terça-feira, 27 de março de 2012

Uma fagulha grega


Estátua de Zeus


Falar sobre a Grécia... Falar sobre essa imensidão azul e branca que hoje sofre com a corrupção dos biltres, dos desumanos bípedes, mas ao passo bela e casta, tal qual uma dama que renasce das cinzas apenas para dizer... “estou viva”! E realmente está, e sempre estará à medida que olharmos para trás, e, com um ar mais que saudoso, respirarmos fundo, sorrirmos um sorriso de criança, e dizer “que bom que você existe, minha dama”!

Falar da Grécia é simplesmente falar do âmago da alma humana, da história humana. Daquele centro que pede para ser explorado tal qual floresta virgem, mas que seja explorada em nome de uma liberdade que burla, que pede, insiste e ao mesmo tempo clama um dia melhor, a uma humanidade querida.

Quando os grandes desse mundo passaram por ela – Sócrates, Platão, Aristóteles, Alexandre da Macedônia, Leônidas...  – a humanidade, com toda certeza, passava pela parte superior do ciclo, seu melhor momento, e dele aprendeu e ensinou por meio de seus discípulos uma filosofia mítica e ao passo clara, sempre no tocante à beleza humana...

A Grécia buscou a Verdade, ainda que com respingos de ensinamentos egípcios, e mais, a Beleza, o Amor, a Justiça, a Força, a Civilidade... etc., de forma que ninguém mais jamais ousou.

Ensinou-nos que ainda somos crianças eternas engatinhando em busca de nossos interesses, uma grande mamadeira chamada dinheiro. Não que os Antigos não valorizavam a moeda da época, o ouro, ou mesmo qualquer valor material – contudo, havia os grandes heróis que recebiam as honrarias semelhantes a dos reis, contudo... Em nome de uma grande filosofia prática, oravam aos grandes deuses, notadamente emblemas de uma época que nos faz saudosos sem dor, em relação a essa época tão falha em que vivemos.

A ruína grega


Depois de episódios tenebrosos nos noticiários de uma Grécia em ruínas, e de episódios nos quais governo, empresários e povo se engalfinham por um rumo melhor nas finanças do país, somos obrigados a conflitar situações em que há duas Grécias, a de hoje, a de ontem.

A de hoje é repleta de indivíduos dotados de política, revolta e sistemas patrióticos, ainda que falhos; ainda, repleta de percalços, ou melhor, de grandes monstros que residem como úlceras na alma da grande Grécia, mas também em cada país subdesenvolvido – ou desenvolvido em decadência moral.

Nessa mesma Grécia, onde passeatas, brigas, conflitos com policiais, regimes, medidas são a música dos homens, há estátuas, monumentos belos datados de mais de dois mil anos, refeitos sempre com a finalidade turística, mas também sagrada, com intuito de mostrar que também somos, apesar dos pesares, indivíduos que respeitam o passado humano, no melhor sentido da palavra.

E mostrar também que a alma humana não se restringe apenas em interesses frios, mórbidos, regados a gritos de dor, mas à beleza, tão bem delineada nas esculturas, vasos, quadros, paredes... Enfim à beleza maior, a que reside no campo arquétipo, do espaço inato, do qual nem mesmo o homem atual sabe reverberar direito, apenas questionar se há ou não vida nele...

E quando os homens atuais tomam conta dos noticiários, cada criança grega se vai do mundo, sem esperança de entender a verdade, essa moeda tão esquecida do passado, da qual filósofos viviam e morriam por ela... Todavia, não há mais homens desse nível, ou mesmo homens.

Antes, ser homem era encontrar o individuo em si – o indivisível – dentro daquilo que mais subjaz a nossa alma. Estaríamos falando do Ser, do Nows, do Espírito Humano, fadado a ser esquecido pelas gerações posteriores, as quais, ao passear pela atual Grécia, se conformam com o espetáculo passado em forma de pedras esculpidas – não mais estátuas que, um dia, foram adoradas tais quais a santos...

O que são os santos, senão resquícios desse amor antigo pelas potências trazidas ao verso e à prosa grega, cantadas, amadas durante séculos? E esse Deus maior que se restringe em sentimentos, atos, como um grande Zeus, que fora o deus dos deuses?... Nada a comentar...

Assim como uma vasta cultura que nasceu, cresceu, desenvolveu e morreu, a Grécia teve seu fim. Hoje, há um país sufocado pelas mazelas do mal que corrompeu e corrompe o mundo. Mazelas estas já ditadas pelos grandes de épocas passadas, que um dia foram julgados e mortos, e outros execrados, assassinados em público, mas que deram, antes, ao mundo caminhos para uma descoberta indecifrável à medida que se caminha com olhos cerrados ou interesseiros.  Mas decifrável ao coração puro, à alma livre de preconceitos e sectarismos, os quais formam a base dos sistemas atuais.

Não temos mais jônios, dórios, eólios para a (re)formação de uma civilização na qual tribos lutam apenas para se ter apenas o seu lugar no mundo, não pelo petróleo, pelo genocídio ou mesmo discriminação em massa – é o que fizeram com a África, hoje.

Não temos mais os deuses que nos norteiam, e sim loucos desvairados impondo em mentes puras ou ignorantes sua filo-social-democracia autruista (sem amor ao próximo...), em decorrência de outros sistemas empurrados pela necessidade do homem de má fé.

Os mitos, os deuses, os heróis se foram, mas a sua filosofia, a que tanto norteou a sociedade da época, transformando-a nesse berço belo e divino, pode ser resgatada no âmago de cada um, e está a um passo de nós: nos livros clássicos, nos quais viajamos e encontramos um pouco de nós mesmos, ou menos do que isso, uma fagulha de um incêndio sagrado chamado Grécia.











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