Rá: o Sol egípcio. |
Hoje, quando nos deparamos com grandes edifícios belos, desses de tirar o fôlego, ficamos impressionados, não é? Chega a fazer um frisson em nossas barrigas só de olhar pra cima, e ver o quanto foi investido e quantas pessoasnele trabalharam... E ao final de tudo, damos parabéns apenas ao grande arquiteto que elaborou o arranha céu. Tipo Brasília, São Paulo...
E quando nos reportamos ao passado, há mais ou menos (quase) três mil anos antes de Cristo? Consegue?... Bem... Na realidade, nem se quiséssemos, pois não temos material suficiente para imaginarmos. Porém, dá para, de pronto, entender que o nível dos materiais com os quais trabalhavam os egípcios era tão rudimentar, que, em relação à nossa cultura, nem mesmo martelos existiam, apenas pedras, paus, ferramentas não ferramentas, vamos dizer...
Na realidade, havia sim. Os egípcios se adaptaram mui rapidamente ao meio no qual viviam. Ou seja, já se mostraram donos de sua terra, após as grandes aglomerações aleatórias de clãs no Delta. Fizeram moradias, fincaram sua bandeira, e, por necessidade, surgiu um grande homem que, com o tempo, transformou aquele lugar, com o pouco que tinha, em uma das mais incríveis do planeta.
A impressão que nos dá é que houve um processo ditatorial (de ditadura) fomentado durante séculos. Não vou dizer que não houve, mas estaria sendo injusto em dizer que os egípcios fizeram parte desse processo até o fim de seus dias. Isso é falácia.
Prova disso temos vários faraós os quais, pela forma como governaram, são assuntos de várias universidades até então, pois não demonstraram sistemas escravocratas à época. Não é fácil de entender, claro. Pegar uma terra e transformá-la no que se transformou o Egito Antigo. Primeiramente, nos vem os chicotes nas costas dos homens de bem, atormentados pelo senhor dos senhores, assim mostrados, incansavelmente, em películas holywoodianas, mas não foi assim.
Contudo, não se questiona (hoje é proibido...) o porquê das realizações, o que significavam para eles, e se realmente foram obrigados a fazer tudo aquilo; mas além disso fazem grandes questionamentos absurdos: “eram escravos?”, “eram extraterrestres”? – coisa que me causa náusea só de pensar que “pensam” em coisas desse tipo...
Mas tais pensamentos, infelizmente, têm sua lógica – ignóbil, ma há – pois a maioria não acredita que construções como as de antigamente foram realizadas com propósitos sagrados, desde o primeiro ao último serviçal egípcio, e não acreditam que havia um simbolismo profundo nas obras. Tais mistérios, que burlam o imaginário coletivo, são como portas fechadas as quais não se abrem por falta de pesquisa, das mais incessantes, ao se referir à terra vermelha – Egito.
Em um programa chamado “Egito revelado”, da Discovery Channel, pude assistir a um egiptólogo de respeito dando bronca ursais em seus alunos, ao subir na grande pirâmide Kefren, a qual possui uma altura considerável, e ao mesmo tempo com entranhas estreitas, as quais faziam com que o individuo – nesse caso o doutor e seus alunos – a se comprimirem quando nela entrassem. O grande egiptólogo, já de idade e bem experiente, demonstrava um racionalismo contundente ao passar pelos vários textos, peças, tumbas, pedras da grande pirâmide... Enfim, graças à sua vida dedicada ao Egito, pôde mostrar a todos, meio rispidamente claro, o trabalho dos grandes homens do passado.
Em meio à penumbra das paredes que se fechavam, lá estavam rapazes e moças ávidos para aprender o que mestre lhes passava. Todavia não sabiam os pequenos egiptólogos que a sensação de estar ali não era a mesma de estar em uma caverna, em um palácio com luzes apagadas, não.., não era. Era muito pior.
Os egípcios sabiam que culturas póstumas invadiriam suas terras, tomariam seu mundo e investigariam sua sacralidade, por isso fizeram com que o medo e desespero, mas acima de tudo o respeito fosse peça fundamental aos intrometidos de hoje, para que não houvesse tantos danos ao que fizeram durante séculos.
E conseguiram. Alguns dos alunos do professor e egiptólogo, após passarem pelas paredes e virem os trabalhos em relevo, tão perfeitos quanto qualquer outro, depois de presenciarem sarcófagos intactos, escadarias íngremes, as quais ficariam ainda mais íngremes à medida que subiam... tiveram medo, desespero e ao mesmo tempo respeito mútuo...
Muitos deles queriam ir embora, pois não conseguiam visualizar de perto aqueles grandes trabalhos, outros, urinaram nas calças, e mais alguns não pararam de falar, em consequência do nervosismo, porém o mestre, que conduzia a todos, fora tão ríspido quanto um faraó, pedindo àquele aluno que fizera suas necessidades ali, ainda que, involuntariamente, nas calças, que se redimisse, e ao mesmo tempo, ficasse longe dele, porque a dor de ver o que se passava, nunca fora visto em lugar algum naquela civilização.
A Sacralidade
Em tudo que o faraó tocava era como se um deus o fizesse. Tudo teria uma lógica sagrada, voltada aos deuses, ao universo. As pirâmides são um retrato desse mundo. Quando nos deparamos com aqueles grandes blocos, advindos de várias terras com a finalidade de compor apenas aquelas estruturas, por exemplo, não é por acaso que o fizeram, pois o mestre dos mestres sabia que, para atingir o sagrado – seja ele fora ou dentro de nós --, tínhamos (temos) diversos caminhos, entretanto, apenas um nos é inerente, correto, claro, visível...
Os blocos imensos, gigantes, que passearam de barcos por diversos lugares, eram depositados, servilmente, nas terras onde são vistas as pirâmides até hoje. Depois dos blocos, as grandes estruturas foram montadas de forma a assustar até mesmo ao mais sábio dos homens. E conseguiram. Como disse Christiam Jacq, “são estruturas que estão em nós, por isso o vislumbre”.
Mais que isso, a atemporalidade não se fecha apenas em seu simbolismo. Todas as construções desatam nós internos dos seres humanos, e ao mesmo tempo fecham outros que nos transformam em crianças ao vê-las de longe; e quando de perto, a dor da ignorância em perceber que estamos em um mundo no qual construções são feitas aleatoriamente sem o mínimo de sacralidade, e quando o são, aqueles que as “fizeram” são tão duvidosos em caráter quanto o de um ladrão que confessa.
A confiança nas grandes estruturas egípcias – assim como em outras nações que partem do principio sagrado para estruturá-las – vem não somente dos faraós, que fizeram questão de realizá-las, mas graças aos grandes sacerdotes construtores, que desenhavam, milimetricamente, cada detalhe, de forma que não fosse preciso levantar outras, derrubando as primeiras.
Sacerdotes
As pirâmides estão em nós, dizia um professor. As bases são nossas personalidades, e vão se afunilando em razão de nossas buscas ao topo de nossos ideais – leia-se: princípios. E em cada um, assim como no passado, deve possuir um uma fagulha para subir um pouco mais, dificultosamente, até o topo dele, de nosso ser, do que é de mais divino em nós. E em outras estruturas, como a do próprio faraó, que significa o deus em si, temos que retirar o sagrado, visualizá-lo, e entender que podemos ser um (faraó), em nossas possibilidades, sempre obedecendo à regra divina dos deuses... E assim também eram os sacerdotes.
Sacerdotes eram grandes seres humanos dedicados aos deuses, tanto quanto aos faraós, pois descobriam fórmulas, trabalhavam métodos de agricultura, racionamento do Nilo, comida... Faziam livros divinos, baseados na vida dos homens-deuses, acompanhavam-nos em lutas, davam conselhos e sabiam quando e como seria o futuro da grande terra.
Contudo, partia do faraó falar com os deuses para que seu povo fosse suprido em momentos de crise, seja ela de qualquer nível. E quando buscava aquela divindade especifica, dava-lhe formas em forma de monumento, como se fosse um presente pelo amor à terra. E os deuses o atendiam.
Batalhas
A terra vermelha era submetida a tudo, até mesmo a invasões, e ao passo delas, o grande povo egípcio lutava, como se fosse seu último dia, porém havia nações que se armavam com armas mais ‘modernas’ e outras com mais homens em batalha, assim, a grande terra era tomada, violada, e os egípcios – donos da mais bela e coerente terra do mundo – passava por percalços e deles aprendiam que além-deserto havia mais homens e menos deuses do que se imaginava.
Contudo, na história, conta-se que faraós – como o Grande Ramsés I, -- lutara sozinho em batalhas (como era normal, pois o faraó também era guerreiro), e as vencia como se fosse um deus ceifando vidas alheias para defender seu povo. E ele era.
Mesmo assim, somos obrigados a entender que essa terra aos olhares dos descobridores era não só bela, como também a filha do ouro latente, na qual se resguardavam sepulturas belíssimas cobertas de ouro, cujo governante tinha objetivos espirituais para com ele. Compreender isso ou levar para museus intocáveis, ou mesmo para comercialização, não há como titubear.
E assim o foram varias civilizações ao redor do Nilo, as quais sintetizaram a cobiça, a guerra pela guerra, no caso dos helenos, comandados por Alexandre, o qual dominou a terra vermelha, pôs o terror a toda prova, renomeou cidades; mas, depois dele, houve piores que, revestidos de exércitos modernos, chegaram a roubar, matar, estuprar, e reinar e acabar com quase tudo... Se não fosse esse “quase”, não haveria mais o que contar.
Os hicsos, um povo cuja educação era mais voltada à guerra que os nobres egípcios, tomaram o Egito e ficaram quase cem anos no poder... No entanto, estudando o inimigo, apreendendo com ele, e claro, ficando mais fortes em suas convicções, o povo egípcio voltou a reinar, batalhando, rompendo, e trazendo à tona toda sua imortalidade numa terra que jamais deveria ser tomada ou castigada, pois era (e foi) o berço de várias sociedades, no tocante à religião, à filosofia, a Deus, ao amor, à verdade, à simplicidade, à ordem...
Enfim, temos muitos que aprender sobre nós mesmos. E uma dessas formas, talvez, seja olhar para nossos ancestrais, os quais sintetizam nossas virtudes mais sagradas, ao passo esquecidas. Por isso, escrevo sobre o que podemos -- e podemos ser um pouquinho egipcio todos os dias, olhando para o sol, para a lua, para a vida, respirando o bem e o mal, peneirando com nossas consciências -- voltadas a Deus -- o que nos atrapalha a visão acerca da verdade.
Temos mais textos.
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