terça-feira, 10 de novembro de 2015

Entre dois Mundos


Sempre que podemos, em meio aos problemas, sair de perto dele, nos afastar o máximo do conflito, seja ele físico, psicológico ou emocional, e ficar sozinho, preso aos pensamentos. Lá, sentado, como um monge revoltado, sorrindo sozinho ou esbravejando como um comunista derrotado, ficamos até surgir o céu tão esperado.

Nele, surgem possibilidades de voltar à briga, desconflituar (se é que existe tal palavra...), e nos unir em torno de algo que não seja o desamor. Como diria o mais humilde dos seres medrosos.. “É complicado!”.

Nada disso. O céu a que me refiro é o céu de cada um, o cantinho idílico que citam os mais sábios, o abrigo natural do homem, que fica dentro da alma, na qual vários sentimentos se expõem e se tornam, a depender da pessoa, amistosos e companheiros.

Ou seja, nada melhor do que olhar para dentro de si, buscar soluções ainda que tardias e voltar a ser você mesmo. Enfrentar o dragão, sempre com a espada em punho, não olhando em seus olhos, tendo a prudência de desviar de suas chamas, levantar o braço e pelo menos assustá-lo com seu ato...

Todo sabem que o dragão não vai ser morto. Sabem que nos devoram antes de tentarmos matá-lo, então, nada melhor do que fazer parte dele, se embrenhando em suas escamas, mergulhando em seu olhos, penetrando em seu fogo. O dragão, assim, tornar-se-á um só. E vencendo essa etapa, poderemos passar por diversas dificuldades, sem as quais não conheceremos mais dragões.

Entretanto, não estamos aqui para falar de dragões, e sim de um mundo no qual estamos quase soterrados de problemas dos quais não conseguimos nos livrar. E quando reflito sobre isso, penso na máxima de Marcus Aurelius, quando em meio às batalhas que travava, fazia seu diário que se tornou um dos manuais mais lidos entre os líderes mundiais... chama-se “Meditações”; nele, o Imperador estoico traduz seu sentimento de humanidade de forma filosófica aos homens de modo a simplificar todas as intempéries pelas quais passamos, com lastro em valores internos.

Disse Marcus, “Quando estiveres perto do batalha (problemas ou conflitos), pense que estás no espaço, e de longe irás observar o quanto somos pequenos, juntamente com nossos problemas”.

De certo modo, precisamos pensar assim, mas não ir tão longe no distanciamento, esquecer das resoluções presentes, resolvê-las, e continuar nossa caminhada. O imperador sabia disso. E quando nos pede para fazer tal exercício, apenas nos direciona para fora dele momentaneamente... Dessa forma, não ficamos cegos com tantas loucuras que ouvimos ou mesmo dissemos quando a “batalha” nos vem.

Sabia o grande Imperador que o universo é uma grande alma, e dentro dele há vários cantinhos confortáveis ao homem nos quais podemos repensar o que dizemos, voltar à batalha – seja ela qual for, de qualquer nível – e sentir um novo ar, uma nova energia.

Então, quando nos afastamos dos problemas – nós homens fazemos muito isso, ou quando ficamos calados demais, enquanto a mulher prefere desfazer de todas as palavras de seu vocabulário... – não é para correr da vida, mas alimentá-la, vivificá-la, torna-la ideal ao mundo, mesmo porque precisamos refletir acerca de tudo, não apenas nessas horas, mas em todas, porque somos humanos. E somente os humanos fazem isso.

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