O Simbolismo nos Contos
O Soldadinho de Chumbo
Para quem não conhece, vamos
lá...
Um menino, em seu
aniversário, ganhou uma caixa com 25 soldados feitos de estanho e os alinhou em
cima de uma mesa. O último dos soldados tinha apenas uma perna. Perto, havia
uma bailarina de papel usando uma faixa onde havia uma lantejoula, e ela se
equilibrava somente em uma perna, com os braços levantados. O soldado, de uma
perna só, acredita que a bailarina também tinha somente uma perna, e iniciou um
amor platônico. Naquela noite, um palhaço entre os outros brinquedos adverteu o
soldado para que ele pare de olhar para a bailarina, mas o soldado o ignoro. No
dia seguinte, o soldado cai do parapeito da janela [presumivelmente um trabalho
do palhaço] e ficou na calçada. Dois meninos encontraram o soldado, e o
colocaram num barquinho de papel e o lançam pela sarjeta. O barquinho cai no
esgoto, onde um rato obrigou o soldado a pagar um pedágio, mas o soldado
continuou a navegar até cair num canal, onde
foi engolido por um peixe. Quando este peixe foi pescado e cortado, o
soldado estava na mesma casa de antes, e colocado de volta próximo à bailarina.
Inexplicavelmente, o menino joga o soldado no fogo. Um vento sopro e derruba a
bailarina também no fogo; ela é consumida instantaneamente, somente restando a
lantejoula. O soldado derrete numa poça em forma de coração.
Mais uma vez, temos aí a alegoria
“engolido por um peixe”, sendo peça de um simbolismo constante em contos e
mitos, nos quais o herói ou candidato à iniciação perpassa em função de sua
iniciação ou para a resolução de seus problemas um tanto quanto, a princípio, irresolúveis,
mas, no conto, como a de se esperar, há uma desfecho simbólico.
Nada é por acaso...
Entre alguns soldados de chumbo,
havia um com apenas um perna – em muitas culturas, podemos dizer que, quando o
personagem principal termina com uma perna, é porque se iniciou, tornou-se um, mas aqui o nosso soldado inicia com
uma perna. Ao lado dele, uma bailarina de papel, que também se equilibrava com
uma perna (não porque lhe faltava), porque era a pose de uma dança...
Como em muitos mitos passados, a
alma, psique, sempre vem ao lado do herói, simbolizando sua intenção. Ou seja,
a bailarina – em outros, a princesa – é o ideal do herói de elevar-se,
transformar-se internamente. Ao ver a boneca, o herói, de uma perna, pôde ver o
amor, mas não tocá-lo ou mesmo senti-lo, pois deveria passar por algumas fases
antes de obter o amor real.
Temos o
palhaço mal, que, como em outros contos, faz o papel da bruxa, e faz com que o
nosso amigo de uma perna passe pelas intempéries necessárias da vida, assim
como um ser humano comum, que encontra adversidades, chora, clama a Deus,
sente-se derrotado, e é engolido (ôpaa!) pelos tubarões do mundo! O papel desse
palhaço, talvez, seja tão importante quanto o do soldado, simplesmente porque graças
à inveja dele, do palhaço, o conto anda.
Para o
soldado, a parte que lhe cabe nada mais é que passar pelas provas, tão
semelhantes a outras de iniciados em escolas egípcias o passaram, nas quais há
um peixe – mais uma vez -- que o engole,
porém o deixa após ser pescado e aberto por um pescador.
A semelhança do
peixe, do ato, da maneira como ocorreu, não é uma coincidência. O próprio conto
se arrasta a provas pelas quais um grande herói ou mesmo um candidato deve
passar. Em escolas iniciáticas,
sabemos, há tal prova, pois a singularidade dos elementos elencados está dentro
de vários outros contos, nos quais sempre irão citá-los de uma forma ou de
outra.
Por fim, o
grande candidato passa pela iniciação, consegue elevar-se, e compreender o
amor.
(segue o último capítulo)
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