segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sintonia







Ainda em sua pequena casca, a sair de seu ovo, o pequeno falcão não sabe o que é. Suas forças, recuadas, e ao mesmo tempo canalizadas para o bem de sua espécie, são provas de que um dia se tornará o que quiser, até mesmo um dos maiores seres observadores e predadores da terra -- o falcão real.
E nós, dentro do útero materno, seremos frutos daquilo que querem que sejamos, no inicio; após, tempos depois de reflexões a fio, iniciaremos um processo de voo interno – o voo que precisamos para acordar uma humanidade inteira.

O falcão, uma ave bela por natureza, claudica em sua maneira de voar; precisa de alimento, de forças físicas para manter seu instinto em dia, voltado ao que as aves são – criaturas em busca de alimento, de preservação da espécie, de organização e harmonia ante a sua natureza e a outras, que negamos ser essenciais ao todo.

E vêm o afago, o leite, os carinhos, o adormecer infantil; deles nos nutrimos, e crescemos como filhos de urso que não sabem outra coisa a não ser... dormir. E quando acordamos para o mundo, assistimos à violência de uma educação humana, que nos faz ouvir o que não podemos, sentimos o que não queremos, e crescemos como girafas, sofrendo com informações como balas numa batalha humana.

A ave prossegue, se livra de seus pequenos espinhos, e observa suas unhas e penas crescerem, e se torna vítima de si mesmo na maior parte do tempo, sem saber lidar com tamanho poder que a natureza lhe dá. Cai, levanta, se ergue, se edifica, mas volta à terra.

Perdemos, ganhamos, caímos, levantamos; nós, humanos, desde que nos conhecemos, como aninais racionais, a principio, nos tornamos tão irracionais quanto qualquer besta que nasce, cresce e morre sem saber, até o dia em que concebemos a reflexão. Dentro desta, nos unimos a nós mesmos, nos revelamos humanos com pompa de idealistas (de ideal), os quais se sintonizam com princípios internos aos quais damos força e nos tornamos homus sagrados.

E ave, em seu pequeno e rasante voo, sente o cheiro da liberdade de usufruir de seu ser, que é de ser ave, com toda a vontade que a faz plena e leve, não apenas por ser um animal com penas, mas por ser guiada pelas dimensões sagradas da vida. E vai... sobe... se torna adulta, ganha responsabilidade natural, torna-se ave, torna-se um falcão real.

O homem, reflexivo, pleno de suas convicções internas, de sua sacralidade, respeita sua natureza, a própria natureza, e voa como um a águia que acabara de entender o sentido de seu instinto; percorre mundos, descobre espaços, entende a dualidade, torna-se parte de Deus; olha as estrelas, sorri para a lua, chora com a paz, clama pela guerra, vive pelas batalhas que jamais deixará de ter, e sabe o quanto deve lutar a partir de agora.

A ave sobe ao sol, torna-se um. Vira espelho do homem, que tem o sol, mas ainda não é um falcão. A ave é símbolo; o homem, um semideus.

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