segunda-feira, 11 de julho de 2016

Dory e o Tubarão (fim)




...Não quero que meu filho pense como certos políticos que se acham heróis somente porque se reúnem para apreciar uma emenda, uma medida em benefício de uma sociedade. Não quero  nem mesmo me aproximar de indivíduos tais, mesmo porque somos feitos de carne e osso, e possuímos ideais humanos, dos quais tentamos passar o máximo de obrigações naturais a nós mesmos, quando nos deparamos com ele -- com esse ideal.

Não podemos ser aquela orelha, como diria o grande Marcus Aurelius, que pede aplauso simplesmente porque fez o seu papel de ouvir. Se fosse assim, os pés, por andar, as mãos, por acenar, os olhos, por enxergar, etc... E nós, como um universo, em meio a outros, a pedir e a implorar que nos deem medalhas, troféus -- como aquele cachorrinho que fez sucesso na década de oitenta, o Mutle, ao lado de seu dono, a dizer... "medalha! medalha" para tudo que fizer.

Na realidade, somos Mutles, e muito mais. Somos filhos do aplauso, do carinho após a realização mínima; do "muito bem", após um passo atrás do outro. E isso, em doses garrafais, nos faz ser viciosos, presos a alguém, a alguma coisa, de modo a nos fazer dependentes eternos do afago.

Antes de mais nada, acredito, ao saber de nossas ferramentas e possibilidades, dentro de um universo e seus mistérios nos quais nos encaixamos como luvas, seja como cobradores, varredores... cientistas, ou meros presidentes, não necessitamos de empurrões, a não ser o nosso. Sei que muitos são contra o que digo, mas... não podemos empurrar sempre ou mesmo ser empurrados pela eternidade inteira!

Temos nossas fases, nossos momentos, sejam físicos ou emocionais. Mas, por mais que acreditemos nisso, há adolescentes, adultos e até senhores de idade que precisam de auxílio por não terem a força ideológica para seguir sozinhos. Normal. Até o dia em que olhamos para o espelho e não conseguimos ver nada mais que uma pessoa vestida de sentimentos (além das roupas) alheios, os quais nos fizeram o que somos ou o que parecemos ser. 

É preciso olhar para o espelho e dizer... "Esse sou eu, e tudo que eu sou nada mais é do que aquilo que semeei e colhi com minhas próprias mãos"...  Assim, em um pequeno universo -- mas seu, somente seu -- no qual saberás levar a vida sem interrupções, sem ideologias emprestadas, ainda que válidas, mas são suas! O mais importante é ter o seu caminho, encontrado por si mesmo, dentro daquele parâmetro que você é, sem a consciência hipócrita acerca da política, das religiões, da família e do mundo...

Aí você me pergunta: "E os professores, mestres, sei lá... onde ficam nisso? seriam os terceiros?" -- Não. Não seriam. Quando Sócrates trabalhava a maiêutica nos jovens, a fazê-los entender a verdade e a justiça divinas, não estava a se colocar como o dono de nossas opiniões, mas nos direcionando em relação ao que deveríamos entender e ser, de modo que melhorássemos o que éramos (ou que eram os jovens em relação às suas sociedades...).

Ou seja, há seres que possuem a chave mestra para que cheguemos à nossa individualidade, ao nosso caráter real. A questão fica difícil, entretanto, quanto possuímos uma já formada personalidade em relação aos conceitos (dados), o que nos dificulta a encontrar nossos mestres, que vão nos abrir a porta para o que o que somos. É aquela questão do copo: se cheio demais, podemos esvaziar e pôr uma nova água. 

Nossos preconceitos, que ditam regras, nos viciam; nossos medos nos escondem; nossas cavernas nos confortam... então fica  ainda mais fácil ficar preso a valores modernos, sem os quais não caminhamos (abismo abaixo), como cegos, com guias mais cegos ainda.


Ah... A Dory e o Tubarão?? Eles não precisam disso. Já sabem o que são.





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