sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A Calçada Fria

Hoje, assim que entrei no meu trabalho, caminhando pela calçada que dava acesso à entrada principal, passou por mim um homem portando uma bíblia cristã. Seu aspecto era meio tristonho, suas passadas, ligeiras, me fizeram ficar para trás em segundos. Olhei bem seu aspecto. Era um homem de mais ou menos quarenta e pouco anos, pedindo passagem para trabalhar assim como eu. Eu, no entanto, reduzi minhas passadas, pensei e ao mesmo tempo caminhei em função de meu objetivo, aqui e agora: trabalhar.

Sei que é piegas, mas é sempre bom ter objetivos quando se levanta. Ainda que nosso racional tenha sua função quase em descontrole, nossas vontades reduzidas em meros sonhetos, que não se formam ou deformam nossas vidas, temos que levantar e pensar sempre em algo que nos edifique, nos direcione. Dizem por aí que "um caminho de mil léguas começa com o primeiro passo", é, eu acredito nisso, caso contrário, estaria fazendo meus exercícios matinais na cama...

Por os pés no chão, em primeiro lugar; entender que a terra faz parte deles, dos pés, pois sem ela não nos equilibraríamos, não firmaríamos contato com o agente horizontal vital, que nos recebe todos os dias em forma de terra, pedras, calçadas íngremes, quebradas, tortas ou não, mas sempre estão ali, tão perfeitas como a linha do universo. Por outro lado, são os braços da terra que nos acolhe quando caímos, batemos a cabeça, sangramos a demonstrar que temos sangue em nosso frio corpo...

Os pés, não chão; a cabeça, bem no alto, reflexiva, tentando dominar o humor que vem de dentro, e por ser a parte mais alta e ao mesmo tempo mais perto do céu, domina as sensações de dentro. E conseguimos. E partimos para vida, trôpegos, mas conseguimos. Saímos da esfera terrestre, entramos na psicológica, pois agora olhamos fixos os olhos humanos como espelhos ambulantes, dos quais tentamos aprender em suas falas, comportamentos, tudo, de modo que parecemos confusos com o passar do dia.

Passamos para o aspecto mais interno; não é preciso nada, apenas aprender. Se temos algo a acrescentar, que façamos como humanos que somos, não de forma virulenta, arcaica, priorizando nossos interesses sombrios, e sim nossa vontade maior de melhorar uma outra vida, ou mesmo a nossa, não de maneira não egoísta, sem centros, mas de uma forma expansiva e ao mesmo tempo interna.

Não podemos, como isso, observar o mundo de maneira como o mundo nos codifica, mas como o Absoluto é. Deixar que o racional se embebede do sol maior, cujos raios se infiltram em nossas pequenas almas, esquecer que os sistemas nasceram para a separatividade, e que o único modo de vencê-los é criar um, bem alto, que esteja distante da terra, mas não dela desconectado. Criar meios, pontes de interação entre a terra e o céu, organizar, ser práticos em seu objetivo, caminhar e dar um "oi", quando carregá-los em seu coração.

Assim, quando passarmos por alguém, deixamos rastros de nossa bondade e fidelidade ao sagrado, nos ensinando (ou mesmo aprendendo) sobre o próximo, sobre aquele que vem e que vai. Deixar de assistir a filmes bons, mas segui-los, deixar de elogiar o seguinte, mas sendo-o, com toda a forma de potência criadora que nascera para dizer com todas as palavras, "tudo bem com você?", não pelo automatismo frio que nossos pais nos ensinam, mas pelo que somos e pelo que nos importamos, dentro do nosso âmbito humano em busca dos mistérios que Deus nos legou.



Que assim seja!

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