quarta-feira, 23 de julho de 2014

Evangelho de São Tomé: o fogo.

Nada melhor do que falar da tradição e sua sabedoria. Nesse diálogo, Cristo cita o fogo em nós, como uma sabedoria que nos foi dada naturalmente, mas que temos que nos conhecer para saber direcioná-la.



O fogo deve ser a vontade humana para o alto.




Disse Jesus... “Eu lancei o fogo sobre a terra – e eis que o vigio até que arda”.

Vulcão, incêndio, caos, fim do mundo! Parece-nos que o mestre cristão com seu dizer acima quer-nos passar uma realidade que traspassa qualquer sinônimo fim dos tempos... pode ser, mas eu, fora dessa realidade a que me referencio sempre, visualizo da seguinte forma...

Fogo, elemento que simboliza o mais enigmático dos sentimentos, dos desejos, da vontade humana. Fogo, elemento que no passado, ao ver dos alquimistas transformava, por meios “mágicos”, peças em ouro... Fogo, peça fundamental para compreender a paixão, a fuga da matéria, a inclinação para o ideal... Fogo, elemento do deus Vulcano, que norteava outros elementos para a criação do universo...

Enfim... Assim o vejo. E nas linhas do mestre cristão, posso dizer que o fogo a que se refere não é o fogo do caos, da desordem – não. Muito pelo contrário. Quando um avathar diz “eu lancei o fogo sobre a terra”, não é o mesmo fogo de nossas visões, muito menos ao que me referia pouco depois de sua máxima.

O Fogo dos mestres, já me referindo aos outros mestres de sabedoria, começa a nos levar a pensamentos refletidos acerca de quem somos e qual o nosso papel no universo. Uma maneira de dizer... “Conheça a Ti mesmo”, mas de uma forma mais forte e ao mesmo tempo mais radical, no sentido esotérico da questão.

O fogo sobre a terra, essa que nos conduz diariamente ao trabalho, que nos faz andar sobre duas pernas, que nos atém aos nossos problemas constantes, e que nos faz acreditar que somos nada mais que seres ambulantes (falo do corpo), na maioria das vezes nos enjaula, coloca-nos algemas fortes, e direciona nossos desejos a ele mesmo – ao corpo.

Isso porque, há milhões de anos, aprendemos que temos que nos alimentar antes de tudo, ficar de pé, ir atrás de nosso pão de cada dia, estar satisfeito com nossa saúde física... Nada de anormal até aqui. A questão, no entanto, é que, ainda que tenhamos aulas sobre espirito, assim como no passado, somos e estamos aferrados ainda mais ao corpo...

O fogo dos avathares do passado, assim como o de Cristo, nos faz pensar acerca de nós mesmos, refletir sobre o papel não só de nosso corpo, mas de nossas possibilidades em direção ao céu nosso de cada dia. Ou seja, de nossa felicidade. Felicidade física, psicológica, religiosa, familiar... profissional... Porém aquela para qual nossos sentidos foram criados, em nome de uma evolução natural, não trabalhamos direito.

Falo de nossos passos em direção à mônada, ao Reino dos Céus, ao Nous platônico... Ao Paraiso interno de cada um. E quando percebemos essa realidade, caímos confusos em busca de uma resposta real, exata, e ao mesmo tempo filosófica, que nos indique os caminhos da verdade. Aqui, “o fogo se faz na terra” quando nos aparece, não por acaso, nosso mestre interior, a nos direcionar para cima, com seu fogo da tradição.

E como todo fogo, começamos a perceber que as chamas se iniciam nas mínimas questões, nos mínimos atos, palavras, sonhos, a nos fazer crescer sem que percebamos. Nosso mundo começa a florescer, nosso céu se torna mais azul, nossas lágrimas são mais que choros descabidos, são emoções reais por um ato simples, como  o pôr do sol... uma poesia.

“E eis que vigio até que arda”, disse o salvador dos cristãos...
E como todo avathar é o cimo real de nossas possibilidades, é a própria montanha, ou melhor, o próprio Nous, há de convir que o mestre fala de Si mesmo em nós. Como se o próprio nous humano estivesse plasmado em nossa frente – no caso, na frente de seus discípulos – a dizer que está a vigiar nossas ações, nossas vidas...

Enfim... O fogo que fora lançado pelos mestres é o mesmo que sempre esteve em nós. Contudo, é preciso que tenhamos olhos para o alto, como se estivéssemos em busca de uma estrela eterna, e sempre supondo, em sonhos, que um dia vamos alcança-la... É pouco provável se colocarmos de maneira física tal questão, mesmo porque nem a lua visitamos mais como antes, então saibamos que tal estrela há no alto do eu personalístico, está no Eu real.

E não nos esqueçamos de que o fogo sempre flamula para cima, para o alto, e, como uma fogueira eterna, pode nos direcionar ao nosso céu.


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