segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O Capitão e a Caverna

Sabemos que é preciso que haja reformas em um país em crise para que possa retomar seu crescimento econômico, político e social. Tais núcleos, no entanto, são organizados a partir de políticas independentes, as quais, sabemos, são compostas por líderes partidários, convidados a fazer parte daquela "pasta" (ministérios) sempre com vista a melhorar aquela área. Mas a realidade é outra.

Não há uma outra supervisão: o convidado não tem experiência em lidar com o que trabalha, nem mesmo de longe ele sabe supor como organizar pessoas competentes em sua assessoria para, pelo menos, desfazer o primeiro erro. A escolha sempre se é feita com vista ao partido, ao interesse genérico, nunca se faz em nome de uma organização que vai iniciar um processo de equilíbrio, ainda que provisório -- sim, porque as forças interesseiras são imensas na grande maioria, e isso perpetua a incompetência do líder maior.

É o "capitão" de Sócrates no navio que citara um dia quando fazia referências à Democracia, que trabalha com indivíduos sem a educação própria voltada ao cargo. É a escolha do capitão por maioria, mesmo sabendo que seu amor às águas e ao próprio barco são quase nulas; é a reverência a um estilo que se iniciou logo após guerras nas pólis gregas, quando as cidades estado estavam em guerra, e perceberam que a imposição por meio do voto faria com que houvesse a sincronia necessária para iniciar a integração das forças.

Não estavam errados. Mas se colocarmos esse exemplo hoje, como se fosse a saída para uma realidade que precisa mais do que estruturas, vamos começar a refletir sobre o que é democracia, o que é política e qual é o papel dos tripulantes, ante a um capitão que nascera para vender cachorro quente na esquina.

Vamos mais. Vamos começar a entender que na Grécia clássica havia mais que políticos, havia filósofos que participavam ativamente do sistema, a dar opiniões profundas sobre para onde devia o navio ir e aonde devíamos chegar. Pois a necessidade não era apenas objetiva, mas humana.

Quando Platão, há dois mil anos antes de Cristo fizera a República, já iniciara suas críticas ferrenhas em relação a um sistema homicida, no qual seu mestre, Sócrates, fora uma das vítimas, simplesmente pelo fato de engendrar na mente dos jovens um fator que, na Democracia de sempre, é perigoso... O questionamento.

Sobre isso, Platão escreveu em homenagem ao seu mestre (não só nesse quesito) uma à parte no livro VII, a referir-se ao sistema que fazia com que pessoas que elegiam o próximo com base em opiniões de terceiros, manipuladas, como seres que viviam na eterna escuridão, presas, algemadas, mas ao mesmo tempo acostumadas ao que estavam vivenciando mesmo porque nunca tinham visto a luz do sol.

A política platônica inicia-se a partir do momento em que um indivíduo começa a questionar as algemas, tenta soltá-las e por fim, na noite, se vai. E continuando com seu trajeto em nome da intuição, percebe que a caverna tem uma saída, que luzes que vão dar a uma vista esclarecedora em relação ao que tanto internamente pedia: liberdade.

A luz do sol, a natureza, tudo lhe serve para voltar e fazer do seu ideal uma outra realização, a dizer que ele estava certo, que havia uma saída, além das opiniões, das sombras, das medalhas, da política, das limitações impostas, de tudo: aqui, segundo o mestre Platão, inicia-se-ia a Política, toda voltada ao ser humano, em ensinamentos, em práticas, em sólidas formas de educar (tirar o que há de dentro), assim como um novo nascimento. Por isso ele fez a República.

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