quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Construção

Estar vivo, olhar para os céus, andar às seis da tarde, sob um sereno que nos encobre pelos raios de um sol que se vai; conversar com as árvores, prometê-las proteção; olhar a vida de longe, de perto, de dentro. Fechar os olhos, pensar em Deus, naqueles momentos embriagantes de risos com a família, com os amigos e, por fim, saber que em sua casa um lindo filho te espera com um sorriso maroto, louco para disparar brincadeiras que aprendeu no computador...

No lugar em que moro, não há muito o que ver, ouvir, apreciar, mas cada detalhe que percebo é como se eu estivesse vendo um pouco de mim. Ali eu nasci, percorri campos, corri em lixos, caí, me machuquei, levantei, chorei ao colo de minha mãe, fui para o colégio sujo, com roupas pequenas, que mal me cabiam, além de cuecas engraçadas que caíam sob meu calção. Fiz melhores amigos, que, hoje, se espalham pelo mundo em busca de seu básico...

A vida é bela.
Estou vivo e vivo para sempre, assim como guerreiros que não se cansam de lutar em prol de algo maior que a si mesmo, junto ao seu povo, em nome de um valor que por si só nos faz levantar espadas, correr campos, encontrar amigos em batalha, abraçá-los, envolvê-lo no ideal e quem sabe amar uma pequena e graciosa mulher após a vitória.

Sim, a vida é luta, vitória e amor, e sangue em nome de liberdades que foram ultrajadas, além das arbitrárias e coletivas. É poder. A vida não é um mito, mas em mitos se entende a Vida, essa expansão que a cada dia nos leva e traz, como elásticos psicológicos, emocionais e espirituais. Mais. A vida é fogo que se queima rápido, aqui, ali, acolá, nos transformando, elevando, pulsando e nos levando ao extremos dos pensamentos gentis, ao passo que nos envolve em seu manto gelado como água de torrentes violentas, sob as quais nos sentimos como crianças à beira de morrer de alegria, ao mesmo tempo em perigo pelo abismo em que nos encontramos.

A vida é teatro puro: um dia estamos perdidos em uma cena, chorando feito donas de casa que perderam os filhos, e noutra cena, estamos enjaulados à nossa ignorância, sem nos darmos conta de que há uma outra realidade mais bela e infinita atrás de nós... E quando percebemos, acabou a cena, o teatro se desfaz e se muda para outro lugar, como se estivéssemos presos a ele desde que nascemos -- e estamos.

Por isso, precisamos pensar onde estamos, por que lá estamos, e o quê precisamos fazer para compreendê-lo, de modo a harmonizá-lo, vivê-lo, senti-lo como nunca. Sair deste lugar, sem entendê-lo, sem ir a fundo tem suas consequências e não nos faz menos materialistas, ou mais budistas, e sim fugitivos de nossos ideias. 

A vida é construção , para cima e avante!

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