quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Relâmpago





Não fomos feitos ao acaso, como brincam os físicos. Não. Nascemos para observar as estrelas e nos tornarmos gêmeos dessa grandeza a que não alcançaremos jamais. Nascemos, crescemos e desenvolvemos modos, atos, fatos, e somos aventureiros vitais, ainda que nos pareça, mas nunca será ao acaso. Tudo será em nome das descobertas, das aberturas naturais que nos são dadas pelos deuses, e por uma natureza que nos favorece armadilhas com intenções de nos desafiar.

Por quê? Por que somos filhos dos deuses! Podemos tudo, até o que não foi escrito ainda, pois escreveremos, realizaremos, e tornaremos histórico, transcendente e elevado, claro, para uma minoria, mas tal jamais nos deixará, pois saberemos que um dia, ainda que ignóbeis passageiros, seremos conhecedores dos mistérios universais que nos resguardam dessa grande Inteligência que suporta nossa maravilhosa arrogância.

Dela, não tiramos nada; mas somos o que somos: filhos de criaturas que se escondem por detrás dessa matéria violável e que são a prova de que nunca estamos sozinhos, nunca, jamais seremos criaturas “por acaso”. E a prova maior disso é a grande Filosofia Divina que nos resguarda como filhos e nos encaminha em direção ao amor maior, ao real, que mora tão distante de nós quanto dez luas possam alcançar.

Ele – o grande mestre --  estava correto. Temos que olhar através das coisas para obter a sua essência, e quem sabe a nossa, se pudemos observar a nós também. A questão é que a nossa bela arrogância, não menos humana, não nos deixa observar outras coisas além de nós mesmos nesse grande espelho do mundo...

Isso, no entanto, não nos desvia em demasia do nosso simples caminho, mesmo porque a dor existe, o terror, o horror, a perda, a morte, todos eles com fim de nos fazer simplesmente ver através de espelhos a nossa face perdida em meio ao nosso interesse débil. Não importa. Tal interesse, esse vil ser que se espalha entre porcos, faz parte de nossas vidas, de nossa morte prematura, e que distorce nossos ideais, nos tornando mais pobres a cada dia...

Não tem importância, temos a divindade! Temos a Deus. A potencialidade das potencialidades burlando em nossas almas a cada minuto em que pairamos em prol de um voo só nosso. O voo maior a que temos direito. E aqui nos cabem as metáforas, os simbolismos, a fé, o eu real, disfarçado de palavras como num joguete seleto somente com o fim de tornar a coisa mais difícil, mas bela.

...E quando olhamos o pássaro nas nuvens, tão metido e inalcançável, choramos em nome da inveja e criamos mitos somente com intuito de nos transformar naquele belo ser que voa, porém, com uma semântica eterna e dominadora, idealizando nosso maior objetivo... Ser um pássaro eterno dentro de nós mesmos – coisa que o pássaro não faz.

E voar, voar, tão alto, e alcançar o sol do conhecimento. Não se queimar com ele, não deixando que interesses maiores se revelem por meio de uma consciência adormecida, e ao mesmo tempo fria, e que acordara somente para assistir à beleza do conhecimento e voltar ao sono eterno. Não. A consciência nossa de cada dia deve estar acordada, voltada aos padrões éticos e morais, a que tanto os deuses nos deixaram, antes mesmo que qualquer homem contasse qualquer história.

Não apenas a consciência, não apenas a alma, não apenas a vontade divina por trás de tudo, mas o desinteresse em alcançar o pássaro, até mesmo de voar, mesmo porque muitos interesses nos levam a rios sujos, a papéis de parede, a portas de ferro, a luas de mentira e a sóis sem espírito. Temos que ter a humildade.

Eu tenho em mim a pedra, que me faz caminhar e encontrar outras pelas ruas; eu tenho o vegetal, que me faz sentir a música relativa do homem, dançar, sentir, e cantar e me levantar em nome de um trabalho que me exige humanidade...; tenho animais em mim. Na maioria das vezes uma besta, que acredita no que estou, sustentado apenas por uma horizontalidade sem fim... Mas também me sinto um desses belos que voam, quando fecham os olhos, choram e clamam por poesias, ou mesmo um pouco de sol na alma... O que sou.

Tenho até um pouco de divindade, quando, com o pouco que tenho, escrevo tais necessidades em nome da paz e da sabedoria.

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