terça-feira, 20 de outubro de 2015

Homens e Dragões

O Poder do Simbolismo VI
















Em muitos épicos de Hollywood, vocês já assistiram a figuras míticas que sobrevoam os céus com toda voracidade, como se fossem deuses. Se não fosse sua grande calda, suas escamas, seus olhos penetrantes, sempre em busca de vítimas, além das garras e presas, o dragão seria literalmente o animal mais fantástico do imaginário humano...!

E é.

Não há outro animal no universo – que conheçamos – que possua tais elementos em seu físico, o que nos remete à sensação de que faz parte do imaginário coletivo, e faz, só que não de agora, dos tempos atuais. Esse animal, com certeza, em algum ponto da História, foi inventado, ou plasmado, por seres especializados em mitos (sacerdotes, mestres, escola iniciática, enfim..), de modo a segredar algo do universo!

Assim como os deuses egípcios, alguns animais que foram se formando a partir do processo cultural daquele país, além de outros, como a Grécia e Roma, até mesmo dos nossos ameríndios, podemos dizer que o dragão realmente simboliza algo. Mas o quê?

Como na Terra Vermelha, na qual Hórus, filho de Isis e Osíris, era um falcão, na maioria das vezes, representado por diversas aves, até mesmo a cegonha, ou uma coruja, mas sua essência maior se guardaria no falcão, por isso, em diversas câmaras, a presença de homens com a cabeça de Ibis, representando o filho mítico. Além deste, Bastet, a gata, deusa da fertilidade e do sexo, filha de Rá, um dos principais deuses, sempre trazia boa sorte ao povo; Sekemeth, a deusa leoa, e Anúbis, o deus chacal, enfim, todos eles imprimiam um significado complexo, mas não ao Egito. A eles, tais deuses faziam parte de um Todo, a representar a unicidade sagrada que pairava sobre os homens e ao mesmo tempo estariam dentro de contextos caseiros. Simples assim.

O dragão, este fantástico animal, cuja existência veio muito mais na necessidade de aperfeiçoar o homem – isso em determinadas culturas, -- em outras, simbolizando o mundo material, com suas vicissitudes, temporalidades, conturbações, e ainda o assombro existencialista pós-nascimento, nos fascina e ao mesmo tempo nos dá medo.

Muitas vezes, esse animal incrível, além de seu vasto significado, assemelha-se ao grande deus Pã, grego, de onde retiraram a palavra panteísmo, e pagão. Pã, de vez em quando, segundo a mitologia grega, enraivecido, aparecia de supetão aos moradores, os quais morriam de medo – pânico (que vem de Pã, tb), fazendo devastações a qualquer minuto... Assim o era o dragão, um personagem muitas vezes assombroso, que invadia cidades, arrebatava vidas com suas chamas eloquentes, levando a todos o medo.

Assim, graças a histórias de cavalheiros que salvavam princesas de dragões, ou de dragões que representam o grande medo da humanidade, muitos dos diretores americanos iniciaram um processo de desmistificação do animal, que, com o tempo, foi se adaptando à cultura ocidental como um animal do mal, outras vezes do bem, e mais lá na frente até infantil...

As desmistificações, no entanto, a meu ver, devem ser feitas baseadas em conhecimentos a priori, ou seja, de conhecimentos que respeitam uma história, um legado; ou seja, não se pode inventar, ou esticar, simplesmente porque o tempo o pede. Não. Estamos em uma época em que os contos estão sendo desrespeitados, levados ao extremo do racionalismo fértil de sexo e violência gratuita, e isso não se pode aturar.

 Contos / HPB/ Escolas

E quando lemos os contos, não há outro modo de visualizá-lo sem que seja aquele que sequestra bens do povo, ou aquele a quem é entregue a princesa, para o príncipe obrigatoriamente salvá-la, enfim, esse caráter de “mau” vem a ser mais simbólico do que de outros animais, pois nos faz repensar o papel do ser humano frente às diversidades, sejam elas voadoras, ou não!

Desse animal, a Ocultista H.P. Blavatisky fala como se fosse de um animal já preexistente nos anais de um período clássico, no qual, não diz, já existira. Não é por acaso que ele venha com essas características, pois, em algum tempo, pode ter existido, mas não da maneira tão perfeita e simbólica como se revela hoje, ou seja, alguns atributos podem ter existido nele, outros inventados para um determinado fim.

Fim este que já nos precipitamos a entender. Isto é, pode ter havido dragões em uma determinada época, mas o fogo de sua boca, às vezes, das narinas, símbolo de elevação, a calda, a representar o ar, as escamas de seu corpo, a representar a água, e seu físico a terra, podem ter sido incrementados com o tempo, em escolas de ocultismo, com fins de demonstrar elementos sagrados do universo.

E como já estudamos, podemos nos remeter, agora, ao conto, que nos traz a princesa, o príncipe e o dragão. “A tríplice coroa” de todas as escrituras. Aqui o príncipe é aquele ser reto, interno, que se sobressai sempre na busca de salvar a alma (a princesa) do grande mal da personalidade humana, o dragão. Ele, o príncipe, vence, claro. Mata o dragão.

Porém, em algumas culturas mais avançadas, não necessitamos matar dragão algum, mesmo porque é um animal de forte simbolismo, como poucos, então é mais provável que fará parte do universo sempre que for chamado. Por ter a parte terra, ar, água e fogo, o dragão, segundo as escolas mais tradicionais, será confrontado, e se vencido, não morto, será objeto de transformação do indivíduo.

É uma transformação, segundo, necessária pela qual deve passar. Mas, nos aprofundando agora, percebemos em nossos estudos que não só a cultura ameríndia, grega ou romana, muito menos a egípcia, mas também a cristã teria sido voltada às lendas no sentido de mostrar o simbolismo dos animais. Quem lê a Bíblia sabe que há elementos fortes no burro, na cobra, nos leões, e também nos dragões!



Apócrifo

Dizem que, em um desses papiros encontrados no deserto, os chamados apócrifos, uma parte da Bíblia, em que Cristo teria, quando criança, estado com seus pais no deserto. Ainda de colo, Cristo teria ficado com sua mãe; e ao lado dela, seu pai e irmãos estavam sujeitos ao perigo.

Assim, em uma tempestade de areia, entraram numa caverna, e quando saíram dela avistaram vários dragões, os quais teriam ameaçado aquela família; mas não fizeram nada, pois, segundo consta no papiro, Cristo foi visto e reverenciado pelas criaturas, as quais saíram em revoada, como se temessem ao menino Jesus.

Assim, detalhando o ocorrido, muitas culturas, na iniciação, usavam tal legado como um processo de elevação humana, mesmo porque há indícios de uma estrutura simbólica, na qual o próprio homem deveria se tornar um ser consciente de sua busca pela pureza, pela paz e verdade.

Cristo representava a natureza intuitiva do homem. O Nows platônico, o Krishina dos hindus, o ser de todos. Assim, em sua pureza, o menino-deus possuía, em si, a harmonia de uma natureza contemplativa, ainda que na matéria, pois já viera como um sol, assim como um Sócrates, Zoroastro, um Buda, com intenção de reavivar a luz dos homens.

O dragão, como ser que representava os quatro elementos, pelos quais o homem deve passar para alcançar a iniciação, nada mais era do que a própria natureza reconhecendo um dos seus filhos, reverenciando-o, assim como devemos fazê-lo sempre em relação a ela.

O dragão, por ser um personagem grandemente simbólico, precisaríamos de mais elementos internos para lidar com ele, falar sobre ele. Vamos atrás disso. Vamos buscar!


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