segunda-feira, 16 de março de 2015

A Filosofia em "Para Sempre Amigos" (ii).

Voltando ao Filme.


Esse capítulo é em homenagem ao meu filho.



...Noutro dia, quando Kevin tinha sido deixado pela mãe na escola, vira movimentações na rua de Nova Iorque, e sabia que nada daquilo tinha um sentido normal ao ver dele. E quando olhara pelo retrovisor da van, do banco do passageiro, percebera – assim como todo grande cavalheiro o faz ante um inimigo – correrias em direção a um tampão de esgoto, que serviria de depósito de roubo para marginais.

E naquele instante, como de câmara lenta, seus sentidos o direcionarma a um grupo conhecido dele, o mesmo que o queria morto no parque, jogando uma bolsa roubada de uma senhora, dentro do esgoto, levantando a tampa pesada...

Para Kevin, Don Quixote, como um herói disfarçado, era melhor esperar a noite cair para ir atrás daquele objeto, o qual seria tão de valor quanto um tesouro perdido.  Para Kevin, era o momento de virar herói, com todas as suas dificuldades, as quais não eram nem de longe percebidas, em razão de sua natureza determinada, mas antes de tudo acordar seu grande (literalmente) amigo Maxx.

“Um cavalheiro não tema a morte”

Ao bater nas janelas de seu vizinho Max, Kevin já estava com seu manto de cavalheiro, a procurar o tesouro de “rainha da Patagônia”, como ele mesmo inventou – ou não! – mas antes tinha que fazer com que seu Sancho tivesse o mesmo ânimo, a mesma determinação. E depois de palavras raivosas vindas do grandão, Kevin, o falador, com sua cabeça dentro do quarto e seu corpo, fora, olhou nos olhos de Max e disse... “Um cavalheiro não teme a morte”.

E se rendendo ao fator ideal, os dois, fantasiados de qualquer coisa que não pudessem ser identificados na noite, foram ao local onde jogaram a bolsa. Com táticas físicas (matematicamente, falando), Kevin levantou a tampa, a fazer com que seu amigo, mais uma vez, reclamando, descesse e fizesse as honras de encontrar a bolsa da “rainha”.

No entanto, naquela mesma noite, a gangue iria buscar o que lhe era de “direito”, e com mais ou mesmo dez meninos, maiores e saudáveis que os dois heróis, apareceram e já queriam saber o que os dois estavam fazendo justamente no lugar em que tinham jogado o tesouro.

“Um Cavalheiro faz o que é correto e justo”

E como sempre, a gangue, liderada por um falador de inteligência média, foi alvo de desdém do nosso querido Kevin, que, mais uma vez, apesar de seu aspecto físico que não lhe dava vantagem em nada, e era o que contava naquele instante, provou, em nome não apenas da coragem a que devemos lidar diariamente em nossos percalços, mas igualou-se aos grandes cavalheiros arturianos, os quais não fugiam de ninguém, muito mesmo de suas responsabilidades.

Maxx, com pavor, implorava a seu amigo falador que devolvesse a bolsa, senão teriam que sofrer consequências greves de marginais frios, que estavam ali com apenas um compromisso, o de recuperar o objeto de roubo, e, se reagissem, algo de ruim poderia acontecer.

Contudo... Kevin, encarnado cavalheiro inveterado, não tinha papas na língua, nem mesmo em seus atos. Com o pouco que tinha, em cima dos ombros de seu amigo – que o havia colocado quando os marginais chegaram – puxou umas das escadas de acesso a um condomínio, dessas que ficam do lado de fora, subiu nela, ficou em cima de uma grade e fez até mesmo seu amigo se impressionar, dizendo... “Não posso devolver o tesouro da rainha da Patagônia! Um cavalheiro sempre faz o que é correto e justo!”... E subia mais...

Porém, o líder da gangue, cansado de ouvir o corcunda, como ele o chamou, retirou de seu bolso uma corrente imensa, começou a rodá-la frente ao grandão, que ficara pasmo com o instrumento. Naquela situação, todavia, como num passado longínquo, em que sempre nascem os medrosos, ou os maiores guerreiros da história, Max se viu preso entre dois mundos... O real, em que poderiam se machucar e perder uma luta desigual, e o imaginário, no qual poderia reagir e dar dúvidas ao destino.

Aqui nascera mais um escudeiro de valor... Marx, que possesso, ou mesmo louco pela circunstância, pegou o tampão do esgoto, rodou ferozmente em direção aos marginais, a gritar temerosamente como um lobo furioso, de cara, acertou a corrente do líder, e para terminar quebrou um taco de beisebol, que, naquele instante, já se ia em direção à sua cabeça!

Ainda gritando, jogou a tampa no meio da horda, dos homens maus, dos Kurus*!, que, amedrontados, saiam como hienas loucas com o rabo entre as pernas. Para Kevin, que tinha observado a cena, seu amigo Maxx tinha encarnado um outro cavalheiro, levantando seu escudo, quebrando espadas inimigas, e eternizando, mais uma vez, um momento entre os dois – amigos e seguidores do cavalheirismo épico.





Eles, agora, tinham que devolver o tesouro à rainha da Patagônia...





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*Kurus, parte inferior com a qual Arjuna, no Bagavag Gita, luta.

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