quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (iii)

Parcifal 










A força mítica da história talvez não esteja no Rei Artur, mas em um escudeiro que se preparou, graças aos seus sonhos, em um grande cavaleiro. Não falo ainda em Lancelot, o braço direito de Artur, mas de Parcifal, um adolescente, que em meio à floresta (novamente!), consegue visualizar, de longe, cinco cavaleiros que, segundo conta a lenda, foram inspiração para o jovem se tornar de neófito à figura mais profunda do mito.


Parcifal, ainda cru em sabedoria, teria se assustado, como uma criança, ao ver os grandes cavaleiros de Artur a cavalgar belamente no meio da noite. Após isso, fez o possível e o impossível para que se tornasse um deles.


Deixando família – casa, mãe, pai, irmãos, os quais já tinham lutado como cavaleiros no passado – se embrenhou no mundo e conseguira encontrar donzelas, homens de ideias estranhas, cavaleiros sem rumo, mas, Parcifal, em sua trajetória, sabia que jamais deixaria de realizar seu maior objetivo... Ser um cavaleiro de Artur. E conseguiu.


Após defender causas honrosas, até mesmo a Guinewer, a rainha, passara a se portar como um dos principais personagens da história que demonstraria o papel do crescimento do homem, ou melhor, da adolescência à fase adulta.


Parcifal era o símbolo da pureza, do homem que ainda não tinha se contaminado com as agruras da vida. Por isso, seria o próprio Ideal Humano, pois nele resguardava-se apenas sonhos, perseveranças, paz, de modo que se assemelhava a um rio ainda não percebido pelo homem, portanto límpido.


E em sua jornada, em ser um grande cavaleiro, nosso herói percebe que é preciso lidar com a parte humana, cadenciá-la, canalizá-la ainda que o perigo seja grande. Não era nada fácil, pois a corrupção estava em qualquer lugar do mundo, em forma de donzelas e até mesmo de cavaleiros do mal, mas ele, no entanto, belo por excelência, conseguiu lidar com tudo isso graças a grande educação que recebera de sua mãe, Dor no Coração (nome da mãe).


E por ser filho de um grande cavaleiro, ficou mais fácil ou pelo menos melhor para enfrentar as lhanuras do mundo. Assim, depois de muitas cavalgadas, descobriu que seu coração precisava se completar. Precisava de uma mulher pela qual lutar, cortejar, tornar-se homem.


Aqui, somos buscadores dos mistérios humanos, da parte que nos prepara para a elevação, assim como um príncipe nos contos que necessita lutar por uma princesa, a matar dragões, monstros, enfim, passar pela parte psicológica do passado e ganhar a consciência maior.


Parcifal encontra Artur, quer lutar por ele; quer subir, ser cavaleiro também; Parcifal precisa de referenciais, caso contrário volta para casa, e volta a ser apenas um sonhador. Essa prima consciência do herói nos torna mais humildes, mas ao mesmo tempo nos faz entender que precisamos deixar de ser um pouco Percival e enfrentar o maior mal de todos. O cavaleiro vermelho.


 Cavaleiro Vermelho


Este ser belo e ao mesmo tempo amplamente simbólico nos faz buscar o que somos e o que temos em nós mesmos, e reconhecer que temos ainda pedras a remover em nossas almas. Este cavaleiro para alguns é a parte mais difícil de enfrentar, pois estamos falando de uma personalidade que vive do passado, e se fortifica a cada instante pelo que deixamos no caminho. É a contraparte de Artur.


Para outros, é a melhor forma de crescimento, simplesmente pelo fato de que é a última indagação a ser feita antes de se tornar homem. Por isso, enfrentar o Cavaleiro Vermelho, que inflama nossas mentes, e nos pede duelos nos quais sempre vence, é buscar, como dizia Blavatsky, passar pela porta de papel – ou pelo menos, uma delas! – pois é apenas uma forma não real, imaginária, que construímos ao longo do tempo, e que se tornou forte tal qual uma pedra.


Parcifal enfrenta o cavaleiro, encontra sua ou metade, e tem o aval de Artur para ser um dos seus.

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