sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Papas e Hitleres

Nascemos, crescemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. Isso, desde o dia em que em que a plaqueta Ser Humano esteve em nosso peito. “Não adianta, -- dizia Marco Aurélio – até mesmo o mais sábio dos homens morre”, é irrefutável. Nesse jardim imenso pelo qual passamos, onde flores nascem, crescem, ficam belas, envelhecem e morrem, tal qual nós, andamos todos os dias. Um andar diferente, a cada passo, além do próprio caminho no qual, às vezes estreito, largo demais, mas com uma certeza: ou passamos ou passamos. Dentro dele, muitos falam – ou mesmo antes – com a narrativa falaciosa, fria, às vezes, embriagada de polidez demagoga, levando muitos a enfrentar, além dos próprios obstáculos do próprio caminho que lhe é dado, muito mais obstáculos – estes nos dado em vida por terceiros.

Nas entrelinhas de nossas vidas, como dizia o mestre dos mestres Carlos Ilha “Temos sempre que escolher, a toda hora, entre um prato de comida e um prato de ração”, o que nos torna insensatos é que preferimos, na maioria das vezes, o prato de ração. Por quê? Muitos pela euforia, paixão, amor desmedido... ou mesmo “safadeza” – completando o que mestre Ilha disse “— são levados a abismos, à destruição.

Um exemplo disso seria uma menina que possui uma educação clássica, porém põe tudo perder se apaixonado por um marginal de alguma favela. Temos a certeza de que ela nos diria que o que sente pelo desafeto é amor. Outra forma de incoerência seria uma professora que, dentro de sua vocação de dançarina, montasse uma academia onde o prato principal seria a dança baiana, cheia de nuances sexuais, com o codinome de arte.

Nossa insensatez se prolonga a partir do momento em que queremos mudar o que não podemos, como o caminho nos dado. Se pudéssemos, nasceríamos ricos, cresceríamos fortes, sem defeitos, brancos ou negros – dependendo do lugar e circunstância --, seríamos detentores do saber universal, nunca envelheceríamos, e, enfim, nunca morreríamos. As leis são a todos iguais – às pedras, às plantas, aos animais, e por que não aos seres humanos?

Houve época em que aceitávamos mais nossos destinos de humanos, e filosofávamos mais em torno do que somos e em torno do que poderíamos ser, e em torno da morte, esta com se fosse um tesouro perdido, um mistério, uma coroa após tantos anos de trabalho como ser humano, ou mesmo, dependendo do individuo, do inicio de uma nova ação nos dada pelos deuses. A vida, assim, seria apenas um prelúdio, não tudo. Temos medo até da própria palavra.

Mas os caminhos nos ensinam muito a longo prazo. Nos ensinam a ser papas, hitlheres; na realidade, mais hitlheres que papas. A decadência está visível aos olhos, à alma, ao próprio homem, de cuja responsabilidade é e sempre será o seu caminho, mesmo que entregue a outros. Ainda nos ensinam a entender a partir de premissas relativas o que é Deus, o que é Política, o que é amor, verdade, ética, moral, prudência, vida, morte... Todas de maneira sutil, sem a profundidade de antes. Não há mais escolas que se importam ou mesmo governos de sábios. Há governos de tiramos disfarçados de salvadores; salvadores disfarçados tiranos; homens que não são homens, mulheres que não são mulheres; homens que querem ser homens, mas não são; e mulheres que querem ser, mas não são mulheres...

São fatos. São caminhos. São leis que incidem em cada um. São aprendizados nos quais o próprio ser humano se perde em sua identidade e assume o que não é; jogado fora, o aprendizado se torna uma linha a seguir uma dor a sentir nas veias, no corpo, na alma; alguns assumem em razão de escolhas – não se pode fazer nada, então, aceito. Outros buscam a fé, a ciência, os grandes livros e até mesmo grandes professores na intenção de desvendar o porquê da vida ser “assim” tão imperfeita a seu ver.

Descobrindo... se suicida, ou se converte, ou se magoa e continua sua busca; ou na pior das hipóteses, não faz nada, ao acreditar que é mero acaso, um grande erro do universo, de Deus. É o Hitler nascendo e exterminando gerações, cegamente.

Os hitleres são mais fáceis ser, pois respiramos a todo custo o ar que eles mesmos fazem. Hitleres manipulam dados, pesquisas, desmistificam símbolos, verdades que há muito nos deram credibilidade; nos fazem desacreditar em sonhos, e dizem que a matéria, a riqueza, o capital, a felicidade e todo o meio de vivência externa é o que mais necessitamos; dizem que a religião é o meio de consecução dos bens materiais. Dizem que temos o mal e precisamos a eles nos entregar em nome de salvadores antigos, e enfim vender, realmente, nossas almas. Os hitleres tiram o amor ao ser humano.

Desmistificam a política que há muito houve homens de bem, de cuja ética é moral nunca foram desconfiáveis. Até hoje, claro. Hoje o vocábulo se iguala à corrupção, à falta de valores que há muito na humanidade brotou e cresceu, e nos deu sonhos de humanidade – alguns poucos idealistas ressuscitam isso. Política é sinônimo de violência, destruição em massa, de guerras inúteis, de falta de caminhos e paz.

Há bons, no entanto, e também deles respiramos seus ares. Hoje, em nossa época, tão em falta de seres iluminados, que se tornaram sol em nossas vidas, nos faz voltar à tradição, àqueles heróis, de cujos atos não nos esquecemos, de cujos atos podemos nos referenciar e manter algo, um pequeno sol, uma pequena forma de se viver. Esses grandes homens, pais de legados de uma humanidade necessitada, devem ser procurados, amados, levados no coração.

Os papas, hoje no cenário mundial dados como descendentes de uma tradição cristã irrevogável, são a contradição do mal que nos afetou e nos afeta em nossa época tão fria e necessitada de heróis. Papas, ainda que meios frágeis em suas elucubrações, podem ser referenciais a alguns, mas não a todos, pois não possuem em sua linha hereditária a credibilidade como um todo, por isso é falho. O mal, assim, vence.

Contudo... Havendo caminhos, havendo referenciais dignos – como os grandes heróis da antiguidade – sim, podemos sempre construir novos homens e, com ele, novas formas de crescer, amadurecer, envelhecer e morrer.




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