde do mel,
Era abelha de caroço pequeno,
Teu mel era tão pleno,
Que morria doce ameno,
Embaixo da mangueira
E dos varais.
De gude um dia era
A bolinha dos olhos que eu brincava,
Tecava em outros olhos,
De tanta força quebrava.
E dela nascia o amigo,
Do qual jorrava amizade
Sem interesse, destino...
Crescia a fortaleza da beleza,
A moeda sem bolso,
Nos tornamos moços...
Desatino...
Do lago peixes peguei,
Joguei linhada,
Encalhada no anzol,
Vinha o sossego do gosto frito,
Do sorriso belo,
Mesmo sol amarelo,
Do celeste azul,
Da noite negra anu...
(Tudo isso eu amava!)
Quanta saudade, mãe,
“Dos anos que não voltam mais”
Dos meus doze anos
Que se foram,
E estão férteis,
Dentro dos meus quintais.

Vontade do Homem. Vontade de Deus.


Temos Deus em nossos atos.

Há uma vontade em nós que só se compara aos maiores furacões jamais vistos. Essa vontade é forte, é quente como uma larva de vulcão se alastra pelas veias de nosso corpo, e rebenta em nossa alma quando nossos objetivos são alcançados. Graças a ela nascem os heróis e os maiores defensores de ideais nobres do mundo, como Nelson Mandela, Gandhi, Madre Teresa e muitos outros.
Tal vontade não se vê, mas percebe-se nos olhos, nos gestos, na voz e principalmente nas palavras desses grandes seres que comandam gerações, que modificam sociedades, e que são amados desde o dia em que resolveram levantar-se em favor de causas que, para nós, normais, são quase impossíveis.
No entanto, beira outro tipo de vontade em nós, cujo  teor de força e magia não se comparam com a primeira. Nela, a pureza, o inegoísmo, o desinteresse são bases profundas, e, para nós, quase sobre-humanas, para entender.  Mas, graças a Deus, temos as palavras rs!
Mesmo assim, tentemos explanar, com nossas parcas ferramentas, e meras experiências, o que pode exemplificar, traduzir, caracterizar a Vontade.
Na antiguidade...
Na antiguidade, respeitava-se uma tríade. Era Manas (intuição),Buddi (iluminação) e Atman (a Inteligência). A vontade inegoista viria dessa tríade, a qual estaria acima de nossas possibilidades, ou melhor, de nossa personalidade, a qual seria composta de outros elementos, por assim dizer... Passageiros, os quais, a depender do ser que estivesse consciente daqueles elementos, teriam, nas próximas reencarnações, uma breve lembrança deles... Ou seja, ninguém.
A vontade relativa, a que me referia no primeiro parágrafo, estaria na personalidade, porque, de alguma forma, estaríamos trabalhando em função de algum interesse humano, ou seja, em prol de algum ideal passageiro, como sociedade, país, enfim, dentro daquilo que achamos universal, porém, dentro de leis antigas, estaríamos sendo nada mais que nada menos interesseiros – mesmo que fosse para o próprio Jesus Cristo.
Por falar nele, devemos entender que Cristo não fora um homem comum, assim como muitos (?)  outros antes dele. Por mais que se respeite um Gandhi, um Luther King como cristos de uma época, não podemos aceitar isso. São pessoas que se fizeram em cima de referenciais, e um deles fora Cristo. Eles influenciam com suas palavras, com gestos e atos, mas não foram tais quais a Cristo ou mesmo Buda.
Sabiam que Buda vem de Buddi, que significa iluminação, e no caso dele, iluminado? Pois é. Cristo também significa Iluminação. Todos os dois teriam sido (são) seres iluminados, que vieram com propósitos universais, além da compreensão nossa de cada dia, sem margem para defender, com suas palavras, nossos interesses, o que não é uma realidade hoje em dia, infelizmente...
 Esses grande homens – também chamados de avatares, que, segundo o hinduísmo, seria a encarnação (descida) de uma divindade sob a forma de um homem... – seriam seres espirituais, deixariam mensagens idem, e que nos norteariam com mensagens acima de nossas inteligências.
A prova disso seria Cristo com suas palavras, sempre em forma de mensagens simbólicas ou em fábulas (mais simbólicas ainda), as quais somente os iniciados em seus mistérios compreenderiam. Dizem até que seus discípulos teriam dificuldade para entendê-lo, imagine nós, reles seres distanciados de suas mensagens, como nos sentimos? – bem, muitos se sentem o próprio Cristo, e nem sei por quê!!
Os avatares, como reza o hinduísmo, seriam seres universais, advindos ouros que um dia  foram carvões de brasas frias que se tornaram grandes vulcões (linguagem simbólica!), e que até hoje – milhares de anos depois – fazem tão efeito quanto se estivessem entre nós.
A vontade...

Quando Cristo se revelava contra os grandes de sua época, não o fazia diretamente, como um Gandhi, um Mandela... Pois agia com a Vontade, a qual atingia nossos âmagos, que interceptavam (até hoje) a verdade em nós. Muitos chamam de Espirito Santo.  O Avatar não o fazia contra inimigos romanos, egipcios, bárbaros, não. Como todo ser que venho do Grande Espírito, suas palavras eram direcionadas a males que estavam em nós. Porém, interesses de outros interpretaram-no de modo avesso e fazem até hoje que religiões percam seu sentido.

Quando Buda iniciava suas alegorias, o mesmo foi se fazendo em torno de várias sociedades orientais, as quais, hoje, possuem "Lamas" por onde quer que se vá. Contudo, fica claro que a Vontade, essa ponte entre Deus e o homem ainda está longe de ser descoberta, ainda que tenhamos algum súbito de amor ao próximo, refletindo um Cristo em nós (ou mesmo um Buda com sua paciência...), não podemos dizer que a tenhamos por completo.

Ela, a Vontade será sempre um ideal nosso de cada dia, assim como a Verdade, o Amor... a Pureza,  A Justiça, etc, refletindo em nossos atos de heroismo, de amor, paixão, sempre elevados, por algo nobre, ético, moral...  assim, já é o começo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Relações, a distância do infinito.


Relações Humanas. A Tônica do dia a dia.

Hoje, as repartições, aristotelicamente falando, são necessárias para que haja o desenvolver de projetos, atividades, objetivos, separadamente. Mas isso não inclui o ser o humano – ou melhor dizendo, a mente humana.
Sabemos que separar as coisas é uma necessidade, até mesmo para o bom senso profissional, Uma prova disso é quando nascemos. Parte de uma organização natural nos separa com a finalidade de não haver confusão na hora em que passamos a fazer parte fisicamente do contexto humano.
Contudo, repito, a mente humana não precisa se acostumar com a separatividade ao extremo – diferente de discriminar, no sentido de  achar-se melhor do que os outros. O quesito educação é um tanto quanto culpado por isso.
Não há motivo para sentir-se “diferente” nesse sentido. Nós o somos assim como uma rosa o é da outra ou da água, da cor das cadeiras, ou seja, somos parte de um todo tão diferente quanto nós, e que cumpre um outro tipo de finalidade, a de harmonizar-se com outro todo --  o universo.
As culturas antigas sabiam disso. Por isso, faziam megaconstruções em terras que poderiam receber a fundação; sabiam que o que era construído seria parte de um todo, e este com o próximo, e assim por diante. Não era algo que sobrevoava os interesses humanos, e sim divino – ou melhor, que guardaria, em sua essência, a chave do religare.
Hoje, quando falo em separar (separatividade) tenho um certo receio de não ser compreendido, porque fica o sentido de isolamento, e não é. Uma prova do que falo é a relação entre homens e animais, os quais, cada um em seu habitat, produzem a maior das harmonias!
Mas não é do jeito que pensamos. Um dia um professor me disse... “Eu gosto muito das onças, dos leões, das cobras, e de todo seu simbolismo, mas se me aparecem, aqui, em sala de aula, sou obrigado a abatê-los!” – era a mais pura verdade... Muitos falam a mesma coisa das sogras rs!
Fora a brincadeira, devemos nos retratar, ante ao passado, quando nos devolve perguntas mais internas, como “pra que construções desse tipo (pirâmides, etc), por que existem?”... Na realidade, o que nos bloqueia é justamente a distância que temos de uma realidade que nos sustentou no passado, tão bem quanto qualquer outra estrutura psicológica do presente. Estou me referindo à educação que temos  e o conceito moderno de harmonia.
Para as grandes civilizações, harmonia era cada um fazer aquilo para o qual era vocacionado, assim como o sol faz seu trabalho tão belamente sem que precisemos nos preocupar com algum sucessor. No nosso caso, é mais complicado. Tinha que ser rs!
Quando no inicio falava de repartições, estava me referindo apenas a elas, não ao ser humano, que se julga, todos os dias, melhor que outro, ainda que possua problemas de personalidade. Em repartições, o profissional – que hoje, pode ser misturado com uma boa pessoa, e vice-versa – se revela o melhor dos melhores em sua função, e, por tabela, o melhor ser humano... Vejo todos os dias isso, quando falam de ministros, oficiais de gabinete, secretário... Quando estes são citados, muitos os assemelham a grandes, poderosos... Porém, quando dão um bom dia ao funcionário que transita, sem querer, em seu espaço, se assemelham a pessoas normais, estranho hein?!... Outros, no entanto, não guardam o que realmente são.
Tal pensamento gera consequências terríveis, principalmente para os empregados, servidores, serviçais, etc, os quais, por sua vez, são obrigados a se recolherem psicologicamente, pois, se fazem parte de uma base piramidal, e se fazem parte dessa base por natureza, não são confiáveis (por tabela), são humilhados ainda que façam um ótimo trabalho na limpeza, na copa, na louça, no servir de um café, e por serem da base, são ladrões, pobres em todos os sentidos e não têm direito a serem humanos!...
A humilhação psicológica, a responsável por sermos aprazíveis de vez em quando, passa a desenvolver um outro aspecto, agora pior, o do astral, o qual nos faz ter medo de levantar e enfrentar o dia a dia, ou mesmo o chão em que pisamos.
E a bola de neve da separatividade cresce, se desenvolve, nos tornando monstros com cara de homens e mulheres com feições de anjos do mal. Cresce, e, com o passar do tempo, nos torna escravos do próprio homem que, profissionalmente, é uma lenda, mas é monstro tanto quanto o pior ser imaginário...
Enfim, explicar a decadência do pensamento humano é coisa para os estudados em tal assunto, o que não sou, mas posso, por experiência dizer, se não tivermos nem que seja um pequeno referencial, que seja bom, belo, justo e verdadeiro, cairemos em armadilhas psicológicas, sem saber fazer distinções entre seres humanos, ainda que sejamos iguais em essência, e não conseguiremos sair nunca.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Distância de Si Mesmo

Somos a humanidade. Pensemos nisso.

Não há mais o que dizer a respeito do comportamento humano, apenas espreitá-lo de longe como em um filme na selva africana, onde homem e animal se harmonizam apenas com o olhar. Ao contrário de outras espécies as quais podemos sentir o calor do abraço, do beijo, do respeito, do elogio mútuo... Espécies em extinção.
Não há como abraçar um tigre, um leão, uma cobra e outros animais que foram moldados pela natureza como seres fortes, selvagens, venenosos, às vezes, nem por sê-lo, mas apenas pela sua aparência nos passam medo em excesso – pânico mesmo, como crocodilos imensos, rinocerontes... Enfim, há animais que, por si só, representam o poder, a autoridade, como o leão, e nos fazem impotentes, ao passo seus admiradores. Mas a distância está nos fazendo mais animais ainda.
Hoje a distância tem aumentado. Muitos compram carros imensos apenas com a finalidade de levar seus filhos ou a própria esposa (ou marido), ou mesmo, para uma viagem curta, na qual se colocam objetos por ele desconhecidos, apenas para lotar o brinquedo que comprara com tanto atraso. Porém, não o peça  para levar amigos, ou emprestá-lo, usá-lo para uma carona... Não, a modernidade nos fez criar imagens de desconfianças em relação ao próximo.
A distância nos deu o celular, Iphones, Notebooks, os quais sintetizam o egoísmo, o interesse, ao mesmo tempo a alegria de estamos longe, ainda que estejamos com o aparelho pertinho de alguém. Provas há de que somos seres incapazes de perceber o quanto toda essa parafernália nos fez mudos, surdos, dotados de “inteligências” voltadas a uma tela – pequena, grande, fria... chega!
A distância nos fez repensar o que não somos: animais.  Ela nos deu o ciúme dos objetos a mais do que podemos sentir pela própria namorada, esposa, amizades. Destronou o heroísmo natural do homem, e nos trouxe o interesse profundo em obter facilmente, por meio de um ato, o que queremos por inveja. A distância nos faz, hoje, animais observando animais. Mas não somos, pois, melhores do que o menino ou menina largado nas ruas, em nome de um pai ou mãe doente, ou que não tem afinidade com o trabalho. A nossa filosofia, a mais correta que encontramos, é de manter longe o ser humano, gradeando nossas casas, nossas mentes, e abrindo um mar de desconfianças frias, às vezes, sorridentes, com aquele ar cínico, natural de um ser, que não quer ser corrompido pela pobreza.
Comprar terras longe do “mal” (a que mal nos referimos?), a deixar de enfrentar nossas guerras, e, depois delas, a própria guerra em aceitar o outro que nunca, jamais se afastará de nossas sombras – o que nos soa como o mais terrível filme de terror jamais produzido... Então, nos afastamos de todos, de nós mesmos, e nos jogamos para dentro de nossas casas, fechando janelas, correndo para o nosso quarto, pulando na cama e a criticar, no jornais, a própria sociedade e suas mazelas. Sem saber, no entanto, que a própria sociedade é a bola de neve que cresce ante nossa desumanidade que se alastra graças a nossa hipocrisia tão cultivada em todos esses anos, e que ficou tão ereta quanto uma espada feita pelo melhor ferreiro, o homem.
A distância fez homens comprarem ilhas e sumirem dos olhos dos amigos, famílias, de si mesmo, apenas para recomeçar o próprio mundo. Acredito que, para começar um novo mundo, é necessário sermos flexíveis aos conceitos antigos de sociabilidade, integração, humanidade, além das práticas – ainda que sejam mínimas – de valores aos quais, há muito, obedecíamos. Estou fazendo uma invisível alusão ao amor, à temperança, à virtude, à coragem, à espiritualidade, os quais criam, ainda que parcamente, pessoas reais, seres humanos reais, que desenvolvem a real humanidade em palavras, em atos, e criam instituições, com ideais nobres, e não deixam de acreditar em nós, seres que buscam, do outro lado da esquina da vida, a evolução.
A distância, assim, é tão hipócrita quanto nós. Não vivemos sem alguém do nosso lado, sem o carinho, mesmo que pequeno, sem palavras bobas, ou sem qualquer presença. Ainda que nos acostumemos aos cachorros, lagartos, gatos, camaleões por perto, sempre, sempre, sempre, vamos optar pela voz de alguém que nos questione, de alguém que brinque, ou brigue; mas que esteja conosco, seja em uma ilha, seja no meio do mar, em refúgios longe do mundo, enfim, precisamos, sim, é nos encontrar, quebrar barreiras, dialogar ao ponto de fugir de nossas pretensões tolas e sorrir até o fim, e, de preferência, com um bom vinho!



Aos Homens

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Invisível. Tudo está em Tudo.

Mudanças leves e sutis: efeitos grandiosos.

Uma mera partícula que se esvai ao som do nada, no meio do invisível, surtir efeito na imensidão de um infinito, ainda sem nome, colidir com outra partícula tão transparente que se segue sem o ônus da colisão.
Navegando solitária, voa na escuridão, sem medo, sem segredo, peregrinando até a explosão de si mesma, dando inicio ao universo. Os resquícios não se somam a uma grande consequência, mas o bastante para a manifestação de outras partículas maiores, as quais estariam embutidas na primeira: o miniuniverso...
Ao dar a partida para a real vida, agora com reais possibilidades de agigantar-se, a primeira centraliza-se e organiza todas as outras, e revela o que muitos sabiam e ainda não sabem. Revela a imensidão, o poderio, a propriedade, a grandeza e , num gesto típico de uma grande mãe, cria laços, réstias, das quais nunca se poderá desligar-se das outras, criando uma lei à qual obedece-se, mesmo sem que haja consciência para tanto...
Aos poucos, as veias invisíveis trabalharão em nome da causa, criarão partículas que crescerão e se tornarão habitadas por outras. A imensidão ainda está por começar...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Chuva e a Rosa

Momentos mágicos se vão e não nos damos conta

Chuva
Em dia de chuva, chuvas que não cessam nem mesmo quando se quer observar o mínimo de sol, vem a lama, os acidentes, o tumulto com os veículos, além das reclamações da época, e mais, muito mais. Não há, no entanto, nenhum individuo que possa dizer “que dia lindo” ainda que chuvoso! E ninguém se arrisca em perder a imagem de uma cama macia, com edredons volumosos, no escuro de um quarto apaziguado pelo sono embalado pelas gotículas no telhado. É o céu.
Ao levantar, depois do grande esforço, olhamos, rapidamente, o quintal. Tão vasto e belo, cheio de flores e plantas bailando, como um grupo de balé em um grande palco. Tudo isso, no entanto, nos vem como um raio, mesmo porque o medo da chuva, do frio, do barro – do escorregão! – nos faz mais precavidos do que atentos à natureza que se revela ante de nós.

Rosa
Porém...nesses dias, pude perceber uma rosa. Tão bela em essência que parei para ver e sentir a sua necessidade de ser observada. Algo nela possuía uma forma de arte ou mesmo um conceito, ou mais que uma linda imagem.
Nela, seu botão e pétalas brilhavam intensamente. E me lembrei do conceito de beleza platônico... O conceito abrange beleza, arte, essência, pureza, espirito, amor, justiça, enfim, tudo que reúne elementos arquetípicos.
A beleza da rosa, segundo o filósofo, estaria na rosa, e não que ela possuísse a beleza. A Beleza platônica -- a absoluta -- passaria pela flor e quando esta não mais a possuísse perderia a essência, envelhecendo.
Desde o inicio, a rosa teria sua beleza, mas chegaria ao ápice e encontraria a essência, chegando a colidir com a Beleza universal. Esta, segundo Platão, não viria da ótica humana ou sequer de algum lugar do mundo, pois estaria em um “mundo” perfeito, advinda de um logus que abrange não só a Beleza, mas também o Amor e Justiça.
Tais aspectos, tão perfeitos, estariam longe do relativismo humano, mas que podem ser apreciados, brevemente, em alguns corpos – por assim dizer – da própria natureza. Não apenas na rosa, mas a Beleza, a Justiça e o Amor, também poderiam estar em uma mesa bem posta na sala, com um belo pano de mesa, com um pequeno jarro de vidro (ou mesmo de plástico...), com rosas harmonizando com o pano, com a mesa, ou mesmo com a casa... Enfim, com elementos diferentes, mas que estariam sendo parte de um todo, sem ressaltar qualquer cor, objeto, mas sendo harmônicos, ou seja, dando beleza ao todo.

Dever cumprido
A rosa, depois de dois dias, cumpriu seu ideal de Beleza, atingiu a esfera do arquétipo, sorriu aos transeuntes, fez o seu papel de rosa, com espinhos belos e macios, com pétalas molhadas por partículas de chuva branda, tentou erguer-se, ainda que não houvesse força, perdeu a essência da beleza, mas não de ser rosa; foi desfalecendo, perdeu seu vigor, caiu...
E cabisbaixa, como um ser que perdera tudo, lá ficou, sem que ninguém a arrancasse, a quebrasse. Seu cheiro se foi, mas até mesmo sua decadência estava nos planos da grande natureza, e por isso, tornou-se bela para sempre!
 É, em nossos quintais chuvosos, podemos, com pequenos relâmpagos internos, visualizar um mundo do qual participamos, mas que, às vezes, por causa do medo, da pressa, do sono, da preguiça... ou mesmo em razão de nossas infrutíferas aventuras em busca do nada, perdemos o que a grande natureza nos oferece.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....