Vamos prosseguir com nossas interpretações filosóficas dentro da sabedoria cristã, envolvendo Cristo e seus discípulos, no Evangelho de São Tomé.
Hércules e o Leão: Nós e a persona. |
“Bendito o leão comido pelo
homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque
esse homem se torna leão”...
Nas culturas antigas,
principalmente na Grécia, para quem já estudou simbologia relacionada ao homem,
sabe que muitos animais, não somente o leão, têm uma infinidade de
interpretações simbólicas. Uma, no entanto, nos chama a
atenção. E para quem leu sobre a vida de Hércules (o semideus, com seus doze
trabalhos) sabe a que me refiro. Hércules, segundo o mito, teria matado com todas
as suas forças, o leão de Nemeia, o qual aterrorizava toda a região.
A terrível criatura, diz o mito,
não poderia ser morta por um homem comum, por ter o couro inviolável pelos
mortais, muito menos uma arma – lanças, flechas. Mas o grande Herói, Hercules,
também chamado de Héracles, teve a missão de matá-lo. E se tentou de tudo, com
suas armas letais, e nada... O que não
desanimara o semideus, que, para dar fim ao grande leão, aplicou com sua clava,
que carregava em suas aventuras, um golpe tão tremendo na cabeça do animal, que
este caiu desacordado. Depois de estrangula-lo, Hercules extraiu o couro do
animal com as próprias garras.
A partir daí, Hércules passou a
usar a pele do animal como manto protetor, com a cabeça do leão servindo-lhe de
elmo.
A filosofia por trás do mito
Sabe-se que o leão é um animal
solar em certas culturas, ou seja, ele detém a simbologia de ser o maior e
melhor dos animais por suas características, assim como muitos o são em outras
civilizações; mas aqui, no mito, ele representa a força de uma personalidade
que transita entre os homens, e que detém o poder de ser o que é. E mais,
representa a própria personalidade humana, o que nos faz crer que precisamos entendê-la
para supera-la, ou como dirá Blavatsky, “matar a personalidade”, mas isso é
somente para iniciados, o que nos sobra é entender que precisamos evoluir com o
pouco que temos, e para isso, não deixar sucumbir a uma personalidade – Sthula
sharira, o nosso corpo; o Prana, corpo
vital; linga Sharira, que é o duplo etérico e o Kama Rupa, o corpo dos desejos,
ou emocional.
Hércules, no mito, como semideus,
ou seja, como um homem filho de um deus, com uma mortal, representa o próprio homem
evoluído, que alcançara a divindade em si, por isso a chance de dominar o leão –
a personalidade – ainda que bruta, monstruosa, implacável, que fizera medo a
muitos durante décadas, foi mais fácil.
Isso, contudo, pode ser uma
referencia ao homem evoluído que pode passar por deveras dificuldades, em níveis
surpreendentes, une-se ao mais puro de si mesmo e ultrapassa os limites de uma
personalidade cansada, preguiçosa, envaidecida, e cheia de desejos vulgares, os
quais o atrapalham na consecução de seus ideais.
No entanto, àquele que persegue
firme seus objetivos, sejam quais forem, entende que deve passar por realidades
internas, talvez mais perturbadoras que um homem que tenta passar por minas
terrestres, em tempos de guerra. E a personalidade – esse leão que nos devora a
todos, todos os dias – se inclina a mandar e nos retrair com seu rugido, e, na
maioria das vezes, voltamos à estaca zero. Entretanto, pequenos leões, à medida
de nossas experiências, são mortos por nossas garras, por nossa vontade de
querer ser e ter. E quando menos percebemos, estamos de frente do maior leão,
daquele que, a depender do que queremos, é morto pela clava do idealismo maior.
Como disse Cristo a seus discípulos,
“Bendito o leão comido pelo homem”... Ou Bendita é a personalidade que foi
ponte de evolução ao homem, e que, em toda a sua vida, simplesmente foi o bem
real, nunca deixando de lado a sua natureza... E “Maldito o homem comido pelo
leão, porque esse homem se torna leão”... Maldito o homem que sucumbiu à sua
persona, pois deixou de evoluir como humano, sendo objeto de seus desejos,
quiçá de suas vulgaridades pessoais, norteado apenas pelos seus interesses
frios... E se tornando o próprio leão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário