segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Fundamentalismo sem Fundamentos





Mais um ataque na França, dessa vez em escala desproporcional às nossas fragilidades, ao nosso medo. Deixou-nos em pavor, como ratos em sua própria cidade invadidos por gatos assassinos e débeis, os quais, na espreita, esperaram que os pequeninos voltassem sua vida normal para depois voltar ao ataque.

No início do ano, nossos corações se sobressaltaram quando, em televisões do mundo inteiro, cenas de um terrorista, caminhando, portando uma arma automática, em direção a um guarda caído, friamente assassinando-o. O mundo inteiro, mais uma vez, dentro do seu inconsciente, no qual outras cenas mais frias adormeciam, foi obrigado a trazer à tona todas elas, não somente pela última, mas por outras que ocorreram em uma sexta-feira 13, que, tradicionalmente, é um dia em que todos ficam de forma lúdica atentos.

Esta, no entanto, não tinha nada de lúdico.  Veio à tona a dor e o desespero proporcionados pelos fundamentalistas, que se dizem religiosos, protetores da palavra de Alah. Se dizem, ainda, líderes de uma nova ordem mundial, baseados em façanhas no mínimo desumanas. E assim, por meio de seus atos, por meio do radicalismo extremo, traçam uma conduta que não faz jus a qualquer organização, lei, ou conceito se enquadrar em qualquer referencial...

E levam jovens de mentalidades revoltosas em relação aos seus países, ao seu nacionalismo, ao próprio mundo, e traçam radicalismos férteis de esterco dos quais nascem rosas negras, onde poderiam nascer amor ao ser humano, amor ao próprio país, por meio de um trabalho, ou mesmo de uma atividade simples na qual ganhar-se-ia o suficiente para suprir sua inquietude quando ao mundo...

Mas o jovem, como conhecemos, tem a mente fértil de desejos de mudar o mundo, e quando há mais mentes, talvez maiores, com premissas tão bem fundamentadas quando ao que o Ocidente ou mesmo Oriente faz, são hipnotizados por uma flauta, cujo artista nada mais é que um homem a comandar outras, e assim por diante, em uma canção tão triste, tão odiosa, mas ao mesmo tempo diferente, que fascina a mente dos desavisados.

E podemos sentir nas veias a canção, quando pessoas inocentes são baleadas, mortas, assassinadas em bares, em discotecas, ou mesmo tomando um café em uma determinada hora. Não estamos mais seguros.

 

Sabemos que a natureza nos prega uma peça de vez em quando, e choramos com desabamentos de rochas, de encostas em casas de pessoas humildes, e muito mais. Todavia, em termos mundiais, quando temos em nossa civilização grupos que não possuem sequer um mínimo de humanidade, e querem transformá-lo tal qual o caráter que possui, temos que rever nossos quesitos acerca da proteção aos inocentes, não somente fechando fronteiras, mas trazendo à tona a ideia de pátria, de educação quanto ao país em que estamos; levar jovens que não possuem escolaridade, empregos, a oportunidades de viver em função de um objetivo...

E é por meio deste que os fundamentalistas trabalham. Se eu odeio meu país, se ele não tem um plano para mim ou para minha família; se sou excluído dos planos do Ocidente, terei que repensar o que sou ante a tudo isso. E se há uma organização que leva em consideração meus pensamentos – ou melhor, se fundamenta nessas premissas, -- eu vivo por ela, ou melhor, morro por ela.

Sabemos que o sistema democrático não é um dos melhores – talvez o pior – mas ainda não resguarda em suas pretensões ser tão desumano, homicida, genocida... Enfim, estamos longe disso. Na realidade, há uma política voltada ao medo – como no conto do ratinho Despereaux, no qual todos os ratos são obrigados a temerem a tudo, desde o dia em que nasce até o fim. Apenas um ratinho, estranhamente, nasce com a vivacidade de um herói que quer transpor as ratoeiras, enfrentar os gatos, descer ao  mundo sombrio e enfrentar o caos.

E tenho a certeza de que estamos no caos. O medo exacerbado existe, e a falta de referenciais para enfrentar o caos é tanta, que só de falar nele pulamos para debaixo da cama. E os líderes mundiais sabem disso. Sabem que o medo nas reuniões nas quais engomados de termos temem represálias é tanto, que o outro caos, agora com pessoas saindo de seu país de origem, para morrer no mar, humilhadas em fronteiras, taxadas de terroristas, simplesmente pelo fato de a grande Europa amar reuniões, morrem todos os dias, ou viram sem-objetivo em seu próprio ninho, é uma consequência da inércia humana.

Enquanto isso, os organizadores do novo mundo, sem reuniões, praticam seus ideais de  morte, de crueldade, em nome de um salvador mal compreendido – Alah. Mal sabem eles que religião, em qualquer sentido, não somente no clássico, vem a ser uma forma de conceito que une você a Deus, e se houvesse Deus nesse ideal de organização jamais haveria mortes tão terríveis... Então, não me venham falar ou escrever acerca de pudor, se o próprio pudor lhes falta quando inocentes se vão.

Precisamos de ratos, quer dizer, de heróis!

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