Sempre que podemos, em meio aos problemas, sair de perto
dele, nos afastar o máximo do conflito, seja ele físico, psicológico ou emocional, e ficar
sozinho, preso aos pensamentos. Lá, sentado, como um monge revoltado, sorrindo
sozinho ou esbravejando como um comunista derrotado, ficamos até surgir o céu tão
esperado.
Nele, surgem possibilidades de voltar à briga, desconflituar
(se é que existe tal palavra...), e nos unir em torno de algo que não seja o
desamor. Como diria o mais humilde dos seres medrosos.. “É complicado!”.
Nada disso. O céu a que me refiro é o céu de cada um, o
cantinho idílico que citam os mais sábios, o abrigo natural do homem, que fica
dentro da alma, na qual vários sentimentos se expõem e se tornam, a depender da
pessoa, amistosos e companheiros.
Ou seja, nada melhor do que olhar para dentro de si, buscar
soluções ainda que tardias e voltar a ser você mesmo. Enfrentar o dragão,
sempre com a espada em punho, não olhando em seus olhos, tendo a prudência de
desviar de suas chamas, levantar o braço e pelo menos assustá-lo com seu ato...
Todo sabem que o dragão não vai ser morto. Sabem que nos devoram
antes de tentarmos matá-lo, então, nada melhor do que fazer parte dele, se
embrenhando em suas escamas, mergulhando em seu olhos, penetrando em seu fogo.
O dragão, assim, tornar-se-á um só. E vencendo essa etapa, poderemos passar por
diversas dificuldades, sem as quais não conheceremos mais dragões.
Entretanto, não estamos aqui para falar de dragões, e sim de
um mundo no qual estamos quase soterrados de problemas dos quais não conseguimos
nos livrar. E quando reflito sobre isso, penso na máxima de Marcus Aurelius,
quando em meio às batalhas que travava, fazia seu diário que se tornou um dos
manuais mais lidos entre os líderes mundiais... chama-se “Meditações”; nele, o
Imperador estoico traduz seu sentimento de humanidade de forma filosófica aos
homens de modo a simplificar todas as intempéries pelas quais passamos, com
lastro em valores internos.
Disse Marcus, “Quando estiveres perto do batalha (problemas
ou conflitos), pense que estás no espaço, e de longe irás observar o quanto
somos pequenos, juntamente com nossos problemas”.
De certo modo, precisamos pensar assim, mas não ir tão longe
no distanciamento, esquecer das resoluções presentes, resolvê-las, e continuar
nossa caminhada. O imperador sabia disso. E quando nos pede para fazer tal
exercício, apenas nos direciona para fora dele momentaneamente... Dessa forma,
não ficamos cegos com tantas loucuras que ouvimos ou mesmo dissemos quando a “batalha”
nos vem.
Sabia o grande Imperador que o universo é uma grande alma, e
dentro dele há vários cantinhos confortáveis
ao homem nos quais podemos repensar o que dizemos, voltar à batalha – seja ela
qual for, de qualquer nível – e sentir um novo ar, uma nova energia.
Então, quando nos afastamos dos problemas – nós homens
fazemos muito isso, ou quando ficamos calados demais, enquanto a mulher prefere
desfazer de todas as palavras de seu vocabulário... – não é para correr da
vida, mas alimentá-la, vivificá-la, torna-la ideal ao mundo, mesmo porque
precisamos refletir acerca de tudo, não apenas nessas horas, mas em todas,
porque somos humanos. E somente os humanos fazem isso.
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