E pra terminar, teríamos que morrer e voltar, ou ficar não sei onde, e dizer “realmente, encarnei em outro corpo!” ou “Olha só, o céu existe! Deus está comigo aqui do lado!”, ou “o inferno existe, galera, e tá todo mundo aqui comigo, menos minha sogra!”.
Não tem como. Nossas naturezas rondam em torno de suposições acerca do extraordinário (até mesmo do ordinário...), porém, apenas os sacerdotes do passado (leia-se: os iniciados nos mistérios sagrados, do céu e da terra) poderiam nos dizer algo a respeito do que se reverbera aqui e agora, mas não estão aqui. Ou melhor, estão em bibliotecas imensas e respeitáveis, como as de Oxford, na Inglaterra, em Harvard, no Estados Unidos, até mesmo no Vaticano, Itália, em forma de literaturas clássicas sobre ocultismo egípcio, hindu, maia, ou mesmo quando se refere às escolas iniciáticas gregas, etc; contudo apenas os letrados na matéria podem consulta-los.
No entanto, há literaturas das quais podemos reverberar e tirar algo acerca do nosso enunciado, de maneira a sintetizar, repeitando, naturalmente, o que nos deixaram como legado filosófico. Estou me referindo aos grandes autores (ou pós-modernos) os quais seguiam a tradição quando tocavam em assuntos de diversas áreas, principalmente quando aludiam acerca da vida, da morte, da dor, da justiça, verdade...
Entre esses autores, escolhi o mais difícil, porém um dos mais modernos que se seguem a tradição. Helena Petrovina Blavtsky.
Blavatsky, a criadora da Sociedade Teosófica, se aprofundou nesses itens – céu e inferno – de forma que nos parece que estivera lá, ou não!... Deixando rastros de uma verdade incontestável junto aos mais polêmicos órgãos religiosos e místicos de sua época, contestados até hoje pela Igreja (claro...), mas sempre respeitada a ponto de nunca ter suas informações ditas como contraditórias... Vejam por quê...
Blavatsky dizia que a reencarnação era algo tão natural aos homens quanto aos seres em sua volta, não deixando, no entanto, de retratar a antítese céu e inferno, bem sintetizados pelos cristãos, como respectivos estados de bem aventurança (céu) e estado de desobediência a Deus (inferno). Mas...
Segundo a respeitada teósofa, o céu é o svarga que em sânscrito significa "mansão celeste" ou aquele estado puramente subjetivo de perfeita felicidade, no qual se encontram as almas dos justos durante o período existente entre duas encarnações consecutivas; ou seja – dentro das leis cármicas – haveria o bônus temporário ao indivíduo que, após sua morte, haveria de ser contemplado com um “descanso” antes de vir a reencarnar ao mundo.
Já em relação ao inferno, o esoterismo blavatskyano nos diz que a palavra “inferno” vem da cultura egípcia, que, tendo o deus Rá como deus das alturas e do submundo, teria se convertido em deus do fogo, e os maus, aqueles que mereciam o ônus após a morte, eram ameaçados com o fogo de Rá, ou melhor, infernal – de indeferi, mundo inferior.
Assim, temos elementos para decifrar um código, o qual, somos obrigados a dizer, “predomina há séculos” no Ocidente como pedra fundamental da cultura, a qual se norteia, por diversos ramos (facções), encerrando-se como verdade “natural”.
Elementos como “diabo”, “inferno”, “Deus”, “paraíso”, etc podem ter sido trazidos de culturas antigas as quais trabalhavam com simbologias, com a finalidade de direcionar a cultura do seu povo, hoje, a nossa cultura o faz sem a mesma simbologia, dando margem a compreensões individualistas, trazendo à tona o mercantilismo religioso – compra de fiéis, dízimos mal direcionados, compra de terrenos, vendas de livros religiosos; trazendo ainda diversidade de opiniões, de informações acerca de vários elementos reiterados pelo passado arcaico, ou seja, para a consecução de seus fins, a Igreja inventa, além dos antigos, mais pontes para a compreensão do que não se entende racionalmente...
E como já falamos em textos anteriores, tínhamos mais símbolos trazidos de outras culturas, como a grega, da qual foram retirados elementos do deus pagão Pã, o qual significa Tudo, todo o Universo, que, segundo o mito, vinha dos céus e assustava os seres humanos com sua figura meio demoníaca, a qual, naturalmente, fora levada ao pé da letra pelos cristãos...
Essa vinda do deus Pã a terra, está na palavra Pânico (medo de Pã), talvez, mais uma vez, essa retração à figura “demoníaca” da qual todos ainda medo, pânico – agora, muito mais, pela grande propaganda cristã em desfavor de um ser que ela criara em paralelo ao mito.
Resumindo
Podemos então dizer que céus e infernos foram figuras simbólicas obedecidas pela maior parte das civilizações com vistas ao comportamento frente ao sagrado, ou seja, ao todo. Foi mais que isso, foi o desmembramento de mistérios sagrados dentro dos quais muitos iniciados conseguiram, até hoje, resguardar, mas não transcender nas culturas pós-helênicas, o que para eles era uma verdade rebuscada das entranhas das grandes civilizações douradas, para nós virou uma feira de contradições.
Céu e Inferno sempre, em algum nível, terão suas explicações naturais, racionais, emotivas, simbólicas, com um ar de medo ou mesmo respeito, graças ao mistério que as duas resguardam, ainda que tenhamos “iniciados” que se dizem portadores da verdade e que derramam seus enxofres dentro de um mundo que, de acordo com o real (ou fictício) conceito, sempre nos mostrou o inferno e o céu de cada dia...
E quando eu olho para o céu, penso na figura divina de Zeus e Hades na luta deliciosamente inconsequente pelo equilibrio mundo -- pois são forças duais -- os dois, com duas espadas imensas, além-nuvens, sorrindo um para o outro em um eterno duelo de prazeres e harmonias; um, o grande Zeus, burlando o vento para a danças das árvores, do sol, da vida.. E o outro, Hades, com sua ferocidade, esperando o próximo humano a nascer para lhe dar, na primeira oportunidade, o egoísmo, a inveja... E assim, caminhamos juntos, como espinhos em rosas, como pedras em rios, como espadas debaixo do grande manto das paixões.
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