quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Em Busca da Música


Não há mais quadros belos como o de Da Vinci, nem mesmo esculturas solares como as de Michelangelo. Hoje, em meio a uma sociedade cheia de guerras inúteis, sem direção, somos obrigados a presenciar o nascimento de uma geração de artistas frios, sem a ligação intima consigo mesmo. Percebemos que o presente se perde e não consegue sair do seu próprio labirinto.

Na música, tão desordenada quanto qualquer personalidade ambulatorial, vê-se a progressão das ondas de um mal que assola nossos ouvidos; não é isso, no entanto, que interessa a massa de ouvintes que ama a vidinha que leva, e sim a música em si -- desde o fio de cabelo na cama, à mulher que o traiu sem querer... Nelas, a sombra de uma sexualidade privada, que se expande em forma de letras, violas, vozes desafinadas e ritmos quentes. É a própria vida do homem simples, quase débil, levada às rádios, aos shows lotados.

Houve um dia em que a música era o som das Musas, ninfas responsáveis pelo equilíbrio celeste, nas culturas clássicas. A degradação de uma cultura, no entanto, está longe de ser percebida por esse aspecto, mas, às vezes, reflete, e muito, o que disso nos faz temerosos, pois, se a própria musica perdeu o sentido clássico, o que mais pode se perder atualmente? Muuuuitas coisas!

A música era divina – cantada apenas pelos sagrados monges que faziam elevar o som às almas humanas, ao céu, a Deus. Era realmente divino. Descendo um degrau, vieram as músicas dos heróis, aqueles seres mágicos que possuem aparência humana – comem e bebem, se casam, mas, por possuíram ideais grandiosos de liberdade, amor, verdade, paz, justiça, nos deixam a refletir sobre o que somos e podemos fazer. Para esses heróis, para os seus feitos, mitos foram criados, lendas, histórias e músicas maravilhosas, contudo sem a ligação sagrada que lhe era inerente.

A música desceu mais degraus. A reunião familiar, as histórias dos homens, os feitos dos homens comuns foram alvo de músicas nas quais o divino lhe faltara, mas ainda possuía a boa intenção, sem a má personalidade que, mais tarde, tomaria de assalto nosso tempo.

Hoje, em fins de escada -- nem degrau há! -- vemos e ouvimos cantores e suas músicas tão distanciados quanto o homem da verdade. A época é outra. Os valores são outros. Tudo mudou. O ciclo nos mostra que caímos, desabamos e fomos à lona. A música – se é que se pode chamar de... – nos revela a tristeza, a dor, a doença, a loucura, a marginalidade, a violência, a sexualidade regada a desamor, enfim, a própria personalidade humana desconectada de tudo que chamamos de divino ou menos que isso, de pelo menos algo relevante aos ouvidos humanos.

Por demonstrar a personalidade, caímos de maneira generalizada nos sentimentos –paixão, intriga, alegria vulgar... E caímos no gosto daquele que produz – sem caráter algum – a chamada arte moderna, sem o mínimo de pensamento racional possível. Espiritualidade? Nem pensar. Requinte? Quem sabe...

Por outro lado, podemos escolher dentro do mal maior o menor. Há aqueles que, de maneira inteligente, traduzem a paixão, como se fosse o amor, em música, em letras e ritmos audíveis, o que nos remete a ter um pouco de esperança dentro de um poço sem fundo que se mostra mais fundo a cada dia...


A música está distante da Música. A primeira perdeu o sentido, no entanto, pode-se voltar a conecção com o que temos de melhor, compondo músicas simples, elevando aos poucos nossa alma, sempre mirando um degrau acima de nossas ignorâncias, loucuras. Assim como poemas, poesias, advindos de crianças -- puros e livres de nossas personas.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....