sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A Semântica do Simbolismo (iv)


Somos a única espécie a respirar poesia. Um instrumento literário em que nos dispusemos, sem obrigações humana, mas quem sabe divinas, formas metafóricas, simbólicas para retratar o que passamos, sem a intervenção de qualquer outro animal, planta, pedra. Muito pelo contrário. Com a ajuda de uma imaginação que atravessa mundos nos quais jamais nenhum homem um dia pisará, temos um instrumento de comunicação entre dois amores, ou mais, entre os homens e os deuses, como meras crianças na tentativa de pedir algo que não sabe pronunciar.
Aqui, nesse texto, o Amor é a peça de fundo entre duas pessoas que se amam, e na frente das cortinas, um homem tenta demonstrar seu amor, ainda que se fora sua amada, com palavras simbólicas, tão profundas quanto misteriosas.

Tenham uma grande e misteriosa leitura.

SOMBRAS NA JANELA

Vidros, sol, árvore. O reflexo emanava uma sombra gigantesca, da qual eu tirava imagens dantescas. O céu e o inferno, demônios, deuses, pessoas, criaturas se moldando, dançando, semelhantes a deusas no Olimpo. Era o reflexo de uma consciência voltada a nós dois – esses dois seres que se emanaram em janelas, refletindo em nossos seres imagens, nada mais.

A nós, não eram apenas reflexos. Eram traços naturais de um mistério forjado e elaborado para ficarmos presos um ao outro... E ficamos. Tão presos, tão eloquentes, ridicularmente presos, que fomos obrigados a reconhecer que éramos felizes com tais imaginações, estas tão concretas, fortes, físicas, que precisávamos ser cientistas para entender o que éramos...

E descobrimos. Éramos dois apaixonados. Fincamos o desejo como ponte entre o bem e mal, atravessamos, e lutamos contra dragões, tigres imensos, seres rastejantes, voadores, e percebemos que nos transformávamos nestes à medida que os matávamos. Por quê?

Não sei. Talvez porque somos filhos de nossos desejos maiores, e fomos, ou pelo menos eu, filho desse desejo ante ao que me acontecia, junto de ti. Via teu corpo, tuas vestes, teus olhos, seus perfume, e me embriagava deles como criança no parque, do qual jamais quereria sair. Mas, como diria o pequeno sábio, temos que sair dele, pois crescemos, desenvolvemos nossos ideais, depois de saborear cada parte desse parque, que, com certeza, fez parte de mim.

Eu queria ter nascido ao teu lado. Visto a ciência de teus olhos nascerem, desse corpo do qual me embebedei e morri quando dele sentia saudade. Ver a ciência dos teus lábios, que nasceram de um riacho limpo, esbranquiçado, como principio da vida de uma selva; assim, fazer por eles orações em forma de reverência, como um apetrecho divino, que surgiu somente para confundir maravilhosamente minha vida.

Eu queria ter entendido tudo, desde o inicio: aquele abraço, aquele sofá, aquele desespero, aquele surgimento vaidoso, os ciúmes, nosso primeiro momento juntos, nossa primeira paz, entre muitas guerras, a qual gerou nossos filhos que não vieram. Como queria ter tido tudo – até o que não estava escrito nas estrelas ou no meu livro oculto.

Sei de uma coisa, não fomos sombras na janela. Fomos reais!

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