Somos a humanidade. Pensemos nisso. |
Não há mais o que dizer a respeito do comportamento humano, apenas espreitá-lo de longe como em um filme na selva africana, onde homem e animal se harmonizam apenas com o olhar. Ao contrário de outras espécies as quais podemos sentir o calor do abraço, do beijo, do respeito, do elogio mútuo... Espécies em extinção.
Não há como abraçar um tigre, um leão, uma cobra e outros animais que foram moldados pela natureza como seres fortes, selvagens, venenosos, às vezes, nem por sê-lo, mas apenas pela sua aparência nos passam medo em excesso – pânico mesmo, como crocodilos imensos, rinocerontes... Enfim, há animais que, por si só, representam o poder, a autoridade, como o leão, e nos fazem impotentes, ao passo seus admiradores. Mas a distância está nos fazendo mais animais ainda.
Hoje a distância tem aumentado. Muitos compram carros imensos apenas com a finalidade de levar seus filhos ou a própria esposa (ou marido), ou mesmo, para uma viagem curta, na qual se colocam objetos por ele desconhecidos, apenas para lotar o brinquedo que comprara com tanto atraso. Porém, não o peça para levar amigos, ou emprestá-lo, usá-lo para uma carona... Não, a modernidade nos fez criar imagens de desconfianças em relação ao próximo.
A distância nos deu o celular, Iphones, Notebooks, os quais sintetizam o egoísmo, o interesse, ao mesmo tempo a alegria de estamos longe, ainda que estejamos com o aparelho pertinho de alguém. Provas há de que somos seres incapazes de perceber o quanto toda essa parafernália nos fez mudos, surdos, dotados de “inteligências” voltadas a uma tela – pequena, grande, fria... chega!
A distância nos fez repensar o que não somos: animais. Ela nos deu o ciúme dos objetos a mais do que podemos sentir pela própria namorada, esposa, amizades. Destronou o heroísmo natural do homem, e nos trouxe o interesse profundo em obter facilmente, por meio de um ato, o que queremos por inveja. A distância nos faz, hoje, animais observando animais. Mas não somos, pois, melhores do que o menino ou menina largado nas ruas, em nome de um pai ou mãe doente, ou que não tem afinidade com o trabalho. A nossa filosofia, a mais correta que encontramos, é de manter longe o ser humano, gradeando nossas casas, nossas mentes, e abrindo um mar de desconfianças frias, às vezes, sorridentes, com aquele ar cínico, natural de um ser, que não quer ser corrompido pela pobreza.
Comprar terras longe do “mal” (a que mal nos referimos?), a deixar de enfrentar nossas guerras, e, depois delas, a própria guerra em aceitar o outro que nunca, jamais se afastará de nossas sombras – o que nos soa como o mais terrível filme de terror jamais produzido... Então, nos afastamos de todos, de nós mesmos, e nos jogamos para dentro de nossas casas, fechando janelas, correndo para o nosso quarto, pulando na cama e a criticar, no jornais, a própria sociedade e suas mazelas. Sem saber, no entanto, que a própria sociedade é a bola de neve que cresce ante nossa desumanidade que se alastra graças a nossa hipocrisia tão cultivada em todos esses anos, e que ficou tão ereta quanto uma espada feita pelo melhor ferreiro, o homem.
A distância fez homens comprarem ilhas e sumirem dos olhos dos amigos, famílias, de si mesmo, apenas para recomeçar o próprio mundo. Acredito que, para começar um novo mundo, é necessário sermos flexíveis aos conceitos antigos de sociabilidade, integração, humanidade, além das práticas – ainda que sejam mínimas – de valores aos quais, há muito, obedecíamos. Estou fazendo uma invisível alusão ao amor, à temperança, à virtude, à coragem, à espiritualidade, os quais criam, ainda que parcamente, pessoas reais, seres humanos reais, que desenvolvem a real humanidade em palavras, em atos, e criam instituições, com ideais nobres, e não deixam de acreditar em nós, seres que buscam, do outro lado da esquina da vida, a evolução.
A distância, assim, é tão hipócrita quanto nós. Não vivemos sem alguém do nosso lado, sem o carinho, mesmo que pequeno, sem palavras bobas, ou sem qualquer presença. Ainda que nos acostumemos aos cachorros, lagartos, gatos, camaleões por perto, sempre, sempre, sempre, vamos optar pela voz de alguém que nos questione, de alguém que brinque, ou brigue; mas que esteja conosco, seja em uma ilha, seja no meio do mar, em refúgios longe do mundo, enfim, precisamos, sim, é nos encontrar, quebrar barreiras, dialogar ao ponto de fugir de nossas pretensões tolas e sorrir até o fim, e, de preferência, com um bom vinho!
Aos Homens
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