Sabe aquele pássaro que voa na imensidão do espaço apenas para ir ao encontro de sua amada? Somos todos. Ele precisa da outra asa, da parte que lhe apraz num universo cheio de outras asas, contudo que não lhe satisfazem. Ele sabe que a real amada o espera entre milhões de pássaros nas montanhas, nas águas, nos picos... Ele sabe, em seu coração instintivo, que ela está reservada para ele, apenas para ele.
Mas, em meio a essa certeza, outra lhe vem. A de que tem que lutar por ela, ainda que seja uma batalha com outro pássaro. Ainda que deva machucar um ser da própria espécie para sobreviver em meio a um mundo cheio de injustiças, o qual não soa tanto como injusto pelo fato de ser pássaro. Lutar vencer e conquistar.
Os homens, numa época distante, eram filhos da cortesia, e as mulheres, damas a serem conquistadas pelo cotejamento. Não éramos pássaros, mas agíamos dentro de uma justiça que nos fazia cavalheiros e damas. Era a liberdade que tínhamos. Nela, o respeito às leis de conquista predominava nos olhos, nos corpo, na alma daquele que sentia afinidade por alguém que um dia, quem sabe, unir-se-ía a ele ou a ela.
Ao homem cabia a parte mais difícil. A conquista. Não poderia ser vulgar, nem mesmo educado em demasia. Sua gentileza deveria ser inclinada àquela lei que diz que “não somos pássaros, nem mesmo outro animal, mas uma espécie que conquista divinamente o seu amor”.
Dentro dessa lei, o homem se aproximava, encantava com seus gestos nobres, ao pegar a mão da dama, levemente a beijava. E se fosse além disso, ela sentir-se-ía ofendida, e a ordem da conquista estaria perdida. Não sendo o caso, um sorriso não muito fora do comum era um breve sinal de que ele poderia prosseguir.
Aqui, percebe-se que ela, a dama, tinha o poder de “manipular”(vamos deixar assim) a situação, mesmo porque ele estaria com intenções segundas, o que não era difícil de perceber, porque seus olhos, gestos, sorrisos estavam caminhando para esse fim. E ela, como uma juíza circunstancial, estava ali para sentir o lisonjeiro comportamento à sua pessoa.
Ela o amaria. Aperceber-se-ía sua graça feminina e seu encanto vaidoso àquele cavalheiro que, de longe, a viu, e ela o percebeu como um pássaro em busca de sua amada. E graças a uma tentativa quase que iniciática, ele fora ao encontro daquela que pode (ria) ser seu amor eterno.
MAS a batalha só estava só começando. Ele sabe que as conquistas são longas, e que seu amor é tão grande quanto, porque a vira e sentira em sua alma que aquela dama era a mulher de sua vida, e teria, daqui para frente, lutar por ela todos os dias, conquistando-a por meio de poesias, palavras de amor, gestos cordiais, o que nunca lhe faltara.
A dama sabia, dentro do seu instinto, que ele a amaria e teria que fazer o possível para que sua presença não se tornasse cansativa quando a visse; sabia que a batalha do homem era muito mais espiritual que material.
Teria ele argumentos internos para lidar com um amor propenso a terminar por algo frio, oculto, insensato?
Naquela época, a época dos grandes homens, dos nobres, da real educação, o homem era educado em escolas cuja cortesia, a gentileza, o respeito aos valores eram principais focos de sobrevivência, porque não poderíamos ser quais pássaros, leões, macacos que gritam, rugem, grasnam em nome do amor...
O homem tinha uma lei, assim como uma lei que rege os animais. O homem, dentro desta, amaria tal quais os princípios humanos, não animais, mesmo porque falamos, pensamos, temos a consciência da grande Lei, e que esta rege a todos. O homem sabia que, para vivenciar seu amor, aquele que partilharia seus afazeres pessoais, e que dar-lhe-ía a sensação liberdade – na lei a que devia obedecer --, teria que olhar para cima, para cima de tua alma, para cima das nuvens dos desejos mais secretos, e saborear o sol, o mesmo sol de sua dama.
Um dia quem saber podemos voltar a ser o que éramos.
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