Um pouco mais sobre ele |
O tempo esfriou de um tempo para
cá, é verdade. O sol me parece um ser vaidoso que quer ficar em paz por algumas
horas, e nos deixar à mercê dos ventos e brisas fortes pela manhã, e quando nos
vem, sorridente, tímido, mas belo como sempre, nos esquecemos dessa manha, um
artifício natural das crianças grandes em deixar a todos preocupados por
qualquer atitude, ainda que infantil, também pré-adolescente.
Hoje, as nuvens o fecharam. Não
consigo vê-lo. Nem mesmo a pequena cor laranja que cobre o céu, antecipando o
eterno deus dos maias, que, em forma de oração coletiva pela manhã, era
lembrado e amado pelos raios longos que abençoava os homens, como um grande
bem. E hoje, nuvens e ventos frios, de natureza misteriosa, arrancam gemidos
dos transeuntes, os quais, a olhar para o céu, se perguntam... “onde está ele?”,
“o que aconteceu?!”...
Nada de mais... A precipitação de
chuva pede o descanso do rei sol, que dorme e sonha em amanhecer melhor a cada
dia, como todos deveríamos ser. Mas sabemos que ele dorme para os homens que
não o veem, mas ilumina outras nações, e quando se põe lá do outro lado...
Nasce e cresce desse aqui. Não descansa. Como deveríamos também...
Mas o descanso, no entanto, é
necessário. Não somos o sol, literalmente; podemos tê-lo em mente, ou mesmo em
nossos corações e alma, como uma fonte de inspiração, com intuito de acordarmos
e fazer o nosso pequeno papel, que os deuses nos legaram. E nem isso podemos...
A falta de regras, o livre
arbítrio levado sem importância, os sistemas fogosos... Sem falar em nossa
inclinação para o mal – isto é, para uma personalidade que se sente livre para
fazer o que bem entender com nosso corpo, mente, e com a própria alma, reflete, na
maioria da vezes, atitudes sem direção, palavras sem nexo, modos deseducados,
vida sem rumo...
O sol, que tanto amamos, reflete
seus raios na terra, nas plantas, nas pedras, nos humanos, em toda sua
limitação, e nem sequer pensamos nessa grande disciplina que nasce de um
mistério que só mesmo os grandes homens compreendem, e que deixam os físicos
apenas a conhecerem o aspecto material do grande sentido que traz esse deus.
O Bem
Sabe aquele ser que saiu da
caverna e se deparou com o sol, e com isso, quase se cegou, pois seus olhos não
tinham o costume de tanta brandura celeste? Pois é... Ele voltou para dizer aos
irmãos-amigos que havia vida lá fora, que havia muitos mais que sombras
dançantes em paredes, e que a vida era muito mais que uma fogueira fria, sem
cor, inventada, nas costas dos homens.
A vida era tudo. E o sol, que
alimenta essa ideia, está em nós o tempo todo, e que nos conduz a sair de
cavernas, de frialdades, de pensamentos tempestuosos, nos inclina a pedir
perdão pelos males ao mundo e ao próximo cometidos, e ao tempo nos dá o ar
de sua paz, de seus amor, alinhado à disciplina, à ordem ao mistério de sua
semântica, que, simplesmente, nos remete ao Bem maior.
Nuvens
O frio continua... O vento
também. Conjugados como seres que querem desarmonizar o tempo dos homens,
fazendo-os recolherem-se, lembra-me os indianos de outrora, os quais
acreditavam no Manvantatara, a
expansão do universo; e Pralaya, o
recolhimento dele. E se observamos de modo pessoal, humano, com vistas a trazer
à tona em nosso meio, à nossa semântica interna, podemos dizer que temos nossos
momentos de Manvantara e Pralaya...
No frio, nesse instante, ao nos
recolher, recorremos ao conforto dos lençóis, da comida quente, da bebida, do
programa alegre na tv, nos esquecemos de que a consciência pede um outro tipo de recolhimento – a da paz
interna, da reflexão acerca de nós
mesmos..
E quanto o sol nos vem, a pedir
que nos conduzamos de volta ao nosso caminho, é como um grande mestre dizendo “Volte
a caminhar na linha que eu tracei para ti”... Caminho da disciplina, da ordem,
do entendimento e da sabedoria.
Enfim, hoje é dia de viver em
nome de uma natureza que pede que sejamos um pouco melhor, seja no recolhimento
de nossas casas, sob o frio de nossos teto,
seja no caminhar em direção ao sol.
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