Um dia, fui a um “Encontro de Cavalheiros” que se deu em uma
grande escola de Filosofia na qual estudei durante um bom tempo – por quase quinze
anos. Minhas lembranças são muitas, até demais, mas esta em especial eu
gostaria de compartilhar com vocês.
A escola, para a integração do corpo masculino, sempre realizava,
anualmente, o chamado Encontro de Cavalheiros, no qual sempre os homens, claro,
faziam suas honras à moda clássica. Um reverenciando o outro, com apertos de
mãos fortes, até mesmo grandes abraços, daqueles que se conheciam, além dos
sorrisos férteis de gentileza – eram a tônica do inicio...
Mas o que me fazia realmente gostar do Encontro não eram as
honrarias, mas a presença do mestre. Quando ele chegava, me parecia que o mundo
cessava suas obrigações. Todos, literalmente, observavam seus passos, seus
atos, suas falas, até seu jeito de vestir-se. Era, na realidade, como diria
Christiam Jaq, “nosso espelho” de um futuro não muito distante: todos queriam
ser semelhantes a ele.
O evento era na parte inferior da escola, que possuía três andares
apertados, e que sempre remetia as reuniões para o subsolo. Mas todos estavam
acostumados a isso. Pelo contrário. Por ser uma escola de Filosofia, e por ser,
de alguma forma, impressora de questionamentos, o que nos dias atuais significa
rebelião e não revolução, tínhamos até mesmo o prazer em descer aqueles degraus
curtos, porém certos de uma boa aula.
Com seus passos lentos, corretos e ao mesmo tempo clássicos,
o mestre possuía a forma de um espartano moderno – nada de um ser passivo,
humilde, no sentido cristão, ou seja, cheio das falsas honrarias somente para
ver os sorrisos amarelos –, muito pelo contrário, um espartano de voz meio áspera,
e ao passo forte, sintética, a qual levantava o mais frágil do ser que se
encontrava cochichando sentado, sem percepção da realidade. Mestre Luiz Carlos,
esse era o nome dele. Um nome simples a uma pessoa que carrega em si uma das
maiores responsabilidades da história do homem. A grande pedra da humanidade em
reconhecer a si mesma na busca por ideais grandiosos, elevados, e de forma
voluntária – sem as elucubrações xiitas religiosa.
O mestre, ao ver seus discípulos, deu um grande sorriso,
dentro do qual se via a sinceridade reluzir tanto quanto o do meu filho hoje.
Nós o amávamos. Mesmo àqueles que não entendiam muito o porquê daquele
Encontro, tudo ficava super-explicado quando da presença dele. E a principio
essa era a tônica.
Todos, mais cem pessoas, em
apertados lugares, em uma sala mais ou menos com cinquenta metros quadrados, se
alinhavam para o mestre se infiltrar em seu lugar: o fim da sala. Seu tamanho,
um pouco mais de um metro e sessenta, não era páreo para o tamanho de sua
grandeza, seu objetivo.
Depois de horas, se “enturmando”,
viu que era necessário iniciar os trabalhos. E vendo o que fizemos – pratos
regados com a melhor comida, salgados feitos manualmente (sem compras de
terceiros, enfim), tudo por nós, cavalheiros, para o melhor da reunião, o
mestre pediu a palavra. E foi por uma simples frase, que faço este texto,
espero que esteja à altura daquele ser tão especial.
Com um simples olhar, fez com que
todos cessassem os diálogos paralelos. Então, voltando ao todo, viu que era
hora de falar.
“Na tradição, quando se viam vários pensadores juntos assim – disse – teríamos
que ter cuidado para não levantar uma nuvem de poeira que evidencie o mal, a
separatividade. Hoje, vocês, aqui, a comentar assuntos em paralelo, devem tomar
cuidado com o que dizem, pois uma fagulha pode se tornar um incêndio, e um incêndio
pode queimar qualquer possibilidade de nos reunirmos, seja aqui ou em qualquer
lugar; a menos que todos estejam de acordo com o que se levanta, ou seja, se eu
conto uma piada de mau gosto, e todos riem, estarei, de certo modo, trazendo à
tona um tipo de separatividade, pois é um assunto que, em si, separa o ser
humano do seu ideal” – e continuou – “Se eu quero falar de amor, de filosofia,
posso uni-los, por meio não somente das palavras, mas dos meus sentimentos, se
forem reais. E é por isso que me uno a vocês hoje”.
Nunca, em minha vida, ouvi uma
pessoa que falasse aos corações tão bem quanto ao mestre, que ali estava. Eu já
fui de igrejas batistas, congregações, nas quais pastores e anciãos se
debruçavam em vozes aos fieis, e por eles nunca pude perceber a reação de minha
alma quando exposta a uma realidade tão simples e ao mesmo tempo tão complexa,
pois estava ali, ao nosso lado, e não perceberíamos nunca...
Era o mestre, que, em suas
palavras, avivou, mais ainda, meu interesse, quase hipnótico, em suas palavras,
que se perdiam entre alguns, mas coletadas como algodão por outros, e faziam a alegria de todos.
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