quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Relâmpago





Não fomos feitos ao acaso, como brincam os físicos. Não. Nascemos para observar as estrelas e nos tornarmos gêmeos dessa grandeza a que não alcançaremos jamais. Nascemos, crescemos e desenvolvemos modos, atos, fatos, e somos aventureiros vitais, ainda que nos pareça, mas nunca será ao acaso. Tudo será em nome das descobertas, das aberturas naturais que nos são dadas pelos deuses, e por uma natureza que nos favorece armadilhas com intenções de nos desafiar.

Por quê? Por que somos filhos dos deuses! Podemos tudo, até o que não foi escrito ainda, pois escreveremos, realizaremos, e tornaremos histórico, transcendente e elevado, claro, para uma minoria, mas tal jamais nos deixará, pois saberemos que um dia, ainda que ignóbeis passageiros, seremos conhecedores dos mistérios universais que nos resguardam dessa grande Inteligência que suporta nossa maravilhosa arrogância.

Dela, não tiramos nada; mas somos o que somos: filhos de criaturas que se escondem por detrás dessa matéria violável e que são a prova de que nunca estamos sozinhos, nunca, jamais seremos criaturas “por acaso”. E a prova maior disso é a grande Filosofia Divina que nos resguarda como filhos e nos encaminha em direção ao amor maior, ao real, que mora tão distante de nós quanto dez luas possam alcançar.

Ele – o grande mestre --  estava correto. Temos que olhar através das coisas para obter a sua essência, e quem sabe a nossa, se pudemos observar a nós também. A questão é que a nossa bela arrogância, não menos humana, não nos deixa observar outras coisas além de nós mesmos nesse grande espelho do mundo...

Isso, no entanto, não nos desvia em demasia do nosso simples caminho, mesmo porque a dor existe, o terror, o horror, a perda, a morte, todos eles com fim de nos fazer simplesmente ver através de espelhos a nossa face perdida em meio ao nosso interesse débil. Não importa. Tal interesse, esse vil ser que se espalha entre porcos, faz parte de nossas vidas, de nossa morte prematura, e que distorce nossos ideais, nos tornando mais pobres a cada dia...

Não tem importância, temos a divindade! Temos a Deus. A potencialidade das potencialidades burlando em nossas almas a cada minuto em que pairamos em prol de um voo só nosso. O voo maior a que temos direito. E aqui nos cabem as metáforas, os simbolismos, a fé, o eu real, disfarçado de palavras como num joguete seleto somente com o fim de tornar a coisa mais difícil, mas bela.

...E quando olhamos o pássaro nas nuvens, tão metido e inalcançável, choramos em nome da inveja e criamos mitos somente com intuito de nos transformar naquele belo ser que voa, porém, com uma semântica eterna e dominadora, idealizando nosso maior objetivo... Ser um pássaro eterno dentro de nós mesmos – coisa que o pássaro não faz.

E voar, voar, tão alto, e alcançar o sol do conhecimento. Não se queimar com ele, não deixando que interesses maiores se revelem por meio de uma consciência adormecida, e ao mesmo tempo fria, e que acordara somente para assistir à beleza do conhecimento e voltar ao sono eterno. Não. A consciência nossa de cada dia deve estar acordada, voltada aos padrões éticos e morais, a que tanto os deuses nos deixaram, antes mesmo que qualquer homem contasse qualquer história.

Não apenas a consciência, não apenas a alma, não apenas a vontade divina por trás de tudo, mas o desinteresse em alcançar o pássaro, até mesmo de voar, mesmo porque muitos interesses nos levam a rios sujos, a papéis de parede, a portas de ferro, a luas de mentira e a sóis sem espírito. Temos que ter a humildade.

Eu tenho em mim a pedra, que me faz caminhar e encontrar outras pelas ruas; eu tenho o vegetal, que me faz sentir a música relativa do homem, dançar, sentir, e cantar e me levantar em nome de um trabalho que me exige humanidade...; tenho animais em mim. Na maioria das vezes uma besta, que acredita no que estou, sustentado apenas por uma horizontalidade sem fim... Mas também me sinto um desses belos que voam, quando fecham os olhos, choram e clamam por poesias, ou mesmo um pouco de sol na alma... O que sou.

Tenho até um pouco de divindade, quando, com o pouco que tenho, escrevo tais necessidades em nome da paz e da sabedoria.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O Lado de Fora da Baleia (fim)

O Poder do Simbolismo (ix)


Simbolismo nos Contos




Pinóquio


Em outro conto, um dos mais conhecidos – senão o mais conhecido – que nos traz um boneco de madeira que se tornou um ser humano – há também a presença do peixe.
 
Como todos sabem, Pinóquio era um perfeito boneco de madeira feito por um senhor de idade, de nome Gepeto. Depois de fazê-lo, com todo amor, pede aos céus que lhe deem um presente, o qual seria para a vida toda. E tem. Na madrugada, Pinóquio, o boneco, recebe a visita de uma fada. Depois de lhe proporcionar vida, esta lhe dá uma série de cuidados a tomar e para isso também o coloca sob vigilância de um grilo falante, sua consciência.
Mas o boneco de madeira, assim como crianças, mesmo tendo tudo ao seu lado, até mesmo um senhor que o ama, não se satisfaz com o que recebe e, além de não entender a maioria das coisas que lhe são passadas, não obedece às ordens dadas.
 
Mais tarde, graças a essa singularidade, de não saber o que é certo e errado ainda, passa por dificuldades, e acaba caindo, entre outras, na maior das dificuldades, a qual, como nos grandes textos, serve para provar o teor de humanidade que possui.

Em um dos atos mais humanos, o boneco salva seu avô, que caíra dentro de um peixe, e que só saiu a após Pinóquio ter tido uma grande ideia. Assim, após todas as suas provas, observado pela fada, transforma-se em um ser humano. Realmente é belo.

Nesse conto, como deram para ver, há elementos suficientes para compreender como devemos nos portar ante as dificuldades que a vida nos dá. Em todas elas, há sempre um teor de eloquência individual, ou seja, assim como Odisseu, Ulisses, até mesmo o próprio Achilles passaram, mas cada um dentro de suas possibilidades, podemos salientar que Pinóquio – ou mesmo nós – passará por aquilo que lhe é próprio, não mais.
 
Pinóquio foi elaborado no mais sintético, porém, simples modo de entender o que a tradição nos deixou. É provável que poucos contos nos traga tanto. Mas é preciso que saibamos coletar as informações entrelinhas que tal contos semeia, porque o papel de colher é nosso.
 
Tem a questão do peixe.
Aqui, ao contrário das outras, ele se submete a ela – a prova – como se fosse a última, não como mais uma. Prova disso é que se torna humano, após salvar seu avô da barriga do peixe.  E se ele, Pinóquio, se torna humano, há de convir que podemos levar em conta que há atos que, a depender de como são realizados por nós, nos torna melhor; e ao candidato à iniciação, um pouco mais conhecedor dos mistérios ocultos, sagrados.

Tenho a certeza de que em vários outros contos e em outras histórias contadas pelo mundo afora, há muitos peixes que engoliram heróis. E sabemos, com o pouco que temos, que a literalidade dessa questão deve ser colocada de modo a salientar sempre a elevação da alma humana, pois o conto, assim como os mitos, lendas etc, não foram feitos com o sentido de compreensão aleatória ou literal. Não. Há sempre que entender, por intermédio da Tradição e do conhecimento por ela deixado, que devemos respeitar acima de tudo, o que o passado nos deixa.



O Lado de Fora da Baleia (ii)

O Poder do Simbolismo (viii)


O Simbolismo nos Contos




O Soldadinho de Chumbo


Para quem não conhece, vamos lá...


Um menino, em seu aniversário, ganhou uma caixa com 25 soldados feitos de estanho e os alinhou em cima de uma mesa. O último dos soldados tinha apenas uma perna. Perto, havia uma bailarina de papel usando uma faixa onde havia uma lantejoula, e ela se equilibrava somente em uma perna, com os braços levantados. O soldado, de uma perna só, acredita que a bailarina também tinha somente uma perna, e iniciou um amor platônico. Naquela noite, um palhaço entre os outros brinquedos adverteu o soldado para que ele pare de olhar para a bailarina, mas o soldado o ignoro. No dia seguinte, o soldado cai do parapeito da janela [presumivelmente um trabalho do palhaço] e ficou na calçada. Dois meninos encontraram o soldado, e o colocaram num barquinho de papel e o lançam pela sarjeta. O barquinho cai no esgoto, onde um rato obrigou o soldado a pagar um pedágio, mas o soldado continuou a navegar até cair num canal, onde foi engolido por um peixe. Quando este peixe foi pescado e cortado, o soldado estava na mesma casa de antes, e colocado de volta próximo à bailarina. Inexplicavelmente, o menino joga o soldado no fogo. Um vento sopro e derruba a bailarina também no fogo; ela é consumida instantaneamente, somente restando a lantejoula. O soldado derrete numa poça em forma de coração.


Mais uma vez, temos aí a alegoria “engolido por um peixe”, sendo peça de um simbolismo constante em contos e mitos, nos quais o herói ou candidato à iniciação perpassa em função de sua iniciação ou para a resolução de seus problemas um tanto quanto, a princípio, irresolúveis, mas, no conto, como a de se esperar, há uma desfecho simbólico.


Nada é por acaso...


Entre alguns soldados de chumbo, havia um com apenas um perna – em muitas culturas, podemos dizer que, quando o personagem principal termina com uma perna, é porque se iniciou, tornou-se um, mas aqui o nosso soldado inicia com uma perna. Ao lado dele, uma bailarina de papel, que também se equilibrava com uma perna (não porque lhe faltava), porque era a pose de uma dança...


Como em muitos mitos passados, a alma, psique, sempre vem ao lado do herói, simbolizando sua intenção. Ou seja, a bailarina – em outros, a princesa – é o ideal do herói de elevar-se, transformar-se internamente. Ao ver a boneca, o herói, de uma perna, pôde ver o amor, mas não tocá-lo ou mesmo senti-lo, pois deveria passar por algumas fases antes de obter o amor real.
 


Temos o palhaço mal, que, como em outros contos, faz o papel da bruxa, e faz com que o nosso amigo de uma perna passe pelas intempéries necessárias da vida, assim como um ser humano comum, que encontra adversidades, chora, clama a Deus, sente-se derrotado, e é engolido (ôpaa!) pelos tubarões do mundo! O papel desse palhaço, talvez, seja tão importante quanto o do soldado, simplesmente porque graças à inveja dele, do palhaço, o conto anda.

Para o soldado, a parte que lhe cabe nada mais é que passar pelas provas, tão semelhantes a outras de iniciados em escolas egípcias o passaram, nas quais há um peixe – mais uma vez --  que o engole, porém o deixa após ser pescado e aberto por um pescador.

A semelhança do peixe, do ato, da maneira como ocorreu, não é uma coincidência. O próprio conto se arrasta a provas pelas quais um grande herói ou mesmo um candidato deve passar. Em escolas iniciáticas, sabemos, há tal prova, pois a singularidade dos elementos elencados está dentro de vários outros contos, nos quais sempre irão citá-los de uma forma ou de outra.


Por fim, o grande candidato passa pela iniciação, consegue elevar-se, e compreender o amor.

(segue o último capítulo)

O Lado de Fora da Baleia

O Poder do Simbolismo (vii)




Simbolismo nos contos


Opinião
Vocês acreditam em coincidências? Pois é, eu também não. Acredito que há sempre um mistério rondando entre nós, e que nos faz perceber as coincidências em razão de algo que estamos deixando passar. Mas o que seriam coincidências...? A meu ver, são fatos, imagens, ou mesmo histórias as quais nos soam familiar em relação a outros fatos, histórias...


Foi o caso dos contos de fadas. Percebi que, mais uma vez, além das bruxas e princesas, que simbolizam a parte psíquica do homem, que há alguns fatos que ocorrem (nos contos) que deixamos passar, mas que são tão importantes quanto aqueles personagens.
 
O simbolismo, no entanto, não termina com os personagens, como percebemos em textos nos quais expliquei há tempos. O simbolismo é total, mas, em determinadas partes, podemos tentar entender o porquê dele. São as engrenagens do conto.


Jonas e a Baleia

Na engrenagem “O peixe que devora o personagem”, podemos perceber que tal circunstância só ocorre com os heróis que pretendem ascender, buscar e realizar-se, depois de várias tentativas vãs, porém, ainda que com esse tom, conseguem. Na Bíblia cristã, a exemplo, temos Jonas, um devoto de Deus, que passa por situações fantásticas, e acaba por cair na boca de uma baleia... (ou Grande Peixe, como mostra o Testamento).

Depois de fugir dos assírios, assassinos de povos, e temendo a destruição de sua cidade, Nineve, foge pelo mar e não escapa da boca de uma baleia. Como diria um grande professor meu, “perdemos a chave das interpretações”. Mas aqui, nesse episódio, podemos entender, à luz da Filosofia, que o personagem passou por uma prova natural dos iniciados, não dentro da boca de uma baleia – ou de qualquer peixe, mas uma prova de significado sagrado, do qual seu aprendizado serviu para fomentar mais suas raízes em sua crença.

Como discípulo do ocultismo, Jonas reconheceu os símbolos da baleia (qualquer peixe), da horizontalidade da água, da força desses elementos para entender um pouco do universo que o ronda. No Antigo Egito, por exemplo, havia provas idênticas nas quais o candidato à iniciação teria que escolher entre voltar a uma vida mundana ou atravessar o grande rio.

O caso de Jonas, como puderam ver, tem um sabor maior que o dos contos. Ou melhor, não tem nada a ver com eles, mesmo porque estamos a falar de uma quinta parte de um texto que nos remete a um mito, ou seja, que possuem significado universal do que um conto. Neste, podemos ter menos formas, com significado mais direto. No mito, há vários elementos a esconder uma realidade mais profunda, antes demonstrando outras a priori.


Já nos contos...

Há uma história na qual instigamos a imaginação infantil, com de intuito de fazê-la compreender um teor moral. Como no caso dos Três Porquinhos, João e o Pé de Feijão, etc, os quais sintetizam um aspecto genérico da vida humana e ao mesmo tempo universal, ou seja, quando lemos, não somente rimos com o famigerado lobo mal se dando mal, mas o que representam todos os meandros do conto.

E, voltando, quando tocamos em contos, fazendo alusões a peixes e bocas, e a heróis, podemos falar do Soldadinho de Chumbo, do Pinóquio.  Histórias, a principio, tristes, mas que, com o tempo, vão culminando para um desfecho interessante, pois revela algo que um herói, em busca de seu ideal, passou para conseguir o amor da bailarina, no caso do menino de madeira, ser humano. Em algumas histórias, o soldado  sobrevive, mas na original morre.
(segue)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sintonia







Ainda em sua pequena casca, a sair de seu ovo, o pequeno falcão não sabe o que é. Suas forças, recuadas, e ao mesmo tempo canalizadas para o bem de sua espécie, são provas de que um dia se tornará o que quiser, até mesmo um dos maiores seres observadores e predadores da terra -- o falcão real.
E nós, dentro do útero materno, seremos frutos daquilo que querem que sejamos, no inicio; após, tempos depois de reflexões a fio, iniciaremos um processo de voo interno – o voo que precisamos para acordar uma humanidade inteira.

O falcão, uma ave bela por natureza, claudica em sua maneira de voar; precisa de alimento, de forças físicas para manter seu instinto em dia, voltado ao que as aves são – criaturas em busca de alimento, de preservação da espécie, de organização e harmonia ante a sua natureza e a outras, que negamos ser essenciais ao todo.

E vêm o afago, o leite, os carinhos, o adormecer infantil; deles nos nutrimos, e crescemos como filhos de urso que não sabem outra coisa a não ser... dormir. E quando acordamos para o mundo, assistimos à violência de uma educação humana, que nos faz ouvir o que não podemos, sentimos o que não queremos, e crescemos como girafas, sofrendo com informações como balas numa batalha humana.

A ave prossegue, se livra de seus pequenos espinhos, e observa suas unhas e penas crescerem, e se torna vítima de si mesmo na maior parte do tempo, sem saber lidar com tamanho poder que a natureza lhe dá. Cai, levanta, se ergue, se edifica, mas volta à terra.

Perdemos, ganhamos, caímos, levantamos; nós, humanos, desde que nos conhecemos, como aninais racionais, a principio, nos tornamos tão irracionais quanto qualquer besta que nasce, cresce e morre sem saber, até o dia em que concebemos a reflexão. Dentro desta, nos unimos a nós mesmos, nos revelamos humanos com pompa de idealistas (de ideal), os quais se sintonizam com princípios internos aos quais damos força e nos tornamos homus sagrados.

E ave, em seu pequeno e rasante voo, sente o cheiro da liberdade de usufruir de seu ser, que é de ser ave, com toda a vontade que a faz plena e leve, não apenas por ser um animal com penas, mas por ser guiada pelas dimensões sagradas da vida. E vai... sobe... se torna adulta, ganha responsabilidade natural, torna-se ave, torna-se um falcão real.

O homem, reflexivo, pleno de suas convicções internas, de sua sacralidade, respeita sua natureza, a própria natureza, e voa como um a águia que acabara de entender o sentido de seu instinto; percorre mundos, descobre espaços, entende a dualidade, torna-se parte de Deus; olha as estrelas, sorri para a lua, chora com a paz, clama pela guerra, vive pelas batalhas que jamais deixará de ter, e sabe o quanto deve lutar a partir de agora.

A ave sobe ao sol, torna-se um. Vira espelho do homem, que tem o sol, mas ainda não é um falcão. A ave é símbolo; o homem, um semideus.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Lembranças de Ouro (ii)

Sobre o discurso do mestre.











“Na tradição, quando se viam vários pensadores juntos assim – disse – teríamos que ter cuidado para não levantar uma nuvem de poeira que evidencie o mal, a separatividade. Hoje, vocês, aqui, a comentar assuntos em paralelo, devem tomar cuidado com o que dizem, pois uma fagulha pode se tornar um incêndio, e um incêndio pode queimar qualquer possibilidade de nos reunirmos, seja aqui ou em qualquer lugar; a menos que todos estejam de acordo com o que se levanta, ou seja, se eu conto uma piada de mau gosto, e todos riem, estarei, de certo modo, trazendo à tona um tipo de separatividade, pois é um assunto que, em si, separa o ser humano do seu ideal” – e continuou – “Se eu quero falar de amor, de filosofia, posso uni-los, por meio não somente das palavras, mas dos meus sentimentos, se forem reais. E é por isso que me uno a vocês hoje”.

 Continuando...

Não eram somente flores que saiam de sua voz, mas chicotadas naturais de um faraó que segurava simbolicamente o látego e o gancho. Sabíamos que era assim, e quem quisesse se expressar a favor ou contra teria que esperar o discurso do mestre, o que não aconteceria, pois não tínhamos palavras ou questionamentos, ali, naquele minuto, após aquela suave chicotada em nossas almas. Não éramos escravos, mas crianças ouvindo um pai.

Esse texto, na realidade, vem à tona para sintetizar o que nosso querido mestre disse na reunião anterior, acerca da grande nuvem de separatividade, que nos poderia tomar em qualquer lugar se elevássemos o mal. Ou seja, qualquer assunto que fosse colocado, de qualquer maneira, com vistas a confrontos, e não à união, estaria sendo um estopim ao local em que fora citado, e mais tarde à própria sociedade...

Explico: quando se conta uma piada politicamente incorreta, mais cedo ou mais tarde, esta mesma piada, com seus fins frios e separatistas, vai ganhar adeptos, e será contada com toda sua frialdade com vistas a fazer as pessoas sorrirem ainda que seja errada – piada sobre negros, judeus, deficientes, etc – assim, transmitida de grupo em grupo até ganhar um corpo mais sólido e perigoso, o chamado preconceito à raça ou aos excluídos.

Talvez eu esteja sendo exagerado, mas, se observarmos um pingo dágua a colidir com um grande oceano, não o veremos, mas, de perto, veremos que ele vai fazer sentido, pois tem o seu dia de oceano, com sua pequena participação, a fazer margens, por mais irrisória que seja... Assim com um copo, com uma vasilha, e mais tarde com um corpo inteiro... Até que possamos ver o quando fazemos onda no oceano da vida... Assim é para o Bem, assim é para o Mal.

Portanto, se quisermos ser corretos, iniciamos um processo de reflexão acerca do que falamos, seja em grupo, ou com nossos entes nos momentos de lazer. O falar, o expressar, o transmitir ideias, hoje, e sempre, é muito importante a qualquer geração, mesmo porque o mundo é feito de grandes ideias que nasceram de pequenas, quase ocultas, as quais, um dia, foram reverberadas sem sentido, mas que, em sua essência, foram copiadas, transformadas, elevadas ao máximo... Assim é para o Bem, quanto para o Mal.
O mestre, ao falar sobre a nuvem, sabia que ali se encontravam apenas pessoas de bem, com intuitos idealistas, a saborear não somente a comida, mas as palavras dele que vinham do coração. Sabia que poderia contar uma piada e todos rirem, e esta piada – por ser dele – seria levada aos sete níveis da vida, mas preferiu usar de bom senso, ou mais, de amor ao ser humano – não apenas a nós, mas à humanidade. Porque, a partir dali, podem vir outros que se engajem na filosofia como alunos, professores, mestres, talvez, mas que jamais pudesse sair dali com qualquer reflexão que pudesse matar uma geração...










quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Lembranças de Ouro


Um dia, fui a um “Encontro de Cavalheiros” que se deu em uma grande escola de Filosofia na qual estudei durante um bom tempo – por quase quinze anos. Minhas lembranças são muitas, até demais, mas esta em especial eu gostaria de compartilhar com vocês.
A escola, para a integração do corpo masculino, sempre realizava, anualmente, o chamado Encontro de Cavalheiros, no qual sempre os homens, claro, faziam suas honras à moda clássica. Um reverenciando o outro, com apertos de mãos fortes, até mesmo grandes abraços, daqueles que se conheciam, além dos sorrisos férteis de gentileza – eram a tônica do inicio...
Mas o que me fazia realmente gostar do Encontro não eram as honrarias, mas a presença do mestre. Quando ele chegava, me parecia que o mundo cessava suas obrigações. Todos, literalmente, observavam seus passos, seus atos, suas falas, até seu jeito de vestir-se. Era, na realidade, como diria Christiam Jaq, “nosso espelho” de um futuro não muito distante: todos queriam ser semelhantes a ele.
O evento era na parte inferior da escola, que possuía três andares apertados, e que sempre remetia as reuniões para o subsolo. Mas todos estavam acostumados a isso. Pelo contrário. Por ser uma escola de Filosofia, e por ser, de alguma forma, impressora de questionamentos, o que nos dias atuais significa rebelião e não revolução, tínhamos até mesmo o prazer em descer aqueles degraus curtos, porém certos de uma boa aula.
Com seus passos lentos, corretos e ao mesmo tempo clássicos, o mestre possuía a forma de um espartano moderno – nada de um ser passivo, humilde, no sentido cristão, ou seja, cheio das falsas honrarias somente para ver os sorrisos amarelos –, muito pelo contrário, um espartano de voz meio áspera, e ao passo forte, sintética, a qual levantava o mais frágil do ser que se encontrava cochichando sentado, sem percepção da realidade. Mestre Luiz Carlos, esse era o nome dele. Um nome simples a uma pessoa que carrega em si uma das maiores responsabilidades da história do homem. A grande pedra da humanidade em reconhecer a si mesma na busca por ideais grandiosos, elevados, e de forma voluntária – sem as elucubrações xiitas religiosa.
O mestre, ao ver seus discípulos, deu um grande sorriso, dentro do qual se via a sinceridade reluzir tanto quanto o do meu filho hoje. Nós o amávamos. Mesmo àqueles que não entendiam muito o porquê daquele Encontro, tudo ficava super-explicado quando da presença dele. E a principio essa era a tônica.
Todos, mais cem pessoas, em apertados lugares, em uma sala mais ou menos com cinquenta metros quadrados, se alinhavam para o mestre se infiltrar em seu lugar: o fim da sala. Seu tamanho, um pouco mais de um metro e sessenta, não era páreo para o tamanho de sua grandeza, seu objetivo.
Depois de horas, se “enturmando”, viu que era necessário iniciar os trabalhos. E vendo o que fizemos – pratos regados com a melhor comida, salgados feitos manualmente (sem compras de terceiros, enfim), tudo por nós, cavalheiros, para o melhor da reunião, o mestre pediu a palavra. E foi por uma simples frase, que faço este texto, espero que esteja à altura daquele ser tão especial.
Com um simples olhar, fez com que todos cessassem os diálogos paralelos. Então, voltando ao todo, viu que era hora de falar.
“Na tradição, quando se viam vários pensadores juntos assim – disse – teríamos que ter cuidado para não levantar uma nuvem de poeira que evidencie o mal, a separatividade. Hoje, vocês, aqui, a comentar assuntos em paralelo, devem tomar cuidado com o que dizem, pois uma fagulha pode se tornar um incêndio, e um incêndio pode queimar qualquer possibilidade de nos reunirmos, seja aqui ou em qualquer lugar; a menos que todos estejam de acordo com o que se levanta, ou seja, se eu conto uma piada de mau gosto, e todos riem, estarei, de certo modo, trazendo à tona um tipo de separatividade, pois é um assunto que, em si, separa o ser humano do seu ideal” – e continuou – “Se eu quero falar de amor, de filosofia, posso uni-los, por meio não somente das palavras, mas dos meus sentimentos, se forem reais. E é por isso que me uno a vocês hoje”.
Nunca, em minha vida, ouvi uma pessoa que falasse aos corações tão bem quanto ao mestre, que ali estava. Eu já fui de igrejas batistas, congregações, nas quais pastores e anciãos se debruçavam em vozes aos fieis, e por eles nunca pude perceber a reação de minha alma quando exposta a uma realidade tão simples e ao mesmo tempo tão complexa, pois estava ali, ao nosso lado, e não perceberíamos nunca...
Era o mestre, que, em suas palavras, avivou, mais ainda, meu interesse, quase hipnótico, em suas palavras, que se perdiam entre alguns, mas coletadas como algodão por outros,  e faziam a alegria de todos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Divagações sobre a Lua

O Poder do Simbolismo VII


A lua, um dos astros mais presentes na vida humana, tem uma história bela e, ao mesmo tempo, tão simbólica e significativa quanto outro. Significativa por que sempre que a olhamos parece que estamos a observar a nós mesmos, seres iluminados por um astro diferente, além do sol – o nosso mestre interior. Simbólica por que, em civilizações clássicas, ela serviu de medição dos nossos dias; por isso, mês, que vem de moon (inglês), que a, cada trinta dias, volta a sua origem em forma.

E quando falamos na lua, não podemos deixar de citar o seu lado amoroso, do qual retiram os amantes os mais belos versos, cantatas, ritmos, etc... O que, para o humano, é mais que essencial, pois, na realidade, estamos desvendando um universo místico com nossas parcas ferramentas.

Como assim? A semântica da lua é uma necessidade não só dos tempos atuais, como plasmar com sua linda visão o romantismo, que atrai o lado mais humano, mais profundo e puro, mas principalmente dos Antigos, que a viam como uma deusa que recebia os raios de outro deus, o Sol.

Por isso, que há muito, ela foi também parte simbólica da tríade de muitas culturas que singularizam nela, com as características que são próprias, o lado feminino.  Na tríade Inca, o deus supremo era o Sol, que exercia influência soberana sobre todos os outros, seu nome Inti. Tinha Viracocha, representado pelas águas, e que criou o Céu e a Terra. Porém, sua esposa Quilla era mãe de todos, semelhante à deusa egípcia Isis, e era representada pela Lua.

A intuição, a Beleza, a Ordem, o Equilíbrio da lua, advindos da ordem universal, plasmados por esse astro, refletem tais singularidades no ser humano, mais precisamente na mulher, que, maravilhosamente, carrega tais adjetivos e nos proporciona mais beleza ao convívio social e humano. Todavia, há algumas mulheres que preferem a competição, o embate, a batalha – nada contra – ao ser, segundo elas, arcaico e fora de moda, em paralelo à vida do homem, o qual por sua vez plasma o sol e seus atributos masculinos, advindo do logus.

Mais além, encontramos não somente tais atributos, mas semelhanças com seres conhecidos e ditos como sagrados pela tradição, como o lobo, o leão, o tigre, os quais podem ser vistos pelo olhar aberto da lua, em uma noite de lua cheia; outros, um jaguar a espera de sua presa – assim viam os incas, os quais percebiam na lua minguante os cornos de um touro, tão sagrado em determinadas culturas.

Particularmente

Particularmente, vejo a lua como um dos astros mais simbólicos e sagrados do sistema. Ao vê-la, sustento a opinião de que temos uma grande mãe (mother, moon, woman...) a espreita dos grandes movimentos não somente humanos, mas da natureza física. Ou seja, o que seria das ondas dos mares, que geram metáforas tão perfeitas quanto à própria existência de uma pedra, sem a luz; e mais, o que seria da lua, sem a nossa existência para engrandecê-la, ainda mais; o que faríamos sem esse grande ser no qual nos referenciamos nas plantações, nas festas lunares criadas em seu nome; o que seriam dos poetas...?

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Homens e Dragões

O Poder do Simbolismo VI
















Em muitos épicos de Hollywood, vocês já assistiram a figuras míticas que sobrevoam os céus com toda voracidade, como se fossem deuses. Se não fosse sua grande calda, suas escamas, seus olhos penetrantes, sempre em busca de vítimas, além das garras e presas, o dragão seria literalmente o animal mais fantástico do imaginário humano...!

E é.

Não há outro animal no universo – que conheçamos – que possua tais elementos em seu físico, o que nos remete à sensação de que faz parte do imaginário coletivo, e faz, só que não de agora, dos tempos atuais. Esse animal, com certeza, em algum ponto da História, foi inventado, ou plasmado, por seres especializados em mitos (sacerdotes, mestres, escola iniciática, enfim..), de modo a segredar algo do universo!

Assim como os deuses egípcios, alguns animais que foram se formando a partir do processo cultural daquele país, além de outros, como a Grécia e Roma, até mesmo dos nossos ameríndios, podemos dizer que o dragão realmente simboliza algo. Mas o quê?

Como na Terra Vermelha, na qual Hórus, filho de Isis e Osíris, era um falcão, na maioria das vezes, representado por diversas aves, até mesmo a cegonha, ou uma coruja, mas sua essência maior se guardaria no falcão, por isso, em diversas câmaras, a presença de homens com a cabeça de Ibis, representando o filho mítico. Além deste, Bastet, a gata, deusa da fertilidade e do sexo, filha de Rá, um dos principais deuses, sempre trazia boa sorte ao povo; Sekemeth, a deusa leoa, e Anúbis, o deus chacal, enfim, todos eles imprimiam um significado complexo, mas não ao Egito. A eles, tais deuses faziam parte de um Todo, a representar a unicidade sagrada que pairava sobre os homens e ao mesmo tempo estariam dentro de contextos caseiros. Simples assim.

O dragão, este fantástico animal, cuja existência veio muito mais na necessidade de aperfeiçoar o homem – isso em determinadas culturas, -- em outras, simbolizando o mundo material, com suas vicissitudes, temporalidades, conturbações, e ainda o assombro existencialista pós-nascimento, nos fascina e ao mesmo tempo nos dá medo.

Muitas vezes, esse animal incrível, além de seu vasto significado, assemelha-se ao grande deus Pã, grego, de onde retiraram a palavra panteísmo, e pagão. Pã, de vez em quando, segundo a mitologia grega, enraivecido, aparecia de supetão aos moradores, os quais morriam de medo – pânico (que vem de Pã, tb), fazendo devastações a qualquer minuto... Assim o era o dragão, um personagem muitas vezes assombroso, que invadia cidades, arrebatava vidas com suas chamas eloquentes, levando a todos o medo.

Assim, graças a histórias de cavalheiros que salvavam princesas de dragões, ou de dragões que representam o grande medo da humanidade, muitos dos diretores americanos iniciaram um processo de desmistificação do animal, que, com o tempo, foi se adaptando à cultura ocidental como um animal do mal, outras vezes do bem, e mais lá na frente até infantil...

As desmistificações, no entanto, a meu ver, devem ser feitas baseadas em conhecimentos a priori, ou seja, de conhecimentos que respeitam uma história, um legado; ou seja, não se pode inventar, ou esticar, simplesmente porque o tempo o pede. Não. Estamos em uma época em que os contos estão sendo desrespeitados, levados ao extremo do racionalismo fértil de sexo e violência gratuita, e isso não se pode aturar.

 Contos / HPB/ Escolas

E quando lemos os contos, não há outro modo de visualizá-lo sem que seja aquele que sequestra bens do povo, ou aquele a quem é entregue a princesa, para o príncipe obrigatoriamente salvá-la, enfim, esse caráter de “mau” vem a ser mais simbólico do que de outros animais, pois nos faz repensar o papel do ser humano frente às diversidades, sejam elas voadoras, ou não!

Desse animal, a Ocultista H.P. Blavatisky fala como se fosse de um animal já preexistente nos anais de um período clássico, no qual, não diz, já existira. Não é por acaso que ele venha com essas características, pois, em algum tempo, pode ter existido, mas não da maneira tão perfeita e simbólica como se revela hoje, ou seja, alguns atributos podem ter existido nele, outros inventados para um determinado fim.

Fim este que já nos precipitamos a entender. Isto é, pode ter havido dragões em uma determinada época, mas o fogo de sua boca, às vezes, das narinas, símbolo de elevação, a calda, a representar o ar, as escamas de seu corpo, a representar a água, e seu físico a terra, podem ter sido incrementados com o tempo, em escolas de ocultismo, com fins de demonstrar elementos sagrados do universo.

E como já estudamos, podemos nos remeter, agora, ao conto, que nos traz a princesa, o príncipe e o dragão. “A tríplice coroa” de todas as escrituras. Aqui o príncipe é aquele ser reto, interno, que se sobressai sempre na busca de salvar a alma (a princesa) do grande mal da personalidade humana, o dragão. Ele, o príncipe, vence, claro. Mata o dragão.

Porém, em algumas culturas mais avançadas, não necessitamos matar dragão algum, mesmo porque é um animal de forte simbolismo, como poucos, então é mais provável que fará parte do universo sempre que for chamado. Por ter a parte terra, ar, água e fogo, o dragão, segundo as escolas mais tradicionais, será confrontado, e se vencido, não morto, será objeto de transformação do indivíduo.

É uma transformação, segundo, necessária pela qual deve passar. Mas, nos aprofundando agora, percebemos em nossos estudos que não só a cultura ameríndia, grega ou romana, muito menos a egípcia, mas também a cristã teria sido voltada às lendas no sentido de mostrar o simbolismo dos animais. Quem lê a Bíblia sabe que há elementos fortes no burro, na cobra, nos leões, e também nos dragões!



Apócrifo

Dizem que, em um desses papiros encontrados no deserto, os chamados apócrifos, uma parte da Bíblia, em que Cristo teria, quando criança, estado com seus pais no deserto. Ainda de colo, Cristo teria ficado com sua mãe; e ao lado dela, seu pai e irmãos estavam sujeitos ao perigo.

Assim, em uma tempestade de areia, entraram numa caverna, e quando saíram dela avistaram vários dragões, os quais teriam ameaçado aquela família; mas não fizeram nada, pois, segundo consta no papiro, Cristo foi visto e reverenciado pelas criaturas, as quais saíram em revoada, como se temessem ao menino Jesus.

Assim, detalhando o ocorrido, muitas culturas, na iniciação, usavam tal legado como um processo de elevação humana, mesmo porque há indícios de uma estrutura simbólica, na qual o próprio homem deveria se tornar um ser consciente de sua busca pela pureza, pela paz e verdade.

Cristo representava a natureza intuitiva do homem. O Nows platônico, o Krishina dos hindus, o ser de todos. Assim, em sua pureza, o menino-deus possuía, em si, a harmonia de uma natureza contemplativa, ainda que na matéria, pois já viera como um sol, assim como um Sócrates, Zoroastro, um Buda, com intenção de reavivar a luz dos homens.

O dragão, como ser que representava os quatro elementos, pelos quais o homem deve passar para alcançar a iniciação, nada mais era do que a própria natureza reconhecendo um dos seus filhos, reverenciando-o, assim como devemos fazê-lo sempre em relação a ela.

O dragão, por ser um personagem grandemente simbólico, precisaríamos de mais elementos internos para lidar com ele, falar sobre ele. Vamos atrás disso. Vamos buscar!


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Semântica do Simbolismo (iv)


Somos a única espécie a respirar poesia. Um instrumento literário em que nos dispusemos, sem obrigações humana, mas quem sabe divinas, formas metafóricas, simbólicas para retratar o que passamos, sem a intervenção de qualquer outro animal, planta, pedra. Muito pelo contrário. Com a ajuda de uma imaginação que atravessa mundos nos quais jamais nenhum homem um dia pisará, temos um instrumento de comunicação entre dois amores, ou mais, entre os homens e os deuses, como meras crianças na tentativa de pedir algo que não sabe pronunciar.
Aqui, nesse texto, o Amor é a peça de fundo entre duas pessoas que se amam, e na frente das cortinas, um homem tenta demonstrar seu amor, ainda que se fora sua amada, com palavras simbólicas, tão profundas quanto misteriosas.

Tenham uma grande e misteriosa leitura.

SOMBRAS NA JANELA

Vidros, sol, árvore. O reflexo emanava uma sombra gigantesca, da qual eu tirava imagens dantescas. O céu e o inferno, demônios, deuses, pessoas, criaturas se moldando, dançando, semelhantes a deusas no Olimpo. Era o reflexo de uma consciência voltada a nós dois – esses dois seres que se emanaram em janelas, refletindo em nossos seres imagens, nada mais.

A nós, não eram apenas reflexos. Eram traços naturais de um mistério forjado e elaborado para ficarmos presos um ao outro... E ficamos. Tão presos, tão eloquentes, ridicularmente presos, que fomos obrigados a reconhecer que éramos felizes com tais imaginações, estas tão concretas, fortes, físicas, que precisávamos ser cientistas para entender o que éramos...

E descobrimos. Éramos dois apaixonados. Fincamos o desejo como ponte entre o bem e mal, atravessamos, e lutamos contra dragões, tigres imensos, seres rastejantes, voadores, e percebemos que nos transformávamos nestes à medida que os matávamos. Por quê?

Não sei. Talvez porque somos filhos de nossos desejos maiores, e fomos, ou pelo menos eu, filho desse desejo ante ao que me acontecia, junto de ti. Via teu corpo, tuas vestes, teus olhos, seus perfume, e me embriagava deles como criança no parque, do qual jamais quereria sair. Mas, como diria o pequeno sábio, temos que sair dele, pois crescemos, desenvolvemos nossos ideais, depois de saborear cada parte desse parque, que, com certeza, fez parte de mim.

Eu queria ter nascido ao teu lado. Visto a ciência de teus olhos nascerem, desse corpo do qual me embebedei e morri quando dele sentia saudade. Ver a ciência dos teus lábios, que nasceram de um riacho limpo, esbranquiçado, como principio da vida de uma selva; assim, fazer por eles orações em forma de reverência, como um apetrecho divino, que surgiu somente para confundir maravilhosamente minha vida.

Eu queria ter entendido tudo, desde o inicio: aquele abraço, aquele sofá, aquele desespero, aquele surgimento vaidoso, os ciúmes, nosso primeiro momento juntos, nossa primeira paz, entre muitas guerras, a qual gerou nossos filhos que não vieram. Como queria ter tido tudo – até o que não estava escrito nas estrelas ou no meu livro oculto.

Sei de uma coisa, não fomos sombras na janela. Fomos reais!

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Semântica do Simbolismo (iii)


Como símbolos, somos tais qual o verme que se arrasta pelo chão mais pobre, ou semelhantes ao sol que dedica ao céu, como a mais rica das estrelas. Nos igualamos ao leão que dorme e caça pela manhã para sustentar seus filhotes, ou à hiena que não para de sorrir ante as diversidades, outras vezes como chorões como a cigarra que não economizou no verão.
O homem é o maior símbolo, dentre as espécies, de que há meios de se alcançar a Deus quando ele próprio se mistifica junto à natureza, com ideais de realização interna. Somos, assim, em meio a tudo, um ponto de interrogação, que se embrenha nas matas físicas e metafóricas com fins de realizar buscas sejam elas quais forem.
Tais buscas, com o prisma da tradição, já se iniciam desde o minuto em que se nasce e não morre com o físico, encoberto pela terra; as buscas são eternas. Tão eternas que, se fossem limitadas, não haveria indignações por parte dos mais idealistas quanto ao seu governo, partidos e religiões. E quando tais buscas são voltadas a origem do homem – a questionar sua natureza e o porquê dela – os deuses despertam no mais puro e íntimo do homem...
E caminhando como um sol à parte, o homem compreende o inicio e o fim de tudo, sendo conhecedor dos reflexos da Vida, tornando-se parte dela, iluminando a mais escura das cavernas.
Ainda mais aprofundadamente, temos sua personalidade, cantada em verso e prosa, revelada como o fantasma mais visível dos séculos, levada ao extremo nos mitos, nas lendas, em romances, nos quais, por mais inclinados que sejam para desmistificá-la, deixam margem de mistérios a desvendar em gerações póstumas.
E dessa persona podemos nos inclinar à parte “étérica”, a qual simboliza a mineral, como a própria pedra, até mesmo as formas diversas  em vegetais e animais da natureza; a parte volúvel, ar, simbolizando a insustentabilidade do ser homem, que vaga com sua mente e alma, antes dos grandes ideais. Ela, ainda, em sua finita característica e forma, simboliza tudo que é perecível, como uma micro natureza que se expande e chega ao seu limiar a estacionar, voltando, se enfraquecendo,  até a morte.
Seu astral, tão volúvel quanto o vento, representa este deus em sintonia com a mais densa de sua possibilidade. Como diriam os pré-socráticos, “um pouco do homem iniciou o universo”, ou seja, sua temporalidade esteve fria, sustentando-se até o momento em que a manifestação da matéria se fez – leia-se em matéria tudo que não eterno, se condensou e se condensa nas entrelinhas do universo.
A mais simbólica de suas características, na verdade, simboliza o fogo: a vontade humana; vista como a parte dos desejos, a parte fogo, a parte consciencial, a qual se eleva ou decai aos infernos a depender de seus objetivos, e se eleva quando se entende por ideal. Este último, porém, é incriado do homem, que detém sua busca em caminhos longos, materiais, imperfeitos, o que não deixa de ser também um simbolismo a verdadeira busca, mas nos edifica como super-homens (Nietsche), quando nos detemos à verdade.
 O fogo, eternamente vertical, no homem, quando elevado é puro, e quando não, impuro, graças a portas de papel que se enraízam e nos faz acreditar que na maioria das vezes o caminho mais perto é o mais correto – e não é; se os deuses nos deram um caminho, o fogo e o próprio ideal, falta-nos apenas nos dedicarmos a ele.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A Semântica do Simbolismo (ii)


Tem coisa mais bela do que um homem ajoelhar-se ante uma pedra, vivenciar os mistérios divinos, cuidar de seu rebanho e, depois de tudo, ser consciente de seus atos?” (J.A.L).
...Uma pedra, uma planta, um ornamento... Qualquer figura que se transforme em algo que religue o homem a Deus, de modo a transformá-lo, todos os dias, em um ser humano, em tudo que faz, exercer seu melhor perante os outros seres humanos ao universo, é a tônica do símbolo.
Assim, em nossa mente nos vêm os grandes monumentos com ídolos enfeitando as paredes, os pedestais. Rochas talhadas a se transformar em deuses desconhecidos, em forma de pássaros, cobras, tigres, como por encanto nos transformando em admiradores de sua origem. Eu, em particular, iniciei meus estudos há pouco tempo sobre a nação das nações, da qual sobram conhecimentos clássicos, dos quais todas as outras obtiveram um pouco do manancial que soçobrou ao mundo – falo do Egito.
De seus deuses, em esculturas benditas, as quais, hoje, nada compreendemos, ou pelo menos não compreendíamos, retirei vários ensinamentos, nos quais me deleito, todos os dias, em forma de leitura, na tentativa de compreender como se tornou o maior legado religioso do mundo, além de outros dos quais usufruímos e não sabemos, até hoje.
Pensaram em tudo. Viam Deus de uma maneira diferente. Das mínimas criaturas vivas em torno do homem a mais grotesca; o egípcio, com seu olhar, assistia a todas as manifestações como divinas, sagradas, outras, mais misteriosas, não menos sagradas, mas vistas como a parte do grande segredo, como potencialidades incriadas que nele viviam, mas que nele estiveram adormecidas... (aqui, lembro-me de Sócrates)! Tais naturezas, hoje, vistas como do Mal. No Egito, apenas deuses que se harmonizavam com outros.
De repente, no cair da grande Noite, esculturas ao chão, templos destruídos, sábios mortos, crianças sem futuro. Era a morte sobre as pernas dos homens que possuíam verdades mortais, as quais não admitiam deuses, e sim, um deus. O Dia chegou. Tudo mudou. Hoje, nossas esperanças, nossas vontades, nossa força, todas se modificaram e embarcaram em outro navio, no qual o comandante é apenas um homem sem formação inciática, sem o conhecimento pleno da natureza, principalmente humana, a desdenhar de outras culturas continuando a derrubar templos, agora mais caros, menos significativos, contudo com a mesma violência do passado avassalador.
E com isso, os símbolos se tornaram dependentes de fatores humanos, não sagrados, dos quais aprendemos apenas como respeitar pelo rótulo, não pela origem natural para qual fora criado. Ou seja, nenhum símbolo atual – fora as seitas que tentam imitar o passado clássico – tem a mesma força de religar o homem com a divindade silenciosa, com o Num egípcio, do qual nasceram várias outras, empurradas por uma manifestação natural, não necessariamente humana. Caímos na vala.
 
O símbolo, adotado necessariamente pelo homem, antes colidia com seus interesses mais elevados, hoje, confunde-se com siglas, emblemas...  O que não é tão mal, se fizéssemos bom uso dele, assim como em guerras passadas nas quais o guerreiro, com um grande escudo, trazia elementos claros de seu objetivo reluzindo nas bordas, as quais nada mais eram que o seu próprio país estampado em forma de um dragão, espadas em forma de cruz, flores vermelhas a representar a guerra, enfim, símbolos que davam medo e na maioria das vezes respeito.
O que nos falta, hoje, além desse respeito, nada mais é que a reverência natural do homem ao símbolo. Sem esta forma mítica de lidar com os mistérios divinos, seremos apenas...humanos (ou não), simples seres informados, automatizados, presos a um mundo acreditando que somos o maior de todos os símbolos.

 Temos que ter humildade.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

(Meses depois...) A Semântica do Simbolismo.


Tudo porque passamos tem um significado, nada é em vão; por mais abstrato que seja, sem cores ou com cores a mil; por mais que o concreto e sua matéria estejam maciços em nossos ombros tais quais vermes que nos correm em túmulos, tudo, tudo é significativo...
A vida é em si um significado, ou melhor, um símbolo; todavia, somente o sábio o vê assim, e o que nos fica nada mais é que seus elementos que nos traduzem, entrelinhas, uma realidade que nos custa aprender. Assim viam os grandes do passado...
Quando me refiro à realidade, estou falando daquela que Platão falava há mais de quientos anos antes de Cristo. Daquela que dizia que somos sombras de uma realidade maior que se esconde em um mundo ideal, o mundo das Ideias. Um mundo espiritual talvez. Não sei. Mas que nos detém a importância de nos fazer repensar o que é o que nos apresenta a vida.
Nela, nesse enigma divino, somos obrigados a entrar em vias nas quais jamais nos adentramos, como partículas, elétrons, deuses, mitos, lendas, nos quais o raciocínio é tão limitado quanto uma criança que pega uma tabuada e quer já aprender tudo...
Há no entanto crianças benditas, com as quais aprendemos desde cedo que a tradição é o caminho, que tal conhecimento desse mundo invisível, porém real, é uma grande necessidade à parte em meio a outras necessidades humanas. Tais crianças seriam os sábios. E nós, nem nascemos.
 
Os símbolos há em tudo. Nas rosas, no mato, nos vermes, nos fossos, nas ruas, na chuva, no sol, nos gestos de amor, carinho, paz, guerra, morte, louvor, enfim, o símbolo, em si, retrata uma realidade que, como disse, o racional pede para compreender e não consegue, mas é explicado por uma rosa dada à amante, ou mesmo jogada ao túmulo; pelo lenço de uma dama, dentro da camisa de um guerreiro, quando se vai a uma batalha... E muito mais.
Assim, nos seguem os questionamentos acerca da necessidade do símbolo em nossas vidas. Nos quesitos religião, política, família, sociedade, grupos, enfim, nação, precisamos demonstrar de alguma forma a relevância pura nas cores do um país, a fortaleza de um grupo, o caráter de uma sociedade. Tudo.
A essência do passado nas religiões, quando nos deparamos nas devoções de fiéis, os quais se igualam aos peregrinos gregos em homenagem às deusas, aos deuses, nada mais é que um dos ritos mais simbólicos e mais profundo de nossa história.
A tentativa de entender o misticismo por trás da pedra talhada, a qual bordada com parcimônia vira um santo ou uma Pietá; da cruz, que entrelaça os dois sentidos universais e humanos – o horizontal e vertical, a simbolizar a fragilidade humana e sua busca pelo alto.
E quando olhamos o sol? Não sei, mas os grandes egípcios, com sua formação bela e sagrada a respeito dos deuses, diziam que por trás do grande deus esférico, havia um outro, o qual era simbolizado por este, que se incumbe de nos queimar por fora. Enquanto o outro, por dentro.
Isso nos remete ao mundo das Ideias, de novo.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....