quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um Farol Longe Demais - parte I

Ao saber do desastre educacional pelo qual passamos, vivemos a refletir acerca de nossas responsabilidades junto às crianças, aos jovens e a nós mesmos principalmente. Não tem como fugir... Não podemos por culpa apenas em governos, cujas naturezas já nos são desastrosas desde que somos gente. Perdão a metáfora, mas nos assemelhamos a tripulantes medrosos, sem mesmo questionar a existência de um capitão, porque o atual pulou muito antes de nós!...
Uma prova maior da existência da incapacidade governamental (e nossa) é a maneira como ele (e nós) enfrenta bandidos nas grandes cidades, as mortes no trânsito, e muito mais. Já não bastasse a realidade dos jovens nas estradas, embriagados, e na maioria das vezes com idade parca, agora, mais do que nunca, surge um mostro que fora se alimentando com o nível de nossas incapacidades...
As Drogas...!
Com chinelas arrastando, bermudas abaixo da cintura, quase a cair; torço forte com tatuagens explicitas, e um óculos de sol no rosto e uma face de uma realidade que não dá pra esconder. Outras vezes, com falas rápidas, gestos mais ainda, olhos arregalados, vermelhos, fala mansa, ou alta em demasia... Corcunda, braços pendurados, e gírias incompletas. Após, choros nos cantos, solidão louca, gritos... A dor da dependência, a dor da perda, a dor do mal...  A morte em vida. A droga já o tomou.
Muitos sem tais adjetivos acima transformaram algumas drogas em algo necessário em suas vidas, como a maconha, umas das mais sutis e, ao mesmo tempo, uma das brechas mais antigas para outras bem maiores que ela, o crak. Não sabem, no entanto, que perderam a noção de uma realidade realmente necessária, a de uma mente pura e cristalina, sem qualquer intervenção de alucinógenos. Perderam o rumo de uma vida na qual pais e mães, filhos, não fazem mais sentido.
 
E o pior, tais drogas, tão em evidência, estão hoje à beira de nossas casas, como frutas que eram vendidas antigamente, no portão; hoje, são frutos de uma incompetência generalizada, pois deixou-se, graças a leis interesseiras, que crianças, até mesmo com sete a oito anos de idade, ou mães com bebês de colo, usufruam desse mal que destrona qualquer civilidade; um mal que mata aos poucos todos da família, ainda que apenas um seja o usuário.
 Aconteceu com um grande amigo...
Sua voz, geralmente, alegre e firme, naquele dia pareceu-me trêmula e triste, quase esgotada. Eu, que geralmente distribuía alegria ao telefone, ao ouvi-lo, fui obrigado a ser ameno em minha simpatia. Mas a conversa fluiu, até que...
...Depois de vários diálogos básicos, perguntei pela família dele... E foi, talvez, a hora em que eu queria não ter perguntado, pois senti o seu astral de longe, misturado à dor de um homem que passava pela primeira vez pelo grande problema que atinge a todos, principalmente os jovens rebeldes, sem heróis e sem destino.
Seu filho de vinte e dois anos, preso aos livros há menos de cinco anos, que havia passado em faculdades e conseguido um emprego para se autossustentar, hoje se confunde com um drogado, cujas esperanças se vão nas ruas, ao lado de sua casa, junto a amizades cruéis, perfazendo caminhos sem volta.
A tristeza desse meu amigo calhou em meus pensamentos secretos acerca de uma juventude que não tem tempo para livros, para o esporte, para o trabalho e estudos, mas sente-se aventureira, arriscando-se fria e dolorosa em uma viagem que, a depender de sua luta, e dos próprios pais, pode ou não haver volta.
Ele quase chorou, e eu também. Ao perceber que seu filho, a que ele tanto ama, e que eu aprendi a admirar, lá estava na pequena fresta que mais tarde poderia alargar-se. E seu pai, meu grande amigo, tornar-se-ia mais um homem em uma luta insólita em nome de Deus, em favor da liberdade de seu filho. Liberdade esta que poderia corroer-lhe as mãos, as vísceras, as entranhas, o juízo... tudo com a finalidade de ver aquele que ele mais ama longe do maior monstro criado pelo homem.
Poder de Escolha
Com um filho de quatro anos, hoje, tento dar o maior amor a ele até que o sufoque de tanto rir. Ele, meu querido filho, sabe também que minha pretensão, ainda que não seja a dele, como assistir a filmes indecorosos, ou cenas tais, ou ainda desenhos horríveis – fora os dinossauros que adora – entende que é um processo natural de negação aos menores males, por isso age de acordo com sua natureza, ou seja, chorando... No entanto, está na dentro do amor que tenho a oferecer-lhe. A essência é o Bem.
Porém, quando se cresce o bastante, também se crescem vontades, escolhas, portanto, o número de nãos cresce em igual proporção; na adolescência, a idade entre as escolhas mais imprudentes, polêmicas, dos atos mais incríveis e ao passo decisivos, o jovem se revela, se esconde, se intromete, se destaca ou se suicida... O poder é dele.
 
O poder de escolher e suas referências são meios pelos quais jovens caminham em favor ou contra o vento educacional que tanto fez parte da pequena caixa de família durante “séculos”, porém, não servira para um mundo contaminado pelos males que se infiltraram nas vísceras de nossas famílias – isso não estava em nossas caixas educacionais; agora, revela-se uma dor corrosiva ao ponto de levar a todos (emotiva e fisicamente) ao desgaste, à morte em vida.
Assim, em meio a esse desgaste, como homens e mulheres perdidos num deserto de areia infindável, caminhamos em busca de uma imagem que nos norteie, ou mesmo um oásis ilusório no qual bebamos a água da vida e voltamos a caminhar.
Tais escolhas sem referencias podem levar a uma educação perigosa; escolhas sem limites, também. O verdadeiro poder, não sabem, esconde-se nesse processo, o de filtrar seus desejos, manipulá-lo ao ponto de diferenciar o que seria o bom ou o mal para o seu caminho; contudo, quando se é jovem, há distúrbios em saber lidar com isso. É preciso dizer-lhes que somos a única raça que não precisa provar do doce ou do amargo para saber se é doce ou amargo...
 
 
Tem mais no próximo texto...


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