Momentos mágicos se vão e não nos damos conta |
Chuva
Em dia de chuva, chuvas que não cessam nem mesmo quando se quer observar o mínimo de sol, vem a lama, os acidentes, o tumulto com os veículos, além das reclamações da época, e mais, muito mais. Não há, no entanto, nenhum individuo que possa dizer “que dia lindo” ainda que chuvoso! E ninguém se arrisca em perder a imagem de uma cama macia, com edredons volumosos, no escuro de um quarto apaziguado pelo sono embalado pelas gotículas no telhado. É o céu.
Ao levantar, depois do grande esforço, olhamos, rapidamente, o quintal. Tão vasto e belo, cheio de flores e plantas bailando, como um grupo de balé em um grande palco. Tudo isso, no entanto, nos vem como um raio, mesmo porque o medo da chuva, do frio, do barro – do escorregão! – nos faz mais precavidos do que atentos à natureza que se revela ante de nós.
Rosa
Porém...nesses dias, pude perceber uma rosa. Tão bela em essência que parei para ver e sentir a sua necessidade de ser observada. Algo nela possuía uma forma de arte ou mesmo um conceito, ou mais que uma linda imagem.
Nela, seu botão e pétalas brilhavam intensamente. E me lembrei do conceito de beleza platônico... O conceito abrange beleza, arte, essência, pureza, espirito, amor, justiça, enfim, tudo que reúne elementos arquetípicos.
A beleza da rosa, segundo o filósofo, estaria na rosa, e não que ela possuísse a beleza. A Beleza platônica -- a absoluta -- passaria pela flor e quando esta não mais a possuísse perderia a essência, envelhecendo.
Desde o inicio, a rosa teria sua beleza, mas chegaria ao ápice e encontraria a essência, chegando a colidir com a Beleza universal. Esta, segundo Platão, não viria da ótica humana ou sequer de algum lugar do mundo, pois estaria em um “mundo” perfeito, advinda de um logus que abrange não só a Beleza, mas também o Amor e Justiça.
Tais aspectos, tão perfeitos, estariam longe do relativismo humano, mas que podem ser apreciados, brevemente, em alguns corpos – por assim dizer – da própria natureza. Não apenas na rosa, mas a Beleza, a Justiça e o Amor, também poderiam estar em uma mesa bem posta na sala, com um belo pano de mesa, com um pequeno jarro de vidro (ou mesmo de plástico...), com rosas harmonizando com o pano, com a mesa, ou mesmo com a casa... Enfim, com elementos diferentes, mas que estariam sendo parte de um todo, sem ressaltar qualquer cor, objeto, mas sendo harmônicos, ou seja, dando beleza ao todo.
Dever cumprido
A rosa, depois de dois dias, cumpriu seu ideal de Beleza, atingiu a esfera do arquétipo, sorriu aos transeuntes, fez o seu papel de rosa, com espinhos belos e macios, com pétalas molhadas por partículas de chuva branda, tentou erguer-se, ainda que não houvesse força, perdeu a essência da beleza, mas não de ser rosa; foi desfalecendo, perdeu seu vigor, caiu...
E cabisbaixa, como um ser que perdera tudo, lá ficou, sem que ninguém a arrancasse, a quebrasse. Seu cheiro se foi, mas até mesmo sua decadência estava nos planos da grande natureza, e por isso, tornou-se bela para sempre!
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