sexta-feira, 2 de março de 2012

Quando nos separamos da terra...

Tivemos uma perda irreparável na semana do carnaval. No inicio, por assim dizer. Estamos tentando nos reerguer como pinos que foram derrubados por uma bola avassaladora da vida: uma doença incurável. Foi e está sendo difícil levantar a cabeça, andar e até mesmo falar qualquer coisa...

Alguns nervosos que falam sem parar, saltitam, correm, e choram escondidos segredando seus sentimentos à pessoa que se foi. Outros, calados, se escondem, ou se mostram com astral frio e contaminam o ambiente, ainda que crianças apareçam com seus sorrisos férteis de pureza...

É... A realidade nossa de cada dia tem sido uma subida ao monte Everest de costas, sem equipamento de segurança, com vendas nos olhos, e com muita fome.  Todavia... Assim prosseguimos. E eu, como um dos filhos mais esclarecidos (dizia minha mãe), não escondo minhas dores, mas também não escondo uma outra realidade: a de que temos que viver, trabalhar, respirar, subir, pois o trabalho não é apenas uma função natural ou empregatícia, com finalidade capitalista, mas principalmente uma forma de lidar com problemas de âmbitos diferentes, cada um com seu nível.

É um trabalho espiritual. A tradição – seja ela qual for – nos diz que temos que reverenciar os problemas, porque nos encaminham ao céu. E a cada passo, a cada duelo com a vida, devemos deixar um pouco de nós, dessa carga que nos leva e traz, chamada terra.

A terra, aqui, não seria essa parte branda do solo que nos dá o prazer de plantar e colher, não. Seria essa personalidade enraigada de prazeres, de elucubrações, informações, chateações, etc... Dela, temos que deixar um pouco em cada conflito, em cada caminho, pois nossa alma, essa bela adormecida, essa princesa cujo dragão protege, deve, um dia, esvair-se do corpo, esse receptáculo que tanto amamos, e voltar ao seu lugar de origem.

Impossível, talvez. Mas reza todas as tradições que há um céu, um inferno, um Devachan – lugar de bem aventurança do qual não se pode ter nem mesmo ideia dele; uma reencarnação, sei lá, e temos que nos pautar, eternamente,  naquilo que acreditamos, assim como o ar que vivemos. E quando a bendita hora chegar, respeitar cada segundo, e respirar como se fossemos pequenos alunos voltando para Casa...

Talvez por isso a ideia da reencarnação... Alguns acreditam que tais alunos – nós – não aprendem nada em vida e retornam semelhantes a repetentes, ou àqueles que têm chances – contudo, tal processo seria de aperfeiçoamento, de evolução interna, humana... Isso para todos – do homem sem religião àquele que se julga Cristo na terra.

E nesse intervalo de homens que não possuem religião e de homens que se julgam Cristo, fico como intermediário, levando meus princípios aos seus fins, com dores no peito, na alma, contudo, prosseguindo racionalmente, graças à falta de coração, o qual se perdeu depois da perda dessa grande pessoa, que agora, independente de nossas convicções, se encontra viva em algum nível, em algum lugar, sem desejos, sem dor, elevada em todos os sentidos – sem preocupações (o que a fazia presa na terra), passando por tudo aquilo que os deuses a reservaram.

Enquanto isso, aqui na terra – agora sim, literalmente – buscar forças em nossas convicções, sejam elas reais ou não, mas sempre buscando em si a resposta dos mistérios mais belos, ainda que para nós soe como horríveis.





Á benção, mãe.

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