“Na tradição, quando se
viam vários pensadores juntos assim – disse – teríamos que ter cuidado para não
levantar uma nuvem de poeira que evidencie o mal, a separatividade. Hoje,
vocês, aqui, a comentar assuntos em paralelo, devem tomar cuidado com o que
dizem, pois uma fagulha pode se tornar um incêndio, e um incêndio pode queimar
qualquer possibilidade de nos reunirmos, seja aqui ou em qualquer lugar; a
menos que todos estejam de acordo com o que se levanta, ou seja, se eu conto
uma piada de mau gosto, e todos riem, estarei, de certo modo, trazendo à tona
um tipo de separatividade, pois é um assunto que, em si, separa o ser humano do
seu ideal” – e continuou – “Se eu quero falar de amor, de filosofia, posso
uni-los, por meio não somente das palavras, mas dos meus sentimentos, se forem
reais. E é por isso que me uno a vocês hoje”.
Continuando...
Não eram somente flores que saiam de sua voz, mas chicotadas
naturais de um faraó que segurava simbolicamente o látego e o gancho. Sabíamos
que era assim, e quem quisesse se expressar a favor ou contra teria que esperar
o discurso do mestre, o que não aconteceria, pois não tínhamos palavras ou
questionamentos, ali, naquele minuto, após aquela suave chicotada em nossas
almas. Não éramos escravos, mas crianças ouvindo um pai.
Esse texto, na realidade, vem à tona para sintetizar o que
nosso querido mestre disse na reunião anterior, acerca da grande nuvem de separatividade, que nos poderia tomar em
qualquer lugar se elevássemos o mal. Ou seja, qualquer assunto que fosse
colocado, de qualquer maneira, com vistas a confrontos, e não à união, estaria
sendo um estopim ao local em que fora citado, e mais tarde à própria sociedade...
Explico: quando se conta uma piada politicamente incorreta,
mais cedo ou mais tarde, esta mesma piada, com seus fins frios e separatistas,
vai ganhar adeptos, e será contada com toda sua frialdade com vistas a fazer as
pessoas sorrirem ainda que seja errada – piada sobre negros, judeus,
deficientes, etc – assim, transmitida de grupo em grupo até ganhar um corpo
mais sólido e perigoso, o chamado preconceito à raça ou aos excluídos.
Talvez eu esteja sendo exagerado, mas, se observarmos um
pingo dágua a colidir com um grande oceano, não o veremos, mas, de perto,
veremos que ele vai fazer sentido, pois tem o seu dia de oceano, com sua
pequena participação, a fazer margens, por mais irrisória que seja... Assim com
um copo, com uma vasilha, e mais tarde com um corpo inteiro... Até que possamos
ver o quando fazemos onda no oceano da vida... Assim é para o Bem, assim é para
o Mal.
Portanto, se quisermos ser corretos, iniciamos um processo de
reflexão acerca do que falamos, seja em grupo, ou com nossos entes nos momentos
de lazer. O falar, o expressar, o transmitir ideias, hoje, e sempre, é muito
importante a qualquer geração, mesmo porque o mundo é feito de grandes ideias que
nasceram de pequenas, quase ocultas, as quais, um dia, foram reverberadas sem sentido,
mas que, em sua essência, foram copiadas, transformadas, elevadas ao máximo...
Assim é para o Bem, quanto para o Mal.
O mestre, ao falar sobre a nuvem, sabia que ali
se encontravam apenas pessoas de bem, com intuitos idealistas, a saborear não
somente a comida, mas as palavras dele que vinham do coração. Sabia que poderia
contar uma piada e todos rirem, e esta piada – por ser dele – seria levada aos
sete níveis da vida, mas preferiu usar de bom senso, ou mais, de amor ao ser
humano – não apenas a nós, mas à humanidade. Porque, a partir dali, podem vir
outros que se engajem na filosofia como alunos, professores, mestres, talvez,
mas que jamais pudesse sair dali com qualquer reflexão que pudesse matar uma
geração...
Nenhum comentário:
Postar um comentário