Mais um ataque na França, dessa vez em escala desproporcional às nossas
fragilidades, ao nosso medo. Deixou-nos em pavor, como ratos em sua própria
cidade invadidos por gatos assassinos e débeis, os quais, na espreita, esperaram
que os pequeninos voltassem sua vida normal para depois voltar ao ataque.
No início do ano, nossos corações se sobressaltaram quando,
em televisões do mundo inteiro, cenas de um terrorista, caminhando, portando
uma arma automática, em direção a um guarda caído, friamente assassinando-o. O
mundo inteiro, mais uma vez, dentro do seu inconsciente, no qual outras cenas
mais frias adormeciam, foi obrigado a trazer à tona todas elas, não somente
pela última, mas por outras que ocorreram em uma sexta-feira 13, que,
tradicionalmente, é um dia em que todos ficam de forma lúdica atentos.
Esta, no entanto, não tinha nada de lúdico. Veio à tona a dor e o desespero
proporcionados pelos fundamentalistas, que se dizem religiosos, protetores da palavra
de Alah. Se dizem, ainda, líderes de uma nova ordem mundial, baseados em
façanhas no mínimo desumanas. E assim, por meio de seus atos, por meio do
radicalismo extremo, traçam uma conduta que não faz jus a qualquer organização,
lei, ou conceito se enquadrar em qualquer referencial...
E levam jovens de mentalidades revoltosas em relação aos seus
países, ao seu nacionalismo, ao próprio mundo, e traçam radicalismos férteis de
esterco dos quais nascem rosas negras, onde poderiam nascer amor ao ser humano,
amor ao próprio país, por meio de um trabalho, ou mesmo de uma atividade
simples na qual ganhar-se-ia o suficiente para suprir sua inquietude quando ao
mundo...
Mas o jovem, como conhecemos, tem a mente fértil de desejos
de mudar o mundo, e quando há mais mentes, talvez maiores, com premissas tão
bem fundamentadas quando ao que o Ocidente ou mesmo Oriente faz, são
hipnotizados por uma flauta, cujo artista nada mais é que um homem a comandar outras,
e assim por diante, em uma canção tão triste, tão odiosa, mas ao mesmo tempo
diferente, que fascina a mente dos desavisados.
E podemos sentir nas veias a canção, quando pessoas inocentes
são baleadas, mortas, assassinadas em bares, em discotecas, ou mesmo tomando um
café em uma determinada hora. Não estamos mais seguros.
Sabemos que a natureza nos prega uma peça de vez em quando, e
choramos com desabamentos de rochas, de encostas em casas de pessoas humildes,
e muito mais. Todavia, em termos mundiais, quando temos em nossa civilização
grupos que não possuem sequer um mínimo de humanidade, e querem transformá-lo
tal qual o caráter que possui, temos que rever nossos quesitos acerca da
proteção aos inocentes, não somente fechando fronteiras, mas trazendo à tona a
ideia de pátria, de educação quanto ao país em que estamos; levar jovens que
não possuem escolaridade, empregos, a oportunidades de viver em função de um
objetivo...
E é por meio deste que os fundamentalistas trabalham. Se eu odeio
meu país, se ele não tem um plano para mim ou para minha família; se sou excluído
dos planos do Ocidente, terei que repensar o que sou ante a tudo isso. E se há
uma organização que leva em consideração meus pensamentos – ou melhor, se
fundamenta nessas premissas, -- eu vivo por ela, ou melhor, morro por ela.
Sabemos que o sistema democrático não é um dos melhores –
talvez o pior – mas ainda não resguarda em suas pretensões ser tão desumano,
homicida, genocida... Enfim, estamos longe disso. Na realidade, há uma política
voltada ao medo – como no conto do ratinho Despereaux, no qual todos os ratos
são obrigados a temerem a tudo, desde o dia em que nasce até o fim. Apenas um
ratinho, estranhamente, nasce com a vivacidade de um herói que quer transpor as
ratoeiras, enfrentar os gatos, descer ao
mundo sombrio e enfrentar o caos.
E tenho a certeza de que estamos no caos. O medo exacerbado
existe, e a falta de referenciais para enfrentar o caos é tanta, que só de
falar nele pulamos para debaixo da cama. E os líderes mundiais sabem disso.
Sabem que o medo nas reuniões nas quais engomados de termos temem represálias é
tanto, que o outro caos, agora com pessoas saindo de seu país de origem, para
morrer no mar, humilhadas em fronteiras, taxadas de terroristas, simplesmente pelo fato de a grande Europa amar reuniões,
morrem todos os dias, ou viram sem-objetivo em seu próprio ninho, é uma consequência
da inércia humana.
Enquanto isso, os organizadores do novo mundo, sem reuniões,
praticam seus ideais de morte, de
crueldade, em nome de um salvador mal compreendido – Alah. Mal sabem eles que religião,
em qualquer sentido, não somente no clássico, vem a ser uma forma de conceito
que une você a Deus, e se houvesse Deus nesse ideal de organização jamais
haveria mortes tão terríveis... Então, não me venham falar ou escrever acerca
de pudor, se o próprio pudor lhes falta quando inocentes se vão.
Precisamos de ratos, quer dizer, de heróis!
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