Persona
Eu tenho percebido, há muito, que não assumimos nossos reais compromissos, aqueles que nos ditam o que somos, para onde vamos e por quê. Não sei se estou certo ou apenas cambaleando em pensamentos tolos, mas o que me passa pelas linhas imaginárias da consciência é que não queremos assumir, propositalmente, o que no fundo nos pede para realmente assumirmos – calma, não estou me referindo à personalidade inquieta, cujas debilidades nascem e morrem sem, às vezes, dizer o que ela é. É algo mais profundo.
Será o medo de entendermos tudo na natureza, como enfrentarmos as reações que nos proporcionam o desespero pelos atos impensados de nossas vidas? Talvez. Mas não seria só isso...
A coragem de dizer o que sentimos ao vento, gritar que queremos mais liberdade, amor e mais justiça sociais, ou mesmo aqui perto, ao nosso lado, nos faz seres encolhidos e, sei lá, duvidosos no momento de tomar alguma decisão – espero que me entendam J...
Se fosse em outra ocasião, diriam que eu estivesse reverberando o nada em forma de letras, ainda que no fundo possuísse alguma coerência... E é dessa coerência que gostaria que entendessem. Quando digo assumir, digo ser eu mesmo, lá no fundo de minha alma, não a alma em si, ou como disse antes, nada de personalidade...
Uma coisa é você dizer “sou grosso, e daí!”, a outra é você dizer “eu te entendo...”. Qual das duas expressões nos relevam? Claro que, para a maioria nossa de cada dia, é a primeira, pois dela podemos retirar outras e mais outras cujas estruturas semânticas podem mudar de forma relativa, ou seja, cada um acha aquilo que deseja, ou o que é realmente...
Porém, nos revela uma identidade falsa pela qual nos embrenhamos, simpatizamos, e quiçá amamos. Assim, se me identifico com algo que me estabilize emocional, física, psicologicamente... Vou atrás daquilo que me apraz. Se amo ser um grosso, um débil, um valentão, com a finalidade de me esconder e ao mesmo tempo enfrentar uma gama de problemas, assim o faço. Se quero ser forte fisicamente para que possam me “achar” forte, assim o faço, se me escondo atrás de livros para fugir de uma realidade, e cair em outra... Também.
Mas o perigo disso tudo está tão estampado no rosto de quem assume quanto o de um ser que fez algo e não consegue esconder-se. Claro que tentar montar uma estrutura interna na qual eu mesmo tenho que ser o arquiteto, dono e ao mesmo tempo pedreiro, é raro. Na prática se vê.
Contudo, assumir o que achamos o que somos (ou melhor, o que a persona nos faz acreditar) causa danos irreparáveis, e até mesmo inconsequentes, e a depender de quem o faz (ou assume), fere a todos, inclusive a si mesmo. Na hora do embate, do conflito, da guerra propriamente dita, somos guerreiros, foras-da-lei sorridentes, donos de nós mesmos, mas a poeira há de assentar-se, as dores hão de subir, e o sangue há de aparecer..., porque o que vem da persona – ou melhor dizendo, daquilo que achamos que somos --, pode agradar até mesmo um grupo específico, como gangues, máfias ou monges, -- mas não atingirá o cimo de cada um, para que haja uma aceitação coletiva – geral.
São raríssimos aqueles que podam a personalidade com aquilo que é comum a todos indiscriminadamente, assim como os grandes idealistas do passado, os quais, um dia, buscaram, conseguiram, por meio de seus atos, palavras, e até mesmo em suas vidas coerentes ao que clamavam. O nome disso é coragem...
Não coragem em dizer “vou”, mas em dizer “sou, ainda que muitos me digam o contrario” – claro que, mais uma vez, estou me referindo a uma semântica genérica, na qual podemos, em principio, graças ao nossos valores decadentes dizer “você é um louco”, mas depois de uma evolução humana, ou pelo menos mediana graças tempo, não necessariamente em massa, dizemos “Ele estava certo”. Isso é raro hoje em dia...
Alma
Na antiga Índia, à época de seus maiores sábios – não me refiro a Gandhi e seus seguidores --, havia uma filosofia intrínseca que dizia “o homem vive sempre no Antakarana”...
Eu, graças a leituras clássicas, descobri rs. Mas isso, como diria o grande Buda, pode muito bem “ser a aparência do que se sabe”, ou seja, não sei nada...! Porém nos revela, dentro do que estudamos, uma verdade, a de que estamos realmente sempre na dúvida do que somos, que coisa hein!?
Voltando...
Antakarana, perdão, seria, para o deleite de nosso coloquialismo, uma ponte entre a personalidade e o espírito – ou menos que isso, entre nossos valores materiais e imateriais. Seria uma linha imaginária a separar o Oriente do Ocidente, só que mais profundo. Essa linha marcaria – ou marca – um ponto crucial, o de que o homem se sente capaz e ao mesmo tempo incapaz de elevar-se ou ao mesmo tempo acomodar-se ao que é.
Ao passar dessa linha, e voltar à sua personalidade, ele prova um pouco do que realmente deve ser – ele mesmo, um indivíduo, inegoista, virtuoso, ético, idealista sem interesses vis, mas ao voltar... sabe que a persona o leva para um mundo completamente semelhante, apenas com os valores de cabeça pra baixo – daí a chamada falta de identidade provisória, ou para aqueles que ficam sempre atrás dessa linha, os chamados homens pedras, plantas, animais, pois sequer tentam levantar-se psicologicamente, estruturalmente, muito menos espiritualmente...
Desses homens que amam uma identidade falsa, ou mesmo se sentem amos de si mesmo, o mundo está lotado, saindo pela culatra, contudo há homens que se questionam, e que questionam acerca de seu comportamento, até do comportamento do próximo, que buscam e conseguem uma compreensão mais que humana, e inicia seu entendimento acerca do mundo a sua volta, porém sabe que seu trabalho é tão difícil quanto enfrentar uma batalha de mil homens – é o conhecer a si mesmo.
E, após anos de trabalho a fio, ao se encontrar na profundidade de seu ego, depois de largar a máscara do “sou ou não sou”, sabe que é parte de uma personalidade maior, a do universo – essa, ele terá que descobrir, em uma viagem ainda mais insólita.
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