quinta-feira, 31 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: o Herói Perdido.

Último texto sobre o Evangelho de São Tomé.






“Feliz do homem que foi submetido à prova – porque ele achou a vida.


Quando se tem uma humanidade para lutar, quando se pensa em uma justiça para abrandar em meio a uma injustiça que corrói as margens de um mundo frio, insensato, e a cada dia mais insensato, insano e débil, que se alastra desde a concupiscência até a base dessa pirâmide social que é comandada pela escória que ganha com a ignorância alheia, deixando, ao seu bel prazer, a pobreza se espalhar pelos poros do mundo e do próprio homem, sabe-se que temos muito a lutar.

Mesmo aquele que não se julga herói (talvez esse o seja por isso), ao se levantar de seu pequeno canto, alimentar a sua prole, amar sua família, trabalhar com disciplina em favor de alguém que esteja ao seu lado, sendo a cada dia aquele pingo que a sociedade precisa para se elevar em meio a um oceano sujo e que há milênios não se consegue sentir o cheiro da maresia dele e sim do interesse sujo, que corroeu toda a possibilidade de crescimento humano – de humanidade..., enfim, mesmo com toda sua simplicidade, o homem pode ser um herói, pode ser o que ele bem entender.

Os heróis, por meio de premissas gêmeas a anterior, não vão a guerra por acaso, e na maioria das vezes sabe que não voltam, mas sabem porque entram. Pela liberdade, pelo amor ao mundo, à sociedade; por acreditar que há sementes no coração no homem, por um povo que nele acredita e grita nas ruas em favor de mudanças, e que, descalço, sente a terra pela qual lutou.

E hoje, a realidade nos mostra que homens há de coração, de fé, de pensamentos ideológicos,  mas que não aprenderam a sair do sofá, de perto do controle remoto, a criticar governos, guerras, conflitos internacionais, ir a fundo em seus embasamentos, contudo não possuem razão de ser e assim, sem estratégias, se consolam com o café que chega.

Este, no entanto, não sabe que ser herói, dentro de suas possibilidades, não é apenas ir às guerras, suar frio com o inimigo, morrer pelo companheiro, assim como fariam os espartanos, romanos, persas... E sim encontrar meios naturais de modificar seu mundo – não o externo – e como uma oração disciplinada na noite, tentar subir os degraus de seus próprios sonhos, referenciando-se naquilo que chamamos necessidade de mudar o mundo por meio do homem.

Soa como algo utópico, desalentador, mas, se procurarmos entender o porquê das guerras, das injustiças sociais, do nascimento de genocidas, cairemos em vãos maiores que abismos ao descobrir que também somos homens, podemos ser injustos, genocidas, políticos nos pior sentido da palavra, e o pior, não acreditamos, por isso não mudamos.

Podemos ser heróis do aqui agora. O mundo pede isso. Nossa quota de mal já assola a humanidade há tempos e estamos perdendo filhos, mães, irmãos; estamos perdendo a vontade de viver, e ao sentir isso, caímos em outro vazio: não há outro meio senão nos suicidar ou ser um crente...!

Não podemos nos entregar a mais ninguém, a não ser ao nosso mestre interno, que quer ditar as regras de nossos caminhos, quer nos mostrar as estrelas – não físicas – o sol, que paira tão quente quanto o visível, e nos deter em nossa ignorância quando nos referimos ao próximo como covarde, injusto, pois se o somos, lá no fundo, temos que mostrar que podemos ser corajosos, justos, em uma guerra silenciosa que só os indignados pelo mundo veem.

Precisamos ser heróis. Precisamos tomar a cicuta, morrer por algo, por alguém; precisamos conversar com nosso lado mal, fazê-lo entender que existem coisas melhores do que elevar nossos desejos de areia, de conseguir o que sempre podemos em nome de uma máscara insaciável. Precisamos descer da montanha felizes por tê-la vencido; precisamos vencer, parcialmente, esse mal.

E mais, buscar um motivo – além dos motivos técnicos, formais, profissionais – para mudar o que hoje precisa ser mudado. Nós mesmos. Não adianta falar em justiça se não sabemos, até hoje, trazê-la para dentro de nossa casa; não adianta falar de ética, de moral, de amor, e até mesmo de amizade, se um dia podemos trair nosso melhor amigo. Não podemos em meio a esse mundo ser tal qual a ele se guerras há como a maior das bolas de neve e que, no meio de um frio ínfimo, outras bolas nascem por meio de fagulhas que não se cansam de cair.

Cristo tinha razão, como sempre, quando disse que o homem submetido à prova achou a vida, pois, em todas as épocas, paira o sonho do homem em realizar a justiça, em trazer todos os valores humanos junto a uma sociedade que se desfaz em pobreza, ignorância, misérias, graças aos amos de uma grande caverna que preferem se ocultar aos olhos humanos, mas se mostrarem em forma  de guerras nas quais somente ele ganha, somente ele sobrevive.

O homem submetido à prova levanta-se do sofá, pronuncia a palavras corretas nas horas vis, andas nas águas do mal e não se afoga, abre os mares vermelhos com o cajado de sua simplicidade ainda que há aqueles que se julgam bons e não o são; mas ele, o grande herói, o real, que prossegue com o escudo de esparta, com as palavras de um Júlio César, que, em sua vida, nunca conhecera a derrota, enfim... Aqui o homem encontra a vida.



Aqui termina nossa saga. 

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: segredo clássico.

“Eu vos darei o que nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, nenhuma mão tangeu, e que jamais surgiu no coração do homem”

Continuando com nossa saga na tentativa de interpretar nosso querido mestre ocidental cristão – Cristo, sempre lembrando que tais interpretações advêm de estudos relativos aos grandes ocultistas e filósofos da antiguidade, os quais também cultivaram seus entendimentos acerca do homem a partir do conhecimento mais antigo que eles mesmos. Ou seja, fica difícil dizer de onde vem o Conhecimento, mesmo porque civilizações do passado, com seus reis e rainhas, sacerdotes e sacerdotisas, já o tiveram como legado de suas gerações de sábios...

Ou seja, não acreditamos que haja uma sabedoria que seja atemporal, ou seja, que passa de gerações e gerações e que ao mesmo tempo seja interpretadas por indivíduos quaisquer – leia-se pastores, anciãos, políticos-cristãos, budistas modernos, enfim, muito pelo contrário – acredito que haja uma singularidade clássica perdida em meio às escrituras, sejam elas da Bíblia, Alcorão, etc, nos quais nos sujeitamos, com nossa simplicidade (para não dizer ignorância) a levar rebanhos a terras improdutivas.

Vamos ao texto:

“Eu vos darei (...) coração do homem” – Naturalmente, a sabedoria é algo maior do que nossos sentidos físicos, ou seja, do que nossos cinco sentidos. Nada há que possa dizer o contrário, contudo há quem diga que podemos alcançar, por meio deles, a metafísica alcançada pelos estudiosos das escolas iniciáticas. Não é algo palpável.

Cristo, como já sabemos, passou por escolas – dizem essênias, egípcias, -- das quais retirou as chamadas Coisas da Alma, o que não o fez ser o que era, mesmo porque já havia no mestre a vocação que todo avathar possui.

E assim, como Platão, Pitágoras, Cristo bebeu das águas dos mestres antigos, e, como diria Blavatsky, resguardou  (ocultou) toda a sabedoria em forma  parábolas, entre outras coisas. Apenas os iniciados sabiam o que Ele dissera; apenas os “graduados” em esoterismo poderiam fazê-lo, no entanto, alguns filósofos – baseados no passado compreendem, e respeitam, e se lançam mostrar como um todo o que um dia se fechou com chaves desconhecidas ou perdidas pelos fiéis.

É o caso de Platão, que, até hoje, causa espanto com sua República, com suas Leis, com seu Banquete, e com suas explicações acerca de um continente perdido.  Não podemos nos perder a partir do momento que acreditamos nele (ou neles), pois, se estamos na tentativa de aprender com eles, o respeito às suas teses, ao conhecimento, ao que do universo sabem, saberemos que há mais do que temos a priori, seja em qualquer ciência, religião, atém mesmo que a própria filosofia conhece atualmente.


E o que Cristo disse fundamenta-se no passado, na tradição, no mais interno ensinamento, e quanto às coisas entre o céu e a terra, podemos dizer que, graças ao nosso materialista coração, levaremos um susto.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: a mostarda.

"Reino dos Céus está aqui"



A mostarda, a Alma; o campo, o homem.







Disseram os discípulos a Jesus: Dize-nos, a que se assemelha o Reino dos céus? 

Respondeu-lhes ele: Ele é semelhante a um grão de mostarda, que é menor que todas as sementes; mas, quando cai em terra, que o homem trabalha, produz um broto e se transforma num abrigo para as aves do céu. 



Há de perceber que os discípulos de Cristo, ainda em formação a respeito dos mistérios ocultos, tinham informação um tanto quando desconfigurada a respeito do Reino dos Céus. Não que estejamos na frente deles, ou que saibamos tanto quanto àqueles que um dia caminharam com um dos maiores sábios da humanidade. Não. Apenas queríamos reiterar que, antes que soubessem a respeito do “Céu” e da “Terra”, simbolicamente falando, tinham uma visão estreita a respeito do que o mestre lhes falara há mais de dois mil anos.

Alguns discípulos, como João e Paulo, teriam se infiltrado em algumas escolas iniciáticas a ponto de entender, mais tarde, o que Cristo lhes dissera, contudo, não fora o bastante porque transformaram o cristianismo em uma escola em que seus fiéis acreditam somente nos termos literais das escrituras, nas quais sobrevoa parte do estoicismo, epicurismo, enfim, como todos sabem, são escolas de cunho iniciático, nas quais discípulos houve com intuito de aprender com seus mestres de sabedoria “mais coisas entre o céu e a terra”...

E com tais ferramentas, os cristãos iniciados persuadiram governos, criaram estratégias, e avançaram com suas ideologias dentro do que hoje é, graças a eles, uma das maiores crenças do mundo civilizado.  Mas, como diria um grande professor, nada melhor do que ser um ignorante convicto, que sabe que não sabe nada, ainda que saibamos um pouco mais que alguns.

Voltando...

E quando perguntam a Cristo, “a que se assemelha o Reino dos Céus?”... Com certeza tentam buscar uma resposta que se assemelhe ao que vemos, ouvimos, sentimos, ou seja, que esteja dentro de nossos sentidos, sonhos, imaginação... Porém, uma pergunta ao salvador merece uma resposta metafórica, enraigada de elementos que conhecemos, e, ao mesmo tempo, cheia de simbolismos, nos quais se revela a verdade – ou pelo menos uma brecha para a chave do conhecimento.

 “Ele é semelhante a um grão de mostarda, que é menos que todas as sementes” – disse Cristo, ao tentar passar o que, de alguma forma, se assemelha aos reinos dos céus  -- o qual, como já sabemos, nada mais é que a Tríade no homem, ou como poderíamos dizer na linguagem filosófica, o Nows no homem, a parte imortal humana – mas, enfim, palavras que possam chegar perto do conceito tradicional de Espirito, mas como esotérico que é, Cristo usou a natureza como porta de entrada para a compreensão dos discípulos...

O “grão de mostarda” seria a alma do homem que, ainda que pequena, mas enraigada das palavras, de atos, de pensamentos voltados ao céu, encheria a terra, ou melhor, todo o homem, deixando de ser apenas um ser voltado à matéria.

Devemos, no entanto, entender que quando falamos em matéria, em terra,  parece que estamos a falar apenas  das coisas palpáveis; mas não  é. Matéria é uma dimensão, e nela não podemos deixar de viver, pensar, desejar, errar, e da terra (literalmente) retiramos a comida para o nosso alimento diário; nela nos ajoelhamos para plantar, nela oramos e agradecemos aos deuses, ou a Deus, como preferir, o que nos faz repensar nosso modo de viver Cristão, que quer banir a matéria de sua própria vida, e na maioria das vezes, se vestindo mal, se alimentando mal, e o pior... Não tentando buscar a tradição por meio de outras fontes, a não ser a própria escritura.

Voltando...

O grão de mostarda, nossa alma, engrandecido apenas por sua qualidade natural, sobrepuja-se a outras sementes se voltado ao que realmente veio, ser um grão. Assim, nossa alma, em devaneio com o mal que circula no mundo, nas sociedades, e até mesmo se detendo em valores corpóreos, se desvia de sua função, deixando de ser alma para ser apenas um elemento sem cor, sem consciência, como uma criança sem pai.

“Quando cai em terra, que o homem trabalha”... Na dimensão maior que trouxe o próprio homem a reconhecer seus valores, seu papel no mundo, suas leis, ou a lei que o rege, aqui, quando esse broto cai, ou seja, quando a própria alma reconhece papel na terra (quaternário e dimensões) há a evolução natural, o crescimento dela, em direção ao Reino dos Céus, onde as aves – símbolo maior, em todas as culturas, de quem alcançou o Céu em si – sobrevoam.

Fechando..


Enfim, em nossa humilde tentativa de compreender a frase acima, descobrimos que temos que plantar em nós valores melhores do que estes no quais acreditamos. Temos que ir em busca de um ideal espiritual, o qual nos faz ser um pouco melhor todos os dias, um pouco; mas para isso temos que nos assegurar de que teremos formas mentais, materiais entre outras com o intuito de nos deter. Então devemos plantar em nós essa ideia, e cultivar sempre o que há de mais humanos em nós, assim estaremos indo em direção ao Reino dos Céus.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: a essência.

Em todas as tradições houve sempre uma filosofia reencarnacionista gerada por sábios que um dia dela provaram, e desde épocas passadas tentam nos passar de maneira simples e ao mesmo tempo complexa como e porque temos a imortalidade. E no Evangelho de Tomé, Cristo nos dá uma pista dessa característica não tão singular, mas essencial à compreensão de nós mesmos.



O legado da reencarnação não morreu.





Perguntaram os discípulos a Jesus:

Como será o nosso fim? Respondeu-lhes Jesus: Descobristes o princípio, para que estejais procurando o fim? Pois onde estiver o princípio ali estará o fim. Feliz de quem está no princípio; também conhecerá o fim - e não provará a morte.

Segundo a sabedoria tradicional, que nos deixou legados eternos, podemos dizer, baseados nela, que houve civilizações, como fora diversas vezes aqui colocado, que seguiam o caminho da imortalidade, não por meio de remédios, de fórmulas científicas, mas por meio de uma cultura de Ser..

Explicado anteriormente, o ser, segundo conta a tradição, é a parte natural do homem que subjaz à personalidade, e ao que mais interno há no homem – ou como diria um grande filósofo, é a parte que aparece quando não a procuramos.

Formada por dimensões, essa parte, constituída por três elementos os quais singularizam o que somos, permanece eterna, assim como em tudo que a detém. O homem, por ser detentor da consciência de sua própria existência, e por isso de questionamentos que o levam a tentar entender suas características internas – emoções, desejos... – sabe, graças ao passado, que há mais em sua natureza dantesca, do que no próprio céu físico, pois houve outros homens que procuraram e encontraram na natureza o que temos em nós, a imortalidade, a essência, Deus.

O que nos falta, no entanto, é segui-lo, e não faremos porque a cultura de massa, o inconsciente coletivo, trouxe em sua profundidade uma busca mais material, menos interna, a qual nos reflete em roupas, em casas, em falas, em pensamentos... Diferente de um passado no qual havia um comportamento gerado pela nata das tradições, e assim havia o real reflexo em toda sociedade.
Não devemos, no entanto, deixar de lado o que nos deixaram, ainda que sejamos tão materialistas quanto ontem. Devemos, na certeza de compreender a história da imortalidade humana, na qual a morte era apenas o outro lado da vida, não apenas para saber, nos informar, mas, como já vimos, entender o que os mestres de saberia nos deixaram...

Os sete princípios humanos.

Estudamos em teosofia, com a mestra Blavatsky, que somos uma constituição septenária – unida pela junção de sete subcorpos e que perfazemos a busca pelo que somos, pelo ser.

1.   Sthula sharira - O corpo físico, corpo denso.
2.   Prâna - O corpo vital;
3.   Linga sharira - O duplo etérico, o corpo astral na teosofia original, de Blavatsky;
4.   Kâma rupa - O corpo de desejos ou corpo emocional, o corpo astral na literatura teosófica posterior a Blavatsky;
5.   Manas - Nossa Alma Humana, ou Mente Divina. É o elo entre a Díade Atman-Budhi e nossos princípios inferiores; O corpo mental de Manas inferior;
6.   Budhi - Nossa Alma Divina;
7.   Atman - O raio do Absoluto, nossa Essência Divina (*)

Os últimos, Manas, Budhi e Atmam, são subcorpos de nossa tríade que, segundo a história das civilizações, sempre fizeram parte do homem – desde que o homem é homem, passando pelos sábios aramaicos, arianos (de Ariavarta), persas, gregos, romanos, egípcios... Hindus, árabes, enfim, por todas as culturas, que souberam que a imortalidade não era apenas uma crendice, mas uma realidade tão forte quanto à própria vida em que vivemos.

E, por isso, tentaram nos passar por meio de suas escolas, de seus mitos, teatros; de sua sabedoria, humanidade... Que tínhamos algo maior do que nossa grandeza física a ser encontrado. Tínhamos a evolução baseada na natureza externa.

E quando Cristo nos diz... “Descobriste o principio, para que estejas procurando fim?”... Conota em nossas mentes que a grandeza de suas palavras, ditas do cume de seu universo interno, vem ao encontro do que foi proposto há mais de dois anos, quando culturas diziam que “a gota está no oceano, e o oceano está na gota”... Deixando, sem meros simbolismos, que, ainda que estejamos voltados à nossa personalidade bruta, fazemos parte de Deus, da Tríade Maior, e que, se somos parte dela, temos em nós a mesma característica, a mesma essência, a imortalidade...

Finalizando...

Se descobrirmos, não apenas em teoria, mas por meio de uma realidade prática, ou seja, tentando nos elevar por meio dos mistérios esquecidos no passado, como passar pelas iniciações sagradas, pela busca do que somos, porque somos, e porquê, começáramos a ver o principio e o fim de tudo.  E a morte, enfim, será apenas uma palavra, como todas as outras.




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*Wlkipédia

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Reflexões sobre o frio

Um pouco mais sobre ele




O tempo esfriou de um tempo para cá, é verdade. O sol me parece um ser vaidoso que quer ficar em paz por algumas horas, e nos deixar à mercê dos ventos e brisas fortes pela manhã, e quando nos vem, sorridente, tímido, mas belo como sempre, nos esquecemos dessa manha, um artifício natural das crianças grandes em deixar a todos preocupados por qualquer atitude, ainda que infantil, também pré-adolescente.

Hoje, as nuvens o fecharam. Não consigo vê-lo. Nem mesmo a pequena cor laranja que cobre o céu, antecipando o eterno deus dos maias, que, em forma de oração coletiva pela manhã, era lembrado e amado pelos raios longos que abençoava os homens, como um grande bem. E hoje, nuvens e ventos frios, de natureza misteriosa, arrancam gemidos dos transeuntes, os quais, a olhar para o céu, se perguntam... “onde está ele?”, “o que aconteceu?!”...

Nada de mais... A precipitação de chuva pede o descanso do rei sol, que dorme e sonha em amanhecer melhor a cada dia, como todos deveríamos ser. Mas sabemos que ele dorme para os homens que não o veem, mas ilumina outras nações, e quando se põe lá do outro lado... Nasce e cresce desse aqui. Não descansa. Como deveríamos também...

Mas o descanso, no entanto, é necessário. Não somos o sol, literalmente; podemos tê-lo em mente, ou mesmo em nossos corações e alma, como uma fonte de inspiração, com intuito de acordarmos e fazer o nosso pequeno papel, que os deuses nos legaram. E nem isso podemos...

A falta de regras, o livre arbítrio levado sem importância, os sistemas fogosos... Sem falar em nossa inclinação para o mal – isto é, para uma personalidade que se sente livre para fazer o que bem entender com nosso corpo,  mente, e com a própria alma, reflete, na maioria da vezes, atitudes sem direção, palavras sem nexo, modos deseducados, vida sem rumo...

O sol, que tanto amamos, reflete seus raios na terra, nas plantas, nas pedras, nos humanos, em toda sua limitação, e nem sequer pensamos nessa grande disciplina que nasce de um mistério que só mesmo os grandes homens compreendem, e que deixam os físicos apenas a conhecerem o aspecto material do grande sentido que traz esse deus.

O Bem

Sabe aquele ser que saiu da caverna e se deparou com o sol, e com isso, quase se cegou, pois seus olhos não tinham o costume de tanta brandura celeste? Pois é... Ele voltou para dizer aos irmãos-amigos que havia vida lá fora, que havia muitos mais que sombras dançantes em paredes, e que a vida era muito mais que uma fogueira fria, sem cor, inventada, nas costas dos homens.

A vida era tudo. E o sol, que alimenta essa ideia, está em nós o tempo todo, e que nos conduz a sair de cavernas, de frialdades, de pensamentos tempestuosos, nos inclina a pedir perdão pelos males ao mundo e ao próximo cometidos, e ao tempo nos dá o ar de sua paz, de seus amor, alinhado à disciplina, à ordem ao mistério de sua semântica, que, simplesmente, nos remete ao Bem maior.


Nuvens

O frio continua... O vento também. Conjugados como seres que querem desarmonizar o tempo dos homens, fazendo-os recolherem-se, lembra-me os indianos de outrora, os quais acreditavam no Manvantatara, a expansão do universo; e Pralaya, o recolhimento dele. E se observamos de modo pessoal, humano, com vistas a trazer à tona em nosso meio, à nossa semântica interna, podemos dizer que temos nossos momentos de Manvantara e Pralaya...

No frio, nesse instante, ao nos recolher, recorremos ao conforto dos lençóis, da comida quente, da bebida, do programa alegre na tv, nos esquecemos de que a consciência pede um  outro tipo de recolhimento – a da paz interna, da reflexão  acerca de nós mesmos..

E quanto o sol nos vem, a pedir que nos conduzamos de volta ao nosso caminho, é como um grande mestre dizendo “Volte a caminhar na linha que eu tracei para ti”... Caminho da disciplina, da ordem, do entendimento e da sabedoria.

Enfim, hoje é dia de viver em nome de uma natureza que pede que sejamos um pouco melhor, seja no recolhimento de nossas casas, sob o frio de nossos teto,  seja no caminhar em direção ao sol.





Tenhamos uma ótima sexta!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: o fogo.

Nada melhor do que falar da tradição e sua sabedoria. Nesse diálogo, Cristo cita o fogo em nós, como uma sabedoria que nos foi dada naturalmente, mas que temos que nos conhecer para saber direcioná-la.



O fogo deve ser a vontade humana para o alto.




Disse Jesus... “Eu lancei o fogo sobre a terra – e eis que o vigio até que arda”.

Vulcão, incêndio, caos, fim do mundo! Parece-nos que o mestre cristão com seu dizer acima quer-nos passar uma realidade que traspassa qualquer sinônimo fim dos tempos... pode ser, mas eu, fora dessa realidade a que me referencio sempre, visualizo da seguinte forma...

Fogo, elemento que simboliza o mais enigmático dos sentimentos, dos desejos, da vontade humana. Fogo, elemento que no passado, ao ver dos alquimistas transformava, por meios “mágicos”, peças em ouro... Fogo, peça fundamental para compreender a paixão, a fuga da matéria, a inclinação para o ideal... Fogo, elemento do deus Vulcano, que norteava outros elementos para a criação do universo...

Enfim... Assim o vejo. E nas linhas do mestre cristão, posso dizer que o fogo a que se refere não é o fogo do caos, da desordem – não. Muito pelo contrário. Quando um avathar diz “eu lancei o fogo sobre a terra”, não é o mesmo fogo de nossas visões, muito menos ao que me referia pouco depois de sua máxima.

O Fogo dos mestres, já me referindo aos outros mestres de sabedoria, começa a nos levar a pensamentos refletidos acerca de quem somos e qual o nosso papel no universo. Uma maneira de dizer... “Conheça a Ti mesmo”, mas de uma forma mais forte e ao mesmo tempo mais radical, no sentido esotérico da questão.

O fogo sobre a terra, essa que nos conduz diariamente ao trabalho, que nos faz andar sobre duas pernas, que nos atém aos nossos problemas constantes, e que nos faz acreditar que somos nada mais que seres ambulantes (falo do corpo), na maioria das vezes nos enjaula, coloca-nos algemas fortes, e direciona nossos desejos a ele mesmo – ao corpo.

Isso porque, há milhões de anos, aprendemos que temos que nos alimentar antes de tudo, ficar de pé, ir atrás de nosso pão de cada dia, estar satisfeito com nossa saúde física... Nada de anormal até aqui. A questão, no entanto, é que, ainda que tenhamos aulas sobre espirito, assim como no passado, somos e estamos aferrados ainda mais ao corpo...

O fogo dos avathares do passado, assim como o de Cristo, nos faz pensar acerca de nós mesmos, refletir sobre o papel não só de nosso corpo, mas de nossas possibilidades em direção ao céu nosso de cada dia. Ou seja, de nossa felicidade. Felicidade física, psicológica, religiosa, familiar... profissional... Porém aquela para qual nossos sentidos foram criados, em nome de uma evolução natural, não trabalhamos direito.

Falo de nossos passos em direção à mônada, ao Reino dos Céus, ao Nous platônico... Ao Paraiso interno de cada um. E quando percebemos essa realidade, caímos confusos em busca de uma resposta real, exata, e ao mesmo tempo filosófica, que nos indique os caminhos da verdade. Aqui, “o fogo se faz na terra” quando nos aparece, não por acaso, nosso mestre interior, a nos direcionar para cima, com seu fogo da tradição.

E como todo fogo, começamos a perceber que as chamas se iniciam nas mínimas questões, nos mínimos atos, palavras, sonhos, a nos fazer crescer sem que percebamos. Nosso mundo começa a florescer, nosso céu se torna mais azul, nossas lágrimas são mais que choros descabidos, são emoções reais por um ato simples, como  o pôr do sol... uma poesia.

“E eis que vigio até que arda”, disse o salvador dos cristãos...
E como todo avathar é o cimo real de nossas possibilidades, é a própria montanha, ou melhor, o próprio Nous, há de convir que o mestre fala de Si mesmo em nós. Como se o próprio nous humano estivesse plasmado em nossa frente – no caso, na frente de seus discípulos – a dizer que está a vigiar nossas ações, nossas vidas...

Enfim... O fogo que fora lançado pelos mestres é o mesmo que sempre esteve em nós. Contudo, é preciso que tenhamos olhos para o alto, como se estivéssemos em busca de uma estrela eterna, e sempre supondo, em sonhos, que um dia vamos alcança-la... É pouco provável se colocarmos de maneira física tal questão, mesmo porque nem a lua visitamos mais como antes, então saibamos que tal estrela há no alto do eu personalístico, está no Eu real.

E não nos esqueçamos de que o fogo sempre flamula para cima, para o alto, e, como uma fogueira eterna, pode nos direcionar ao nosso céu.


terça-feira, 22 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: sementes.

É preciso que saibamos, no limiar de nossa jornada, entender o que nos traz as entrelinhas do mistério, ou pelo menos o inicio dele. Não podemos nos conformar com o que vemos, mas também com o que está implícito. Faz parte de nosso conhecimento próprio. Faz parte do homem ir atrás de um pequeno foco de luz, mesmo que se acostume com a escuridão.



A Semente cai em cada um de nós. Até mesmo no mais hediondo dos homens.






Disse Jesus: “Saiu o semeador. Encheu a mão e lançou a semente. Alguns grãos caíram no caminho; vieram as aves e os cataram. Outros caíram sobre os rochedos; não deitaram raízes para dentro da terra nem mandaram brotos para o céu. Outros ainda caíram entre espinhos, que sufocaram a semente e o verme a comeu. Outra parte caiu em terra boa, e produziu fruto bom rumo ao céu; produziu sessenta por uma, e cento e vinte por uma.”

A palavra de Deus, aos cristãos, ainda que entendida dentro de suas estruturas frágeis como algo de maior valor na vida humana, segue sendo, simbolicamente, universal, quando tratada à luz da filosofia clássica, quando nos referimos a ela como uma semente lançada ao mundo, como grãos de areia, ventilados pela brisa natural do tempo.

Esse grão de areia, no entanto, vem a ser a sabedoria dos grandes homens, a qual, lançada a determinados grupos, com singularidades naturais de homens e mulheres que querem o bem à humanidade, são mais que grãos jogados ao vento... São faíscas de pedras preciosas, que vão refletir mais tarde atos de civilidade ao próximo – como caridade, compreensão, amor...

Pode ocorrer, no entanto, as mesmas faíscas serem apenas pó insignificante, quando caem em outros grupos cuja tendência é transgredir, desfazer ou mesmo destruir a natureza das coisas. E transformar o mundo naquilo que ele é hoje.

A Terra, esse ser no qual pisamos e colhemos nossos frutos diários, possui a natureza de cuidar daquilo que nela se planta; fazer crescer a árvore, e nela o fruto, e em muitas vezes o abrigo aos que nela vivem. A nossa terra, essa na qual nos enjaulamos no entanto – o nosso corpo – também tem a tendência de nela brotar o que plantamos, de construir ou destruir nossos ideais, sem que percebamos.

Da terra, esse ser imenso, do qual só saímos após nossa alma dela desabitar, e mesmo assim, segundo algumas tradições, em razão do nosso materialismo, ainda ficamos permanentes nela após algum tempo, nos ensina que somos a semente, que caímos, nascemos em diversos lugares, que possuímos culturas e outras vezes não, mas sempre há a possibilidade de tangenciarmos às nossas ignorâncias locais, nas quais geralmente pensamos que somos obrigados a morrer.

Mas o homem comum, aquele que pensa, que reflete, que possui suas crenças, que entende Deus de uma maneira vasta, que não se inclina a valores dados, mas tradicionais, no sentido filosófico da questão, sabe que, mesmo com a estrutura que nasce, com a pequena ferramenta que os deuses que deram, pode, a pequenos passos, realizar seus sonhos, praticar o que há de mais humano em si; conhecer a si mesmo, e passar às gerações o que se espera de um homem.


A semente, a palavra de uma tradição que nos move internamente, pode ser levada pelo pássaro, ou como diriam os mais sábios, pelos homens que já nascem voando, ou pode ser comida pelo verme, isto é, pelo homem que devasta humanidades, como ditadores, fascistas ou por lobos revestidos de cordeiros, em sistemas democráticos.


A semente pode ser levada ao mais ortodoxo cristão até o mais sábio, no entanto, seu uso pode ser como o de uma faca que cai na mão de um homem que se alimenta de caça e que faz as orações junto com seus filhos à mesa; ao passo pode servir a mesma semente de uma faca, ainda que frágil e simples, assassinando pessoas, pelas mãos do homem que interpreta mal o conhecimento ou que o faz de arma para subsistir às multidões, pelos interesses que a ele convier.




Voltamos amanhã!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: o Leão de cada Um.

Vamos prosseguir com nossas interpretações filosóficas dentro da sabedoria cristã, envolvendo Cristo e seus discípulos, no Evangelho de São Tomé.


Hércules e o Leão: Nós e a persona.



“Bendito o leão comido pelo homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão”...

Nas culturas antigas, principalmente na Grécia, para quem já estudou simbologia relacionada ao homem, sabe que muitos animais, não somente o leão, têm uma infinidade de interpretações simbólicas. Uma, no entanto, nos chama a atenção. E para quem leu sobre a vida de Hércules (o semideus, com seus doze trabalhos) sabe a que me refiro. Hércules, segundo o mito, teria matado com todas as suas forças, o leão de Nemeia, o qual aterrorizava toda a região.

A terrível criatura, diz o mito, não poderia ser morta por um homem comum, por ter o couro inviolável pelos mortais, muito menos uma arma – lanças, flechas. Mas o grande Herói, Hercules, também chamado de Héracles, teve a missão de matá-lo. E se tentou de tudo, com suas armas letais, e nada...  O que não desanimara o semideus, que, para dar fim ao grande leão, aplicou com sua clava, que carregava em suas aventuras, um golpe tão tremendo na cabeça do animal, que este caiu desacordado. Depois de estrangula-lo, Hercules extraiu o couro do animal com as próprias garras.

A partir daí, Hércules passou a usar a pele do animal como manto protetor, com a cabeça do leão servindo-lhe de elmo.

A filosofia por trás do mito

Sabe-se que o leão é um animal solar em certas culturas, ou seja, ele detém a simbologia de ser o maior e melhor dos animais por suas características, assim como muitos o são em outras civilizações; mas aqui, no mito, ele representa a força de uma personalidade que transita entre os homens, e que detém o poder de ser o que é. E mais, representa a própria personalidade humana, o que nos faz crer que precisamos entendê-la para supera-la, ou como dirá Blavatsky, “matar a personalidade”, mas isso é somente para iniciados, o que nos sobra é entender que precisamos evoluir com o pouco que temos, e para isso, não deixar sucumbir a uma personalidade – Sthula sharira, o nosso corpo;  o Prana, corpo vital; linga Sharira, que é o duplo etérico e o Kama Rupa, o corpo dos desejos, ou emocional.

Hércules, no mito, como semideus, ou seja, como um homem filho de um deus, com uma mortal, representa o próprio homem evoluído, que alcançara a divindade em si, por isso a chance de dominar o leão – a personalidade – ainda que bruta, monstruosa, implacável, que fizera medo a muitos durante décadas, foi mais fácil.

Isso, contudo, pode ser uma referencia ao homem evoluído que pode passar por deveras dificuldades, em níveis surpreendentes, une-se ao mais puro de si mesmo e ultrapassa os limites de uma personalidade cansada, preguiçosa, envaidecida, e cheia de desejos vulgares, os quais o atrapalham na consecução de seus ideais.

No entanto, àquele que persegue firme seus objetivos, sejam quais forem, entende que deve passar por realidades internas, talvez mais perturbadoras que um homem que tenta passar por minas terrestres, em tempos de guerra. E a personalidade – esse leão que nos devora a todos, todos os dias – se inclina a mandar e nos retrair com seu rugido, e, na maioria das vezes, voltamos à estaca zero. Entretanto, pequenos leões, à medida de nossas experiências, são mortos por nossas garras, por nossa vontade de querer ser e ter. E quando menos percebemos, estamos de frente do maior leão, daquele que, a depender do que queremos, é morto pela clava do idealismo maior.

Como disse Cristo a seus discípulos, “Bendito o leão comido pelo homem”... Ou Bendita é a personalidade que foi ponte de evolução ao homem, e que, em toda a sua vida, simplesmente foi o bem real, nunca deixando de lado a sua natureza... E “Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão”... Maldito o homem que sucumbiu à sua persona, pois deixou de evoluir como humano, sendo objeto de seus desejos, quiçá de suas vulgaridades pessoais, norteado apenas pelos seus interesses frios... E se tornando o próprio leão.


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Fuga da Manhã






"Olho para ele e me vejo".



Nas horas mais frias da manhã, quando não se consegue nem mesmo respirar por causa dos gelo de uma temperatura que se diminui, e nossa ânsia em busca do mais quente prossegue sem sucesso, meus olhos não acreditam. Nessas horas, talvez, é que sinto que realmente são eles as janelas da alma, essa, objeto de questionamentos eternos, dos quais reverberações tão complexas e ao passo tão simples se dissuadem através dos tempos, pois vejo uma imensidão de nuvens a brincar, quase que literalmente, em um céu estático, concatenando com o laranjado  do belo sol que tenta acordar.

Não sei se sou um poeta, ou se somos poetas, desses que observam flores, capins, matos, borboletas, joaninhas, e besouros tais que em nossa imaginação não há. Sei apenas que não consigo apenas observar a vida, mas muito mais, como imprimir um pensamento paralelo à imagem, além de questionamentos simples, reais, às vezes, infantis, e quando meu ódio ao mundo aflora, mais outros, do tipo... “Qual o motivo desse céu ser tão belo?”... “Por que a vida lá fora é ainda mais bela apesar de todos os problemas humanos?” – até parece que as coisas freiam e se perguntam... “Por que os seres humanos brigam tanto, guerreiam tanto, se detestam tanto?”...

Não há a mínima possibilidade... Não há quem ou o que que sinta pena, dó, ou qualquer sentimento humano por você ou por mim, de modo a nos refrear a dor do coração ou mesmo que pague nossas dividas junto a banco, ao mundo... Não, não há. No entanto, penso, não existem por existir. Não podemos cair no existencialismo da matéria como se fosse direcionada ao humano, assim como belezas que são construídas para e pelos reis de outrora com vistas à majestade eterna.

É melhor entender a vida ao contrário. Tentar entender o porquê de nossos dias, de nossas ações perante a esse céu que se antepõe ao que somos, e queremos ser. Desse sol criança, que se revela mais criança quando colore o espaço humano no inicio da manhã e no fim da tarde...

Não sei o que dizer quando passo por serras, e nelas o verde a se debruçar ao laranja, como um cordial cavalheiro a obedecer as regras do universo. O sol, como um rei menino, aparece sorridente, meio quente, em razão do solstício, acredito, solta suas palavras misteriosas ao mundo, e não o escutamos, como surdos ao que resta de bom, belo e verdadeiro, o qual nunca percebemos.

Não tem importância... Se são eternos, acredito que de alguma forma também o somos. Não sei dizer como... Mas poderia citar filósofos do passado que um dia disseram que moramos e residimos nas reminiscências de um passado que se mostra sempre diante de nossos olhos, não lembramos, no entanto, o que não seria prova contrária, mas a pequena prova dessa eternidade em nossa alma estaria nela mesma, quando olhou aquele sol, aquela montanha, aquela conjugação natural e não esqueceu jamais.

Isso foge ao que racionalizamos, ao que aprendemos em escolas, em universidades, ou mesmo ao que nossos pais nos passaram em tempos mais recentes. Mas não se aprende isso dos homens normais, por assim dizer, apenas daqueles que olham ao céu, questionam a realidade da beleza, da arte, e encontram nela focos de si mesmo, sem machucar o que veem.

Não sei se sou um desses homens, mas ao sair de casa com todos os meus problemas, e por mais que sejam hediondos a alma, até mesmo ao que vivo, vejo nele – nesse tempo frio, porém maravilhoso – uma saída, uma fuga divina, assim como um dia um grande general estoico, em suas batalhas nos disse, debaixo de saraivadas de flechas inimigas, “quando se sentires mal, tente sair um pouco de si. Vá para o mais longe possível de si mesmo, e tente ver o que te faz assim”...


E com isso, é claro que dele não me lembro nesses momentos, me sinto melhor, talvez me encontrando um pouco, ou dando uma chance à minha alma de tangenciar o mínimo possível desse corpo sofrível, dessa caixa egoísta, que só pensa em si mesma. E ao olhar um céu inalcançável, fico feliz por ele... Não posso sujeita-lo aos meus desejos, ou guarda-lo em meu bolso, mas alimentar minha pequena vontade de estar lá em cima, nem que seja por alguns minutos, vivenciando o que o homem sempre quis... A Paz.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O Evangelho de Didymos Tauma (II). Em busca de si mesmo.

Nós. O inicio de uma busca infindável.




É difícil. Na realidade, é querer desfazer os frutos de uma árvore, não os cortando, mas fazendo-os voltar ao que eram. Raiz. Mas, como diria o sábio, na própria raiz temos a própria árvore, então, em nosso caso, se tivermos a tendência em plantar o que nos vem como ideia, fazer com que pessoas acreditem em algo razoável, e que se estenda a gerações a sabedoria investida nessa raiz, nessa ideia, é preciso que sábios a plantem, não homens cujas tendências genocidas e interesseiras resolvam soluções em prol de um mundo que necessita de tudo, menos deles, ou melhor, de elucubrações insensatas em torno de si mesmas, fazendo com que sejamos cães atrás do próprio rabo...

Sei que fui um tanto quanto tangível em relação ao nosso assunto com esse inicio, mas é preciso ressaltar que, quando me refiro a sábio, falo de homens cujo legado nada mais é do que nos fazer um pouco melhores, todos os dias, mas sempre nos baseando em castelos fortes, referenciados desde épocas passadas nas quais guerreiros, heróis, generais, e até mesmo o mais simples do humano um dia se baseou e não precisou ser sectário, muito menos ser dono da verdade, apenas orando de joelhos, frente ao seu deus de pedra, e respeitando toda essência por trás do grande mistério que ela escondia... Isso é Deus.

A certeza de que os grandes avathares trouxeram essa filosofia ao que nos deixaram em forma de palavras, discípulos, escritas, é  muito pequena, mesmo porque sabiam que a própria humanidade tem seus reveses, suas desconfigurações, com o passar dos séculos, e por isso, quando o fizeram, o simbolismo do que deixaram foi tão profundo, tão mistérico, que chegamos a ter dúvidas do que diziam, quando nosso senso humano nos desperta para a verdade....

E com essa premissa, vamos tentar encontrar um meio, em nossa ignorância, mas tão consciente quanto um cientista que descobre uma estrela, de abrir pequenas portas tão fechadas pelo tempo, ou melhor, pelos homens de bem que um dia pisaram nesse chão, para a nossa própria ânsia ser desfeita, um dia.

Vamos lá...

São Tomé e Cristo.

6. Perguntaram os discípulos a Jesus: Queres que jejuemos? Como devemos orar? Como dar esmolas? Que alimentos devemos comer? 
Respondeu Jesus: Não mintais a vós mesmos, e não façais o que é odioso! Porquanto todas essas coisas são manifestas diante do céu. Não há nada oculto que não seja manifestado, e não há nada velado que, por fim, não seja revelado. 


Seus discípulos questionam o mestre com perguntas com pontos de vista terrenos (étero físico ao kama  manas ), e Cristo, mas uma vez, responde-lhes sob o ponto de vista do céu (átmam, buddi e manas), o que torna a questão mais difícil de ser interpretada...

Mas, quando o mestre diz, “Não mintais a vós mesmos”, nos faz nos sentir, mesmo com nossos sentidos primários, uma culpa do que somos e idealizamos ser e ter. Não mentir a nós mesmos, do meu ponto de vista terreno, é encontrar a própria essência sem rodeios, é saber que há a verdade em nós, e o resto nada mais é que elementos naturais, que se assemelham a outros no próprio universo externo, que nos auxiliam a esse encontro, porém, como disse antes, usamos a “faca para outros fins...”

E quanto ao “Não façais o que é odioso”, vem ao encontro da primeira premissa que nos faz questionar a respeito do que somos e o que pretendemos obter. Isso só norteia mais o humano, desfaz suas algemas internas com relação a si mesmo, e o faz galgar mais degraus em sua pequena, gradativa, porém, para o homem, natural evolução.

“Porquanto todas essas coisas são manifestas diante do céu”, disse Cristo, o que afirma o que fora dito, dentro de minhas possibilidades, claro, o que fora dito até agora acerca do Céu... Enfim, o mestre salienta que o Ser, ao qual referenciamos, sob diversas formas de cultura, há tão concreto como qualquer ideia, como qualquer muro, e dele devemos viver com as ferramentas com as quais nascemos...


E em nossos caminhos, por meio dessa empreitada, há de se descobrir os mistérios que há em nós, em tudo; o conhecer a Si mesmo se faz de uma forma lenta, ao passo necessário, se descobre; e o ônus da vida, desse universo que tanto almejamos, vem em forma de revelações internas.

Cristo, assim, quis dizer, a meu ver, que se o que fazemos vai ao encontro do Céu -- não o céu pós-mortem, ou o céu físico, muito menos qualquer forma literal de céu, mas o Céu interno, em comunhão com o que diziam os tradicionais esoteristas, os quais sempre mostram que céu é metáfora do não alcançável facilmente, seja no limite superior, ou em qualquer sentido  e por isso Céu é sempre posto como o  mais puro elemento do homem, ou a figura mais simbólica de uma tríade, ou o deus mais complexo das culturas.

E Cristo não difere dos demais quando fala em Céu... (Reinos dos Céus, Pai, etc)... mas ao mesmo tempo diz que se manifesta em qualquer ponto, de modo a dar um nó a mente do homem, que não consegue entender essa Realidade, pois, com o tempo, até mesmo naquela época, a dividir o Todo, individualizando ou mesmo antropomorfizando-o...





Amanhã tem mais.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Evangelho de Didymos Tauma (I). O Reino.

Vamos renascer a cada linha.






Vamos lá.

Com nossas parcas ferramentas, repetindo, mas com vistas a seguir a tradição no quesito tradução, tentarei aos poucos trazer à tona – não aos humildes reais no saber, muito menos aos sábios, mas apenas aos meros buscadores – uma realidade latente que há muito pede passagem, mas, graças ao homem moderno, a cada dia, se vai nas ruelas de culturas que se dizem as melhores do mundo, contudo, desfazem qualquer iniciativa educacional de transformação ideológica.

Bem, baseando-me no que fora dito em vários textos passados, e nos que me basearei daqui para frente, sempre nos clássicos, trago as linhas de diálogos entre o mestre cristão, Jesus, e Tomé, ainda discípulo, nas quais a depender do leitor irá discordar (ou não), porém terá toda a possibilidade de ir atrás das fontes que cito durante toda a minha interpretação... Ou pelo menos em minha tentativa...

Ei-los.

1-“Quem descobrir os sentidos dessas palavras, não provará a morte”

Nos textos clássicos, aqueles que jamais serão tocados, há ensinamentos sagrados dos quais o próprio homem duvida. Por que duvida?... É a parte “Tomé” de cada um, ou seja, é natural que sejamos assim, por mais que tenhamos a matéria em nossa mão, com todas as respostas, e mesmo assim vamos duvidar.

Tomé reflete um pouco dessa personalidade, de nossa alma que coça, que sente aquela pontada pela ervilha que dormira debaixo de sete colchões (símbolo dos sete elementos), que se indigna, que, a depender de nosso universo, de nosso entendimento, começaremos a criar meios para alcançar o céu interno (ou objetivos imediatos) e compreender a imortalidade da essência da vida, sempre por meio de nossas dúvidas, questionamentos, busca.

Cristo, em sua filosofia, deixou claro que nossas atitudes são válidas a partir do momento em que temos uma direção, um caminho. Suas palavras, mecanismo natural responsável pela imortalidade do todo, trazem a brandura codificada, ou como fora dito, de um elemento – Manas – universal, do qual faria com que nós seres humanos iniciássemos a compreensão do Todo, mas não de forma gratuita, mesmo porque temos uma personalidade que, por si só, reencarnada, sintetiza que trouxe em si a reminiscência de um passado material, não espiritual.

Ou seja, de acordo com sabedoria antiga, se estamos aqui, agora, é porque somos o somatório do que fizemos, pensamos, passamos ao tempo, e que, ao ver do grande universo, como diria os indianos, dos “Lipitacas” --- os quais são responsáveis pela memória da alma humana – tínhamos que voltar à matéria...

Não por isso, no entanto, as palavras perderam sua imortalidade, no sentido simbólico da questão, pois elas trazem escritos verdadeiros, porém simbólicos dos quais somente aqueles iniciados no esoterismo (interno), retiram dele a verdade. Contudo não é preciso tanto para entender que todos eles, do cimo da montanha interna, do Manas, pois se chamavam seres manvataricos por isso, nos traduzem a realidade nas palavras, nos revelam a imortalidade, mas não conseguimos a chave para abrir.
  


2. Quem procura, não cesse de procurar até achar; e, quando achar, será estupefato; e, quando estupefato, ficará maravilhado - e então terá domínio sobre o Universo. 


Uma procura não muito conveniente aos materialistas de hoje, os quais, em subterfúgio primário, o etero físico, em seu sentido mais amplo, procuram, encontram e morrem satisfeitos com o que encontram; porém, a saga humana, desde os primórdios de nossa civilização, de algum modo, vem com essa premissa, a de conseguir a todo custo, seus objetivos externos, sem que modifique o sentido de toda sua essência...

Por isso, séculos se fizeram, e neles os grandes avathares- entre eles Cristo e os demais filósofos, desde Zoroastro a Platão, iniciados em seus mistérios, mais do que ocultos aos nossos olhos, e com razão, unificaram-se em outro tipo de busca, talvez a mais rara e difícil de todas, a humana.

Uma busca que, realizada a passos curtos, em direção a Deus, no sentido mais amplo da palavra, verá não só o sentido da existência humana, mas de tudo, de todo universo, da grande Inteligência que assombra o mais moderno cientista, o qual, em sua cientifica busca, não  consegue traduzir, nas entrelinhas, o porquê de Tudo.

Os filósofos, no entanto – entenda-se filósofo por todo aquele que se questiona a respeito da essência da vida, e não se contenta com o racional voltado para baixo e tenta elevá-la ao pico em forma de pensamentos, atos, e acompanha em natureza -- erra e sabe disso, mas sabe que a busca é inexata ao passo de nossas dúvidas, mas exata no momento em que a certeza se faz em forma de simples atos.

É a maior busca de todas, e quando a fazemos... “ficamos maravilhados”,  e quando a conseguimos – quem sabe um dia – teremos o “domínio sobre (nosso) Universo”...



3. Jesus disse: Se vossos guias vos disserem: ‘o reino está no céu', então as aves vos precederam; se vos disserem que está no mar, então os peixes vos precederam. Mas o reino está dentro de vós, e também fora de vós. Se vos conhecerdes, sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis em pobreza, e vós mesmos sereis essa pobreza.


Aqui, a prova maior que estamos no todo, e que o somos. O reino a que tanto Cristo se referia na Bíblia nada mais é que a própria tríade comentada pelo passado do homem, no qual ameríndios, persas, hindus, gregos e até mesmo parte dos cristãos tinham em sua cultura, e que, em textos passados, sob  forma de Nous, o deus no homem, Platão falara.

As aves do céu precedem sim o Reino dos céus, mas antes devemos crer que tais nada mais são que seres que possuem uma consciência diferente da dos humanos, assim também uma lei que corre em paralelo à nossa, o que não as deixa de “fora” do contexto, ou qualquer animal que visualizemos seja no céu ou a rastejar nas terras.

O homem, por obter em si um elemento importante, o kama manas – o desejo em forma de ponte para a consecução de seus fins, sejam eles materiais ou imateriais, psicológicos, pode-se dizer que já possui uma alma voltada à lei que a rege, isso em sua natureza divina. E isso deveria facilitar a ele, mas não...

O Reino dos Céus, interpretado de várias formas, em culturas diversas, pode ser, em razão dessa dificuldade de interpretação, qualquer lugar, menos aquele Cantinho Idílico, como diria Marcos Aurélio, dentro do próprio homem, ou fora dele, pois aprendemos a bipartir o mundo como duas forças, a do Bem e a do Mal, em lutas acirradas em uma disputa cruel pelos seres humanos.


E por isso devemos, com o que temos, dentro de nossas possibilidades naturais, não materiais ou sob o comando de muitos, nos conhecermos (lembra-se do “Conheça-te a ti mesmo?”) com fins de Conhecer a Vida e o que ela nos guarda, mas sempre lembrando que somos um pouco de Deus, e isso fica mais fácil.




Por enquanto é só.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....