sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Uma pausa para lágrima






Em meio a guerras de terror aos países das Europa, principalmente na França, agora mais do que nunca somos obrigados a assistir a outras guerras, a da audiência nas tevês, das opiniões  mais contundentes em relação aos conflitos, da política sem nervos a testar o ânimo humano, como uma grande cobaia, em um imenso laboratório, chamado terra.

A frialdade se esvai na incompetência de empresas que nos asseguram proteção em barragens, as quais não protegem nada, muito menos o ser humano. Lama. Mortos.
Destruição. Morte. Dor. Dissabor. Morte. É uma canção de ninar o demônio mais perfeito do imaginário coletivo, e ainda somos obrigados a ouvir as inenarráveis façanhas de um governo perdido nas circunstâncias.

Lembro-me, nesse contexto, de dragões imensos tomando vilas, cidades, entres outras sociedades, e o homem, sem o herói que há muito iludia o monstro, observa o céu em chamas, e com lágrimas roliças em um rosto sujo de cinzas, não consegue nem mesmo clamar a Deus. O que houve conosco?

Amanhece, e sol, maestro, em meio à dor, surge potente, carrancudo, raivoso, criminalizando a raça que matou a esperança, desfez a imaginação, os sonhos, e nos fez pisar em uma realidade inconteste. A esperança, no entanto, sempre há, não morre facilmente. Joga-se em frente aos caos, manifesta seu apelo de vida, ganha espaço no chão, caminha junto ao homem... e o faz respirar.

A esperança é a arte, a beleza, a simplicidade; são os pequenos mistérios que deram origem a todas as raças, e hoje, como sempre, levantar-nos-á do mal que criamos e dele não conseguimos sair. A esperança é a humildade, em forma de reconhecimento próprio, aceitação dos erros, e a beleza em reconhecê-los como seu, dando novas chances a si mesmo.

Em meio a essa guerra, que nos faz morrer aos poucos, sem ouvir o bater das asas do beija-flor, o roçar das pernas da borboleta, o sorrir da joaninha, o som dos raios do sol no mar, ouço o som de piano, cujas teclas soavam o mais clássico dos ritmos. Esse ritmo, tão diferente ao povo, que fora sujeito às tempestades sonoras, aos sons mais ensandecidos da mente humana, naquele instante, vibrava na alma dos anjos mal vestidos, rostos sujos, os quais sem nunca terem visto um grande instrumento, tornaram-se estátuas biológicas, e porque não dizer divinas.

Shakespeare talvez tivesse dito, em sua semântica eternamente analógica ao universo, “Como miseráveis que roçam a terra, e que em suas unhas sujas colhem o verme, viram Deus na face oculta da beleza, da qual saíra uma lágrima de dor”.

Uma dor inimaginável de paz, que alcançara a última nota no mais edílico lugar da alma humana, o que fez todos eles – aqueles humildes homens – acordarem num paraíso, sem virgens, sem mel, sem cachoeiras, num palco em que somente a música os tornava mais humanos.


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* Acima, Jaci Toffano, pianista internacional, faz apresentações em vários locais no Distrito Federal.
 http://www.jornaldebrasilia.com.br/viva/653914/pianista-internacional-faz-concerto-em-locais-do-distrito-federal/

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