quinta-feira, 29 de março de 2012

O Sol do Ocidente

Sócrates: o melhor dos homens



“Devemos temer o mal viver, e não a morte”, teria dito Sócrates na pena de Platão, antes de ter sido condenado à morte, na antiga Antenas. O mestre, que teria vivido em torno de sua filosofia a qual unia homens e universos, por meio de verdades nunca ditas, fora acusado de corromper os jovens da época, e ao passo desrespeitar os deuses antigos, o que, pelo que se conhece do grande filósofo, jamais o teria feito.

Hoje, depois de séculos, refletimos seus aforismos, baseados numa grande vida que, mesmo em meio a um sistema falho, conseguiu ser herói, soldado, filósofo... e, depois de sua ida ao devachan (à bem aventurança), cresceu e se tornou um dos homens que mais influenciou gerações, sistemas educacionais e filosofias, a iniciar com os pré-socráticos.

Sócrates sabia, antes de todos, antes mesmo de “corromper” os jovens, que seus dias na terra estavam contados, pois a saber de seus algozes os quais sempre o vigiavam, traduzia o que ele chamava de virtude indireta àqueles que o procuravam.

Sabia o mestre que sua morte estava tão ao seu lado quanto seus amigos, pois estes observavam suas características de homem que sabia viver em torno de um ideal: dizer a verdade, acima de tudo. E por meio da maiêutica – como ele mesmo dizia – um parto da alma de cada ser – trazia à tona os sentimentos daqueles habitantes de uma Atenas cheia de políticos que já comandavam a maioria.

Para isso, Sócrates tinha um demônio – um ser astral que o seguia e o aconselhava na medida de seus conselhos. Era o Demus. Todas as vezes que alguém chegava perto do grande homem, antes, porém, o Demus lhe falava ao ouvido de maneira que não o deixava se omitir em relação ao que acreditava...

O mal de Sócrates, no entanto, não fora corromper, mas sim suas falas, seu jeito de dizer as coisas em um sistema que corrompia os jovens para o mal e os fazia presos a verdades lúdicas, as quais, como algemas, os prendiam. E Sócrates, que sempre perseguiu a verdade, em nome de um legado universal do qual o homem tem direito inato, reverberava, contornava, palestrava, insinuava e ao passo prendia o jovem com suas palavras belas e incendiárias, as quais queimaram sua própria personalidade na visão dos homens de má fé.

O filósofo, no entanto, nunca abrira mão de sua disciplina, de seu amor à verdade, ainda que persistisse em dizer “só sei que nada sei”, talvez aludindo a grande ignorância dos homens de sua época (que serve muito mais para a nossa) que diziam saber tudo, sem saberem absolutamente nada!

Mas isso é o mal de cada época, dizer que sabe sem saber nada. Mas Sócrates sabia muito, e isso, para resumir, revoava nas mentes poderosas como moscas em churrasco, como crianças em conversas de adulto ou como uma coceira dentro de um gesso. Mal sabiam os grandes algozes que estavam enviando um dos homens mais magníficos de todos os tempos à pena de morte.



E Sócrates foi, como se nada tivesse havido contra ele, ser penalizado contra o que o que fizera e tomar cicuta, após dias preso, e refletir acerca do poderia ter feito pela sua cidade, seu universo. E em suas reflexões, baseadas em que seu demo sempre lhe dissera, nunca voltou atrás, nunca se arrependeu e jamais deixou dúvidas quanto à veracidade de sua educação (edutiere). Suas verdades, antes de tudo, tinham premissas universais, as quais sintetizavam legados de tradições das quais o mestre sempre teve notícias, e que sempre as seguiu como um iniciado – que não era.

Sócrates dizia que não deixaria de ser filósofo apenas para agradar a maioria, pois esta nunca estaria correta, se estivesse, algo estaria errado, pois um povo que ama um rei vai amá-lo pelos seus atos referenciados na necessidade moral e espiritual daquele, antes mesmo de lhe dar o primeiro prato de comida.  E o mestre dava-lhes o alimento interno sempre que dele necessitavam.

E sempre foi assim, dentro da humildade revelada por seu pai, pedreiro, e sua mãe, uma parteira (por isso se  dizia um parteiro de almas), Sócrates caminhava a passos estilosos, porém dentro do que chamamos caminho do meio, ou seja, dentro do ele era.

Hoje, não se fazem mais Sócrates. O século que o abrigou também estaria em pura decadência, o que nos dá um pouco de conforto, pois nos exime de sermos culpados pela infelicidade moral de agora. A triste notícia é que por falta de heróis, de filósofos, de grandes idealistas, estamos no limiar da maior das decadências humanas...

E, ainda, na falta desses grandes que se foram, que nos deixaram legados fortes, porém fechados, o mundo ainda tem chances de crescer e de se tornar mais forte ainda. Temos apenas que buscar, em nossas possibilidades (naturezas) o que somos, doe a quem doer, de forma que possamos elevar pessoas ao patamar de seres humanos, não animais, plantas, pedras, mas simplesmente humanos, dando chances de buscar a verdade, o amor, a beleza acima de todos os valores relativos a nós impostos.

E se conseguirmos um pouco disso, Sócrates não morrera em vão.








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