quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Pólis, o Início

Nas obras de Platão, como podemos constatar, a política gira em torno daquelas formas de governo que nasceram, cresceram e morreram com o tempo. Algumas, no entanto, ainda padecem como velhos teimosos e se fortalecem, pela vontade, para o bem de poucos, os quais, teimosamente, se inclinam a nos enganar todos os dias.

Mas não adianta essa consciência -- de engano, advinda apenas de alguns. É preciso que tenhamos uma queda para as revoluções, como a Francesa, em que havia uma série de pensadores que auxiliaram os burgos a refletirem o que estava se passando... E viram que a injustiça, a miséria, em sua mais completa forma, em contrassenso com a vida dos governantes, batia às suas portas psicológicas e até então adormecida.

A consciência teve que vir de cima, assim como água que, derrubada pela necessidade natural e humana, veio a dar a sobriedade ao povo, que, sofrido, tomara o poder. Este e seus ideais, no entanto, como diria um grande professor, não tinham nada a ver com "Liberdade, Igualdade e Fraternidade",  e sim, mais a ver com Necessidade básica de viver em igualdade com a cúspide da pirâmide. Dali por diante, a França se tornou modelo para outras "revoluções", ainda que tomadas pelo dissenso da mente humana -- ou seja, ainda que revestida de ideais de papel.

Em Platão, a única e poderosa ferramenta de Revolução seria o ser humano. Um revolução na qual teríamos um papel essencial, se partimos do princípio que somos apenas humanos, não exemplos de poder, de força, de elementos destruidores de governos, mesmo porque o único governo seria a parte forte do homem: o elemento educador. Aqui se iniciaria a política, segundo o filósofo grego.

A Caverna

Para compreendermos tão ponto devemos ilustrar, mais uma vez, sua Caverna (no Livro VII, República), na qual vários moradores lá existem, sem nunca terem visto a luz real da vida, nem mesmo uma pessoa, e sim sombras, o tempo todo. Por quê? Uma fogueira proposital é colocada por detrás de seus ombros, como que para "iluminá-los", mas principalmente para gerar Sombras. 

Tais vultos, pelos moradores, amarrados e de costas à fogueira, são como peças reais, muito reais, de modo que ninguém os questiona. Apenas um. Este, ao sentir seu pulso roçar entre as cordas que o machucavam e ao mesmo tempo o fizeram se acostumar com a dor, fez gestos de incomodado com seu estado.

Nesse minuto, é provável que o filósofo se referia ao mestre Sócrates, a quem tanto prezava até o fim dos seus dias, e o homenageou como um revolucionário em meio a uma Democracia que não aceitava (e não aceita) questionamentos, desfaz princípios e nos prende a imagens e a seres relativamente inconstantes. Sócrates teria perdido na justiça o direito de viver por "corromper" os jovens da época, dando-lhes instrumentos para sair da Caverna -- o próprio sistema.

Na Caverna, aquele ser que se absteve de se comportar como pessoa comum, se levanta, passa por vários pontos do lugar, entende as sombras geradas pelo fogo, ganha espaço, e consegue ver a saída ao seu alcance, nada mais é que um indivíduo dentro do que Platão estabelecera como filósofo. Nesse momento, a Educação, em Platão, se inicia. Quando o indivíduo começa a se sentir incomodado, levanta-se, ou melhor, inicia a busca pela verdade, sob grilhões, intempéries, trovões, medos, quase que desacordado pela realidade que foi obrigado a intuir, pois, sabe que a verdade está perto.

A luz aparece. O sol iluminando a tudo. Seus olhos, ainda vesgos pela escuridão atrasada, abrem-se aos poucos, e seus pés, tímidos pela terra diferente, andam trôpegos, e quando menos percebe, já está livre. A Liberdade a que se refere Platão aqui é um simbolo, não o ato em si. A Educação nos liberta, claro, mas não nos faz melhores até que entendamos seu real significado: o de trazer à tona elementos criadores, com vistas a melhorar o que ainda nem sabemos o que somos, mas sabendo-o, nos faz mais sábios, mais virtuosos, mas felizes, éticos, enfim, nos dá formas para seguir, não desprezar pelo simples fato de sermos "livres".

O Sol de Platão nos remete ao Bem. Algo que o mestre só nos faz entender metaforicamente, mesmo porque não há como visualizá-lo, pelo bem do homem, caso contrário o cegaria. O Bem platônico estaria dentro do que chamamos posse da Alma, quando o próprio humano compreende que tudo está em tudo, que não há uma partícula fora do Círculo sagrado, onde tudo se cria e para onde tudo se vai.

A Política vem ao homem após a posse de sua alma, dentro do campo absoluto da vida, ao encontro das possibilidades, das ideias, daquilo que não morre. E na percepção de seu ser, o nows do homem, a parte que nos religa ao Todo, vamos ao encontro dos outros, como forma de professar (ensinar), usando o racional, sem nada excluir.




Voltamos.

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