sexta-feira, 18 de julho de 2014

Fuga da Manhã






"Olho para ele e me vejo".



Nas horas mais frias da manhã, quando não se consegue nem mesmo respirar por causa dos gelo de uma temperatura que se diminui, e nossa ânsia em busca do mais quente prossegue sem sucesso, meus olhos não acreditam. Nessas horas, talvez, é que sinto que realmente são eles as janelas da alma, essa, objeto de questionamentos eternos, dos quais reverberações tão complexas e ao passo tão simples se dissuadem através dos tempos, pois vejo uma imensidão de nuvens a brincar, quase que literalmente, em um céu estático, concatenando com o laranjado  do belo sol que tenta acordar.

Não sei se sou um poeta, ou se somos poetas, desses que observam flores, capins, matos, borboletas, joaninhas, e besouros tais que em nossa imaginação não há. Sei apenas que não consigo apenas observar a vida, mas muito mais, como imprimir um pensamento paralelo à imagem, além de questionamentos simples, reais, às vezes, infantis, e quando meu ódio ao mundo aflora, mais outros, do tipo... “Qual o motivo desse céu ser tão belo?”... “Por que a vida lá fora é ainda mais bela apesar de todos os problemas humanos?” – até parece que as coisas freiam e se perguntam... “Por que os seres humanos brigam tanto, guerreiam tanto, se detestam tanto?”...

Não há a mínima possibilidade... Não há quem ou o que que sinta pena, dó, ou qualquer sentimento humano por você ou por mim, de modo a nos refrear a dor do coração ou mesmo que pague nossas dividas junto a banco, ao mundo... Não, não há. No entanto, penso, não existem por existir. Não podemos cair no existencialismo da matéria como se fosse direcionada ao humano, assim como belezas que são construídas para e pelos reis de outrora com vistas à majestade eterna.

É melhor entender a vida ao contrário. Tentar entender o porquê de nossos dias, de nossas ações perante a esse céu que se antepõe ao que somos, e queremos ser. Desse sol criança, que se revela mais criança quando colore o espaço humano no inicio da manhã e no fim da tarde...

Não sei o que dizer quando passo por serras, e nelas o verde a se debruçar ao laranja, como um cordial cavalheiro a obedecer as regras do universo. O sol, como um rei menino, aparece sorridente, meio quente, em razão do solstício, acredito, solta suas palavras misteriosas ao mundo, e não o escutamos, como surdos ao que resta de bom, belo e verdadeiro, o qual nunca percebemos.

Não tem importância... Se são eternos, acredito que de alguma forma também o somos. Não sei dizer como... Mas poderia citar filósofos do passado que um dia disseram que moramos e residimos nas reminiscências de um passado que se mostra sempre diante de nossos olhos, não lembramos, no entanto, o que não seria prova contrária, mas a pequena prova dessa eternidade em nossa alma estaria nela mesma, quando olhou aquele sol, aquela montanha, aquela conjugação natural e não esqueceu jamais.

Isso foge ao que racionalizamos, ao que aprendemos em escolas, em universidades, ou mesmo ao que nossos pais nos passaram em tempos mais recentes. Mas não se aprende isso dos homens normais, por assim dizer, apenas daqueles que olham ao céu, questionam a realidade da beleza, da arte, e encontram nela focos de si mesmo, sem machucar o que veem.

Não sei se sou um desses homens, mas ao sair de casa com todos os meus problemas, e por mais que sejam hediondos a alma, até mesmo ao que vivo, vejo nele – nesse tempo frio, porém maravilhoso – uma saída, uma fuga divina, assim como um dia um grande general estoico, em suas batalhas nos disse, debaixo de saraivadas de flechas inimigas, “quando se sentires mal, tente sair um pouco de si. Vá para o mais longe possível de si mesmo, e tente ver o que te faz assim”...


E com isso, é claro que dele não me lembro nesses momentos, me sinto melhor, talvez me encontrando um pouco, ou dando uma chance à minha alma de tangenciar o mínimo possível desse corpo sofrível, dessa caixa egoísta, que só pensa em si mesma. E ao olhar um céu inalcançável, fico feliz por ele... Não posso sujeita-lo aos meus desejos, ou guarda-lo em meu bolso, mas alimentar minha pequena vontade de estar lá em cima, nem que seja por alguns minutos, vivenciando o que o homem sempre quis... A Paz.

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