Em minhas andanças, em minhas realizações e decepções, percebi o quanto necessário é criarmos ônus e bônus em nossos caminhos, como se fosse um plantador eterno de sementes em um grande arado. Depois que se planta, que se colhe, seja com o fruto ferido pela peste ou não, seja com o corpo cansado, cheio de dor, sabe-se que nas entrelinhas a esperança é de sempre uma boa colheita; porém, sempre há uma parte da terra que não é perfeita.
Não sabemos, no entanto, que não é apenas uma questão de se plantar e colher e sim de se ajustar ao mundo em que se vive, ou melhor, ao canto em que se trabalha, à família em que se nasce, enfim, no grupo de amigos em que se inclina ideologicamente, e isso serve a partidos, a religião, como se fôssemos pequenos grãos de areia que brilham no escuro, ou morrem tentando...
Digo isso porque temos a possibilidade de rever nossos conceitos acerca do que somos e do porquê estamos ali, naquele lugar, a saber que não somos apenas um "por acaso" da vida, soltos como paraquedistas divinos, que caíram em lugares diferentes, em armadilhas, que não eram para enfrentar. Não. "Compete a você", do nosso general filósofo Marcus Aurelius, já diz que, em nosso âmbito como ser humano, nada é por acaso, ou seja, não adianta questionarmos do porquê estamos presos àquele lugar, àquela situação de vida, quer dizer, se questionarmos filosoficamente, de modo a aceitarmos a resposta e trazermos em termos práticos ao nosso convívio, encontraremos elementos suficientes para abastecermos nossa encarnação inteira... A questão, no entanto, esbarra com nossos limites reflexivos que se deparam como nossa ignorância e quer simplesmente se encaixar em nossos interesses, particulares ou não.
Compete a você, sim, saber de onde veio, mas também não apenas adormecer ou ficar como a estátua de Rodin, O Pensador, sentado, com a mão no queixo, assoberbado de pensamento inúteis. Levantemos, produzamos, criemos condições de vida, ensinemos, aprendemos, plantemos, seja metafórica ou literalmente, o fruto que nos falta, e ao descobrir, não o deixemos apodrecer, pois há mais respostas acerca de nós do que pensamos.
Não podemos nos prender ao próximo, àquele ser que se diz poderoso, chefe, melhor, maravilhoso, fantástico, belo, como se nos fosse referencial terreno, mas nos entender melhor a partir dele. Pegar, como diria o mestre, o que nos sobra de dentro da sua alma, enfeitar a nossa, trazendo à tona mais sentido em nossas práticas voltadas ao que nos interessa, à evolução dos sentidos.
Sim, mesmo porque não estamos em jogos sentimentais, muito menos com eternos martelos a bater com o lado traseiro dele e um prego cuja ponta está cortada; não. Nossos sentidos, pensamentos, detalhes que não entendemos em nós, são simplesmente elementos tão caros quanto ao que fazemos, pois nossas práticas boas ou más dependem deles, não do João e muito menos do José... Dependem de Nós.
Compete a você levantar-se do sofá, largar o controle remoto, procurar centralizar-se em alguma ação, ter pensamentos sóbrios, não amodernizados, mas influenciados pelo Bem que rege o mundo, o universo; ter em si a capacidade de, em cada passo, realizar algo, ainda que seja pequeno, e depois mais e mais, como se em uma montanha subisse, erguesse, mais tarde, em seu topo, e dizer que conseguiu.
Compete a todos vigiar os sentimentos sexuais, as emoções descabidas por políticas, religiões que nos separam de Deus, e levar sempre ao cimo de nossas razões pequenos mistérios a resolver, porque precisamos entrar nas veredas divinas todos os dias, e isso nos faz mais fortes, mas espirituais, mais humanos.
Abraços.
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