domingo, 29 de março de 2015

O Quase Fim

...É muita pretensão nossa querermos ser o que não somos. Mas isso não é algo animal, vegetal, mineral, divino... E sim uma característica simplesmente humana. Algo que aprendemos desde criança, não de berço, mas quando conseguimos uma personalidade arredia, cheia de elucubrações que aprendemos com nossas raízes. Pois somos, desde tempos idos, pretensos a algo que não somos e nem podemos ser.

Em primeiro plano, ser donos de nós mesmos. De nossos físicos, de nossa idade, do tempo que se vai em nossas veias, e alma. Em segundo, querer eliminar resquícios de que somos mortais, e a partir daí viver para sempre. Em terceiro, mandar no mundo, na natureza, nos animais, como se fôssemos meros deuses responsáveis pelo átomo que se vai no espaço, no embrião do todo. Em quarto, ser Deus, além da tentativa de enquadrar Nele o que somos. Talvez essa seria a primeira das pretensões...

No entanto, nossos mestres, aqueles humanos que são tão humanos quanto nós, que encontram respostas no fundo da alma para questões complexas de nossos dia a dia, brilham no escuro de nossos conscientes a demonstrar que podemos ser o que somos... Um pouco mais humanos, nem mais nem menos.

A cada dia que passa, no entanto, em favelas, em vilas, até na mais culta das sociedades, enxergamos outro brilho. O brilho dos homens que desaparecem, da lâmpada que adormece antes de ser ligada, da deturpação em nome da hipocrisia eterna, da falta de valores humanos, e da criação de outros, em nome de homens que julgam justos e eternos, sem serem.

Não precisamos ir tão longe para entender uma política desmerecedora da credibilidade do povo, nem mesmo religiões que se vestem de paz e pureza apenas para angariar fundos interesseiros aos seus bispos, pastores -- os quais desvirtuam palavras como bispo e pastor.

Não precisamos abrir as janelas para ver crianças que querem ser o que não podem, como presidentes, governadores, pastores, sem referenciais que as fazem objetivas ao que realmente são. Tais crianças, belas na essência, se transformam em monstros, em vermes sociais, às vezes, mendigos culturais, graças a pais que nasceram para dar apenas escola, comida e televisão... Nada mais.

O que se vê não é apenas a transformação do humano em algo que não é, mas a distância do que são. E quando percebem que são humanos, se escondem debaixo da coberta, dos colchões e não querem se levantar... Há desumanidade demais!

O cálice humano, que derramado em sua alma se foi, não se encontra mais no coração humano, mesmo porque a frialdade o tomou. As profissões que destoam suas vidas, e revertem sorrisos sinceros em sorrisos cálidos de aço frio, estão levando os homens a um caos interno, embalado pelo capitalismo doentio, sem pai nem mãe.

Se houvesse pelo menos uma grande mãe, umas daquelas que direcionasse o espírito humano a elevação aos cimos de sua montanha interior, como Isis, do Antigo Egito, a qual deu início a vários aspectos divinos femininos no mundo, hoje se desfaz em rezas, em orações, com receio de entender o que significava a parte feminina na triade...

Nem pretendemos aqui desvendar misterio algum. Somos pacíficos de guerras religiosas se adentrarmos nessas questões. Então por aqui ficamos. Mas podemos dizer que a única deusa que nos guia é a Esperança, isso quando não morre antes de nossas pretensões materialistas.  Dela nos vem o amor ao próximo, a paz que nos sustenta, a vida antes da própria vida.

Da Esperança podemos dizer que o mundo não se desfez.. Pois ela se enconde dentro de algo que nos torna um pouco mais esperançosos de ser, de ter, de tudo...

Não temos nada, e se olharmos a nossa volta e reconhecermos isso, já é um grande ganho. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Um Conversa Diferente

Nada é tão complexo do que a compreensão do simples.




Sabemos que somos seres espirituais, e temos a obrigação de nos deter nesse ponto, quando percebemos que somos parte de um Universo infinito, no qual todo o invisível e invisível tem sua Justiça, seu Bem, seu Amor. Em nós, seres conscientes de nossa espiritualidade, tentamos chegar ao cume dessa compreensão... Mas não podemos.

E quando conscientes, na prática, de que somos eternos ignorantes, nos tornamos não apenas um pouco sábios, mas também um pouco mais filhos desse Infinito, ou como diria nos clássicos, “tocando as vestes de Deus”, ou vendo Sua face.

Ou seja, observar de longe certos aspectos da natureza, apreciá-los, senti-los em nossa alma, como a real beleza, como Arte, como princípios que saíram de dentro do grande Ser, nos vem a preponderância da grandeza interna, que nos faz um pouco melhores em relação a alguns minutos, nos quais, antes, éramos frios, calculistas, desumanos...

Não podemos observar esse Infinito, nem mesmo pensar nele – talvez imaginarmos, e assim, caímos em contradições ao que aprendemos nos passado sobre o que é a Vida, o que Deus, o que somos nós... E partimos para uma viagem sujeitos a elucubrações humanas, dentro das quais podemos nos perder e não voltar mais... Assim aconteceu com vários filósofos modernos, que, por não saber unir os valores que buscava, com os seus, ou mesmo querendo dividir seu mundo com aquele que tentava entender... Ficou sem caminho.

Não se pode desagregar valores se buscamos o Todo. Ainda que saibamos pouco, meras conjecturas talvez, somamo-las e com o tempo renovamo-las, ao ponto de torná-las apenas um valor. O valor do Céu.

Todavia, devemos entender que os valores terrenos, os mais baixos, os mais doentes, devemos, por obrigação, deixar para trás. Aqueles que somamos têm uma simplicidade sutil, um tanto quanto celeste, e por isso temos que reavivá-los, deixa-los subir, sem ajuda da personalidade doentia... Deixar que o coração fale mais alto, que ele dite nossos comportamentos, nossas palavras, nossas transformações internas, de modo que nos apareça a ponte para aquilo que somos – Infinitos.

Sabemos que somos espirituais, mas também sabemos que o físico, a depender de nossa época, é um produto tão valorizado quanto um apertar de mão, ou mesmo um abraço bem dado... E isso nos faz não apenas olhar para trás, mas sucumbir ao nosso ideal de subir, elevar, buscar o que somos – e isso não pretendemos!

Há mais que elementos para entender que o físico não é algo nosso, nem mesmo o que buscamos – o espírito; há uma soma de realidades que nos desviam da intenção (somente da intenção, imagine o resto!) de sermos idealistas no sentido mais sábio da palavra... E quando tomamos essa consciência, parece-nos que uma luz se acende dentro de nossas almas, mas não fica acesa por muito tempo... Mesmo porque nossa personalidade, pesada, presa ao cimento de nossas experiências terrenas, nos prende como bonecos de seda ao chão.

A alma nada mais é que uma águia calada, a espera de uma oportunidade para alçar voo. Quer ela estar livre e buscar sua origem, viver, se manifestar, subir ao céu... A alma, hoje, presa ao que mais ela lutou no passado longínquo tenta reverter esse papel, observando, na natureza, sinais de que um dia ela pode dela fazer parte, sobrevoando montanhas, alcançando o sol, dormindo com as estrelas, pisando na lua, ultrapassando a semântica humana em sua definições acerca do espaço...

Temos que orar.
Em nossas orações, feitas em presença do silêncio, do uno, da paz, sintetizamos o que somos, e o que buscamos. Todavia, em nossas orações práticas, devemos ser coerentes, alimentando mais e mais nossos desejos de paz e harmonia entre os seres, ou consigo mesmo.

E quando o fazemos, nos sentimos apenas bem, como se fôssemos deuses, mas estamos apenas sendo humanos, filhos dos deuses, da natureza, de tudo. E cada ato de humanidade que se realiza, estamos nos conectando novamente com Deus, simplesmente porque se um átomo faz seu trabalho, levando milhões de átomos a se reproduzirem em prol de seus ideais, tal átomo está em nós, e estamos dando a possibilidade dele se manifestar como ele, dentro de sua característica, o é.

E somos humanos, somos força, somos vontade, somos a ponte para a compreensão universal  entre aquele que aparentemente nasce e aquele que aparentemente morre.



quinta-feira, 26 de março de 2015

Atrás do Sol

Filosofia

"Ontem eu vi, hoje eu sei". Tutakamon


... Sabe-se que, em tempos  idos, quando civilizações eram gigantescas não apenas territorialmente, mas em conhecimento, havia uma obediência ao mistério, ao oculto – ao invisível que se escondia (ou se esconde) por detrás das coisas, até mesmo do sol.

Havia uma grande reverência que se transformou em atos, que, até hoje, a metafísica desconhece, portanto, nada melhor do que opinar a respeito de... falar de... sem que tenham um raio mínimo entendimento acerca do que se pressupõem.

Mais que isso.  Descobrem estruturas, denominam-nas pelo “porque eu acho..”, e retiram seus mistérios, os quais predominavam até então...

Para nós, filósofos de nascença, que nos questionamos acerca de tudo, e questionamos sociedade, mundos, transformamos a vida em algo mais que um simples joguete de palavras e consecuções humanas através da história, sabemos que nem tudo se vai nesses rótulos.

Ainda há o mistério.
E quando falamos em mistério... tudo soa como algo que está bem longe de nossas possibilidades, fora de nosso meio. Ao mistério damos a honra de ser intocável, como se estivéssemos falando de um fruto simbólico do qual não se pode tirar um pedaço...

E por isso, é mistério. Na verdade, deve havê-lo. Sem ele, o respeito às tradições, ao que ela sabia, ao que construíra, e em tudo que se vê quando visitamos um grande monumento e – religioso ou não – nos assombramos, e nos ajoelhamos – na maioria das vezes, literalmente – e nos sentimos possuídos de um sentimos real do grande mistério.

“Levantai aquela pedra e Me verá”...

Dizia um manuscrito apócrifo da Bíblia cristã, que, no passado, foi mais remexida que panela de pensão. Nesse dizer, sabemos que há algo  que podemos dizer, já de pronto, que Deus está lá, debaixo daquela pedra. Mas não é apenas isso que nos remete essa frase. Ela nos faz pensar que estamos perto de Deus, dos mistérios, de modo que podemos tocá-lo, vê-Lo e apreciá-Lo...

Contudo, antes, temos que levantar a pedra, sermos fortes, objetivos, cheios de ideais que nos elevem ao ponto de sermos mais valentes, esquecendo-nos, de forma breve, que somos fracos em espírito.

Mas quando usamos um pouco de nossa real credibilidade em algo maior que nós mesmos, ou temos a certeza de que somos mais que uma pedra, mais que uma montanha, mais que um céu cheios de luas, levantamos qualquer coisa... 



Assim, ao ver aquele mistério se dissipar de nossas entranhas, criamos outro e mais outro, mesmo porque, assim como o grande espírito, os mistérios são eternos. 

domingo, 22 de março de 2015

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (fim)




O Herói está entre o céu e a terra, entre os elementos inferiores e superiores, entre o bem e o mal. O Herói luta, incondicionalmente, em nome do coração, do amor, da união e integração do homens, da humanidade. Ele mora em cada um de nós...

Quando Kevin relembra Artur e seus cavalheiros, não brinca de se lembrar, mas se lança como um deles, de coração, ainda que suas pernas claudicantes, ainda que seu corpo atrofiado, e suas ferramentas parcas sejam correntes de nascença, mas a seu ver tão brilhantes como lanças que eram usadas com escudos enormes, tão fortes e belos, que se enraíza na filosofia da época: a do cavalheirismo.

(um pouco de Artur)

Artur e seus cavalheiros existiram como pessoas reais, mas aspectos simbólicos foram inseridos com o tempo, e assim, hoje, muitos possuem dúvidas quanto a sua existência... Prova disso é a figura do grande \cavalheiro, Lanceloti, o qual, segundo a história-mítica, teria nascido para ser o braço direito do rei, do grande rei Artur; no entanto, somente depois de uma grande batalha, entre os dois, é que Lanceloti descobre quem é o seu Senhor.

A partir daí, Laceloti, o maior dos cavalheiros, começou a fazer parte da grande távola redonda, na qual senhores de diversos lugares se reuniam sempre com o fim de contar histórias nas quais eles próprios eram protagonistas.

A questão, no entanto, não se resumia apenas em falar de si mesmo; Artur era o grande referencial humano e quase divino dos grandes que ali se assentavam. As histórias teriam que soar heroísmos, amor ao próximo, lutas infindáveis entre o bem e o mal. Eram fantásticas!

A Esposa de Artur, Guinevere, significava a parte intuitiva do homem, a parte da qual se sobressaía a alma; nada era literal, mesmo porque se iniciarmos histórias sem sua parte simbólica, ela se esvai sem seu real objetivo. E estamos, de alguma forma, lidando com tais significados.

Guinevere, na história, representa a esposa, a alma presa aos valores divinos; mas, ao chegar Lanceloti, apega-se a ele, como nossa própria alma o faz quando está presa aos valores terrenos... E o braço direito de Artur, mesmo sendo o brilhante cavalheiro, se apaixona, como nossa consciência frágil, pela bela esposa.

A vontade, Lanceloti, se perde, fica apaixonado, e desce ao terreno, Mas se ergue após saber que seu rei dele precisa...

(de volta o Herói)




O Herói não duvida ainda que nos pareça com seus tributos humanos; ele chora, se esvai nas águas de um rio, cai ao chão, se torna terra tanto quanto qualquer homem, mas não esquece o amor
incondicional ao céu, e Lanceloti, braço do rei, não esquecia seu ideal de realizar, concretizar a ponte que o levariam ao outro lado.

Kevin sabia disso... E ao dizer, "Um cavalheiro não tem medo da morte", não erra. E prova isso no filme. Seu personagem, iluminado, não tem medo de se lançar ao perigo, mesmo que seja por uma imaginária rainha, demonstra sua necessidade de viver em função maior que a si mesmo. Com certeza, muitos têm exemplos de grandes heróis do passado...

Nosso protagonista se assemelha também ao grande Don Quixote, um humilde cavalheiro, que em sua tenra idade, lia clássicos nos quais cavalheiros eram simbolo de respeito e o faziam se respeitar pelos seus atos, tão eternos quanto a história de Cervantes.

Quixote, na história, precisa de um escudeiro, que sempre o faz lembrar de uma realidade na qual não quer pisar: a dos homens sem sentido, que desmoralizam o mundo com pensamentos, e obras desnecessárias, as quais se tornam tão ilusórias quanto suas imaginações de fogo.

Kevin conhece seu escudeiro, Maxx, que se torna, ainda que meio fora do real personagem de Cervantes, que monta um pequeno burrico, o parceiro de Kevin o carrega nas costas, levando seu amigo a observar as coisas de cima, como se o levasse a ver céu de perto.

Quixote é conhecido por sua ilusões maravilhosas que as vê como reais; mas Kevin sabe que tudo porque passa é uma realidade, mas não abre mão de enfrentá-las como imaginárias. E não se perde ao arriscar, pois sabe que está doente, vai morrer, e leva tal intempérie para o lado seguro da história humana, que é brilhar com seus atos de cavalheiro, vivendo pela força que cria, baseada nos grandes do passado.

Assim, Kevin enfrenta, junto com seu amigo, uma história que se fazia entre os dois, e que se igualava maravilhosamente na força, na hombridade, na lealdade e no amor incondicional, aos arturianos e ao grande Don Quixote, de Cervantes.



A Mim,








quinta-feira, 19 de março de 2015

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (v)

Chegamos ao ápice da história em que nossos  heróis, com suas parcas ferramentas, tentam lidar com o mal que o destino os fez enfrentar.



Ultima cena do cavalheiro imaginário.


"Não nos renderemos a você, nem a qualquer homem!"


... Enquanto Maxx ouvia seu pai pedir respeito às palavras que proferira, a porta, enfim, se abre, só que, agora, com nosso querido cavalheiro, que, antes de entrar, pedira a uma menina para telefonar para a polícia. Todavia, o que Kevin iria enfrentar já estava em sua mente perfeita, e isso não poderia esperar. Então, com toda sua voz e estilo, mirando uma arma de brinquedo na cabeça do vilão, disse..

"Você deve está pensando..'será uma brincadeira' ou 'não'?", e completou, "pode parar por aí, meu amigo. Aqui, dentro dessa arma, tem uma solução formulada vários elementos ácidos que podem desfazer seu rosto, deixando sequelas pelo resto da vida!" e, terminando, disse, "um cavalheiro é valoroso pelos teus atos!"

Porém, o pai de Maxx, fazendo pouco do que Kevin tinha falado, partiu para cima do menino, quando de repente sai daquela arma de brinquedo uma água que o atinge em cheio nos olhos! E Maxx, louco de alegria, pegando Kevin, perguntou o que ele tinha feito..! "É só detergente", disse Kevin...

E aproveitando que seu pai estava como cachorro louco, querendo enxergar qualquer coisa, ou pelo menos acreditando que estava cego, pegou Kevin de costas, andou para trás, como que fosse a correr para trás, quebrou a parede, caindo ao chão do corredor que dava acesso à saída!

Nesse instante, a polícia, já no pátio, vira os dois meninos em apuros e entendeu que o chamado viera dali, e mais, ao vir o detento que não cumprira sua condicional, correndo atrás dos dois, teve a certeza de que estava correta.

Não adiantou... O calhorda, vilão, canalha, o vírus o mal se adiantou em correr dos policiais, se engalfinhou em meio a lençóis estendidos em varais de humildes que ali moravam. E olhando aquele vil ser correndo e sendo preso, Marxx disse... "Não nos renderemos a você!".. E Kevin Completou a máxima arturiana.. "..Nem a qualquer homem!".




Volto no outro dia com o significado de tudo.

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (iv)

... Não gostaria que fosse o fim da saga desses cavalheiros, que inundam nossas almas de emoção e esperança. Mas não tenhamos o vazio que nos faz recapitular o que somos lá dentro do mais profundo ser; ao contrário. Tenhamos nossas almas cheias de guerras maravilhosas nas quais adentramos como cavalheiros que não morrem, mesmo porque...


Kevin e Maxx, para sempre.

"Ninguém pode nos deter, nem qualquer homem!"


Depois de cessarem as almas em pensamentos turbulentos, em razão da possibilidade do aparecimento do pai de Maxx, Kevin e seu escudeiro foram para casa descansar. Mas naquele dia, em uma noite friorenta, cheia de tempestades de ventos que batiam violentamente naquelas janelas de vidro, um pesadelo começou a virar realidade... O pai de Maxx apareceu no meio da noite. E jurando machucá-lo se falasse algo, e o levou para um lugar ora conhecido dos nossos heróis.

Ao vir que Maxx iria se comportar, pegou-o, com uma leve força, e o colocou dentro de um carro. Este teve seu vidro quebrado antes de ser usado, pois era roubado. Não por isso, deixou de sair para o esconderijo. 

Kevin, ao saber do desaparecimento do amigo por meio dos avós, os quais viram policiais chegarem e procurando um detento que havia violado a condicional, na mesma hora, foi ao quarto do amigo, e percebera várias pistas que o indicavam para o fim das aventuras. Kevin, claudicante, foi até à rua e viu pegadas grandes colidindo com outras menores, além de vidros caídos na neve, os quais deram ideia de força e violação.

Não falando nada à mãe, nosso Quixote, depois de ter deixado um bilhete em cima da cama, pegou o carro, e com sua muleta, acelerou até o local que, intuitivamente, sabia: no mesmo apartamento em que foram devolver a bolsa da rainha da Patagônia...

Chegando com o carro meio descontrolado, o cavalheiro Kevin estava disposto, com poucas armas que tinha, a resolver a demanda que soava como a última de sua breve vida. Mesmo assim, saiu do automóvel, e com sua muletas, iniciou a peregrinação rumo ao amigo, que, naquela hora, estava preso a uma cadeira, pelo pai, que tentava explicar, muito mal, a morte da mãe de Maxx.

Quando o ar estava insuportável, e Maxx já não entendia mais as palavras do pai marginal, na porta batia uma pessoa que não seria esquecida jamais pelos grandes da Patagônia, a prostituta que havia identificado Maxx como o suposto filho de um homem que estava preso por homicídio, e naquele instante tão bravo quanto deveras ser um homem sem amor ao filho e que assassinara a própria esposa.

A rainha entrou e sentiu que o clima não estava para conversas... Mas, enfim, queria saber o que estava havendo naquele local, em que uma criança de quatorze anos estava presa a uma cadeira, e com um pai louco para esbofeteá-la. A prostituta, com autorização do verme adulto, se aproximou da cadeira, e com um ar de pena, inventou um diálogo com Maxx se ajoelhando frente ao rapaz, que ainda não entendia a mulher de lábios grossos e vermelhos.

Com um pequeno canivete nas mãos, escondido, entregou a Maxx sua suposta liberdade. Pegando-o, o menino levou-o para trás da cadeira e com ele iniciou o que já era claro à cena: cortar a pequena e forte corda.

Todavia, em meio aos cochichos, o pai de Maxx desconfiava do que a prostituta estava fazendo, e a pegou de forma violenta, de forma a fazer falar o que sabia sobre o grandão. Assim, tentando desviá-lo de eu ato, confessou que  o menino, antes, a havia entregue uma bolsa, que tinha sido roubada por marginais, mas que havia sido recuperada por dois meninos, um deficiente, e o outro, Maxx.

O homem que, nesse momento, a segurava pelo braço, a jogou no chão questionando quem era aquele que poderia reconhecê-lo e denunciá-lo quando fosse a hora -- estava falando de Kevin, o qual teria sido citado com desdém pelo mal em pessoa.

E sorridente, viu  o pior acontecer. O canivete, que teria sido dado pela bela, caiu no chão, na traseira da cadeira em que Maxx estava amarrado. Foi o fim. O bruto olhou para a triste mulher, bateu-lhe no rosto, a fazendo cair, ficou no meio de seu corpo, e escondido entre prateleiras surrava a rainha da Patagônia!

Maxx, com a mesma fúria que o fez levantar a tampa do esgoto (pesadíssima!), quebrou a corda e pediu ao pai que parasse de bater na dona dos lábios que, agora, eram vermelhos de sangue. Isso tudo de forma feroz, como se houvesse em sua frente um ser humano do mesmo porte, nível e fisicamente igual. Nada parecido. Sem falar que era seu pai, mesmo que não quisesse...





Voltamos daqui a pouco.




terça-feira, 17 de março de 2015

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (iii)

A saga continua...


Kevin e Maxx, à toda prova.


E quando foram devolver a bolsa, ou o tesouro, como havia dito nosso querido cavalheiro, Kevin, e seu fiel escudeiro, Maxx, chegaram a um prédio imenso, de alojamentos quase que abandonados, o que parecia muito mais um esconderijo do que uma moradia.

Ao entrarem naquele grande “castelo” – como repetia Kevin – chegaram até o corredor que dava acesso ao apartamento. Bateram várias vezes, e ninguém os escutava. Cogitaram ir embora, mas, de repente, como olhos grandes, cabelos loiros, lábios avermelhados e uma simpatia à prova de qualquer homem, uma mulher – longe de ser a rainha da Patagônia – muito mais próxima de ser uma prostituta, os atendeu com um sorriso largo..

Os dois, de pronto, se assustaram. E na fresta da porta, deixada pela rainha, Maxx olhou a senhora e queria-lhe entregar a bolsa imediatamente e sair. Não pôde. A loira, ao vir aqueles dois, iniciou um sorriso gozador, o que não os agradou. “O circo chegou? Há há há”, e sob risos, ela os mandou entrar, olhando muito mais Maxx que Kevin, e deixando-o sem graça.

“”Você não me é estranho”, disse ela, ao vir Maxx, que, na inocência, repetia várias vezes que não. Mas ela não se referia ao menino em si, e sim às características dele que as remetiam a uma outra pessoa que, no passado, a fizera mal. O pai dele!

“Vamos embora!”, chamou Kevin, já não gostando do que estava por vir. A mulher, insistente, enfim descobriu quem era Maxx. Filho de um gigolô que matara sua esposa (a mãe de Maxx) e ficara preso durante anos. Mas o menino grande não sabia o que viria mais tarde..

“Nós só queremos entregar a sua carteira, mais nada, minha senhora”, Maxx rebuscava, mas ela era impiedosa e ria pelos adjetivos claros na face do grandão que, na realidade, a ela traziam mais medo que saudades. “Olha, está aqui sua carteira, minha senhora, adeus!”. E quando viu que a prostituta o fez lembrar o pai algoz, quando a imagem do mal se fez, quando sentiu que seu passado viera à tona, correu em direção à porta, puxou-a, quebrando todos os sistemas de segurança que a prendiam, e correu para fora, com Kevin atrás dele...

“Você não é igual a ninguém, você é único”

Depois de saírem correndo do castelo do mal, os dois foram descansar suas emoções, sentados à beira de um lixo. Cansado e inconformado, Maxx não falara uma palavra – como era dele isso, mas kevin, com sua filosofia que lhe era inerente, pegou uma carlota de carro, essas que ficam presas ao pneu, e como espelho, trouxe à feição de Maxx.

O menino grande, a principio não compreendia o que o amigo queria lhe dizer, mas, ao aproximar dele aquele espelho, Kevin, sentado ao seu lado, falou, “Olha para cá, Maxx, o que você está vendo?”, e inconformado, não balbuciou nada; “Você nasceu com suas experiências de Max, e por mais que você queira, não será outra pessoa. Então, entenda, você nunca será o seu pai. Você não é igual a ninguém, você é único”...

Levando a sério o que o amigo falador tinha dito, Maxx, mais um vez, sorriu levemente, mas sabia que Kevin não havia acabado a aula, e então ouviu falar um pouco, agora, de seu pai, que, ao vê-lo nascer com uma doença que lhe dera apenas alguns anos de vida, resolveu ir embora da vida dele e de sua mãe – Kevin esta sendo sincero, “E hoje, tenho a certeza de que eu não sou ele”. E terminando a conversa, em tom agradável, porém dramático, os dois se levantaram, e partiram para mais uma aventura...

segunda-feira, 16 de março de 2015

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (ii).

Voltando ao Filme.


Esse capítulo é em homenagem ao meu filho.



...Noutro dia, quando Kevin tinha sido deixado pela mãe na escola, vira movimentações na rua de Nova Iorque, e sabia que nada daquilo tinha um sentido normal ao ver dele. E quando olhara pelo retrovisor da van, do banco do passageiro, percebera – assim como todo grande cavalheiro o faz ante um inimigo – correrias em direção a um tampão de esgoto, que serviria de depósito de roubo para marginais.

E naquele instante, como de câmara lenta, seus sentidos o direcionarma a um grupo conhecido dele, o mesmo que o queria morto no parque, jogando uma bolsa roubada de uma senhora, dentro do esgoto, levantando a tampa pesada...

Para Kevin, Don Quixote, como um herói disfarçado, era melhor esperar a noite cair para ir atrás daquele objeto, o qual seria tão de valor quanto um tesouro perdido.  Para Kevin, era o momento de virar herói, com todas as suas dificuldades, as quais não eram nem de longe percebidas, em razão de sua natureza determinada, mas antes de tudo acordar seu grande (literalmente) amigo Maxx.

“Um cavalheiro não tema a morte”

Ao bater nas janelas de seu vizinho Max, Kevin já estava com seu manto de cavalheiro, a procurar o tesouro de “rainha da Patagônia”, como ele mesmo inventou – ou não! – mas antes tinha que fazer com que seu Sancho tivesse o mesmo ânimo, a mesma determinação. E depois de palavras raivosas vindas do grandão, Kevin, o falador, com sua cabeça dentro do quarto e seu corpo, fora, olhou nos olhos de Max e disse... “Um cavalheiro não teme a morte”.

E se rendendo ao fator ideal, os dois, fantasiados de qualquer coisa que não pudessem ser identificados na noite, foram ao local onde jogaram a bolsa. Com táticas físicas (matematicamente, falando), Kevin levantou a tampa, a fazer com que seu amigo, mais uma vez, reclamando, descesse e fizesse as honras de encontrar a bolsa da “rainha”.

No entanto, naquela mesma noite, a gangue iria buscar o que lhe era de “direito”, e com mais ou mesmo dez meninos, maiores e saudáveis que os dois heróis, apareceram e já queriam saber o que os dois estavam fazendo justamente no lugar em que tinham jogado o tesouro.

“Um Cavalheiro faz o que é correto e justo”

E como sempre, a gangue, liderada por um falador de inteligência média, foi alvo de desdém do nosso querido Kevin, que, mais uma vez, apesar de seu aspecto físico que não lhe dava vantagem em nada, e era o que contava naquele instante, provou, em nome não apenas da coragem a que devemos lidar diariamente em nossos percalços, mas igualou-se aos grandes cavalheiros arturianos, os quais não fugiam de ninguém, muito mesmo de suas responsabilidades.

Maxx, com pavor, implorava a seu amigo falador que devolvesse a bolsa, senão teriam que sofrer consequências greves de marginais frios, que estavam ali com apenas um compromisso, o de recuperar o objeto de roubo, e, se reagissem, algo de ruim poderia acontecer.

Contudo... Kevin, encarnado cavalheiro inveterado, não tinha papas na língua, nem mesmo em seus atos. Com o pouco que tinha, em cima dos ombros de seu amigo – que o havia colocado quando os marginais chegaram – puxou umas das escadas de acesso a um condomínio, dessas que ficam do lado de fora, subiu nela, ficou em cima de uma grade e fez até mesmo seu amigo se impressionar, dizendo... “Não posso devolver o tesouro da rainha da Patagônia! Um cavalheiro sempre faz o que é correto e justo!”... E subia mais...

Porém, o líder da gangue, cansado de ouvir o corcunda, como ele o chamou, retirou de seu bolso uma corrente imensa, começou a rodá-la frente ao grandão, que ficara pasmo com o instrumento. Naquela situação, todavia, como num passado longínquo, em que sempre nascem os medrosos, ou os maiores guerreiros da história, Max se viu preso entre dois mundos... O real, em que poderiam se machucar e perder uma luta desigual, e o imaginário, no qual poderia reagir e dar dúvidas ao destino.

Aqui nascera mais um escudeiro de valor... Marx, que possesso, ou mesmo louco pela circunstância, pegou o tampão do esgoto, rodou ferozmente em direção aos marginais, a gritar temerosamente como um lobo furioso, de cara, acertou a corrente do líder, e para terminar quebrou um taco de beisebol, que, naquele instante, já se ia em direção à sua cabeça!

Ainda gritando, jogou a tampa no meio da horda, dos homens maus, dos Kurus*!, que, amedrontados, saiam como hienas loucas com o rabo entre as pernas. Para Kevin, que tinha observado a cena, seu amigo Maxx tinha encarnado um outro cavalheiro, levantando seu escudo, quebrando espadas inimigas, e eternizando, mais uma vez, um momento entre os dois – amigos e seguidores do cavalheirismo épico.





Eles, agora, tinham que devolver o tesouro à rainha da Patagônia...





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*Kurus, parte inferior com a qual Arjuna, no Bagavag Gita, luta.

sexta-feira, 13 de março de 2015

A Filosofia de "Para Sempre Amigos"

“Não nos renderemos a ninguém, nem mesmo a qualquer homem”


"Tudo Vale a Pena quando a Alma não é Pequena"




Devaneios à parte, partimos para o filme que tanto prometemos dele falar. O filme “Para sempre Amigos”, de Peter Chelsom, com Kieram Culkin e Elden Henson, além de Sharon Stone, nos faz emocionados, porque fala um pouco dessa saga humana em relação a tudo aquilo que é belo, justo e verdadeiro.

Fala de um menino com problemas de atenção (Maxx, por Elden Henson) que, com todas as suas dificuldades, além desta, também pede socorro em vários quesitos, principalmente o de atenção e carinho, os quais não lhe foram dados em pequeno, quando seu pai o deixou, indo para a cadeia, ainda jovem pelo assassinato na mãe.

Assim, depois de ter mudado de vizinhança, não sabe quem estaria por ali, ao seu lado, morando, e mais tarde lhe atazanando sua vida: Kevin (Kieram Cultin), um garoto que possui uma doença rara que não deixa seus membros externos crescerem e em contrapartida os de dentro, coração, pulmão, acelerarem o tamanho.

Kevin é aquele que vive num mundo diferente. Intelectual e leitor assíduo de clássicos cavalheirescos, vive como um pequeno Dom Quixote em busca de seu nobre escudeiro Sancho Pança. E, quando percebe a presença daquele menino grande, calado, medroso, tenta ensinar-lhe um pouco da vida – do seu modo, tornando-se professor e aluno, espada e bainha, parceiros, ou simplesmente dois cavalheiros arturianos, na prática constante da Justiça daquele rei.

No início, para selar a amizade, era preciso que algo acontecesse aos dois, como se iniciasse uma procura constante da luva por sua mão, do sangue pelo coração... E aconteceu: por sua dificuldade em andar, pelo seu tamanho, Kevin chamou o grandão Maxx para assistir aos fogos no parque de diversão, os quais eram uma das coisas mais belas aos olhos do pequeno Quixote.

E percebendo aquele quasímodo no meio de todos, observando parcialmente as estrelas de fogo, Maxx refletira, olhara para ele, e de repente, num ato de bondade extrema (ou amizade) curvou-se, pegou Kevin e o levou até os ombros. Lá estava o menino que amava fogos no ombro daquele que, seguramente, estava por ser seu escudeiro.

Por fim, selada amizade, os dois, semelhante a duas aberrações, felizes estavam até serem provocados por uma gangue que já o provocava em salas de aula. Só que, naquele instante, ela (a gangue) teria mais possibilidades de ser cruel, tanto física, quanto em provocar os dois...

Contudo, não sabiam com quem estavam lidando! Kevin, apesar do tamanho, e da impossibilidade física, revidava em palavras que, com certeza, seriam causa de perseguições durante suas ações na película. O grande Maxx, ao contrário, com medo do que poderia haver, pedia e implorava para que o “boca grande” se calasse, pois estavam em minoria, porém Kevin não resguardava seu sentido de Justiça... “Um cavalheiro não teme a morte!”, dizia em direção à gangue...

O tempero disso tudo foi uma correria pelo parque inteiro, “usando” seu amigo como um pequeno cavalo, pois estava em seus ombros (lembram-se?), e agora, dando toques para correr dos marginais.
Depois de terem passado por linhas de trem em movimento, passado por pontes, os dois agora estavam frente a um pequeno lago, de profundidade relativa, que daria para, pelo menos, um metro e meio de gente que se arriscasse a por ele passar...

Kevin, mais um vez, em seu espírito louco, fez o grande Maxx entrar no pequeno lago. Ao vir a gangue, percebeu Maxx que o amigo estava certo, e não pensou duas vezes, e pôs os pés, depois o joelho e quando menos percebeu, estava completamente dentro dágua com sua cabeça de ogro toda coberta, e o pior, com o pequeno sábio a gritar em seus ombros... “vamos, você consegue atravessar, vamos!”..

Percebendo a coragem dos dois, o líder da gangue acreditava que poderia fazer o mesmo, e foi. Menor que Maxx, logo se afundou e pediu ajuda a sua horda. Ao vir toda cena, depois que subira à tona, Maxx e Kevin vibraram, e deram sinal de vitória.

Depois do episódio, os policiais que viram tudo o levaram para casa. Com os olhos arregalados de medo, com o coração em adrenalina, os dois se despediram para, no outro dia, mais uma aventura cavalheiresca passarem.




Mais agora tenho que trabalhar; até mais, leitores.
Até a próxima aventura dos nossos heróis.


quinta-feira, 12 de março de 2015

O Céu dos Cavalheiros (ii)

Vamos dar uma pausa no filme e vamos navegar um pouco nessa alma que tanto o homem busca, a alma de Cavalheiro.

O cavalheiro está em nossa parte superior.




Nas culturas antigas, como na Índia, por meio do livro clássico (quase bíblia dos indianos) o Bhagavad Gita, nas culturas védicas, por meio dos Vedas, e celtas, ao retratar em mitos, como o do rei Artur e seus fiéis cavalheiros, que se reuniam numa grande tábula redonda, sem falar na própria bíblia cristã, percebemos que o centro, o foco, a filosofia direcional é o próprio homem.

Nessas tábuas eternas, percebemos que o homem sempre está em evolução, ainda que passe “pelo vale da sombra da morte”, ou mesmo em busca de um cálice que se perde, quando uma espada é abandonada em meio a uma floresta (!). Outras vezes, na luta impiedosa contra seus próprios pares – parentes, amigos, pessoas com as quais lidava desde a infância, em uma guerra fratricida, tão simbólica e maravilhosa que permeia em nossas almas desde o primeiro momento que temos consciência de sua importância para a progressão interna.

E quando nos referimos ao cavalheiro, não estamos a comentar apenas aquele que, gentilmente, carrega uma mala ou mesmo dá a vez a uma senhora em um elevador, quando lhe passa percebido que o gesto é educacional é de brio. Não. Estamos nos referindo a um ser que não se corrompe com pequenas coisas, as quais nós, ímpios, tentamos delas sair incólume todos os dias, com o de levantar cedo ou fazer o café da manhã para a esposa.

O cavalheiro a que me refiro está nas escrituras sagradas. Está um andar acima de nós – e ao mesmo tempo dentro de nós – como uma figura divina (mas ao ver do grande espirito não), tão distante quanto nossas possibilidades de sê-lo. Por enquanto, nas mínimas coisas: no linguajar, no vestir, no andar, no reverenciar a vida – não somente as pessoas – sintetizando o que somos, sem saber.

Um dia..

Um grande professor nos disse, “Estamos no Antakarana de nossas possibilidades, em tudo que fazemos”, ou seja, o homem atual, em seus atos, não consegue colocar os pés na parte superior (espírito)  e muito menos edificar-se no chão (matéria), pois está sempre vagando entre as duas coisas, principalmente quando em sua jornada percebe que seu mundo está ruindo...

E por sermos, de nascimento, mais matéria, sentimos a necessidade de pedir a Deus, ou aos deuses, auxilio nas nossas consecuções diárias, pois acreditamos que somos beneficiados por Ele o tempo todo, ainda que não trabalhemos. Isso não é cavalheiresco.

E por sermos tão matéria quanto qualquer ser, desconhecemos nossos elementos internos de evolução, e não conseguimos lidar nem mesmo com a parte psicológica das questões que nos circundam, o que já seria, se pudéssemos, um passo claro para o nosso centro, onde se resguarda o que somos, cavalheiros.

E quando cavalheiros

Somos, realizamos atos maravilhosos, em prol da perfeição interna, seja em qual época for, seja em qual corpo estamos, com deficiências ou não, feios, gordos, enfim, não somos a carcaça que se afigura como nós; somos o que brilha por dentro com o sol que se mostra mais que as estrelas de dia...

E quando cavalheiros somos, brincamos de salvar princesas, matar dragões, montar aves imensas, digladiando com o mal; levamos lenços da amada no bolso, como forma de lembrar que somos um pouco intuição, leveza, paz – aspectos heterogêneos da Natureza – mas principalmente o aspecto Marte, Júpiter... do qual aprendemos que a evolução é mais guerra que paz.

É belo...

Por natureza o ato do guerreiro. Nada tão bem se encaixa no homem quando ele busca a parte superior, seja ela Khrishina, Christo, Nows, em conflitos que o fazem firme em seu ideal; contudo, as escrituras, mesmo assim, ainda mostram avathares propensos a voltar à matéria, por uma leve fraqueza, mostra grandes guerreiros dizendo, “meu arco caiu, não posso lutar”, a demostrar que temos um caminho imenso nessa jornada maravilhosa em busca de um céu – por enquanto o céu dos cavalheiros.

terça-feira, 10 de março de 2015

O Céu dos Cavalheiros


Filme 
 
Para Sempre Amigos. Grande cena.


Hoje, um grande filme voltou a passar na TV, um filme que nos encanta em cada cena, em cada fala. Essa coisa de filme ainda é meio chata, mesmo porque cada um defende o que lhe apraz quando a ele assiste, ou seja, se sou um jornalista, o filme só é bom quando traz um furo, se sou um jirradista, quando o filme não é americano, e mais, quando fala de bombas na Casa Branca, e assim por diante, mas, para mim, esse pacato ser, que se encontra entre o bem e mal, mais para o bem, claro, chora com textos clássicos, se levanta questionando a respeito da vida, e que, com certeza, o fará na morte, hoje, assistiu ao filme “Sempre amigos”.

Para quem ama questões cavalheirescas, não apenas em filmes de homens com elmos, escudos, mas, principalmente, com ideais que nos erguem em cada ato, o filme foi maravilhoso.  E digo mais, talvez justamente por envolver questões cotidianas, nas quais podemos nos basear para ser um pouco melhores, ele foi realmente singular.

“Para Sempre Amigos” nos conta a história de dois meninos que se cruzam nessas simples histórias da vida, em que um deles pode ser um qualquer, e o outro mais ainda, porém o autor, de proposito, nos coloca um menino de quatorze anos, sem família, cuidado apenas pelos avós, de pai preso pela morte da mãe, sem falar na sua pouca sapiência em relação à vida. Seu nome Max.

E o outro, com um mal que o degenera aos poucos. De mais ou menos doze a quinze anos, com as costas envergadas, usando muletas, óculos de grau e de uma inteligência mais que sutil, ou melhor, exagerada, que faz questão de demonstrar em razão de sua necessidade transparente em ser alguém que perturba no melhor sentido da palavra, encontra Max, o qual se torna suas pernas nas horas mais incríveis do filme.

Kevin, o corcunda de Notre Dame, como diriam os mais engraçadinhos, ama leitura de cavalheiros, em especial a do Rei Artur e de seus doze cavalheiros, os quais servem de referência a eles que sempre enfrentam o mal – como essas pequenas gangues que se formam em colégios.

No início, Max nem mesmo sabia ler direito, quando foi pego de surpresa por Kevin, que fazia trabalho voluntário no colégio de auxiliar em leitura, e que ao perceber que o seu “aluno” seria Max, iniciara um processo de ditadura da leitura, o fazendo ler, já de inicio, um livro clássico que falava do rei Artur e de seus doze homens.

Kevin fazia chacotas e sabia ao mesmo tempo que estava sendo injusto, no entanto, nem tanto, pois o grande menino bobo tinha pernas, por isso, em alguma coisa, ele era bom, menos em leituras... Mas Kevin era mais que um leitor,  um falador, um intelectual, era um seguidor das honras que os grandes cavalheiros usufruíam com louvor em sua época. Kevin aprendeu com a leitura ser um Don Quixote de muletas e Max seria, dalí em diante, seu Sancho Pança, forte, que o carregava nas costas na maioria das vezes...

Em cada cena, em cada batalha vencida, às vezes correndo de gangues maldosas, outras vezes, recuperando bolsas alheias, os dois, como aberrações naturais, porém de espíritos tão fortes quanto qualquer homem que se dizia de bem, ou mesmo herói, Kevin e Max se tornaram tão belos em seus atos, que suas aparências desapareciam como que por encanto.

O ponto alto do filme

Todas as vezes que Max era acordado com Kevin batendo em sua vidraça, ficávamos atendo às palavras do pequeno corcunda que dizia... “Um cavalheiro não teme a morte”.  E em outras, “temos que recuperar o tesouro da princesa!” – ao perceber que uma senhora havia perdido sua bolsa para um marginal que a tinha jogado em um bueiro...

E quando foram recuperar o tesouro, deram de cara com a gangue que tinha ido recuperar o dinheiro que nela continha. Kevin, Artur em pessoa nessa hora, não se intimidou, ao contrário de Max, que, de todas as formas, não queria confusão de novo. “Devolva para ele, Kevin”, disse Max com medo da gangue... Porém, Kevin revida “Um cavalheiro sabe o que é bom e correto”, deixando claro suas intenções ao líder, que já se encontrava azul de raiva pelo que ouvira.

E enfim, com uma corrente grande na mão, tentando ameaçar os dois, o líder da gangue partiu para cima do aparente frágil Max, que, ao perceber a situação em que Kevin fugia com o tesouro arrastando-se ao léu, e mais, frente a vários marginais dos quais só poderia esperar o pior, pegou a tampa do bueiro, com toda sua força, a rodou com intenções loucas de acertar-lhes, ea jogou no meio... Foi um momento belo...

A tampa se tornou, ao ver do pequeno Kevin que assistia à cena, um escudo cinza, quase negro, a se defender de um taco de beisebol, que se tornara, em sua imaginação, uma grande espada que se quebrava com a colisão. Os dois haviam ganho mais uma batalha.


Volto com mais histórias de cavalheiros,

domingo, 8 de março de 2015

Mulher. Mundo desconhecido.

Mulher... Que ser é esse?




Não vamos falar em direitos, em deveres, em nada que comprometa a mulher... Não. Vamos tentar falar de algo que se passa nas entrelinhas de sua alma, de seu mais profundo ser. Desse mundo desconhecido até então por nós, homens.

Vamos buscar um pouco a tradição, aquela em que sempre devemos nos referenciar quando queremos fugir um pouco do conceito que nos são obrigados a decorar... E quando a tradição fala em Mulher, Mãe, Mar, não se refere apenas a aspectos isolados da natureza, mas também de universos nos quais estamos e subestimamos pelo fato de acreditarmos saber tudo sobre estes.

Não sabemos nada, pelo menos eu, essa criança grande que tenta reverter a polaridade humana em prol de sociedade e quem sabe um mundo melhor. Sabemos que somos limitados, mas também sabemos que tal característica não nos faz pouco em relação ao Todo, mesmo porque vivemos de indagações e através delas descobrimos mistérios, e dentro deles, pelo  que sei, o que mais nos incomoda é o da Mulher...

Belas, maravilhosas, deusas, fêmeas... Mulher.  O que as faz tão simples e ao mesmo tempo complexas? Capazes de se igualarem a uma rosa de pétalas frágeis e no mesmo passo uma leoa a proteger o filho, até mesmo do homem-parceiro. Não sei...

Tão dedicada, eloquente, ilimitada em seus afazeres, em suas lamúrias eternas, sem perder a fúria da vida... E quando sorri, nem mesmo o mais quântico dos físicos, o mais livre dos poetas, o mais bravo cavalheiro compreende. Assim, deixam suas fórmulas, suas poesias, suas batalhas para, enfim, enamorar-se para viver frente a esse mistério chamado... Mulher.


Mulher

Num passado clássico eram amadas como deusas, e até hoje em muitas culturas o são, pois sabiam, naquele passado, que havia um logus entre dois masculinos – Pai e Filho – que completaria a tríade, mais que isso, descobriram que a Natureza, sem esse aspecto, ficaria sem o elo com a parte intuitiva, sensível e bela dessa grande vitrine universal.

Descobriu-se que tal Logus – o feminino – estava em todas as coisas, no homem principalmente, quando este se revela pacificador, belo ou mesmo buscador da beleza nas coisas e por que não dizer da beleza interna, quando clama poesia, quando enxerga, apesar dos pesares, uma lua mais brilhante, uma noite estrelada... Uma cascata em meio a uma floresta de cobras.

Tais aspectos são como potencialidades, as quais, num passado mais clássico ainda, foram chamados de deuses, e, cada um deles, trazido à tona em forma de Gatas, Leoas, Luas, Estrelas, Rosas, Montanhas as quais não se conseguia ou se poderia subir. Deusas, na verdade, que, ao homem, eram tão concretas quanto àquela mulher que o edificava quando levantava na manhã...

Deusa

E quando enxergamos a mulher, esse ser que se levanta na manhã cheia de dores, cheia da garra, a respirar fundo em nome de seu gado, temos que vê-la como parte dessas potencialidades naturais, pois todas elas guardam em si esse sentimento que nos religa a Deus, esse Amor quase que transcendente, incompreensível, ao nossos olhos e coração. Quando tomamos isso como uma realidade, a tríade se faz, o triângulo            se faz, a harmonia se faz, a integração família, social e mundial se faz...



Meu Deus, como é difícil falar da Mulher!!

domingo, 1 de março de 2015

O Sol de Domingo

Meus dias têm cores, todos eles. Segunda, tão branca quanto o pico de uma montanha no Himalaia, tem essa tonalidade em razão de ainda não sabermos o que nos espera, e para muitos, por isso, a certeza de ser negra... Mas para mim, branca, pura, alva... 

A Terça, um branco meio opaco, quase cinza, talvez em razão de já descobrirmos (eu) uma forma de lidar com o resto dos dias, era um dia estranho, sem a certeza do que podemos encontrar daqui pra frente... (coisa minha).

A Quarta, não tão negra como poderia se esperar, tinha um pouco de verde, sim, um verde se formando em meio ao caráter da semana, que se mostrava favorável, sempre, quando eu a observava de modo proveitoso.

A Quinta, um amarelo frágil, cor de limão que quer amadurecer, de uma laranja-lima, de uma paz que quer permear, mas o coração não deixa, simplesmente porque ainda temos a sexta...

A Sexta, hoje, para mim tão forte, tão bela e cintilante, da qual tiro proveito mais que prazeroso, antes, a via como um dia de cor de água, inodora, na qual não fazia nada, apenas viver em função do sábado que iria chegar sob a vestimenta de filmes, novelas, amigos... Enfim, nada mais que isso.

Meu sábado era verde, uma cor que retratava o que deveras ser desde que sábado sempre o fora. O dia em que descansava, amava, corria, andava, e respirava por fim. Mesmo assim, não era nada parecido com o domingo, um dia mais que especial...

Domingo, hoje e sempre, para mim, é um dia de Sol (sunday), ainda que caiam todas as chuvas, desabam todas as árvores, desatam todos os choros, esse dia, enfim, é o dia da grande reflexão humana, no qual me sinto um egípcio em essência a amar os deuses, a tornar a vida mais combativa e ao mesmo tempo mais divina. 

Esse dia, tão enigmático, em que crianças saem com os pais pela manhã, pelos parques verdes, amarelos, suam em nome de um calor hibrido de paz e amor. Dia em que nossos corações se voltam ao mais simples, por mais complexos que sejamos. 

Não há, a meu ver, dia melhor para o perdão, para recompor as energias físicas e emocionais, pois outras cores, por mais belas que sejam, vão resguardar mistérios que só o Domingo pode decifrar; um dia para amar a Natureza, embelezá-la com nossos pensamentos, com nossas ideias, alma...

Um dia em que a sua manhã não passa, desde a primeira hora até a última.



A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....