quinta-feira, 22 de março de 2018

À Luz das Sombras

Platão, filósofo grego, Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C, ao nos mostrar a alegoria da Caverna, em A República, livro VII, tatuou em nossas mentes uma parte simbólica dessa grandeza, que, até então, não se tem notícia de outra. Falo de um momento especial, ao levar o homem a refletir acerca do seu comportamento frente às sombras, sobre as quais se vive e não se vê -- isso, na visão do mestre, em seu mito. Acredito que razão ele teve para tanto, pois, em sua época, quando a Democracia homicida fez Sócrates partir belamente em nome de tudo em que ele acreditava: na verdade, na beleza e no ser humano, no amor..., também exilou-se para nos contar de forma simbólica a respeito de seu tempo.

Na passagem do mito, com vista à educação humana em relação aos homens que amam as sombras, Platão nos inclina a pensar sobre elas, quando diz "seres amarrados em direção às sombras", a sublinhar não somente sua história ao lado de mestres falsos, os quais faziam questão de enganar outros, com palavras, com atos e políticas falhas. Aquele regime não era tão diferente do nosso, ainda que nele se via alguns erros grasso que, aparentemente, superamos, o que, na verdade, não nos dá direito de soltar fogos. Muito pelo contrário. Estamos  voltando tanto, que nos parece uma Idade Média fria, tão pobre quanto à Ocidental que nos assolou a mente e nos atrasou os sentidos, tanto quanto a mítica caverna.

Ao olhar nossas paredes literais, sentindo o opaco da ignorância solidificada, a depender de onde estamos, pode até ser uma prisão, um quarto fechado, mas não terrível quando comparado ao significado das paredes metafóricas de Platão. Nelas, bailam sombras advindas de um fogo invisível, por trás de cada um daqueles, amarrados, frios, cujas vidas nadas mais são que pensar o que os homens que estão por trás de tudo isso, pensam; e por não haver nada além de sombras, paredes, algemas -- em nosso caso, uma educação mentirosa, uma religião estanque, politicas teatrais -- batemos palmas, e nos sentamos frente à TV, como um dia o cartunista pintou, com razão, e nos fez ver o que somos em pequenas tiras.

E fico sempre a imaginar o quão se estende essa parede, esse vão que nos consome diariamente em forma de programas de auditórios, os quais nos programam para os fins de semana a assistir bestialidades e ficar vesgos até o fim da noite. Penso, para onde devo olhar, se tudo é caverna, tudo é sombra? até onde vai o impérios desses amos Platônicos e ao passo reais, que realizam eventos sempre com vistas a nos tirar o foco mais essencial da vida, que é a própria Vida, esse oceano mistérico  sobre qual sempre indagamos, mas, ao chegar uma certa idade, somos obrigados (quase) a nos dispersar deles, simplesmente porque surgem os donos da verdade -- os mais perigosos da caverna!

Tais seres, homens de bem, mas ao mesmo tempo, com restrições arcaicas ensinadas pelos pais destes, traspassam a realidade deles, formam templos, criam deuses, nos fazem crer neles, nos dão medo e voltamos à caverna interna, da qual jamais se sai, porque virou pecado. Aqui as sombras já não nos são mais tão sombras e sim modelos de imagens embutidas com finalidades escusas, por seres que se interessam pelo nosso comportamento em relação a eles -- os mestres do escuro, que nasceram para calar a humanidade, e dizer que o mais importante é a matéria e tudo que vem dela; ou nos enganam a dizer que o espírito é a melhor parte do ser, porém ensinado à luz das sombras.


Olhemos o céu estrelado, pois sabemos que são cortinas escuras pontilhadas e brilhantes, que por detrás se esconde mistérios tão maravilhosos e ao passo perigosos, que pensamos inúmeras vezes em abri-los, e mesmo assim o fazemos. Estou falando da alma humana.

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