segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Música e Eu


Blues: ritmo original de uma raça guerreira

Há séculos que a música nos acompanha, quem diga o grande Pitágoras de Samos, filósofoso que conseguiu plasmar a música das esferas em circustâncias que até hoje não se sabe explicar o certo. De lá pra cá, não damos um passo sem cantarolar, assobiando, batendo em madeiras, ou mesmo o pezinho se mexendo debaixo da cadeira quando se escuta uma canção plausível.

A vida, como diziam os gregos, é assim,  feita de música, em homenagem às Musas -- deusas do Ritmo -- as quais embalam o som das árvores, quando o vento nelas bate; além do som do mato no outro, dos trovões, dos pássaros... Enfim, é um show!

E embalado nessa sonoplastia natural, nós, seres humanos, temos enraizados em nossa alma tantas músicas quanto nuvens no céu, quanto raios no sol, quanto pingos em chuvas de março, abril... É a semântica em nós, assim como uma palavra que só começa a ter sentido dando a ela um significado, um contexto, só começamos a  existir no momento em que temos uma música em nossas lembranças.

Eu, este que lhes escreve, tive, desde a infãncia, uma queda natural pela música -- e acredito que todos o tenham --, mas eu, em especial (risos), não consigo nem mesmo lembrar do meu nome se não houver uma canção por perto. E desde esta tenra idade, tenho, graças a ela, a música, sido um pouco mais humano, mais forte e ao passo mais guerreiro -- haja música de Corações Valentes!

Por essa e por outras, contar-lhes-ei um pouco de minha vida, que fora regada por uma sonoplastia idealista, cheia de traços fortes de personalidade, os quais ainda ficam em minha alma, em minha vida até hoje, e ficará comigo até a ida ao Hades.
RAP




Antes de amar a grande música clássica, eu era um revoltado. Revoltado com a pobreza em excesso, com a riqueza em excesso, e todas as injustiças sociais, então me sobrava cantar revoltas, e por iso, eu amava os hip hops da vida, com bandas ainda mais revoltadas com o sistema, no qual tiravam o próprio sustento vendendo discos de vinil, com capas imensas, com bandas que pareciam mais times de basquete com colares, chapéus, coletes; outras mais pareciam gangues com revolver, metralhadoras, sempre com o líder da banda com um rosto que nunca se parecia com um cantor... L.L. Kool J., os Beasteas Boys, e o próprio Whill Smith, ator, quando era vocalista de Rap.

Eu achava o máximo! Colocava casacos, medalhas, Jeans e até imitava suas falas, repetindo refrãos de músicas de caras que, com certeza, jamais saberia o que cantavam... Era a cultura de Mahatans, do bairro do Quens, de onde veio a melhor banda de Rap do planeta – que eu considerava, claro! – o Run DMC!, a qual buscou no Rock e no Rap uma forma de unir os dois ritmos e ao mesmo tempo dar o recado acerca do que ocorria no mundo racista. Após, outros vários: boogie boys, África Bambata – excelentes em tudo --, Gigolo Tonnes, Woodini, Publi Enemy, etc... etc. Era legal!

Eu tinha em minhas veias um idealismo. Pobre, mas não deixava de ser. Descobria nas músicas meu tom, minha revolta, ainda que fossem ritmadas, sem letras, com berros, admirações furtivas, culturais... Enfim, eu era pobre em tudo, não apenas financeiramente rs, mas desenhava minha vida com melodias que em meu bairro apenas os mais desajustados amavam, pois falavam de crise em família, nas ruas; falava da pobreza, e da dor de ser pobre... Falavam de amor, mas bem vulgarmente, e isso eu não tolerava.

Ouvia, ainda, idiotices, fossem chulas, mas com tom de revoltas, sofrimentos, cujas letras eram um drible na burrice: as músicas de Rap brasileiras. Dessas eu faturei pouco, pois haviam mais solas que sapato de samples (misturas de ritmos batidos), e não aguentava mais as baboseiras de grupos que iniciavam, e que queriam mais se mostrarem que propriamente cantar ideologicamente algo. Isso eu não queria.

Mas nada me fez mudar de opção. O Rap era a minha cara. O Rock, como música, seria apenas uma falha da natureza em tentar mudar o tom para algo que pudesse ser bom, mas não conseguiu. A natureza errou. Os notáveis do rock são mais lembrados pelo que comiam nos shows – cabras, cobras, lagartos, -- do que pelo que cantavam. Isso na minha adolescência, claro.



Legião: sem ela, o rock já teria morrido


Depois percebi o contrário. Os cantores de rock, nessa terra que nada dá, Brasil, a meu ver eram mais preciosos que os de fora. E fui contaminadíssimo pelo Legião Urbana – não deixando de lado meus Raps! – o qual sempre me acordava com seu Tempo Perdido – embalando uma juventude cheia de força e guerra nas veias, convidando-a mover o mundo com a alma. Era belo.

O Legião Urbana, a meu ver, ainda que passe milênios, ainda será a banda mais lembrada e cantada por mim, e se meu filho um dia cantarolar, terei o prazer de contar a história de minha adolescência, sempre entoada por esse grande grupo.

Mais tarde simpatizei com U2, mas, como eu disse, já era tarde demais. Uma banda irlandesa que buscava manter seus ideais de liberdade pátrio, com letras incrivelmente revestidas de um romantismo febril. Mas, o pior de tudo é que essa banda era totalmente incompreendida por seus simpatizantes, os quais gritavam, urravam, e, mesmo cantando suas letras claramente, não compreendiam sua totalidade. Isso acontece em uma juventude que procura forças abstratas, no meio do escuro.


Mas as lembranças só estão começando...

(Próximo texto tem mais)

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