"Olho para ele e me vejo".
Nas horas mais frias da manhã,
quando não se consegue nem mesmo respirar por causa dos gelo de uma temperatura
que se diminui, e nossa ânsia em busca do mais quente prossegue sem sucesso,
meus olhos não acreditam. Nessas horas, talvez, é que sinto que realmente são
eles as janelas da alma, essa, objeto de questionamentos eternos, dos quais
reverberações tão complexas e ao passo tão simples se dissuadem através dos
tempos, pois vejo uma imensidão de nuvens a brincar, quase que literalmente, em
um céu estático, concatenando com o laranjado do belo sol que tenta acordar.
Não sei se sou um poeta, ou se
somos poetas, desses que observam flores, capins, matos, borboletas, joaninhas,
e besouros tais que em nossa imaginação não há. Sei apenas que não consigo
apenas observar a vida, mas muito mais, como imprimir um pensamento paralelo à
imagem, além de questionamentos simples, reais, às vezes, infantis, e quando
meu ódio ao mundo aflora, mais outros, do tipo... “Qual o motivo desse céu ser
tão belo?”... “Por que a vida lá fora é ainda mais bela apesar de todos os
problemas humanos?” – até parece que as coisas freiam e se perguntam... “Por
que os seres humanos brigam tanto, guerreiam tanto, se detestam tanto?”...
Não há a mínima possibilidade...
Não há quem ou o que que sinta pena, dó, ou qualquer sentimento humano por você
ou por mim, de modo a nos refrear a dor do coração ou mesmo que pague nossas
dividas junto a banco, ao mundo... Não, não há. No entanto, penso, não existem
por existir. Não podemos cair no existencialismo da matéria como se fosse
direcionada ao humano, assim como belezas que são construídas para e pelos reis
de outrora com vistas à majestade eterna.
É melhor entender a vida ao
contrário. Tentar entender o porquê de nossos dias, de nossas ações perante a
esse céu que se antepõe ao que somos, e queremos ser. Desse sol criança, que se
revela mais criança quando colore o espaço humano no inicio da manhã e no fim
da tarde...
Não sei o que dizer quando passo
por serras, e nelas o verde a se debruçar ao laranja, como um cordial cavalheiro
a obedecer as regras do universo. O sol, como um rei menino, aparece
sorridente, meio quente, em razão do solstício, acredito, solta suas palavras
misteriosas ao mundo, e não o escutamos, como surdos ao que resta de bom, belo
e verdadeiro, o qual nunca percebemos.
Não tem importância... Se são
eternos, acredito que de alguma forma também o somos. Não sei dizer como... Mas
poderia citar filósofos do passado que um dia disseram que moramos e residimos
nas reminiscências de um passado que se mostra sempre diante de nossos olhos,
não lembramos, no entanto, o que não seria prova contrária, mas a pequena prova
dessa eternidade em nossa alma estaria nela mesma, quando olhou aquele sol,
aquela montanha, aquela conjugação natural e não esqueceu jamais.
Isso foge ao que racionalizamos,
ao que aprendemos em escolas, em universidades, ou mesmo ao que nossos pais nos
passaram em tempos mais recentes. Mas não se aprende isso dos homens normais,
por assim dizer, apenas daqueles que olham ao céu, questionam a realidade da
beleza, da arte, e encontram nela focos de si mesmo, sem machucar o que veem.
Não sei se sou um desses homens,
mas ao sair de casa com todos os meus problemas, e por mais que sejam hediondos
a alma, até mesmo ao que vivo, vejo nele – nesse tempo frio, porém maravilhoso –
uma saída, uma fuga divina, assim como um dia um grande general estoico, em
suas batalhas nos disse, debaixo de saraivadas de flechas inimigas, “quando se
sentires mal, tente sair um pouco de si. Vá para o mais longe possível de si
mesmo, e tente ver o que te faz assim”...
E com isso, é claro que dele não
me lembro nesses momentos, me sinto melhor, talvez me encontrando um pouco, ou
dando uma chance à minha alma de tangenciar o mínimo possível desse corpo sofrível,
dessa caixa egoísta, que só pensa em si mesma. E ao olhar um céu inalcançável,
fico feliz por ele... Não posso sujeita-lo aos meus desejos, ou guarda-lo em
meu bolso, mas alimentar minha pequena vontade de estar lá em cima, nem que
seja por alguns minutos, vivenciando o que o homem sempre quis... A Paz.
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