terça-feira, 20 de março de 2018

A Casca no Telhado

Como somos teóricos! Tentamos resolver nossos conflitos sem uma prévia organização, sem mesmo refletir sobre o que tínhamos em mente, antes que ele aparecesse em nossas vidas. A teoria de que crescemos, evoluímos e nos transformamos em melhores seres, fica para trás como pegadas mal feitas no deserto. Não precisaríamos ser assim, políticos, no sentido mais hediondo da palavra -- foi o que me pareceu, ontem, quando vi um rapaz a comer uma banana pela janela. Até aqui, tudo bem.

Antes de comê-la, porém, mesmo com uma grande lata de lixo ao seu lado -- pelo menos a meio metro dele (!) -- preferiu o filho das gerações inconscientes jogar em cima do telhado a bendita casca... Foi horrível. Um momento de que jamais, ainda que simples, mas bastante metafórico e simbólico, me esquecerei. 

Tal imagem passou-me pela cabeça como uma grande falha estrutural pela qual estamos passando atualmente em termos políticos, religiosos, familiares, individuais, coletivos, sociais, comunitários, espirituais, educacionais, e porque não dizer mundiais...! Não apenas em nosso desgastado Brasil, que sofre pela omissão, incompetência, leniência proposital dos amos que dominam parte de cima da pirâmide, a qual nos parece uma flecha apontada para baixo. Gerando indignação pela falta de estratégia educacional e violência radical dos xiitas naturais que tomaram o país às escusas.

Foi uma grande figura de linguagem tal ato. Jogar uma casca de banana em cima do telhado, com desculpas de que ela vai virar adubo (!), mesmo que tenha embaixo dela uma lata de lixo voltada a colher o que se descarta diariamente, seja de qualquer ponto, é mais uma vez ser político, a tentar se desculpar pelas mazelas que fizera e ainda faz no presente em nome de um costume que não se abre mão -- às vezes, corromper, levar na malandragem o que de início lhe convém --, e dizer que tudo faz parte de um jogo político, como muitas cascas que são jogadas para fora do lixo, todos os dias, não apenas por eles, os chamados representantes do povo, mas pelo povo principalmente, o qual aprende a lidar com convicções híbridas de mentiras e enganos, dentro do pouco que é.

Não há culpa pelo detalhe. Somos incoerentes em nossos atos -- pelo menos, na maioria das vezes. O pouco que nos resta de coerência, nos faz ser relativamente celestes, prontos para entrar no céu. A prova disso são pastores de igreja que defendem paraísos fora da terra, e transformam a vida de seu fiel em um inferno de contradições, sejam práticas ou teóricas; outras provas somos nós, pais, que fazemos de tudo pelos filhos, e chegamos a teorizar a respeito até da essência da vida, inclusive sobre o autorrespeito, contudo, nossa verve ocidental não nos recompõe quando temos um vinho ou uma cerveja paga pelos amigos, e caímos em contradição na frente do educando...

Não tem como deixarmos de ser incoerentes, nossa natureza está em evolução pura, o que nos faz humanos em busca da perfeição, seja física, seja emocional ou espiritual; até lá, no entanto, temos que entrar em contradição com nossos desejos de elevação seja ela em qualquer nível. Para isso, temos que nos esforçar muito, praticar muito em função de algo (um grande referencial talvez), viver dele, para ele, não nos distrair dele, e mostrar que o sistema para qual buscamos tanto soluções está dentro e não fora de nós...


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