Permitam-me outra metáfora... Quando queremos gelo, o
retiramos da geladeira, o colocamos no suco, no vinho, ou sei lá, até mesmo na
cerveja!... Reclamamos da pequenez, da pouca quantidade... Até do esparramo que ele causa, se não usado corretamente. Ele molha tudo!
Dessa maneira se comporta o sistema com relação às drogas.
Há a possibilidade de trocar a geladeira, mas ele reclama do gelo – do menor ao
maior usuário de drogas. E, em nome dessa farsa, esconde-se ou estabelece leis frágeis,
as quais nos soam muito mais como soluções abstratas do que concretas.
A prova disso nos veio nessa semana, quando policiais realizaram
retiradas de usuários que se reuniam, todos os dias, a céu aberto, ao lado do
aeroporto paulista, em um espaço chamado forçosamente de Cracolândia, no qual
dezenas, quase centenas de transeuntes, passavam e viam a deterioração humana,
sem poder dizer ou fazer algo, pois estavam diante de uma bola de neve maior
que o meteoro que passou pela terra... A cena era aberradora.
Assim, levados involuntariamente, todos os usuários serão
medicados, alojados, tratados (ou destratados!), e passarão parte de um tempo
presos nas mãos de instituições pagas pelo contribuinte.
Mas a geladeira, o sistema, é a mesma. Com exemplos pífios de
ética e moral, alguns se aproximam do eleitorado para falar que a droga é ruim
para jovem. Outros, com mais soberba, dizem, “temos que fazer algo pelos jovens!”,
mais alguns, agora em época de eleição, deduram... “...E o governo, o que fez
para o nosso jovem?”...
Anos se passam, e nossas casas, nossos abrigos, cercados com
altas torres, com arames farpados, e agora com cercas elétricas, colhem filhos
que vêm das instituições educacionais, à noite, de dia, de manhã, com intuito
de livrar-se do mal da natureza humana, e, na calada do tempo, chegam a aprender e a lidar, na
prática, com a droga.
Pois, lá, em faculdades, em universidades, ou coleginhos de
segundo grau, a aula não é somente de história, geografia, matemática... E sim,
de como se emanarem com péssimas amizades e com professores sem moral, sem
didática e vocação.
Ninguém está livre.
Meu caro amigo...
Dois dias após meu diálogo por telefone com meu caro amigo,
tive uma conversa nada agradável sobre o assunto. Fiquei pouco à vontade, pois
não teria exemplos práticos, ainda que houvesse alguns resquícios em minha família,
mas não teria exposto pela ética que o assunto pedia. Eu, enfim, achei melhor
que buscasse junto a especialistas o que fazer no caso do filho dele, pois, se
ele não tinha a menor vontade de abrir-se com seus familiares, que, então, o
fizesse com pessoas que tivessem algo concreto e certo a dizer.
Antes, porém, disse-lhe que, se fosse comigo, mudaria de
local, porque, se fosse um caso de “amizades”, vendesse sua casa, morasse em um
condomínio fechado, dialogaria, todos os dias, a respeito do assunto, copiosamente, com seu filho,
mostrasse exemplos claros em clinicas, em instituições, em hospitais, de modo
que o sensibilize...
Porém, não se conhece completamente as pessoas, ainda que
moremos duzentos anos com ela. É preciso, antes de tudo, aceitar seus erros,
seus defeitos, com se fossem nossos. E, quando se trata de filhos, e nos
deparamos com problemas idênticos a esses, tenho a certeza de que a primeira
coisa a se fazer é nos culpar...
E estamos certos. Em parte. Marco Aurélio, antes de morrer
nos braços do filho assassino, disse “o que você é hoje, é parte de minha omissão, portanto, também não fui um bom pai”.
A realidade é que, na hora em que mais precisam de nós, de repente, não
estamos. Às vezes pelo trabalho, ou mesmo pelos estudos em demasia, pelos vícios
caseiros, pelas noites longe da cria, somos obrigados a dizer a mesma coisa que
o grande general...
Porém, não o somos por completo. Não há mais jovens desinformados
como no passado, pois, querendo ou não, há a internet, os jornais e exemplos em
massa de pessoas que se findam em drogas – maconha, ecstase, crak, -- enfim,
que morrem em vida em busca de aventuras cujas consequências são maiores que a própria
morte real.
A minha filosofia
Hoje, em nome dos grandes de épocas passadas, vejo a vida
como uma grande guerra a ser vencida desde a hora que acordo, até a hora em que
durmo. Nela, estão meu filho, minha esposa, irmãos e amigos. E nessa guerra, ainda oculta aos olhos de
muitos, tento sobrepor-me com meus princípios básicos, práticos, mas que, tenho
a certeza, valem mais que muitos professores de Harvard.
Mas não precisam ser de Harvard, que sejam estes mesmos que
se subjugam clássicos, éticos e cheios de moral, e que, por outro lado, não
entendem que estamos lidando com estruturas humanas, as quais julgam, subjugam,
aprendem, e desaprendem como diria uma professora, “como se passassem a vida
subindo uma montanha, e que para descerem levam menos de um minuto...”.
Assim o somos. Na teoria, seres que acreditam que as drogas,
assim como qualquer vírus letal, não entram em nossos lares em razão de nossa
grande cultura, no entanto, nos deparamos e nos modificamos, e morremos, quando
estamos errados.
Eu sempre digo aos meus sobrinhos, o bem tem várias pernas,
e o mal, milhões de braços. Às vezes não se consegue correr dele. Temos que nos
jugar humanos, frágeis, ao mesmo tempo fortes, pois, ao constatar que há
pessoas de bem, em nome de Deus, nas drogas, ou traficando-as, perde-se os
referenciais, mas se ganha confiança em si mesmo, pois, apesar das parcas ferramentas, ainda não fomos atingidos.
Pois passamos nossas vidas acreditando que quando se estuda,
quando se é uma autoridade, quando se é religioso ou mesmo um grande senador,
presidente, estamos livres... Estamos enganados. Então, precisamos, em nossa
juventude, esse lago imenso de mistérios, navegar com os deuses, encontrar
mistérios nos quais no elevamos, e, quem sabe, nesse mesmo lado, encontrar heróis
que um dia, em sua guerra mais sangrenta, queriam salvar apenas a humanidade,
não eles próprios.
Heróis assim não se fazem mais. Vamos nos salvar então,
jovens! Se não há heróis em vida, procuremos o menor, ou aquele que nos mais se
revela bom e verdadeiro aos nossos olhos, sintamos esse grande herói em nossas
vidas, façamos um pouco de suas façanhas, ainda que não sejam tão grandes, mas
que são o suficiente para salvar suas (nossas) vidas desse grande monstro que
criamos...
... As drogas.
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