A força mítica da história talvez não esteja no Rei Artur,
mas em um escudeiro que se preparou, graças aos seus sonhos, em um grande
cavaleiro. Não falo ainda em Lancelot, o braço direito de Artur, mas de
Parcifal, um adolescente, que em meio à floresta (novamente!), consegue visualizar,
de longe, cinco cavaleiros que, segundo conta a lenda, foram inspiração para o
jovem se tornar de neófito à figura mais profunda do mito.
Parcifal, ainda cru em sabedoria, teria se assustado, como
uma criança, ao ver os grandes cavaleiros de Artur a cavalgar belamente no meio
da noite. Após isso, fez o possível e o impossível para que se tornasse um
deles.
Deixando família – casa, mãe, pai, irmãos, os quais já tinham
lutado como cavaleiros no passado – se embrenhou no mundo e conseguira encontrar
donzelas, homens de ideias estranhas, cavaleiros sem rumo, mas, Parcifal, em
sua trajetória, sabia que jamais deixaria de realizar seu maior objetivo... Ser
um cavaleiro de Artur. E conseguiu.
Após defender causas honrosas, até mesmo a Guinewer, a
rainha, passara a se portar como um dos principais personagens da história que
demonstraria o papel do crescimento do homem, ou melhor, da adolescência à fase
adulta.
Parcifal era o símbolo da pureza, do homem que ainda não
tinha se contaminado com as agruras da vida. Por isso, seria o próprio Ideal
Humano, pois nele resguardava-se apenas sonhos, perseveranças, paz, de modo que
se assemelhava a um rio ainda não percebido pelo homem, portanto límpido.
E em sua jornada, em ser um grande cavaleiro, nosso herói percebe
que é preciso lidar com a parte humana, cadenciá-la, canalizá-la ainda que o
perigo seja grande. Não era nada fácil, pois a corrupção estava em qualquer
lugar do mundo, em forma de donzelas e até mesmo de cavaleiros do mal, mas ele,
no entanto, belo por excelência, conseguiu lidar com tudo isso graças a grande
educação que recebera de sua mãe, Dor no Coração (nome da mãe).
E por ser filho de um grande cavaleiro, ficou mais fácil ou
pelo menos melhor para enfrentar as lhanuras do mundo. Assim, depois de muitas
cavalgadas, descobriu que seu coração precisava se completar. Precisava de uma
mulher pela qual lutar, cortejar, tornar-se homem.
Aqui, somos buscadores dos mistérios humanos, da parte que
nos prepara para a elevação, assim como um príncipe nos contos que necessita
lutar por uma princesa, a matar dragões, monstros, enfim, passar pela parte
psicológica do passado e ganhar a consciência maior.
Parcifal encontra Artur, quer lutar por ele; quer subir, ser
cavaleiro também; Parcifal precisa de referenciais, caso contrário volta para
casa, e volta a ser apenas um sonhador. Essa prima consciência do herói nos
torna mais humildes, mas ao mesmo tempo nos faz entender que precisamos deixar
de ser um pouco Percival e enfrentar o maior mal de todos. O cavaleiro
vermelho.
Cavaleiro Vermelho
Este ser belo e ao mesmo tempo amplamente simbólico nos faz
buscar o que somos e o que temos em nós mesmos, e reconhecer que temos ainda
pedras a remover em nossas almas. Este cavaleiro para alguns é a parte mais
difícil de enfrentar, pois estamos falando de uma personalidade que vive do
passado, e se fortifica a cada instante pelo que deixamos no caminho. É a
contraparte de Artur.
Para outros, é a melhor forma de crescimento, simplesmente
pelo fato de que é a última indagação a ser feita antes de se tornar homem. Por
isso, enfrentar o Cavaleiro Vermelho, que inflama nossas mentes, e nos pede
duelos nos quais sempre vence, é buscar, como dizia Blavatsky, passar pela
porta de papel – ou pelo menos, uma delas! – pois é apenas uma forma não real, imaginária,
que construímos ao longo do tempo, e que se tornou forte tal qual uma pedra.
Parcifal enfrenta o cavaleiro, encontra sua ou metade, e tem
o aval de Artur para ser um dos seus.
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