sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Lembranças de Ouro (ii)

Sobre o discurso do mestre.











“Na tradição, quando se viam vários pensadores juntos assim – disse – teríamos que ter cuidado para não levantar uma nuvem de poeira que evidencie o mal, a separatividade. Hoje, vocês, aqui, a comentar assuntos em paralelo, devem tomar cuidado com o que dizem, pois uma fagulha pode se tornar um incêndio, e um incêndio pode queimar qualquer possibilidade de nos reunirmos, seja aqui ou em qualquer lugar; a menos que todos estejam de acordo com o que se levanta, ou seja, se eu conto uma piada de mau gosto, e todos riem, estarei, de certo modo, trazendo à tona um tipo de separatividade, pois é um assunto que, em si, separa o ser humano do seu ideal” – e continuou – “Se eu quero falar de amor, de filosofia, posso uni-los, por meio não somente das palavras, mas dos meus sentimentos, se forem reais. E é por isso que me uno a vocês hoje”.

 Continuando...

Não eram somente flores que saiam de sua voz, mas chicotadas naturais de um faraó que segurava simbolicamente o látego e o gancho. Sabíamos que era assim, e quem quisesse se expressar a favor ou contra teria que esperar o discurso do mestre, o que não aconteceria, pois não tínhamos palavras ou questionamentos, ali, naquele minuto, após aquela suave chicotada em nossas almas. Não éramos escravos, mas crianças ouvindo um pai.

Esse texto, na realidade, vem à tona para sintetizar o que nosso querido mestre disse na reunião anterior, acerca da grande nuvem de separatividade, que nos poderia tomar em qualquer lugar se elevássemos o mal. Ou seja, qualquer assunto que fosse colocado, de qualquer maneira, com vistas a confrontos, e não à união, estaria sendo um estopim ao local em que fora citado, e mais tarde à própria sociedade...

Explico: quando se conta uma piada politicamente incorreta, mais cedo ou mais tarde, esta mesma piada, com seus fins frios e separatistas, vai ganhar adeptos, e será contada com toda sua frialdade com vistas a fazer as pessoas sorrirem ainda que seja errada – piada sobre negros, judeus, deficientes, etc – assim, transmitida de grupo em grupo até ganhar um corpo mais sólido e perigoso, o chamado preconceito à raça ou aos excluídos.

Talvez eu esteja sendo exagerado, mas, se observarmos um pingo dágua a colidir com um grande oceano, não o veremos, mas, de perto, veremos que ele vai fazer sentido, pois tem o seu dia de oceano, com sua pequena participação, a fazer margens, por mais irrisória que seja... Assim com um copo, com uma vasilha, e mais tarde com um corpo inteiro... Até que possamos ver o quando fazemos onda no oceano da vida... Assim é para o Bem, assim é para o Mal.

Portanto, se quisermos ser corretos, iniciamos um processo de reflexão acerca do que falamos, seja em grupo, ou com nossos entes nos momentos de lazer. O falar, o expressar, o transmitir ideias, hoje, e sempre, é muito importante a qualquer geração, mesmo porque o mundo é feito de grandes ideias que nasceram de pequenas, quase ocultas, as quais, um dia, foram reverberadas sem sentido, mas que, em sua essência, foram copiadas, transformadas, elevadas ao máximo... Assim é para o Bem, quanto para o Mal.
O mestre, ao falar sobre a nuvem, sabia que ali se encontravam apenas pessoas de bem, com intuitos idealistas, a saborear não somente a comida, mas as palavras dele que vinham do coração. Sabia que poderia contar uma piada e todos rirem, e esta piada – por ser dele – seria levada aos sete níveis da vida, mas preferiu usar de bom senso, ou mais, de amor ao ser humano – não apenas a nós, mas à humanidade. Porque, a partir dali, podem vir outros que se engajem na filosofia como alunos, professores, mestres, talvez, mas que jamais pudesse sair dali com qualquer reflexão que pudesse matar uma geração...










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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....