Á esquerda, em cima: meu filho e eu; mais embaixo, o cachorro Falcão. Á direita, o pai, coruja de sempre. |
... Não tinha nada para escrever hoje, nem mesmo uma linha. Porém, certas coisas me batem a porta da consciência e pedem para eu vos colocar em forma de texto, e compartilhar com vocês, leitores, de modo a me julgarem ou não se estou certo ou errado. Antes de tudo, no entanto, ao lançar mão de ficar calado e escrever a respeito, já sei que estou correto.
É uma pequena história que me ocorreu, ontem, aniversário de meu filho, a fazer oito anos de paz, pureza, vida, energia, e, maturidade. Esta última, enraizada em experiências pelas quais ele mesmo passa dentro de casa, coisa que pude perceber há pouco tempo, brilhou muito, a nos deixar tão crianças ao seu lado, quando ele ao nosso.
Pedro, o aniversariante, esperava pouco desse dia tão belo, o qual já singrava como um barco em marés baixas, em águas límpidas, quando o sol já nos batia, e se deleitava com seu humor gigante, a nos fazer sorrir apenas em olhá-lo. Esperava apenas um abraço de cada amigo seu do colégio, um parabéns para você, e quem sabe uma palavra diferente de alguém além de seus pais.
Não.. Ele é muito simples. Nós, complicados como gigantes que dormem em fins de pé de feijão, ainda que recebamos as visitas preciosas da vida, as espantamos, as excluímos de nossas. Mas as crianças, seres floridos, belos por excelência, partidários apenas do amor ao mundo, resistem a tudo que de mal espalhamos pela terra -- e conseguem sempre ser o que são: crianças.
Enquanto o grande filho nada esperava, fazíamos de tudo para que ele não percebesse que estaríamos planejando uma festa simples, na qual apenas cinco ou seis familiares participariam. E nesse ínterim, ele brincava, assistia a seus desenhos, provocava o cachorro, sorria pelo dia maravilhoso que passava, pois, percebo, que para ele essa data é a uma das passagens mais incríveis de sua pequena vida (para nós, idem).
Mas há sempre algo que nos testa, nos confronta de forma invisível e nos faz repensar a realidade da questão, nesse caso, falo dos gastos com a festinha, que, a querer ou não, devia ter um bolo, copos, guardanapos, copos de plástico, além dos salgados e doces! A verba era pouca; mas, para quem me conhece, sabe que eu iria a qualquer lugar comprar o que necessário seria, e fui a um mercado por perto, comprei um bolo para dez pessoas, salgados, idem, refrigerantes, e assim por diante...
Sei o quanto soa como bobagem, mas o que vem depois é que me fez bem, não por mim, mas pela família, pela educação que estamos dando ao aniversariante, e como eu dizia, pelo quesito maturidade nem se fala.
Ao chegar em casa, minha esposa viu o "estrago" nas compras. Esbravejou, gritou, falou palavras de baixo calão, e eu, que me encontrava certo de minhas decisões acerca do que fiz, comecei a pensar a natureza da palavra aniversário, do pouco que tínhamos, da breve vida que temos, da paz que sempre está longe, e dos conflitos audíveis a seres que amam a paz.
Enfim, esbravejei também. E começamos, em meio a uma casa grande, com uma criança que brincava de skate na sala, a falar as meras bobagens de sempre, e acabamos por ouvir uma voz pequena, singular, pura e bela, a deixar suas brincadeiras para interromper a digladiação de duas pessoas que se acham melhor que ele. Era Pedro.
"Pai. Mãe. Não tem importância isso agora (as compras, o tamanho delas, quem era o culpado, o dinheiro, tudo). O importante é que podemos chamar mais pessoas. E elas podem vir aqui, bater palmas para mim.Só isso." E isso ele o fez de forma como nunca o fizera (meu filho é muitíssimo tímido), pondo todas as palavras bem distribuídas, uma atrás da outra, as enfatizando, a dar força em seu ato, e ainda abrindo os braços, como se estivesse a palestrar!
Olhamos um para o outro. Depois, um silêncio. Após, um grande abraço nele, a parabenizar pela ação, que deu início a um aniversário com poucos convidados, mas com o brilho de um menino que estava crescendo aos nossos olhos.
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