quinta-feira, 31 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: o Herói Perdido.

Último texto sobre o Evangelho de São Tomé.






“Feliz do homem que foi submetido à prova – porque ele achou a vida.


Quando se tem uma humanidade para lutar, quando se pensa em uma justiça para abrandar em meio a uma injustiça que corrói as margens de um mundo frio, insensato, e a cada dia mais insensato, insano e débil, que se alastra desde a concupiscência até a base dessa pirâmide social que é comandada pela escória que ganha com a ignorância alheia, deixando, ao seu bel prazer, a pobreza se espalhar pelos poros do mundo e do próprio homem, sabe-se que temos muito a lutar.

Mesmo aquele que não se julga herói (talvez esse o seja por isso), ao se levantar de seu pequeno canto, alimentar a sua prole, amar sua família, trabalhar com disciplina em favor de alguém que esteja ao seu lado, sendo a cada dia aquele pingo que a sociedade precisa para se elevar em meio a um oceano sujo e que há milênios não se consegue sentir o cheiro da maresia dele e sim do interesse sujo, que corroeu toda a possibilidade de crescimento humano – de humanidade..., enfim, mesmo com toda sua simplicidade, o homem pode ser um herói, pode ser o que ele bem entender.

Os heróis, por meio de premissas gêmeas a anterior, não vão a guerra por acaso, e na maioria das vezes sabe que não voltam, mas sabem porque entram. Pela liberdade, pelo amor ao mundo, à sociedade; por acreditar que há sementes no coração no homem, por um povo que nele acredita e grita nas ruas em favor de mudanças, e que, descalço, sente a terra pela qual lutou.

E hoje, a realidade nos mostra que homens há de coração, de fé, de pensamentos ideológicos,  mas que não aprenderam a sair do sofá, de perto do controle remoto, a criticar governos, guerras, conflitos internacionais, ir a fundo em seus embasamentos, contudo não possuem razão de ser e assim, sem estratégias, se consolam com o café que chega.

Este, no entanto, não sabe que ser herói, dentro de suas possibilidades, não é apenas ir às guerras, suar frio com o inimigo, morrer pelo companheiro, assim como fariam os espartanos, romanos, persas... E sim encontrar meios naturais de modificar seu mundo – não o externo – e como uma oração disciplinada na noite, tentar subir os degraus de seus próprios sonhos, referenciando-se naquilo que chamamos necessidade de mudar o mundo por meio do homem.

Soa como algo utópico, desalentador, mas, se procurarmos entender o porquê das guerras, das injustiças sociais, do nascimento de genocidas, cairemos em vãos maiores que abismos ao descobrir que também somos homens, podemos ser injustos, genocidas, políticos nos pior sentido da palavra, e o pior, não acreditamos, por isso não mudamos.

Podemos ser heróis do aqui agora. O mundo pede isso. Nossa quota de mal já assola a humanidade há tempos e estamos perdendo filhos, mães, irmãos; estamos perdendo a vontade de viver, e ao sentir isso, caímos em outro vazio: não há outro meio senão nos suicidar ou ser um crente...!

Não podemos nos entregar a mais ninguém, a não ser ao nosso mestre interno, que quer ditar as regras de nossos caminhos, quer nos mostrar as estrelas – não físicas – o sol, que paira tão quente quanto o visível, e nos deter em nossa ignorância quando nos referimos ao próximo como covarde, injusto, pois se o somos, lá no fundo, temos que mostrar que podemos ser corajosos, justos, em uma guerra silenciosa que só os indignados pelo mundo veem.

Precisamos ser heróis. Precisamos tomar a cicuta, morrer por algo, por alguém; precisamos conversar com nosso lado mal, fazê-lo entender que existem coisas melhores do que elevar nossos desejos de areia, de conseguir o que sempre podemos em nome de uma máscara insaciável. Precisamos descer da montanha felizes por tê-la vencido; precisamos vencer, parcialmente, esse mal.

E mais, buscar um motivo – além dos motivos técnicos, formais, profissionais – para mudar o que hoje precisa ser mudado. Nós mesmos. Não adianta falar em justiça se não sabemos, até hoje, trazê-la para dentro de nossa casa; não adianta falar de ética, de moral, de amor, e até mesmo de amizade, se um dia podemos trair nosso melhor amigo. Não podemos em meio a esse mundo ser tal qual a ele se guerras há como a maior das bolas de neve e que, no meio de um frio ínfimo, outras bolas nascem por meio de fagulhas que não se cansam de cair.

Cristo tinha razão, como sempre, quando disse que o homem submetido à prova achou a vida, pois, em todas as épocas, paira o sonho do homem em realizar a justiça, em trazer todos os valores humanos junto a uma sociedade que se desfaz em pobreza, ignorância, misérias, graças aos amos de uma grande caverna que preferem se ocultar aos olhos humanos, mas se mostrarem em forma  de guerras nas quais somente ele ganha, somente ele sobrevive.

O homem submetido à prova levanta-se do sofá, pronuncia a palavras corretas nas horas vis, andas nas águas do mal e não se afoga, abre os mares vermelhos com o cajado de sua simplicidade ainda que há aqueles que se julgam bons e não o são; mas ele, o grande herói, o real, que prossegue com o escudo de esparta, com as palavras de um Júlio César, que, em sua vida, nunca conhecera a derrota, enfim... Aqui o homem encontra a vida.



Aqui termina nossa saga. 

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