sexta-feira, 25 de julho de 2014

Reflexões sobre o frio

Um pouco mais sobre ele




O tempo esfriou de um tempo para cá, é verdade. O sol me parece um ser vaidoso que quer ficar em paz por algumas horas, e nos deixar à mercê dos ventos e brisas fortes pela manhã, e quando nos vem, sorridente, tímido, mas belo como sempre, nos esquecemos dessa manha, um artifício natural das crianças grandes em deixar a todos preocupados por qualquer atitude, ainda que infantil, também pré-adolescente.

Hoje, as nuvens o fecharam. Não consigo vê-lo. Nem mesmo a pequena cor laranja que cobre o céu, antecipando o eterno deus dos maias, que, em forma de oração coletiva pela manhã, era lembrado e amado pelos raios longos que abençoava os homens, como um grande bem. E hoje, nuvens e ventos frios, de natureza misteriosa, arrancam gemidos dos transeuntes, os quais, a olhar para o céu, se perguntam... “onde está ele?”, “o que aconteceu?!”...

Nada de mais... A precipitação de chuva pede o descanso do rei sol, que dorme e sonha em amanhecer melhor a cada dia, como todos deveríamos ser. Mas sabemos que ele dorme para os homens que não o veem, mas ilumina outras nações, e quando se põe lá do outro lado... Nasce e cresce desse aqui. Não descansa. Como deveríamos também...

Mas o descanso, no entanto, é necessário. Não somos o sol, literalmente; podemos tê-lo em mente, ou mesmo em nossos corações e alma, como uma fonte de inspiração, com intuito de acordarmos e fazer o nosso pequeno papel, que os deuses nos legaram. E nem isso podemos...

A falta de regras, o livre arbítrio levado sem importância, os sistemas fogosos... Sem falar em nossa inclinação para o mal – isto é, para uma personalidade que se sente livre para fazer o que bem entender com nosso corpo,  mente, e com a própria alma, reflete, na maioria da vezes, atitudes sem direção, palavras sem nexo, modos deseducados, vida sem rumo...

O sol, que tanto amamos, reflete seus raios na terra, nas plantas, nas pedras, nos humanos, em toda sua limitação, e nem sequer pensamos nessa grande disciplina que nasce de um mistério que só mesmo os grandes homens compreendem, e que deixam os físicos apenas a conhecerem o aspecto material do grande sentido que traz esse deus.

O Bem

Sabe aquele ser que saiu da caverna e se deparou com o sol, e com isso, quase se cegou, pois seus olhos não tinham o costume de tanta brandura celeste? Pois é... Ele voltou para dizer aos irmãos-amigos que havia vida lá fora, que havia muitos mais que sombras dançantes em paredes, e que a vida era muito mais que uma fogueira fria, sem cor, inventada, nas costas dos homens.

A vida era tudo. E o sol, que alimenta essa ideia, está em nós o tempo todo, e que nos conduz a sair de cavernas, de frialdades, de pensamentos tempestuosos, nos inclina a pedir perdão pelos males ao mundo e ao próximo cometidos, e ao tempo nos dá o ar de sua paz, de seus amor, alinhado à disciplina, à ordem ao mistério de sua semântica, que, simplesmente, nos remete ao Bem maior.


Nuvens

O frio continua... O vento também. Conjugados como seres que querem desarmonizar o tempo dos homens, fazendo-os recolherem-se, lembra-me os indianos de outrora, os quais acreditavam no Manvantatara, a expansão do universo; e Pralaya, o recolhimento dele. E se observamos de modo pessoal, humano, com vistas a trazer à tona em nosso meio, à nossa semântica interna, podemos dizer que temos nossos momentos de Manvantara e Pralaya...

No frio, nesse instante, ao nos recolher, recorremos ao conforto dos lençóis, da comida quente, da bebida, do programa alegre na tv, nos esquecemos de que a consciência pede um  outro tipo de recolhimento – a da paz interna, da reflexão  acerca de nós mesmos..

E quanto o sol nos vem, a pedir que nos conduzamos de volta ao nosso caminho, é como um grande mestre dizendo “Volte a caminhar na linha que eu tracei para ti”... Caminho da disciplina, da ordem, do entendimento e da sabedoria.

Enfim, hoje é dia de viver em nome de uma natureza que pede que sejamos um pouco melhor, seja no recolhimento de nossas casas, sob o frio de nossos teto,  seja no caminhar em direção ao sol.





Tenhamos uma ótima sexta!

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