terça-feira, 27 de outubro de 2015

O Lado de Fora da Baleia (ii)

O Poder do Simbolismo (viii)


O Simbolismo nos Contos




O Soldadinho de Chumbo


Para quem não conhece, vamos lá...


Um menino, em seu aniversário, ganhou uma caixa com 25 soldados feitos de estanho e os alinhou em cima de uma mesa. O último dos soldados tinha apenas uma perna. Perto, havia uma bailarina de papel usando uma faixa onde havia uma lantejoula, e ela se equilibrava somente em uma perna, com os braços levantados. O soldado, de uma perna só, acredita que a bailarina também tinha somente uma perna, e iniciou um amor platônico. Naquela noite, um palhaço entre os outros brinquedos adverteu o soldado para que ele pare de olhar para a bailarina, mas o soldado o ignoro. No dia seguinte, o soldado cai do parapeito da janela [presumivelmente um trabalho do palhaço] e ficou na calçada. Dois meninos encontraram o soldado, e o colocaram num barquinho de papel e o lançam pela sarjeta. O barquinho cai no esgoto, onde um rato obrigou o soldado a pagar um pedágio, mas o soldado continuou a navegar até cair num canal, onde foi engolido por um peixe. Quando este peixe foi pescado e cortado, o soldado estava na mesma casa de antes, e colocado de volta próximo à bailarina. Inexplicavelmente, o menino joga o soldado no fogo. Um vento sopro e derruba a bailarina também no fogo; ela é consumida instantaneamente, somente restando a lantejoula. O soldado derrete numa poça em forma de coração.


Mais uma vez, temos aí a alegoria “engolido por um peixe”, sendo peça de um simbolismo constante em contos e mitos, nos quais o herói ou candidato à iniciação perpassa em função de sua iniciação ou para a resolução de seus problemas um tanto quanto, a princípio, irresolúveis, mas, no conto, como a de se esperar, há uma desfecho simbólico.


Nada é por acaso...


Entre alguns soldados de chumbo, havia um com apenas um perna – em muitas culturas, podemos dizer que, quando o personagem principal termina com uma perna, é porque se iniciou, tornou-se um, mas aqui o nosso soldado inicia com uma perna. Ao lado dele, uma bailarina de papel, que também se equilibrava com uma perna (não porque lhe faltava), porque era a pose de uma dança...


Como em muitos mitos passados, a alma, psique, sempre vem ao lado do herói, simbolizando sua intenção. Ou seja, a bailarina – em outros, a princesa – é o ideal do herói de elevar-se, transformar-se internamente. Ao ver a boneca, o herói, de uma perna, pôde ver o amor, mas não tocá-lo ou mesmo senti-lo, pois deveria passar por algumas fases antes de obter o amor real.
 


Temos o palhaço mal, que, como em outros contos, faz o papel da bruxa, e faz com que o nosso amigo de uma perna passe pelas intempéries necessárias da vida, assim como um ser humano comum, que encontra adversidades, chora, clama a Deus, sente-se derrotado, e é engolido (ôpaa!) pelos tubarões do mundo! O papel desse palhaço, talvez, seja tão importante quanto o do soldado, simplesmente porque graças à inveja dele, do palhaço, o conto anda.

Para o soldado, a parte que lhe cabe nada mais é que passar pelas provas, tão semelhantes a outras de iniciados em escolas egípcias o passaram, nas quais há um peixe – mais uma vez --  que o engole, porém o deixa após ser pescado e aberto por um pescador.

A semelhança do peixe, do ato, da maneira como ocorreu, não é uma coincidência. O próprio conto se arrasta a provas pelas quais um grande herói ou mesmo um candidato deve passar. Em escolas iniciáticas, sabemos, há tal prova, pois a singularidade dos elementos elencados está dentro de vários outros contos, nos quais sempre irão citá-los de uma forma ou de outra.


Por fim, o grande candidato passa pela iniciação, consegue elevar-se, e compreender o amor.

(segue o último capítulo)

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